Capítulo 2
Goiás — Goiânia.
Colégio de Goiânia.
__ E aí maluco?! — Fala Caio.
__ Fala cara. — Responde Júnior.
No pátio da escola, os colegas se cumprimentam antes de entrarem na sala de aula.
Caio aponta com a cabeça e diz:
__ Dá um ligo.
__ Quem?
__ A magrela. — Tem maldade e aspereza nas palavras do Caio.
__ A salsicha?
Cíntia passa por eles e escuta as palavras que a ofende a um tempo.
__ Dizem que ela gosta do Pedro. — Comenta Caio ainda com maldade.
__ Sim, fiquei sabendo, ele disse que ela não tem o que apertar, kkk...
__ Kkk... — Gargalha Caio e Júnior o acompanha.
As lágrimas sobem em seus olhos e se afasta rapidamente deles, não quer ouvir mais.
Cíntia corre até o banheiro e se fecha, sua amiga Julieta que está conversando com alguns colegas a vê.
__ Me deem licença. — Julieta diz e sai apressada atrás de Cíntia.
Julieta corre até o banheiro e entra. Uma porta está fechada, antes de bater escuta a amiga chorando e seu coração se parte. Ela sabe o quanto a amiga sofre com os comentários de mal gosto dos colegas da escola.
__ Amiga. — Julieta diz carinhosamente.
Se encosta na porta quase chorando pela tristeza que sente vindo de sua amiga.
__ Eu não aguento mais isso Ju. — Cíntia fala chorando.
__ Amiga, não liga para eles, são pessoas sem coração e sem sentimentos.
__ Eles dizem o que veem.
__ Para! Eles não veem tudo o que você é.
__ Já tenho quinze anos, porque meu corpo não se desenvolve?
Ela abre a porta e abraça Julieta que faz carinho em seus cabelos.
__ Às vezes, demora um pouco mais.
__ Estou acreditando que, vou ser assim sempre. Tudo em mim, é inho ou inha, bundinha, peitinho, corpinho.
__ Deixa de ser boba. Limpa esses olhos.
Ela ajuda a amiga a se limpar.
__ Vou voltar para casa.
__ Não! Você vai ficar e estudar! Estamos no colegial, você vai aguentar amiga. Todos nós sofremos com alguém ou algo.
__ Não sei mais por quanto tempo vou aguentar.
Suspira várias vezes tentando manter a calma e parar de chorar. Para não chamar mais atenção, ela anda sem maquiagem e roupas, como calças jeans e camisetas.
Julieta é como um anjo para ela, sempre a ajuda. Mais tem uma coisa que não consegue contar para a sua amiga. Que não tem mais vontade de viver!
Goiânia — 2017.
Cíntia está com 22 anos, não se sente muito diferente de quando tinha 15 anos. A única diferença em sua vida é que não demonstra mais sentimentos pelos garotos como antes. Até hoje sofre “bullying”, faz tratamento com psicólogos a cinco anos. Cinco longos e incansáveis anos.
Desde então, ela trabalha de dia e estuda a noite. Ocupa seu tempo e mente o máximo. Trabalha na farmácia desde os 17 anos e faz faculdade de farmacêutica. Ainda escuta comentários maldosos, mais não tanto como antes.
Está apaixonada por um colega de serviço e ninguém sabe, não paquera ninguém desde os 15 anos quando gostava do Pedro.
Sua amiga Julieta sempre a chama para ir à academia. Diz que se for, verá alterações em seu corpo e pode fazer um regime para ganhar massa muscular.
__ Ora, vamos. — Insiste a amiga.
__ Não sei. Sinceramente acredito que não vai dar em nada.
__ Se você não tentar, não vai dar em nada mesmo.
__ Está bem. Vou fazer, mais agora minha vida está muito corrida. Sabe como é fim de ano, provas e tudo mais.
__ Está bem. Nos encontramos na academia, dia dois de janeiro de 2018, sem falta.
__ Como quiser, RS. — Cíntia responde sorridente.
Se não fosse sua amiga ser uma pessoa tão boa e compreensiva, não sabe o que teria sido dela mesma.
Cíntia termina mais um ano de faculdade com todas as honras. Seus pais, sempre muito amorosos e carinhosos a levam para viajar. Geralmente ela não é muito chegada, mais dessa vez se interessa. Vão para um hotel fazenda em Novo Gama, Goiás.
São hectares e hectares de beleza pura.
__ Que lindo. — Cíntia diz boquiaberta.
No haras vê várias espécies de cavalos e fica impressionada com tanta beleza. Seu pai chega de mansinho.
__ Gostou dos cavalos?
Cíntia é pega de surpresa pelo comentário do pai.
__ Ah sim! Pai, eles são lindos.
A emoção toma conta de seu pai que a disfarça. A tempos não a sentia tão feliz.
__ Não sabia que gosta tanto da natureza.
__ Aiiinnn, nem eu. Aqui é lindo pai, essa será a melhor semana da minha vida. - Fala sorridente.
Seu pai suspira pensando em voltar mais vezes.
__ Voltaremos outras vezes amor. — Diz o pai carinhoso e abraçando seu ombro.
__ Vou esperar ansiosa a próxima vez, RS.
O pai pega sua mão e a puxa dizendo:
__ Venha, vamos montar.
__ Tenho medo pai.
__ Eu te ensino, com o tempo perderá o medo.
__ Está bem.
Cíntia confia cegamente em seu pai, para ela, tem os melhores pais do mundo.