Capítulo 2: A Mudança
Esmeralda Donava
O que fazer quando se está no fundo do precipício tentando se erguer para voltar do atoleiro e assim usar sua sabedoria para atacar quem merece sofrer tudo o que passou? Essa é a pergunta que sempre me faço desde o dia em que descobri da pior forma que o amor não é algo que deva ser brincado, principalmente com o coração de uma mulher.
Meu pai todos os dias vem me ver. Robert sempre está aqui e por ele tenho nutrido um carinho especial. Não quero ter nenhum envolvimento amoroso por enquanto. Não enquanto não me vingar daquele que me dizia amar e foi tão covarde, ao arquitetar me descartar de forma tão covarde quanto ele mesmo que preferiu mandar seu braço direito e sua até então amante que nem sabia que estavam tendo um caso pelas minhas costas.
Por enquanto, vou mudar o que preciso. Realmente é preciso uma mudança. Assim que os cortes do meu rosto estiverem aptos como diz Lucca, irei fazer uma cirurgia plástica. Mas quero algo também significativo em meu rosto para que ninguém me reconheça.
Estamos no centro da Grécia, onde toda a minha vida mudou. Antes tivesse ficado em Londres. Mas, a saudade da minha irmã mesmo sabendo que ela não nutria o mesmo por mim era imensa, queria vê-la e ao meu pai quem tanto amo.
Não foi fácil para ele saber que sua filha caçula foi alvo de algo tão sórdido que fora preciso ter meu corpo desovado na Capital da Grécia Atenas, ao invés da cidade em que nasci e cresci antes de ir para o exterior estudar, em Tessália. Deveriam pelo menos ter feito o serviço bem feito. Como não foi possível, me tornarei Fênix Donava sobrinha do meu próprio pai para me vingar dele principalmente.
Estou imensamente feliz por não ter perdido meu filho, pelo menos tenho motivos de sobra para viver e ser amada por este serzinho que cresce em meu ventre que já é muito amado por mim.
Como já fazem duas semanas que estou no hospital e fazendo reabilitação devido ao problema de uma parte do meu pulmão ter se comprometido, tenho me recuperado muito bem e feito progressos. Tentei olhar-me no espelho no início, mas não conseguia. Hoje, após retirar os pontos, vou até o espelho para me olhar e gravar na memória toda a crueldade que me fizeram, mas é um tanto impossível esquecer, já que as sequelas que fiquei por causa do tiro não sairão da minha alma até completar minha vingança.
Estou tão distraída me olhando no espelho, que nem sinto o homem que tanto tem me ajudado me abraçando pela cintura. Ele sussurra entre os meus cabelos, o que me faz arrepiar. Mas preciso manter meu foco, e agora não está no momento de romantismo.
- O que minha bela dama está a fazer?
Virando-me em sua direção, deposito um beijo em sua bochecha e sorrio para ele de forma travessa. Ele morde seu lábio inferior me olhando com desejo para que nos beijemos de outra forma. Eu ruborizo e ele sorri por estar envergonhada.
- Estou me lembrando de gravar em minha memória estas cicatrizes para deixar marcas bem piores naquele projeto de rapariga.
Ele me dá um beijo na bochecha e em seguida, dá mais dois beijos um em cada cicatriz e dá uma sonora gargalhada.
- Projeto de rapariga? Minha dama, você tem um senso de humor fenomenal. Isso só me faz querer estar sempre com você e cada dia mais apaixonado.
Novamente coro e sinto minhas bochechas esquentarem. Antes que algo fique mais intenso entre nós, me desvencilho do seu abraço e caminho em direção ao quarto saindo do banheiro. Me deito em meu leito e o observo se aproximar, deitando no pequeno sofá e ali conversamos até adormecermos.
No dia seguinte, resolvo ligar para meu pai e avisá-lo da minha decisão por pelo menos os próximos três anos. Ele me atende no segundo toque.
- Filha, como está?
- Estou bem pai, estou ligando para falar da minha decisão e como sabe, preciso da sua ajuda.
- Filha, não precisa de formalidades para pedir minha ajuda. O que você quer me dizer?
