7. Muito Ouro
Valentina Carvalho
A noite estava repleta de risos e alegria, mas eu estava sentada em silêncio, observando. Eu estava cheia de ouro, presente tradicional na Turquia para as noivas. Meu pescoço estava pesado com as joias e os dedos cheios de anéis. Estava me sentindo uma rainha, e por alguns momentos, eu sorri.
Emir, o noivo, parecia feliz. Ele estava dançando e cantando com seus amigos, completamente alheio ao meu estado de espírito. Eu sempre sonhei com o meu casamento dos sonhos com Danilo.
Eu tinha planejado tudo com tanto cuidado. Escolhi um dos melhores DJs, organizei o repertório de músicas e comprei várias coisas para usarmos enquanto dançávamos. Mas o destino, parece, tinha outros planos para mim.
Joon-Ho, assim como eu, observávamos tudo, um de cada canto. Ele parecia tão perdido em pensamentos quanto eu, seus olhos puxados estavam fixos na dança que se desenrolava diante de nós. Emir estava no centro, dançando uma dança típica turca. Ele batia os pés no chão, os braços dados com seus amigos, e eles se moviam de um lado para o outro em um ritmo hipnotizante. Nossos olhares se encontraram e eu senti uma conexão instantânea e Emir me deu um sorriso safado.
Decidi me aproximar de Joon-Ho. Não deixar que Emir visse o quanto ele me abalava. Dei um leve sorriso para o coreano, que continuou a me olhar e eu pude perceber que ele estava um pouco surpreso com a minha abordagem.
— Você pode me ajudar a tirar essas joias, elas estão pesadas.
— Não sei se devo, Senhora Aksoy.
— Você pode me chamar de Valentina - Senhora Aksoy, eu agora tinha outro sobrenome.
— Eu não posso, senhora.
— Joon-Ho, por favor. Quando estivermos a sós pode me chamar de Valentina, tudo isso é tão estranho para mim e ter um segurança do meu lado me chamando de senhora vai acabar me deixando ainda mais incomodada - ele segurou minha mão e puxou um dos anéis, guardando em uma bolsinha que eu carregava.
— Valentina?
Fiquei assustada quando ouvi a voz de Emir bem atrás de mim. Dei um pulinho, como se tivesse sido pega fazendo algo errado enquanto conversava com Joon-Ho.
— Precisa de ajuda? — Emir perguntou, com uma expressão séria.
— As joias estão pesadas e eu gostaria de retirá-las — respondi, sentindo um misto de alívio e apreensão.
— Eu sou seu marido, você deveria ter me chamado para ajudá-la — ele disse, segurando meu braço com firmeza.
— Você estava se divertindo, não queria te atrapalhar — tentei me explicar, sentindo um nó se formar em minha garganta.
Emir me olhou intensamente, como se estivesse tentando decifrar meus pensamentos. Ele soltou um suspiro frustrado e segurou minha mão, me conduzindo para dentro da casa. Sem dizer uma palavra, deixamos os convidados para trás e subimos as escadas em silêncio.
Cada degrau parecia carregado de tensão. Eu podia sentir a raiva e a frustração emanando de Emir, e isso me assustava. O que ele estava pensando? Será que eu havia cometido um erro tão grave ao não chamá-lo para me ajudar com as joias?
Eu tremi, sentindo-me pequena e vulnerável diante dele. Seus olhos me perfuravam com um olhar duro, quando chegamos ao topo da escada ele para.
— Valentina, Joon-Ho é para te ajudar somente quando eu não estiver por perto. Entendeu? — Emir disse, segurando meu rosto.
— Sim, eu entendi - eu o olhei fixamente, eu não ia ser uma boneca nas mãos de Emir se era isso que ele estava pensando - Porém, não vou deixar de falar com as pessoas só porque me casei com você - ele deu um sorriso de lado.
— Se eu disser que não quero ninguém falando com você, coelhinha. Ninguém vai falar, entendeu - ele ainda segurando no meu rosto se aproxima e beija meus lábios.
Fiquei assustada quando Emir me beijou de forma possessiva, deixando claro quem estava no controle e que eu deveria obedecê-lo. Um arrepio percorreu minha espinha, pois aquela sensação de ser controlada e sufocada já era familiar para mim.
Eu já havia vivido com um homem como Emir, Danilo, que também não me permitia ter voz, que decidia por mim em todas as situações. Ele escolhia os pratos no restaurante, respondia por mim quando estávamos entre amigos, e eu só tinha o direito de falar quando se tratava de fechar negócios. Eu não estava disposta a viver aquilo novamente.
Mas fomos interrompidos por uma voz que ecoou pelo local aberto podendo ser ouvida com ecos nos tirando da nuvem de desejo que estava se formando.
— Emir Aksoy — foi tudo o que consegui entender.
Três mulheres nos observavam. Uma delas sorria, mas as outras duas tinham uma expressão de fúria estampada em seus rostos. Eu senti um aperto no peito, uma sensação de que algo estava prestes a acontecer.
— Eu preciso resolver isso, vá para o quarto — Emir disse, com uma mistura de urgência e autoridade em sua voz.
— Quem são essas mulheres?
— Valentina, faça o que mandei. Eu vou resolver e logo vou para o quarto, quero ter a minha lua de mel com você e estou ansioso por isso - Não vejo a hora de me enfiar em você e te fazer minha esposa - seus olhos estavam cheios de desejo.
Emir desceu degrau por degrau, determinado e sem se intimidar em nenhum momento. Eu fiquei observando, curiosa para entender o que estava acontecendo. A mulher mais velha parecia brava, enquanto uma das jovens beijou Emir no rosto. A outra parecia estar com uma expressão difícil de decifrar. Seria ela a namorada de Emir?
Os ânimos estavam alterados, e eu não conseguia entender o que eles estavam falando. Emir ouvia a senhora e, às vezes, dizia algo em resposta. Eu me sentia como uma espectadora perdida, sem fazer parte daquela discussão acalorada.
Decidi que era melhor ir para o quarto. Eu não queria me envolver em algo que não entendia completamente. Ao chegar no quarto, avistei meu celular em cima da cama e corri para olhar. Havia várias mensagens e ligações não atendidas. Eu me senti um pouco culpada por não prestar atenção antes, mas a situação com Emir havia me deixado, distraída.
Respondi primeiro às pessoas mais importantes, preocupada com o que elas poderiam estar pensando. Danilo, meu ex-noivo, parecia ter escrito um livro com a quantidade de mensagens que ele havia enviado de um número desconhecido. Eu sabia que era ele, pois tecia pedidos de perdão e pedia para que eu voltasse para o casamento. Adriana, minha amiga, também estava preocupada e queria saber se tudo estava bem.
Enquanto eu digitava as respostas, o trinco da porta girou, e meu coração quase parou. Eu me virei, esperando ver Emir adentrando o quarto. Mas, para minha surpresa, era outra pessoa.