Capítulo 2
- Distante. E o caminhão, trouxeram para você? — .
— Ah não, eu dirigi — .
—Mas deve estar muito longe! Longe demais”, exclamou a irmã, colocando as mãos nos cabelos para reanimá-los.
— Um dia e oito horas. Levei dois dias e meio, inclusive parando diversas vezes”, expliquei. Não foi pesado. Pude observar a América, pois não abandonei o que deveria ser meu lar. Christabel e Robert, a quem me recusei a chamar de pais durante nove anos, viajavam muito, mas sempre sozinhos. Eles nunca trouxeram a mim ou a Pearle com eles, provavelmente porque teríamos atrapalhado seus planos. E depois da morte do meu irmão gêmeo, eles mal falaram comigo. Claro, eles não teriam me levado de férias.
— Você não vai querer viajar para lá toda vez que voltar das férias, eu espero — .
Eu nunca voltaria para casa. Já não. Essa nunca foi minha casa. —Não, vou pegar o avião—.
- Isso é melhor. Moramos fora de São Francisco, mas queríamos fazer faculdade em um lugar mais tranquilo. Quantos anos tem? — .
-, estou no segundo ano. Você? — .
— Sou igual a você, Mayra, um a menos. Ela está no primeiro ano, coitada. Ela ainda não se adaptou.
— Posso responder sozinho — defendeu-se — Mas você cursou seu primeiro ano aqui? — .
—Não, em Birmingham—.
—E como você chegou a Stockton? — . Eu entendia o fato de que iríamos morar juntos neste pequeno apartamento alugado o ano todo, mas essas questões estavam começando a ficar muito pessoais. Eu tinha fugido de Birmingham para não ter mais que lidar com meu passado e não estava pronto para um interrogatório.
– Eu amo a Califórnia. Sinto muito, estou arrasado. “Acho que vou tomar um banho”, disse adeus, antes de fazer perguntas embaraçosas. Ser uma pessoa nova e diferente, apagar o passado e escondê-lo acabou por ser uma tarefa muito mais complicada do que pensava.
Coloquei a parte de bagagem do banheiro nos dois armários acima da pia. Gostei de ter meu próprio espaço, me deu um pouco de privacidade. Por mais legais que Maeve e Mayra fossem, ela nunca foi uma pessoa sociável. Nunca brinquei com as outras meninas da escola, fiquei separada. No ensino médio fiz alguns amigos, mas não sabia se poderia defini-los dessa forma, visto que nosso relacionamento só ocorria dentro dos muros da escola. Depois da aula, fiquei a tarde toda na casa da minha avó. Ela estava muito doente e eu fiz tudo que pude para ter certeza de que ela estava bem. Eu não sabia o que era vida social, nunca tive uma. Mesmo durante o primeiro ano de universidade a situação não mudou. Na universidade eu só ia para as aulas, depois ia para a casa da minha avó. Eu não podia me dar ao luxo de deixá-la sozinha, já que ela era a única pessoa que realmente se importava comigo. Foi graças a ela que consegui dividir um apartamento em vez de morar nos quartos sujos que a universidade me forneceu.
Antes de me mudar, pesquisei anúncios de imóveis no site da Universidade de Stockton. Havia vários apartamentos onde meninas e meninos procuravam companheiros de quarto. No final a minha escolha recaiu sobre isso, confirmei a minha presença através da secretaria da escola e agora morei lá. Havia outro grupo de colegas de quarto disponíveis no mesmo prédio, mas eu teria que dividir o quarto com um deles. E, como segundo as indicações do site eram todos homens, não me pareceu assim. A independência que ela teria morando com as irmãs Hamilton era o que ela procurava. Agora que os conheci, pensei que tinha tido sorte com as meninas. Elas eram legais e gentis, pelo menos não eram aquelas bichas que realmente agem e agem como putas. Eu não teria tolerado garotos seminus indo e vindo na frente do meu quarto.
A localização do condomínio era ótima. Não muito perto da universidade, levaria quase dez minutos para chegar lá de van. Porém, desta forma ele não seria o centro das atenções. Não seria visível para todos, quase ninguém teria passado pela minha casa no caminho para a aula. Eu poderia ter continuado sendo a garota invisível, a estudiosa, a normal.
Meu cabelo era castanho, não muito longo. Eles chegaram logo abaixo dos meus ombros. Eram basicamente retos, mas às vezes secos deixando leves ondas naturais. Até os olhos não eram nada originais. Simplesmente marrom, com um leve toque de verde escuro que mal se notava ao redor da pupila. Algumas manchas douradas apareceram com o sol. Altura média, alguns centímetros acima de um metro e setenta e cinco. Físico esbelto, mas não muito magro: ela tinha barriga lisa, sim, mas algumas curvas nos lugares certos. Resumindo, eu era realmente a clássica garota normal. Nada em mim teria atraído atenção, porque isso nunca tinha acontecido até agora. Ele sempre foi invisível. Se alguém pensou que me conhecia, foi apenas por causa do meu sobrenome. Os Parkers eram sem dúvida bem conhecidos em Birmingham.