- Como sabe, meu nome passará a ser Fênix Donava, sua sobrinha. Ficarei aqui por pelo menos os próximos três anos até estar pronta a executar minha vingança.
Escuto sua respiração pesada. Um silêncio percorre entre nós. Até que ouço ele estalar a língua e me dizer.
- Está bem. Seus documentos estão prontos e foram enviados para Robert lhe entregar. Você trabalhará aí na filial Donava. Temos uma casa bem no centro de Atenas. Robert continuará aí com você? – Sorrio ao sentir uma mão tocando meu rosto e olho para o lato vendo o belo homem sorrindo ao meu lado. Assinto.
- Sim, ele estará sempre comigo pai. – Vejo ele acenar em minha direção querendo falar com meu pai ao telefone.
- Pai, um momento que ele quer falar com o senhor.
Passo o telefone para ele e os dois conversam amigavelmente. Pelo sorriso encantador daquele homem à minha frente, sinto que é algo muito bom. Ele encerra a ligação e me entrega o celular com um largo sorriso.
- O que foi que está tão sorridente senhor Robert?
- Você como sempre me surpreendendo né bela dama. Eu pedi ao seu pai para nos casarmos.
O olho surpresa piscando meus olhos sem parar, tentando entender o que estava acontecendo, mas ele me interrompe dos meus devaneios.
- Eu sei que você tem algo a cumprir e sei também que não me prometeu nada. Mas há muito tempo que a amo. Há muito tempo que seríamos noivos e você sabe disso pois conversamos a respeito.
Aceno minha cabeça concordando com ele. Mas ele sabe que enquanto não me vingar, não poderei seguir em frente. Nem sei se seguirei um relacionamento amoroso. Ainda amo aquele infeliz. Mas irei matar esse amor que me fez tanto mal. Robert é um ótimo homem, sei que será tudo para mim e meu filho não posso negar.
- Enquanto não cumprir minha vingança, você sabe que não posso casar e nem entregar meu coração.
Ele assente.
- Eu sei, mas sou paciente em esperar. Só quero que seja feliz e que seja feliz ao meu lado.
Seguro suas mãos junto as minhas, nos entreolhamos e então após um suspiro profundo, dou minha resposta definitiva.
- Sinto algo por você que ainda não é amor. O ódio e a dor me corroem enquanto não cumpro isso que tenho em mente, só posso lhe garantir um gostar, um querer bem e também de início até executar minha vingança, podemos nos tornar noivos como seria se mina irmã não tivesse atrapalhado. Pode ser?
Vejo seus olhos brilharem e pela primeira vez, nos beijamos. Senti algo diferente neste beijo que era lento e depois se tornou um beijo intenso. Senti que posso amar novamente. E acho que será com ele.
Após a interrupção do beijo por estarmos com falta de ar, pelo menos eu mais que ele devido a minha condição atual, tenho meu rosto seguro por suas mãos e seu olhar de encontro ao meu é de pura paixão e desejo.
- Estou muito feliz por você estar aqui. Por sermos noivos finalmente.
Sorrio timidamente para ele e o mesmo me olha com um imenso sorriso por ficar assim com ele.
Lucca, entra no quarto interrompendo nosso momento, mas pela sua expressão prevejo ser algo bom.
- Amanhã você terá alta Esmeralda. – Ele me dá uma piscadela para provocar o irmão e o mesmo lhe dá uma cotovelada de leve em um gesto de ciúmes, nós dois rimos do meu ciumento noivo.
- Peço que não esqueça de colocar tudo na ficha como Fênix Donava.
Ele assente.
- Não se preocupe, já fiz isso desde a sua conversa com seu pai. Ah, marquei também seu pré-natal. Você inicia suas consultas com a doutora Camile Jones na segunda pela manhã.
- Ok irmão. Estaremos aqui. E a propósito, estamos noivos finalmente.
Ele sorri e nos cumprimenta. Vejo o quanto Lucca torcia por este momento entre nós. Agora, era só descansar para passar rápido as horas para ter alta desse hospital e começar a investigar tudo primeiro para pôr em prática o que preciso contra Brian, Priscila e John.