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5. O Casamento

Valentina Carvalho

Ele estava de costas para mim. Quando aquele homem apareceu na porta, me gerou um misto de surpresa e pânico. Ele era tão diferente de tudo naquele país, parecia um peixe fora d'água, assim como eu. Não conseguia identificar sua nacionalidade, chinês, japonês ou coreano, eu não tinha certeza.

— Sou Park Joon-Ho, serei seu guarda-costas, senhora - ele disse, com um leve sotaque. Eu desci da mesa e me arrumei rapidamente, ainda um pouco atordoada.

— O que um japonês está fazendo na Turquia sendo meu cão de guarda? - resmunguei baixinho, mas ele ouviu para minha surpresa.

— Não sou japonês, senhora. Sou coreano - ele corrigiu, sem parecer ofendido.

— Me desculpe - fiquei corada - Eu preciso aprender seu nome - eu disse, um pouco envergonhada.

— Joon-Ho, pode me chamar assim, é como todos aqui me chamam - ele abriu a porta para mim - Vou levá-la até seu quarto, a equipe já está te esperando.

— Que equipe? - perguntei, um pouco confusa.

Joon-Ho era alto e tinha braços fortes, diferente do que eu imaginava dos coreanos, sempre pensei que fossem baixos, como os caras que a gente encontrava nas lojinhas que vendiam de tudo na minha cidade. E claro, tinha os caras dos Doramas que eu assistia, que eram atores e esses não contavam.

— Senhora Valentina, está me ouvindo? - ele perguntou, percebendo que eu estava perdida em meus pensamentos.

— Pode repetir, por favor? - pedi, um pouco envergonhada, estava vagando em como são coreanos.

— A equipe de maquiagem está aguardando a senhora - ele explicou, enquanto subíamos as escadas. Quando chegamos à porta do meu quarto, ele acrescentou - Ficarei aqui para garantir que a senhora não tente fugir novamente.

— Eu não vou fugir Joon-Ho, dei minha palavra que ficaria e fiz um acordo com Emir, agora preciso cumpri-lo - eu disse, sentindo uma pontada de tristeza.

— Eu entendo, acordos não podem ser quebrados. Se precisar, eu estarei aqui - ele disse, com um rosto sério, e fechou a porta.

Eu estava de volta ao quarto de onde tinha pulado a sacada, mas desta vez, não estava sozinha. Cinco pessoas me aguardavam, prontas para transformar a minha aparência. Agradeci mentalmente por falar inglês fluente, caso contrário, estaria completamente perdida.

Fui conduzida até uma porta que não tinha notado antes. Atrás dela, um mini salão de beleza, um banheiro e um closet repleto de roupas esperavam por mim. Era como se alguém soubesse que eu viria para cá e tivesse preparado tudo. Mas como?

Dois vestidos estavam pendurados: um branco, de noiva, e outro vermelho. Eles me explicaram que era uma tradição na Turquia, a noiva se casar de vermelho, mas que eu poderia escolher o branco também.

O pânico começou a se instalar. Eu sabia que iria me casar, no Brasil, já tinha um vestido, um noivo e uma festa de casamento com muitos convidados, mas agora estava na Turquia, presa e com um acordo firmado. E o que mais me doía era saber que meu pai estava doente e precisando de mim.

Eu estava tão dependente de Danilo e de sua empresa que não percebi o que estava acontecendo bem debaixo do meu nariz. Olhei para o meu reflexo no espelho e mal reconheci a garota que me encarava de volta. O que eu tinha me tornado? Eu estava noiva, tão envolvida no trabalho, carregando a empresa de Danilo nas costas, que não percebi que meu noivo me traía e que meu pai estava doente.

Lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto. Eu estava perdida, confusa e com medo. Mas sabia que tinha que ser forte, por mim e pelo meu pai. Eu tinha que enfrentar essa situação, por mais assustadora que fosse. E, quem sabe, encontrar uma maneira de rir no meio de tudo isso.

"Não chore, querida. As noivas ficam nervosas, mas se você continuar chorando, será uma noiva panda, com seus olhos borrados", disse o maquiador com compaixão. "Você quer tomar um banho refrescante antes de começarmos, só preciso que seja rápida."

A equipe deixou o mini salão, me deixando sozinha. Eu tinha apenas uma hora, o tempo que Emir havia me dado. E como sempre, eu nunca gostava de me atrasar. Levantei-me da cadeira e tomei um banho rápido, deixando meu cabelo lavado. Quando abri a porta do banheiro e as pessoas entraram novamente, eu soube que não havia mais volta. Eu seria a esposa de Emir Aksoy.

Meu cabelo foi escovado e penteado com perfeição. Uma maquiagem impecável foi feita em meu rosto. Só faltava escolher o vestido que eu usaria. Decidi seguir a tradição do meu país e escolhi o vestido branco, já que não me casaria com o modelo que havia escolhido anteriormente.

