Capítulo 1
-Preparada para entrevista com o chefe Hana? –Daiana se apoia em minha bancada com um grande sorriso no rosto.
-Um pouco ansiosa eu diria. –Confesso encolhendo os ombros.
-No seu lugar eu também estaria, todos dizem que ele é ainda mais lindo pessoalmente, porém ainda mais exigente. –Ela faz uma careta e acabo a seguindo.
-Não quero ficar pensando nesses especulações e falatórios Ane. –Solto o ar com força usando o apelido que todos usavam para ela.
-Pare de ser boba, você vai tirar de letra e além do mais você merece. Acho que de todas nesse andar, você é a que realmente merece essa nova oportunidade.
-Obrigada. –Sorrio agradecida, pois realmente me esforçava de verdade para mostrar minhas qualidades, pois bem sei como a procura de um emprego não é fácil.
Apesar de ainda ser jovem, minha falta de experiência e os longos anos sem trabalhar não colaboram com o meu currículo por isso sou grata a oportunidade que me surgiu nessa empresa, afinal trabalhar aqui mesmo que de recepcionista agrega muito meu currículo.
-Não precisa agradecer, sabemos dos seus esforços e de tudo o que passou, além disso você dá seu sangue por essa empresa, tudo que pedem você faz sem reclamações ou objeções até mesmo quando não envolve a área da recepção, nada mais justo do que tentar ocupar o cargo de secretaria ao lado do chefe. –Ela pisca para mim.
-Sabe que não escolhi isso, foi a Giovana que insistiu. Ela disse que como supervisora da nossa equipe tinha que indicar uma de suas funcionárias para o cargo que surgiu como secretaria do chefe, isso foi exigido para todos os departamentos. Não sei ao certo se vou me dar bem, sabe que não gosto muito de me destacar dessa forma, tenho certeza que terei que participar de vários eventos ao lado dele e bom, não me vejo muito nesse papel.
-Para de ser idiota Hana. –Ela praticamente grita na minha cara. –Você e essa história de nem querer se aproximar do chefe, você não aceitou ir na confraternização que teve no final de ano e vou te contar que foi uma maravilha, apesar de que ele não estava lá. –Ela diz decepcionada.
–Mas eu não disse nada sobre isso. –Acabo franzindo as sobrancelhas. –Apenas não gosto de me envolver com o alto escalão, prefiro fazer meu serviço e ponto, assim não tenho nada a perder.
-Bem sei que isso pode te fazer desistir da vaga oferecida. Toda vez que tocamos no fato de Layonel ser lindo, você arruma uma brecha de se esquivar do assunto. Você mal toca no apelido que corre pelos corredores Hana, ou isso é uma paixão platônica ou você tem problemas de visão. –Ela debocha.
-Nossa Daiana como chegamos a essa conversa? Eu só não acho certo ficar murmurando pelos cantos sobre essas coisas. Para mim já basta o emprego e salário que eu tenho, ficar comentando sobre o charme do nosso chefe ou fato dele parecer um nerd por usar óculos de grau, sei lá, não acho isso muito legal. –Faço uma careta.
-Nerd charmoso minha querida amiga, um tremendo de um nerd charmoso. –Ela se abana e reviro os olhos tentando focar no e-mail que precisava responder. –É por isso que Giovana te escolheu Hana, porque você é única que não lambe o chão que ele pisa.
Balanço a cabeça rindo e ela faz a mesma coisa pegando a pasta de novos contratos que chegou para nós para iniciarmos a planilha da semana.
-Vai logo fazer seu trabalho e me deixe fazer o meu, pois estou roendo as unhas para essa entrevista. –Confesso e ela ri ainda mais olhando o relógio.
-Ainda falta duas horas amiga. –Comenta.
-Vai logo fazer seu serviço. –Expulso ela da minha bancada e ela sai gargalhando, mas somente eu sei como foi difícil para mim conseguir esse emprego para desperdiça-lo com fofoca sobre o chefe pelos corredores.
Foram meses de procura e muitos bicos como garçonete que não supria todos os meus gastos com a casa, mas ajudavam a manter a dispensa cheia. Um belo dia passando em frente a uma banca de revistas vi os anúncios de empregos e a empresa Drevitch estava lá. Sabia que era loucura da minha parte tentar, mas o anuncio estava claro eles não exigiam experiência e isso me motivou a enviar o currículo para o RH e aqui estou.
