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Athos
Algumas semanas...
— Bom dia, Senhores e me desculpem pelo meu atraso. Eu tive um pequeno inconveniente.
— Tudo bem, Mazza! Agora me diga que tem boas notícias para mim?
— Ótimas, na verdade — falo com orgulho para Igor Caruso, meu cliente. — A causa já está ganha, então se prepare para receber as suas empresas de volta. Cada uma delas. — O homem abre um sorriso largo e vitorioso.
— Eu sabia que você conseguiria!
— Eu sempre consigo o que quero, Igor.
— E eu nunca duvidei disso, meu advogado. Agora me diga, quando esse tormento se acabará de vez?
— Nossa última audiência será em três dias. Depois, virão os tramites legais e você poderá assumir o seu lugar de direito na presidência das indústrias.
— Você foi o meu melhor empreendimento, Senhor Mazza!
— Só fiz o meu trabalho, Senhor Caruso.
— E além de tudo, o homem é modesto. — Meu cliente comenta fazendo a minha pequena equipe rir.
— Encerramos por hoje, certo?
— Antes, gostaria de convidá-lo para comemorar a minha vitória em uma das minhas boates, Senhor Mazza.
— É só marcar e eu estarei lá.
— Perfeito! — Apertamos as mãos como bons homens de negócios e Barbara se encarregada de levá-lo até o elevador. Eu aproveito para voltar ao meu escritório e verificar os documentos da próxima audiência que acontecerá em algumas horas.
— Senhor Mazza?
— Entre Barbara!
— Eu trouxe o convite da minha formatura. O Senhor me prometeu um trabalho com advogada aqui na sua empresa logo após receber o meu diploma. — Ela cobra cheia de esperança e avidez.
— Sim, e irei cumprir com a minha promessa, Senhorita Brandão.
— Só que, eu não consegui uma pessoa para auxiliá-lo quando eu sair do cargo de assistente. — Encosto-me na minha cadeira para encará-la.
— Como uma cidade tão grande como essa não tem uma secretária competente do meu nível? — grunho. Ela parece hesitar e eu arqueio as sobrancelhas esperando que ela diga algo.
— É que o Senhor dispensou a maioria das moças e as poucas que sobraram se recusam a trabalhar diretamente com o Senhor. — Tenho vontade de rir por dentro. No entanto, abro a minha gaveta e verifico alguns dos testes feitos no decorrer de trinta dias, descartando alguns e me sinto frustrado quando percebo que apenas um mostra um trabalho impecável e com uma tradução perfeita.
— Esse aqui.
— Oh, esse é da Olívia Martin. A garota do incidente do café. — Franzo a testa.
— Não está falando sério?
— Infelizmente sim, Senhor Mazza.
— Ok, quando será a sua formatura?
— Na próxima semana. — Meneio a cabeça em concordância.
— Tente encontrar alguém nesse meio tempo...
— E se eu não conseguir?
— Você vai conseguir! — A dispenso e volto a me concentrar no meu trabalho.
***
— Boa noite, Senhor Mazza! — Lorena minha governanta diz assim que abre a porta de casa para mim. No ato, meus olhos correm pela imensa sala de visitas e eu penso que voltar para casa depois de um dia cheio de trabalho não é a melhor coisa do mundo e sim, as piores horas da minha vida.
— Boa noite, Lorena e como ele está? — inquiro livrando-me da maleta e depois da minha gravata.
— Mais calmo, Senhor Mazza. Mas ele se recusa a descer para o jantar.
— Isso não é novidade, Lorena — bufo e lhe dou s costas para ir direto para as escadas. No caminho me livro do meu terno.
— O jantar será servido em alguns minutos, Senhor Mazza. — Ela avisa com seu habitual tom profissional.
— Eu não estou com fome, Lorena, pode dispensar o jantar essa noite.
— Mas, Senhor Mazza... — Ela tenta protestar, mas continuo subindo os degraus. No hall do segundo andar fito a porta do quarto de minha mãe em silêncio por algum tempo, sentindo o gosto amargo no meu paladar no mesmo instante.
... Athos, pare, querido! Deixe-a ir!
Sua voz estava tão apavorada, mas eu estava transtornado demais para ouvi-la naquele momento.
... Não, eu posso, mamãe! Você não entende, eu a amo, eu preciso dela!
... Athos, o que vai fazer?
