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Olívia
— Bom dia, Senhor Mazza!
Escuto Barbara dizer para o seu chefe assim que as portas do elevador se abrem. Curiosa, tiro os meus olhos de cima do arquivo e me viro. Quem sabe dessa vez consigo ver a face do meu futuro chefe? Devo dizer que o seu olhar rígido é realmente impactante. A barba cerrada que adorna seu maxilar quadrado faz um contraste exacerbado com o semblante extremamente fechado e as sobrancelhas grossas, e firmes indicam que ele não parece nem um pouco paciente essa manhã. Ou esse seria esse o seu normal? A final os funcionários que estavam trabalhando relaxadamente de repente transformaram-se em robôs e enfiaram as suas caras nas pilhas de papéis sobre suas mesas.
— Bom dia! Barbara, pode me trazer um comprimido para dor de cabeça e um pouco de água? — A voz imponente que surgiu logo em seguida, misturou-se a uma voz dentro da minha cabeça.
...O que você acha de sairmos desse barulho?
— Não é possível! — sibilo sentindo o meu coração frear bruscamente dentro do meu peito.
... Me desculpe, mas eu gostei de você e só queria poder tocá-la mais... intimamente.
— Não pode ser ele! — Chego a sentir um gelo se alastrar dentro do meu corpo e absorver qualquer sombra de segurança dentro de mim. A figura masculina vestida com o seu terno caríssimo entra na sua sala e só então tenho a ação de mexer do meu lugar. Agitada, pego o meu celular no bolso traseiro da minha calça e vou imediatamente para a copa da empresa. No curto trajeto ligo para Anne.
... Eu prometo, que você vai gostar muito!
— Atende, por favor! Atende! — rogo tremula e seguro as lágrimas de desespero.
— Olívia, já fez a entrevista, querida? Me conte como foi? — Ela pede com uma empolgação sufocada, talvez devido ao seu horário de trabalho na empresa. No entanto, respiro fundo algumas vezes. — Olivia?
— Ele está aqui, Anne. — É tudo que consigo dizer em meio a minha agonia.
— Ele quem, querida?
— Athos Mazza.
— Ah, é claro que ele está. Ele é o dono da empresa, por que não estaria aí? E, não é ele quem ia fazer a sua entrevista? Olívia, querida eu sei que você está nervosa, mas...
— Você não está entendendo, Anne. — A interrompo e olho para a entrada para ter a certeza de que estou sozinha.
— Olivia, o que está acontecendo, querida?
— Lembra do homem da boate? O Senhor Mazza, é ele.
— Não pode ser! Está falando sério? — Ela segura um grito e após respirar fundo continua: — Ok, Olívia, mantenha a calma, querida. Respire fundo e me diga, ele te reconheceu? — Puxo mais uma respiração e fecho os olhos por alguns segundos.
— Eu... não sei. Eu... acho que ele não viu... ainda.
— Ótimo, então se acalme! Talvez ele não se lembre de você, a final, foi uma noite casual, certo? Que homem lembraria da mulher que levou para a cama de um quarto de hotel há um ano?
— Eu sei, é que.... — Puxo outra respiração. — Ah, talvez você tenha razão.
— Isso. Agora aproveite que está aí na copa e beba um café forte, bem quente e doce, isso irá acalmá-la. Só tente relaxar e se ele lembrar você pode negar, não é? Diga que ele se enganou, que não era você e pronto!
— Anne, ele não pode saber sobre os meus filhos. Esse homem é... poderoso demais e ele pode tirá-los de mim.
— OK, faça o seguinte. Procure a Barbara e diga que não está se sentindo bem. Peça para ela adiar essa entrevista e venha se encontrar comigo.
— Está bem, obrigada, Anne! — Encerro a ligação e com as mãos trêmulas ligo a cafeteira, esperando impacientemente pelo curto processo da máquina. Após encher a xícara saio exasperada à procura de Barbara pelo escritório. No entanto, estou nervosa demais e esse fato está me deixando completamente desnorteada. Contudo, no meio da minha letargia alguém esbarra fortemente em mim e o líquido quente vira deixando uma mancha exagerada em uma camisa branca. — Oh, meu Deus, me desculpe! — peço sofregamente com os olhos fixos no caos que acabei de causar.
— Quem é você?! — Sua voz sai como um trovão horrendo, rasgando os céus, me fazendo estremecer inteira e mesmo com medo, atrevo-me a erguer o meu olhar e encontro um par de olhos estupidamente furiosos.