A empresa Drevitch é um prédio de 25 andares, com muitos funcionários e vários departamentos. Temos até mesmo um restaurante dentro do prédio que fica no terceiro andar e eu sinceramente acho isso o máximo. Recebemos vale alimentação que nos permite gastar naquele espaço ou se optarmos sacamos o dinheiro como pagamento, essa é uma empresa que visa o bem-estar e o conforto dos funcionários e isso chamou minha atenção, pois sei que a maioria das empresas não fazem isso.
Já fazem sete meses que estou aqui e fiz muito amigos desde então, os funcionários sempre falam muito bem do senhor Drevitch, tanto do pai como do filho, não que eu me envolva muito, pois não gosto de fofocas e especulações, mas tenho que concordar que eles são boas pessoas apesar de nunca ter conhecido eles pessoalmente e pelo que sei o filho, Layonel, não é muito de aparições em público e deixa essa parte para o pai Zoy Drevitch, mas a poucos meses ele se aposentou e agora tudo está nas mãos do tão famoso e comentado “Nerd charmoso” por isso as mudanças brusca na parte de cima e a contratação de uma nova funcionaria. Para ser sincera não sei se gosto muito disso, mas sei que provavelmente vou gostar do salário oferecido por eles e isso vai me ajudar a proporcionar uma vida ainda melhor para Daisy.
Com o dinheiro do meu emprego, pago as despesas da casa e os remédios para minha filha. Depois da separação, Ivan simplesmente sumiu e não paga pensão o que acaba apertando um pouco a minha situação, pois tenho os gastos com a casa e com nossa filha que por ter apenas seis anos precisa de uma babá para que eu possa trabalhar, por isso jamais foi cansar de agradecer a sorte que tive em conseguir esse prego que me oferece tantos benefícios e um ótimo salário para uma pessoa inexperiente, mas que obviamente tem vontade de aprender e acredito que eles enxergaram isso ou Giovana não teria me indicado para ser a secretaria do chefão.
A princípio pensei em recusar a oferta, pois sei que esse cargo exigirá muito de mim e não posso deixar minha filha sozinha por tanto tempo, apesar de ter Ellen que cuida dela tão bem prezo os poucos momentos que me restam ao final do dia com minha filha, mas tenho que levar em consideração o aumento do meu salário em aceitar essa oferta, apesar de que ainda nem fui aceita e preciso passar pela entrevista junto com as outras garotas selecionadas.
Meu celular desperta sobre a mesa e meu coração dispara no peito sabendo que chegou o momento de subir para a tão esperada entrevista, antes de pegar o elevador, passo no banheiro, arrumo meu cabelo, retoco o batom suave e blush em meu rosto. Quero estar apresentável para entrevista então arrumo minha saia lápis preta e a camisa de manga curta da empresa exigida para todos os funcionários do nosso andar.
A ansiedade e o nervosismo me tomam por completo quando chego no vigésimo quinto andar. Sigo até a recepcionista que estava concentrada em seu computador e quando me aproxima e ela ergue o olhar abrindo um grande sorriso para mim.
-Boa tarde senhorita Hana, pode se sentar e aguardar as outras candidatas, o senhor Drevitch começara em instantes. –Ela indica as poltronas atrás de mim com algumas jovens que eu não conhecia aguardando assim como eu.
-Obrigada! –Agradeço e tomo um assento aguardando e como ela disse não demora para começar.
Meu coração se acelera ainda mais enquanto vejo as possíveis candidatas entrarem pela imensa porta de vidro daquela sala e saírem com expressões triste, olhos lacrimejados e algumas até mesmo chocadas.
Ó Deus... todos diz que esse homem é maravilhoso, mas extremamente profissional e não aceita erros, não posso perder meu emprego por um deslize qualquer.
Suspiro impaciente enquanto o ponteiro do relógio da sala de recepção faz seu incansável tic tac me deixando mais apreensiva e tensa. Tento focar minha atenção nos vasos de flores ao lado das lindas poltronas, mas não conseguia desviar minha atenção da porta.
Nem mesmo a belíssima vista do Rio de Janeiro através das grades janelas panorâmicas conseguem acalmar meus nervos e pelo visto sou a última, pois todas já foram chamadas e única que continua aqui quase colocando o coração para fora do peito sou eu.
-Srta. Ravallo. –Uma voz grossa chama meu nome e um forte calafrio de medo se instala em minha coluna.
Como se fosse possível meu coração dispara me fazendo levantar rapidamente seguindo para a sala com medo do que poderia acontecer, depois de respirar três vezes e ficar parada em frente a porta encarando a maçaneta por segundos finalmente entro e sou completamente surpreendida com o homem que está sentado atrás daquela enorme mesa de carvalho.
