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××× Elisa
Concentro-me no café da manhã à minha frente, tentando anular a presença de Barbara ao meu lado.
Achei que me sentiria constrangida com você depois dos acontecimentos de ontem, mas, em vez de constrangimento, é calor. Meu corpo pede para terminarmos o que começamos.
Não vai acontecer, vadia.
- Você quer mais café, Red? - Nate pergunta, tomando seu lugar na ponta da mesa.
Ele parece um pecado usando aquele terno escuro, o cabelo brilhante, recém-penteado depois do banho, posso dizer pelo cheiro de sabonete masculino que domina a sala.
Não há sinal de Shade ou Ace, apenas Nate, Barbara e eu.
- Não, obrigado. - Resisto à vontade de beber mais daquele café delicioso.
Ele parece não me ouvir, apenas serve mais e coloca a xícara de volta na minha frente.
- Vou pedir à Layla para lhe trazer xícaras maiores. -
- Não há necessidade disso. -
Ele volta a brincar com seu celular, sem prestar muita atenção em nós. Parece que ele não tem boas notícias, pois seu rosto se enruga.
- Ace está esperando por você às nove horas no campus. Barbara lhe mostrará os arredores.... - Ele não termina de falar porque seu telefone toca e ele atende no primeiro toque.
- Hill. - Seu tom sério não parece o de um jovem, ele ouve quem quer que seja com uma careta no rosto. Ouço ruídos femininos vindos da ligação. - Já estou indo, não se preocupe, Esther. -
Quem é Esther?
Maldito vínculo ciumento.
Meu coração dói quando ele se levanta e sai sem se despedir, deixando-me sozinha com Barbara.
Sinto-me tola por querer passar mais tempo com ele, desde que vim para esta casa nossa conexão se tornou mais clara, como se eu nunca tivesse vivido sem sua presença.
Sinto-me dividida, meu cérebro e meu coração não estão em sincronia. Sei que preciso fugir, mas não quero.
Atrevo-me a desviar o olhar. Aparentemente, Barbara só come ovos e frutas no café da manhã. Ela não tem a mesma calma que tinha enquanto comia o sorvete em meu corpo.... Não vá para lá.
Eu me mexo na cadeira, tentando aliviar a tensão entre minhas pernas.
- Você está bem? - Olho para cima para ver o motivo da minha calcinha molhada.
- Por que eu não estaria? - Tento ser o mais casual possível.
- Você não é uma pessoa matinal? - Sorria e eu poderia desmaiar a qualquer momento.
- Tanto faz. - murmuro.
- Vamos antes que eu seja detido. - Levante-se e pegue sua mochila.
- Quem colocaria você de castigo? Você é um adulto. -
- Ace. O psicopata está procurando motivos para nos torturar. Aprenda isso logo. -
Fale-me mais sobre isso. Acho que ele deixou bem claro o quanto está se divertindo com meu desconforto.
Caminhamos até a garagem e acho que é uma concessionária de carros. Quem usaria tantos carros assim?
Nem sequer há pessoas suficientes nesta casa para lidar com tudo isso.
Excêntricos.
Sigo Barbara até o final da garagem, passando por um corredor e entrando em outro, este para motocicletas. Barbara para na frente de uma motocicleta vermelha e me entrega um capacete.
Não, porra.
- Não vou entrar nessa com você. -
- Por que não? -
- Você vai nos matar, não passei seis anos me mantendo vivo para morrer nas costas de um idiota. -
- Sou um ótimo piloto, Red, na verdade, sou bom em tudo o que faço. -
Isso é o quê? Me venda um pouco da autoestima desse cara.
- Nate não me deixaria sair de moto com você se não confiasse em mim. Você está sendo bobo. -
Ou eles estão planejando quebrar meu pescoço para se livrar de mim...
Eu não me mexo e ele perde a paciência.
- Tudo bem, espere Jorge, ele sempre acorda tarde mesmo. - Ele coloca o capacete e sobe em sua bicicleta.
- Espera aí! - Eu paro de resistir. Quebrar meu pescoço parece muito mais fácil do que passar um tempo com Jorge.
Barbara me entrega o capacete novamente e, dessa vez, eu o pego sem jeito.
- Você poderia ter me dito antes, eu teria usado calças. -
- E perderia toda a diversão? - Seus olhos exibem um sorriso.
Eu seguro a saia do vestido de todas as maneiras possíveis antes de subir atrás de Barbara. Eu me sento o mais longe possível, mas basta ele entrar na rua movimentada, correndo como um louco, para que eu desista e me agarre a ele como se minha vida dependesse disso.
Quando estacionamos em sua vaga no campus, meu coração bate forte na boca. Ele fica esperando que eu me mova, mas não consigo.
