Capítulo 5 - Dança Particular
Lauren Miller | Miami, Flórida, 09:34 AM.
Como hoje era sábado, Lauren estava treinando suas coreografias na boate, que estava fora do horário de funcionamento. Dias como hoje constumam serem bastante corridos, fim de semana sempre enche lugares como esse.
Ela estava com uma roupa normal, um shortinho e uma camiseta, também usava sua costumeira máscara, gostava de sentir a sensação que a máscara trazia, o 'anonimato'. Era como se a pequena peça pudesse lhe dar o poder de ser outra pessoa. Aqui dentro ela era tratada pelo o seus clientes como uma vadia, mas fora desses muros ela era apenas uma garota, uma estudante.
Ela gostava de escolher as playlists para seus show's, sua artista preferida é Lana Del Rey, e quase sempre escolhia suas músicas para se apresentar.
Hoje também era a noite que mais atendia pedidos para danças particulares. O cliente escolhe uma das salas e solicita a dançarina que quiser, pode ser até mais de uma. O único direito do cliente era apenas assistir, mas algumas garotas aceitavam outros trabalhos por fora, como ceder a uma transa ou outras experiências. Lauren nunca aceitou fazer esse tipo de coisa, mesmo que tivesse que tolerar quando algum cliente insistisse demais e acabasse se masturbando na frente dela enquanto dançava. Ela precisava completar seu trabalho acima de tudo e qualquer coisa, pois precisava do dinheiro que ganharia em seguida. Precisava ter sangue frio para tolerar, e paciência era uma de suas virtudes, sempre foi uma menina calma.
Assim que o horário do almoço chegou, ela se apressou para trocar de roupa e partir para casa. Quando chegou, seu avô se divertia assistindo a um programa de TV, e acabou achando graça da animação dele.
— Parece que está com energia hoje! – ela comentou, deixando suas coisas no sofá. Ele sorriu para ela, que recolheu algumas embalagens de bolachas.
— E você parece cansada – ele disse, observando ela bocejar.
— Tô cheia de coisa da escola pra ver, amanhã vou estudar um pouco com a Malia – ela contou, e notou a animação do seu avô ao falar o nome dela.
— Eu imagino se ela está se sentindo sozinha depois da morte da mãe, pobre garota, tão jovem e já é órfã... – ele lamentou. Ele gostava da amizade de sua neta e a amiga.
— Um tio por parte de pai teve contato com ela, ela vai ficar bem, vovô – ela se levantou do sofá, determinada a fazer o almoço. — O que o senhor irá querer do nosso cardápio? – ela perguntou, fazendo graça, o que o fez rir.
A noite não demorou para chegar, e ela já estava pronta para sair. No fim de semana ela não costuma se atrasar, já que não tem nenhum compromisso durante o sábado ou o domingo, então ela consegue dormir e descansar o suficiente para ter disposição para chegar mais cedo na boate.
Como sempre, a fila estava enorme na entrada. Ela correu pelo os fundos, ansiosa para começar a trabalhar. O quanto antes começar, mais rápido poderá ir pra casa. O camarim estava bastante movimentado como de costume, Mandy notou a amiga chegar e chamou ela para sentar na penteadeira ao lado da sua.
— Hoje está daquele jeito! – Lauren falou, se acomodando.
— Bom, mais trabalho, e mais dinheiro – a outra respondeu, ajustando a peruca loira na cabeça.
— Não tenho ideia do que vestir hoje – Lauren admitiu, passando um batom vermelho em seus lábios carnudos, e Mandy a olhou de cima à baixo.
— Aquela saia que deixa você parecendo uma prostituta combina com esse batom vermelho! – Lauren gargalhou, e sua amiga piscou para ela em resposta. Mandy se ergueu da cadeira, e foi até os cabides pegar a tal saia, e a jogou no colo de Lauren. — Agora vou indo, até mais tarde!
— Valeu, Mandy!
Lauren se apressou para terminar de se arrumar, ignorando os olhares das outras garotas. Colocou seus saltos e partiu pelo o corredor iluminado. Assim que chegou sua vez, ela subiu os degraus para o palco sentindo sua outra versão se apoderar da sua mente. Agora ela era uma mulher poderosa o suficiente que faria essas pessoas jogarem seus dólares para o alto.
O som High By The Beach de Lana Del Rey preencheu o espaço, e a luz se ascendeu, focando em seu corpo. As vibrações da voz daquela mulher arrepiaram o corpo de Lauren, que se suspendeu no alto da barra de Pole Dance. Ela parecia flutuar em um giro lento, em uma posição que deixava suas belas curvas valorizadas. Uma luz vermelha erótica iluminava sua pele alva, e quando ela se pôs de pé novamente, para continuar sua coreografia, ela notou o mesmo homem de algumas noites atrás, aquele que chamou sua atenção misteriosamente.
Ele estava com o mesmo olhar frio da outra vez, não esboçando qualquer reação. Mas ela não se interessou de se desafiar a mudar aquele fato, apenas o deixou de lado, enquanto o mesmo assistia tranquilamente sua apresentação em uma das mesas do fundo.
Ela fechou seus olhos, entrando no ritmo do refrão excitante. Os gritos masculinos e os assovios ficaram mais altos que a música, quando ela ficou de costas para a plateia e agachou empinando sua bunda. Ela sacudiu seus cabelos para o alto, e se suspendeu novamente na barra, girando e dançando habilidosamente.
Enquanto ela girava, ela via a tonalidade verde das notas de dólares voarem ao seu redor. Ela usava de sua flexibilidade para se esticar eroticamente, esbanjando seu corpo sensual, conquistando ainda mais fãs.