Paralisada o encaro por mais tempo do que gostaria, pois acredito ter entrado em curto circuito com a imagem a minha frente.
Quando dizem “nerd” a única imagem que vem em minha mente é um homem magro, com espinhas pelo rosto que usa um óculo de armação grande para segurar a grossura de sua lente de grau, pelo menos é isso que os filmes mostram, mas esse homem é um nível completamente evoluído do sentido “nerd”, ele é elegante, poderoso e bonito, muito bonito por sinal.
Confesso que não esperava tamanha beleza pelos apelidos intitulados a ele. Estava esperando um homem de meia idade, carrancudo, com os cabelos grisalhos e óculos de grau pesados e grandes, no entanto me deparo com um homem completamente diferente.
Seus cabelos avermelhados penteados para trás sem um fio fora do lugar mostra o quão perfeccionista ele é. Seus olhos verdes me encaram curiosos, mas aquela barba grande por fazer me surpreende e isso só o deixa ainda mais sexy. Os pelos grossos arruivados e bem aparados emoldurando seu queixo quadrado contornando seus lábios rosados que se destacam entre a barba grande por fazer, seu terno feito sob medida provavelmente escondia seu corpo atlético e bem malhado por trás do tecido de linho puro.
Não vejo o significado da palavra “nerd” nesse homem, muito pelo contrário, ele é completamente sexy, exala luxuria, glamour e poder.
-Srta. Ravallo? Srta. Ravallo? –Me encara com uma sobrancelha arqueada enquanto sou arrancada do meu transe momentâneo e percebo que o encarei por mais tempo do que deveria.
-S.sim? –Gaguejo envergonhada.
Ó céus não posso cometer nenhum erro perante esses olhos críticos que me encaram sedentos e desafiadores.
-Sente-se. –Sua voz autoritária não deixa brechas para discussões ou apresentações desnecessárias.
Rapidamente faço o que foi ordenado para aquela situação não ficar ainda mais constrangedora do que já estava. Ele me observa sem dizer uma única palavra e aquilo só me deixa ainda mais constrangida e inquieta, encarar aqueles olhos selvagens é a mesma coisa de se jogar dentro de uma fornalha ardente e em chamas.
Automaticamente desvio o olhar encarando a réplica de uma Harley Davidson que fica praticamente escondida atrás dos diversos livros de sua prateleira.
A decoração da sala é impecável e masculina, no canto esquerdo uma grande estante com seus diversos livros e ao lado direto um sofá chaise de veludo preto com madeira entalhada a mão, as poltronas vinho a frente quebra um pouco a seriedade do local e a mesinha de centro fica encantadora sobre o tapete felpudo bege. Logo ao lado um bar com vários banquinhos reserva uma grande quantidade de bebidas alcoólicas principalmente vinhos e champanhes.
Um pigarrear chamando a minha atenção novamente e me surpreendo ao vê-lo com um óculo de grau que me leva a lembrar dos murmurinhos pelos corredores.
-Srta. Ravallo estou lhe oferecendo um ótimo cargo como minha secretaria pessoal. Acho importante ressaltar que até o momento todas as candidatas falharam, então realmente espero que as coisas sejam diferentes. O que você tem a me oferecer? –Ele se recosta na cadeira ajeitando o óculo no rosto.
Sua postura cansada e indiferente me incomodado, ele parecia estar fazendo aquela entrevista por pura obrigação sem esperanças de que isso desse certo e automaticamente me sinto instigada a mostrar que posso surpreende-lo.
-Sr. Drevitch a única coisa que posso lhe dizer é que o senhor só saberá tudo o que posso lhe oferecer assim que presenciar o meu trabalho pessoalmente. –Minha voz firme e sem resquícios de duvidas me deixa atordoada.
Como pude dar essa resposta a ele? Não seria mais fácil ter selecionado alguns pontos e oferecido? Porque fui instigada a desafia-lo tão de repente?
Na verdade, sabia o porquê, mas simplesmente não poderia ignorar o fato de que ele estava me tratando apenas como mais uma possível reprovada que não conseguiria o emprego.
Deus, não posso perder meu emprego. Deus, não posso perder meu emprego. Repito essa frase como um mantra sagrado.
Vejo um pequeno sorriso se formar em seus lábios e sinto que esse será meu último dia nessa empresa. Eu simplesmente deveria ter recusado essa proposta e me mantido quieta nos dois primeiros andares, para que subir ao último afinal? Totalmente desnecessário.