- Você precisa se abaixar, amor. -
- Não me chame de "amor" depois de ter tentado me matar! - Eu digo com o corpo rígido.
- Fui devagar. - O idiota se atreve a se defender.
- Você precisa revisar os conceitos de "devagar".
Respiro fundo, solto o corpo dele e desço da moto com dificuldade, tentando não mostrar minha calcinha.
O campus é um lugar grande, tem um gramado grande, o dia está ensolarado, embora um pouco frio. Vários carros estão estacionados, vários alunos estão indo em direção ao prédio antigo, bem em frente à entrada há uma estátua de um homem velho.
Subimos as escadas e Barbara começa seu desfile no corredor. As pessoas param para me cumprimentar e olham para mim de forma estranha. Ela sorri para todos como se fosse amiga de todos. Ele elogia o corte de cabelo dos meninos, pisca para as meninas.
Mate todos eles.
Meu vínculo não está feliz. Mas quando foi que ele ficou, certo?
- Este é o prédio principal, aqui está a administração, incluindo nosso psicopata favorito. - Barbara explica enquanto me direciona para uma sala de vidro.
Uma mulher loira em um terno vermelho está sentada atrás de uma mesa. Ela sorri quando vê Barbara, mas seu sorriso vacila quando ela olha em minha direção.
- Que bom ver você! É bom vê-la. Estou animado com o jogo de sexta-feira. - Sua voz melosa me dá nojo.
-Barbaro ? Que intimidade. Que ultrajante! Mate-o.
Meu vínculo grita e eu o ignoro. De novo.
Ela usa diamantes no pescoço e nas orelhas. Duvido muito que isso seja pago com o salário de uma secretária.
- Estou feliz! Espero que você pareça. - Use esse sorriso nela, esse sorriso estúpido que o matará. - O Sr. Hill está nos esperando? -
Ao ouvir o sobrenome do meu parceiro psicopata, seu rosto se ilumina. Não preciso de muito para entender que ele está tendo um caso com seu chefe.
Oh, que clichê! Será que pode ficar pior?
Seria melhor se você se livrasse dele.
- Ace... Quero dizer, o Sr. Hill disse que para tirá-los de lá, ele teve que ir a uma reunião de última hora. Vou remarcá-la para amanhã, está bem? - A simpatia em seu rosto não me comove nem um pouco.
Eu me viro e saio da sala antes de fazer uma cena. Minha respiração volta ao normal a cada passo que dou para longe da mulher.
A dor de sentir o cheiro do meu parceiro em toda aquela sala, em torno dela....
Ele tocou o corpo dela, deu-lhe presentes, eles compartilham uma intimidade que eu nem consigo imaginar como seria se ele não me olhasse como se fosse me matar. Ele deixou que ela o tocasse, passasse as mãos pelos cabelos dele, acariciasse seu rosto, beijasse-o... ele tocou o que me pertencia.
Pisquei os olhos, tentando não chorar.
Quantas?
- Quantos o quê? - Barbara aparece ao meu lado. Parece que expressei meus pensamentos em voz alta.
- Quantos outros amantes de meus parceiros eu encontrarei? - Olho fixamente para Barbara, incapaz de controlar minha tristeza.
- Você não tem o direito de sentir ciúmes, você não estava aqui. - Sua resposta é como uma faca em meu coração.
- Não estou com ciúmes, é apenas desrespeitoso que você me mantenha trancado naquela casa e tenha outras mulheres... - As pessoas no corredor olham curiosas para a nossa conversa. Eu olho de volta para elas. - Você perdeu alguma coisa? -
Barbara olha em volta nervosa, agarra meu braço com força e me arrasta pelo corredor até um assento vazio. Esse corredor estava livre de olhares curiosos.
Ela não solta meu braço, mas me puxa para mais perto e diz cada palavra na minha cara.
- Você passou seis anos sem nos dar notícias, acha mesmo que esperaríamos por você como monges? Quão estúpido você acha que um homem é para esperar por uma parceira que claramente o rejeita? - Seus olhos ardem em meu rosto enquanto ele cospe as palavras. - Não os culpe por encontrarem consolo nos braços de uma mulher receptiva. -
Engulo em seco e adoto um tom sarcástico.
- Pobres coitados, abandonados por sua companheira ingrata... -
Barbara não me deixa terminar de falar, seus lábios raivosos selam os meus, dessa vez não há nenhum traço da gentileza de ontem, não, dessa vez ela está me punindo.
Suas mãos me apertam com força, sinto a dor crescer em seu aperto, esse bastardo vai me marcar. Sua língua invade minha boca sem pedir permissão, seus dentes puxam meu lábio inferior e eu gemo de dor e prazer.
Ele me solta abruptamente, perco o equilíbrio e me encosto na parede fria, contrastando com todo o calor do meu corpo.