— S-senhor Mazza, eu...
— Olha o que você fez, garota estúpida! — Ele brada outra vez.
— E-eu não... me... desculpe, eu...
— Quem. É. Você?! — Mazza volta a rugir, dessa vez pausadamente e por mais que eu o queira responder, as palavras fugiram da minha boca. — Alguém pode me dizer que é essa maluca e o que ela está fazendo aqui na minha empresa?! — Ele berra tão alto que as paredes parecem se tremer.
— Me desculpe, Senhor Mazza! Essa é a Senhorita Martin, ela é a estagiária...
— Não é mais!
— O que?! — Exaspero.
— Senhor Mazza, a Olívia é a melhor que encontramos até agora...
— Demita-a agora, Barbara! — esbraveja e dessa vez, ele tenta se afastar.
— Quem você pensar que é?! — brado de volta fazendo-o parar.
Que droga, Olívia, o que deu em você? A caso enlouqueceu, garota? Minha consciência grita.
— Como é que é? — Athos Mazza rosna voltando para perto de mim. Diante da sua estatura sinto-me minúscula e o seu olhar parece querer derreter-me. No entanto, estou com raiva. Estou com tanta raiva que o meu olhar resolve enfrentar o seu. — Você quer saber quem eu realmente sou? — Sorrio com sarcasmo, mesmo de boca fechada.
— Não, eu sei exatamente quem é você, Athos Mazza!
— Ah, você sabe? Que bom que você sabe! Agora desapareça da minha frente! — Seu olhar rígido de alguma forma se torna ainda mais duro, porém, ele não me faz recuar.
— Você é um homem arrogante, extremamente mal-educado, estupido e grosseiro!
— O que disse, garota petulante?! — Ele rosna dando mais um paço. Contudo, eu não recuo.
— Oooh! — Os funcionários sibilam baixo e surpresos, e logo os burburinhos preenche o lugar.
— Quem você pensar que é para falar assim comigo sua garota insolente?!
— Eu sei exatamente quem eu não sei serei, Senhor Mazza. Eu não serei a secretária de um homem mal-amado como você!
— Olívia?! — Barbara tenta me repreender, mas eu bufo alto.
— E não precisa me demitir, Senhor Mazza, porque sou eu quem se recusa a trabalhar para um ser desprezível como o Senhor! — digo e me afasto logo em seguida.
— O QUE ESTÃO OLHANDO, BANDO DE IMBECIS? VOLTEM PARA O TRABALHO! — O escuto gritar à medida que ando com passos largos pelo corredor. — Eu vou trocar de roupa. Barbara, não quero ver aquela garota pisando aqui outra vez, Está me ouvindo?! — Ele brada e as portas do elevador se fecham.
***
À noite...
— Você disse isso para ele, menina? — Victória ralha entregando-se a mais uma crise de risos. Contudo, tanto a Anne quanto eu permanecemos sérias. — Eu disse que aquele homem era um demônio, não disse?
— Mamãe, por favor! Olívia, e agora? — Dou de ombros.
— O que você acha? Vou procurar emprego em outro lugar.
— Pelo que ouvi falar do tal Mazza, ele não vai permitir que você trabalhe mais por aqui. Empresa nenhuma vai querer contratar a garota que pôs Athos Mazza no chinelo. — Victória volta a rir.
— Mamãe, a Senhora não sabe...
— Ele fez isso várias vezes, Anne. A Olívia não é a primeira e nem será a última, querida.
— Ele não é muito diferente do meu pai — comento e ambas me lançam olhares de piedade. — Como eles têm uma cidade inteira em suas mãos?! Como pode ser isso?!
— Eu sinto muito, amiga! — Respiro fundo.
— Eu estou cansada, acho vou dormir um pouco e amanhã pensarei algo — falo, saindo da mesa imediatamente.
— Mas você não comeu nada! — Victória ralha, porém, eu não paro. E com os meus olhos queimando pelas lágrimas que querem se derramar fecho a porta do quarto e encaro os meus filhos dormindo tranquilamente em seus berços. — Eu não vou permitir que homens com você ditem a minha vida outra vez — rosno baixinho, sentindo-as se derramar pelo meu rosto em seguida. — Dessa vez não vou me calar. Eu vou gritar se preciso for, mas farei as coisas do meu jeito, ou não me chamarei Olívia Martin!