Quando vou me desculpa sua voz grossa rompe o silêncio da sala fazendo meu coração saltar em expectativa e medo.
-E esse trabalho pessoal inclui um jantar sexta à noite? Seria maravilhoso presenciar seus serviços de uma maneira especial. –Sua voz rouca e sensual envia um calafrio por todo o meu corpo, mas me encontro tão abismada com aquela oferta indecente de sexo explícito que tenho vontade de lhe acertar o rosto com um tapa.
-O mínimo que eu esperava de um homem com seu status era respeito, mas vejo que seu poder e influência lhe sobem a cabeça. -Respondo seca o encarando com irritação.
Seus olhos surpresos se arregalam e um pequeno sorriso surgem em seus lábios me tirando completamente do sério.
-Fui selecionada para ser sua secretaria pessoal e não seu objeto de sexo. Se o senhor está procurando algo mais quente acredito que deva contratar outra pessoa, pois jamais aceitaria esse tipo de oferta. Jamais me submeteria a algo tão baixo para crescer dentro de uma empresa, se for para subir que seja com o meu próprio esforço e não com o meu corpo. –Me levanto irritada com toda aquela baboseira e a passos largos me encaminho em direção porta.
Quando toco a maçaneta sinto meus olhos queimarem pelas lágrimas ao perceber que estaria no olho da rua e mais uma vez me desdobraria para conseguir um emprego, mas quando estou dando um passo para fora da sala escuto meu nome ser chamado em um tom áspero, rude e autoritário.
Onde merdas está o chefe maravilhoso que escuto pelos corredores dessa empresa? Isso só pode ser brincadeira.
Me viro lentamente olhando para ele com um certo receio, talvez assim eu não perca meu emprego.
Será que eu devo me jogar no chão e implorar por misericórdia?
Talvez essa seja uma ótima ideia.
Como vou comprar os remédios da Daisy?
Eu sou a pior mãe que pode existir, aqueles olhos analíticos me encaram silenciosos enquanto observa meu desespero.
-Srta. Ravallo você está contratada. -Se limita em dizer e naquele momento me sinto tão chocada que simplesmente continuo o encarando sem ter uma resposta.
-Quero você amanhã na minha sala as sete da manhã para passarmos toda a agenda desse mês a limpo. –Ele me olha por cima do óculo com um sorriso vitorioso no rosto. –Parabéns, você foi a única a recusar minha oferta, me sinto grato por isso e de maneira alguma queria lhe ofender.
Meus olhos se arregalam ao ouvir o que diz e naquele momento meu coração estava tão acelerado que eu poderia jurar que enfartaria a qualquer momento.
Ainda não consigo acreditar que fui aceita.
-Obrigada, prometo que o senhor não irá se arrepender. –Fecho a porta rapidamente sem esperar uma segunda resposta com medo que ele reconsidere.
Começo a pular de felicidade no corredor da empresa reprimindo meus gritos de felicidade, eu vou ganhar extremamente bem. A recepcionista me observa com uma sobrancelha erguida como se eu fosse uma louca.
Tento conter a felicidade dentro de mim, mas é difícil quando se estava passando por dificuldades e necessidades dentro de casa. Corro para o andar em que trabalhava para contar a maravilhosa notícia para os meus colegas de trabalho.
Da mesma maneira que estava aflita, eles também estavam aflitos esperando o resultado da reunião. Quando cheguei com a notícia que havia sido aceita eles ficaram felizes, mas ao mesmo tempo tristes e decepcionado por saber que seria transferida para outro andar.
Andar esse que poucos tinham acesso.
O final do expediente foi animado e cheio de fofocas sobre o senhor Drevitch, todos me perguntavam como ele realmente era e não consegui mentir ao dizer que aquele estranho apelido era falso em minha concepção.
Sinceramente ele não se parecia em nada com um nerd, mas charmoso já era uma realidade bem explicita aos olhos da humanidade.
Os murmurinhos e fofocas correrão solto, mas tento ao máximo me manter imparcial sobre todas as perguntas, afinal trabalharia pessoalmente com ele e não seria elegante da minha parte comentar sobre sua personalidade para outros funcionários.
Ao sair da empresa sigo animada para o ponto de ônibus e não vejo a hora de chegar em casa com a maravilhosa novidade a Ellen e Daisy. Elas com certeza ficarão radiantes e animadas com a nova notícia.