Sacudo a minha cabeça para me livrar de certas lembranças e me afasto imediatamente da porta, caminhando direto para o meu quarto. No entanto, fito a porta fechada do quarto em frente ao meu e segundos depois, percebo a maçaneta girar lentamente e a porta começa a se abrir. Entretanto, procuro entrar imediatamente no cômodo de frente ao seu apenas para não ter que enfrentar o seu olhar acusador. Dentro dos meus aposentos me livro das minhas roupas e vou direto para debaixo do chuveiro e por mais que eu não queira, sinto o peso do passado nos meus ombros. Deus, até quando irei carregá-lo comigo?
... espero que se lembre do que fez, Athos. Espero que seja atormentado até o último momento da sua vida!
A resposta veio rápido demais carregada de ódio e de sofrimento. Com uma respiração pesada, desligo o registro e encosto a minha testa no vidro molhado do box, e fico ali por algum tempo. Após me secar, visto apenas um short e vou até uma estante de madeira escura, pego uma garrafa de uísque e um copo, e me acomodo na minha cama.
***
Semanas depois...
— Bom dia, Senhor Mazza!
— Barbara, meus parabéns! — Abro um sorriso feliz para a garota que tem um lindo brilho no olhar.
— Obrigada, Senhor Mazza!
— Então, você agora é oficialmente uma advogada do grupo Mazza? — Seu sorriso se amplia. — E aqui está o seu primeiro caso, Senhorita Brandão. — Minha pupila abre outro sorriso extravagante, mas esse desfalece após receber a pasta da minha mão. — O que foi?
— Como fará sem uma secretária para ajudá-lo? — Dou de ombro e após me sentar, aponto a cadeira do outro lado da minha mesa para ela se acomodar.
— Quais as minhas opções? — Minha ex-assintente morde o lábio inferior. Ela perece um tanto hesitante. — Vamos, fale comigo!
— Promete que não vai ficar com raiva?
— Barbara, vamos lá, fale comigo de uma vez!
— Olívia Martin. — Trinco o maxilar.
— Não é possível!
— Eu sinto muito, Senhor Mazza, mas não tem outra. — Solto um rosnado contrariado.
— Ok, fale com ela — digo rendido. — Mas deixe bem claro quem é que manda aqui.
— Eu já falei com ela. — Franzo a testa, mas isso não me surpreende. Barbara sempre está a frente dos meus pedidos e exigências. É sempre assim. Quando eu penso em pedir-lhe algo, ela já chega com tudo pronto.
— E?
— Ela disse que não — bufo irritado agora.
— Quem ela pensa que é?
— Senhor Mazza, talvez se o Senhor falasse com ela? — Rio pretensiosamente.
— Eu não me rebaixarei para aquela garota petulante. Se ela não quer, eu darei um jeito.
— Athos, Senhor é como um pai para mim, certo? Quer dizer, se não fosse o Senhor eu jamais conseguiria fazer uma faculdade tão cara como essa e tão pouco conseguiria me formar. Sabe que eu só quero o melhor para o Senhor, não sabe?
— Eu sei.
— Então, a Olívia é jovem como eu e ela tem paixão pelo que faz. O fato de ter feito um secretariado tão pobre e preliminar não faz jus ao seu trabalho. Ela é perfeita para o que o senhor precisa. Determinada, inteligente e rápida. Por favor, senhor Mazza, fale com ela!
— Mas você viu como ela agiu comigo aqui e na frente dos meus funcionários!
— Ela só estava nervosa, Senhor Mazza e convenhamos que o Senhor ficou muito furioso, e foi muito rude com ela.
— Ela manchou a droga da minha camisa! A droga daquele café estava tão quente que queimou a minha pele!
— Eu sei. Que tal mais uma chance? O Senhor mesmo comprovou o trabalho dela.
— Tudo bem! — digo completamente rendido aos seus argumentos. — O que eu tenho que fazer? — A jovem advogada me fita em silêncio por um tempo e eu presumo que ela está procurando as palavras certas para me falar.
— A Olívia disse que aceitaria o trabalho, se...
— Se?
— O Senhor fizesse um pedido de desculpas pessoalmente.
— Não, nem fodendo!
— Senhor Mazza, por favor!
— Não, Barbara! Foi ela quem causou todo aquele absurdo e ainda me confrontou...
— Por favor, um pedido de desculpas não vai machucar o seu ego de advogado, hã? Pense nisso com carinho. — Barbara sequer espera pela minha resposta e sai da minha sala. Contrariado, eu bufo irritada e giro a minha cadeira encarando a cidade através das paredes de vidros transparentes.
— Um pedido de desculpas, era só o que me faltava!