Enquanto eu me arrumava, Joon-Ho pediu para entregarem o contrato de casamento. Olhei atentamente para tudo o que estava escrito ali, as exigências de Emir Aksoy e os meus deveres como esposa. Fiquei um pouco assustada ao ler que eu teria que me entregar a ele. Eu e Danilo nunca tivemos relações íntimas. Anos de noivado, eu sei. Talvez fosse por isso que ele me traía. Eu estava errada. Mas logo Emir veio à minha mente. Eu quase me entreguei a ele duas vezes, sem nem pensar. Eu sou virgem, sei o que é prazer, Danilo e eu tínhamos algumas intimidades, mas com o trabalho duro, eu quase não tinha tempo e queria esperar até o casamento.

Enquanto esses pensamentos me invadiam, o tempo continuava a correr. O relógio parecia estar contra mim. Eu sabia que não podia fugir desse destino, mas dentro de mim havia uma luta entre o medo e a esperança. E tinha que encontrar forças para seguir em frente, para encarar o altar e tudo o que estava por vir. Eu era uma mulher de negócios e isso aqui é um negócio. Um contrato de casamento com validade. Posso ser uma boba e ingênua no amor, mas sou um tubarão para os negócios e se eu encarar isso como trabalho, será melhor. Vou tirar de letra, pelo menos eu espero.

Assim que pus os pés para fora do quarto, Joon-Ho já estava lá, à minha espera. Seus olhos pequenos e atentos me estudavam, como se tentassem decifrar cada pensamento meu.

— Está pronta? - ele perguntou, sua voz suave quebrando o silêncio.

— Sim - respondi, aceitando o braço que ele me oferecia.

Ainda me perguntava como um casamento poderia ser organizado em tão pouco tempo. Homens ocupavam os bancos, provavelmente os homens de Emir. Tudo estava preparado ao lado da piscina, onde o sol brilhava e a brisa fresca soprava. Emir me esperava no altar, imponente e belo. Eu não podia negar sua beleza, nem o perigo que ele representava.

Quando Joon-Ho tentou soltar meu braço, para que eu caminhasse até Emir, eu o impedi.

— Entre comigo - pedi, sem saber ao certo por quê. Eu não podia mostrar meu medo.

Joon-Ho olhou para Emir, que assentiu, permitindo que ele me acompanhasse. Apertei o braço de Joon-Ho, buscando algum conforto, e ele colocou sua mão sobre a minha, transmitindo confiança.

Tudo aconteceu muito rápido. Quando cheguei diante de Emir, ele se aproximou, seus olhos queriam me devorar. Ele estendeu a mão e, por um momento, hesitei. Mas quando nossas peles se tocaram, senti como se estivesse queimando por dentro. Soltei a mão de Joon-Ho e seus olhos me observaram, deixando um vazio estranho em mim. Eu confiava nele. Mas o toque de Emir era como uma brasa.

— Está pronta para se casar comigo Valentina? - ele perguntou, seus olhos brilhando e um sorriso malicioso se formando em seus lábios grossos. E eu, eu estava queimando por dentro.

Eu estava lá, de pé, diante um homem de idade avançada que parecia ser o juiz ou padre. Emir me virou de frente para ele, seus olhos penetrantes me observavam atentamente, enquanto ele pegava um véu vermelho e o colocava sobre minha cabeça. Ele murmurou algumas palavras em turco, um idioma que eu não compreendia.

Emir me entregou um jarro de barro com um pedaço de véu, idêntico ao que agora adornava minha cabeça, cobria a abertura do jarro.

— Jogue no chão e deixe que se quebre em vários pedaços - ele instruiu. E assim eu fiz, obedecendo sem questionar.

Os homens que assistiam à cerimônia gritaram em uníssono, e eu sorri, sem graça, sem entender o significado daquele gesto. Um dos homens, que parecia ter cerca de 70 anos, se levantou e trouxe consigo dois anéis amarrados em uma fita vermelha. Um anel foi colocado no meu dedo, o outro no dedo de Emir. A fita foi cortada pelo homem, e novamente os homens gritaram. O senhor que conduzia a cerimônia pronunciou algumas palavras adicionais e assinamos alguns papéis. Acredito que aquele gesto marcava o fim da nossa cerimônia.

Não consegui conter a lágrima que escorreu pelo meu rosto. Eu tinha sonhado com esse dia, o dia do meu casamento com Danilo. Eu tinha planejado cada detalhe, queria que fosse perfeito. Como fui tola! Agora, estava me casando com um homem que mal conhecia, e nada daquilo que sonhei estava acontecendo.

— Venha minha coelhinha.

Emir me conduziu até uma cadeira à beira da piscina e me sentei. Era desconfortável ser a única mulher ali. Emir pediu que trouxessem algumas caixinhas pretas e, quando ele as abriu, várias joias estavam ali. Fiquei pasma com a quantidade de ouro diante de mim, algo que nunca tinha visto antes.

— De quem são essas joias? - ele estava ajoelhado ao mês pés e neste momento colocava uma pulseira em meu braço.

— São suas joias, tudo isso é seu.

— Minhas? Eu não posso…

— Todos aqui hoje lhe darão presentes, coelhinha. Você é a noiva e merece todo o ouro do mundo. Você é minha mulher agora, a mulher do Baba e deve ter muito ouro a sua volta.

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