— Você é gostosa demais... – um deles gritou, aumentando o ego da sua personalidade perigosa.
Logo sua apresentação transitou para a próxima música, também de Lana Del Rey, chamada West Coast, com certeza era uma das suas favoritas. Ela caminhou até perto da plateia quando chegou o refrão, e rebolou lentamente até o chão, para o delírio dos rapazes e velhotes que gostavam de ficar nas primeiras fileiras.
Lauren se atreveu de olhar para o homem misterioso mais uma vez, enquanto estava de joelhos. Seus olhos verdes brilharam quando notou a boca entreaberta dele, enquanto lhe encarava seriamente. Ele se ocupou de esvaziar seu copo, e Lauren decidiu voltar a prestar atenção nos outros, se convencendo de que 'aquilo' não era nada demais.
Ela terminou sua apresentação suspensa na barra, com suas mãos para o alto, se prendendo no aço com suas coxas. A maioria aplaudiu de pé, e assim que a luz se apagou, escondendo sua presença, ela se apressou para sair dali, sendo substituída por outra dançarina.
Mandy a esperava com uma garrafa de vinho rosé nas mãos, como de costume, e então subiram para o terraço, para ficarem longe de todo aquele "mundo" por alguns minutos.
— Eu não estou odiando, mas talvez eu devesse desistir – Lauren admitiu depois de um tempo de conversa, enchendo sua taça novamente. Mandy suspirou.
— Não é o emprego dos sonhos, mas paga nossas contas, ou você prefere passar necessidades com seu avô doente? – Lauren bufou.
— Claro que não, é que surgiu uma oportunidade – comentou.
— Uma proposta de emprego?
— Não exatamente, é só uma ideia na minha cabeça, do que eu poderia fazer – Mandy não quis insistir, então apenas suspirou. Lauren esvaziou sua taça num piscar de olhos.
— Melhor voltarmos, nosso intervalo acabou – Mandy tirou a taça da mão dela, que recolheu a máscara do colo, colocando-a de volta no rosto.
Assim que Lauren desceu as escadas, se sentiu levemente arrependida de ter bebido um pouco demais, pois sua mente estava turva. Elo surpreendeu ela no começo do corredor, fazendo Lauren se assustar.
— Onde estava? – a mulher, sua chefe, lhe questionou, parecendo irritada.
— No meu intervalo...
— Não interessa, tem um cliente que pediu exclusivamente uma dança particular sua, está o fazendo esperar! – a mulher segurou no braço de Lauren, a levando para a última sala do corredor. Era simplesmente o quarto mais caro que um cliente poderia pagar, e já imaginou que o mesmo poderia ser alguém importante, e por isso Elo parecia nervosa.
— Ele é tão importante assim? – Lauren questionou, recebendo peças de roupas numa sacola.
— Eu não vou nem lhe dizer, para não ficar ansiosa demais. Apenas dê o seu melhor, o seu melhor, Lauren! – ela abriu a porta, e assentiu para a mulher.
Ela entrou rapidamente, o primeiro cômodo era uma pequena sala onde ela poderia se trocar privativamente antes de ir para o outro cômodo, onde ele devia estar lhe esperando.
Tirou um lindo vestido preto da sacola, junto com uma máscara de prata, que realçou o brilho esverdeado de seu olhar. O tecido do vestido parecia seda, deixando uma sensação gostosa no corpo. Nele havia quatro fendas, com cortes longos que iam até sua calcinha. Ela deixou seus cabelos soltos como estava, e respirou fundo antes de ir para a outra sala. A primeira coisa que ela percebeu foram as luzes azuis embelezarem o espaço, depois ela notou a única cadeira da platéia vazia, e estranhou, pois deveria haver alguém ali.
E então percebeu que ele estava se servindo de uísque, no fundo da sala, coberto pela penumbra. Ele estava de costas, e assim que o eco dos seus saltos prencheu o ambiente ele se virou. Ela prendeu a respiração ao reconhecer aquele olhar. Era ele. O homem misterioso.
— Boa noite, senhor – ela o cumprimentou, timidamente, e ele assentiu com a cabeça, a olhando de cima à baixo.
— Boa noite, senhorita – ele pegou a garrafa e seu copo, e foi para seu lugar, não tirando os olhos da moça, a deixando levemente ansiosa. Será que ele havia se agradado da roupa especial que sua chefe exigiu que ela vestisse? Pois Elo não costuma se preocupar tanto assim, a não ser que o cliente tenha muito valor.
Algo lhe dizia que ele não era qualquer cliente, e não era o terno caro que ele esbanjava que a fazia pensar isso, e sim a áurea densa que ele tinha, a ambição parecia fazer parte de sua fragrância máscula.
— O senhor tem alguma preferência, ou posso começar minha apresentação? – ela se apoiou na barra, olhando para seus pés, se sentindo intimidada.
— Gostaria que olhasse para mim – ele respondeu, a fazendo encará-lo no mesmo segundo, com um leve aceno. O timbre da voz dele era tão grave que a assustou levemente, pois ele falou alto e claro.
— Alguma música em especial? – ele negou com a cabeça, bebericando de sua bebida.
Ela lhe deu as costas, indo até o aparelho que tocaria o som de sua preferência. Manteve sua escolha da noite em Lana Del Rey, e dessa vez a música seria Honeymoon. Essa música lhe trazia uma dose de poder que julgou necessária para este momento, pois estava levemente nervosa. E o olhar severo que ele tinha para admirá-la dos pés a cabeça não colaborava com nada.