Ele veio para Stockton para estudar. Minha intenção era continuar escrevendo, pois sempre foi minha maior paixão. Eu poderia ter feito disso um emprego, mas ainda precisava de uma base, de um diploma para começar. Se eu tivesse feito carreira, meu nome teria se tornado pelo menos famoso. E foi isso que literalmente me aterrorizou. Ele sempre viveu nas sombras. Ele sempre foi invisível para todos. E foi horrível que meu maior sonho e meu medo mais ameaçador estivessem tão em desacordo. Quase senti como se todos estivessem com raiva de mim.
E eu nunca teria jurado o contrário. Porque tudo o que vivi até aquele momento só me confirmou isso.
A primeira semana em Stockton foi tranquila. Antes de entrar na universidade, as meninas decidiram me levar para conhecer a cidade. Nem mesmo Mayra estava totalmente adaptada ainda. Ele visitou Maeve diversas vezes durante as férias do ano anterior. Porém, uma coisa era visitá-lo e outra era morar lá.
Achei que era uma cidade muito legal. Não era muito grande, comparado a Birmingham era pequeno. Não senti falta dos arranha-céus ou daqueles edifícios enormes e estranhos, todos tão monótonos e chatos.
Havia um shopping onde prometi a mim mesma fazer algumas compras antes do início dos cursos. Geralmente eu era uma garota esportiva, quando podia usava leggings confortáveis e moletons quentes. Roupas que, assim que foram encontradas por Christabel, desapareceram na lata de lixo. Ele não suportava quando eu não usava roupas de grife sofisticadas, como as dele. Eu tinha medo de manchar o nome da minha família com minhas roupas casuais. Ah, se algum de seus clientes tivesse visto a filha dos Parker vagando pela cidade usando roupas compradas em qualquer loja para adolescentes!
Além de leggings e moletons, eu precisava de roupas mais bonitas. Alguns vestidos, não muito elegantes, e alguns jeans. Ele sabia que ela não era uma beleza marcante, ela sempre foi invisível. Mas os cursos que eu teria frequentado não teriam sido muito concorridos e certamente teria sido notado. Ele sabia como as pessoas podiam ser cruéis com aqueles que consideravam inferiores. Eu não queria ser rotulado como o cara novo, vestido como um perdedor, porque teria permanecido assim durante toda a faculdade e teria que suportar os olhares sujos de todos. Não é que eu me importasse com a opinião das pessoas. Eu só queria ser deixado sozinho e tratado como uma pessoa normal. Afinal, não achei que estivesse pedindo demais.
Além do shopping center, Stockton tinha cinema, pista de boliche, alguns bares e alguns restaurantes. Andando pelas ruas da cidade é possível observar algumas pequenas lojas especializadas em um determinado setor. Enquanto fazia compras, encontrei uma florista e uma vendedora de sorvetes. Os Hamiltons me contaram sobre uma creperia fantástica que eu definitivamente visitaria o mais rápido possível.
Também tive a oportunidade de ver a universidade de fora. A primeira impressão foi positiva, mas sabia que só poderia dar a minha opinião depois de ter assistido às aulas. Eu sabia que ele se preparava bem, que dava aulas excelentes. Em teoria, isso teria sido suficiente para torná-la uma grande universidade. Na prática, porém, não precisei que ninguém me atacasse para poder passar alguns momentos de silêncio dentro de casa.
Naquele sábado, pouco depois do meio-dia, eu estava descendo para o estacionamento para jogar o lixo fora quando a porta do apartamento se abriu quando passei.
Uma pequena loira apareceu na minha frente, alguns centímetros mais alta que eu. Ele era bem magro, pequeno. Então, sem barba, ele quase parecia uma criança, só que maior.
Quando ele me viu, ele sorriu. —Você é a nova colega de quarto da Mayra? — .
— Não diria novidade, estou aqui há uma semana. De qualquer forma, sim - .
—Tyson. Eu moro aqui”, ele estendeu a mão e com a outra apontou para a porta por onde acabara de sair. Eu dei a ele um sorriso tenso.
"Olha, se eu puder ir, tenho uma sacola fedorenta para jogar fora", acenei na cara dele.
-Ei, acalme-se. Você pode me encontrar em, estou indo para Mayra — . Balancei a cabeça e comecei a me afastar, quando uma mão agarrou meu braço.
—Ele nem perguntou seu nome, mas não importa. Ele está apaixonado pela garota”, ouvi uma voz sensual atrás de mim dizer. Senti a presença de alguém atrás de mim, tive muito medo de me mexer porque tinha medo de esbarrar nele.
Respirei fundo e me virei. Meu coração disparou quando vi o que estava na minha frente.
Um cara de verdade, como só vi nos filmes. Ela estava vestindo uma blusa bastante justa com calças de moletom de cintura baixa. Provavelmente olhei para ele de cima a baixo, focando naqueles abdominais que pude vislumbrar através do tecido e em seus bíceps contraídos. Só então percebi que a mão dele ainda estava no meu braço, então dei um passo para trás.
Ele sorriu maliciosamente para mim e duas covinhas adoráveis apareceram em seu rosto. Oh querida. Ela não só tinha um bom corpo. Dois hipnotizantes olhos azuis me encararam.
"Ok, hum, obrigado", virei-me novamente e abri a porta. Corri para fora, colocando o saco de lixo na cômoda, quando ouvi sua voz novamente.
Foi tão profundo e gutural que eu poderia ter sonhado com isso à noite. Então me forcei a parar, porque ele provavelmente já percebeu que eu estava olhando para ele.
"Mas eu quero saber o seu nome, pequena."
Recuperei o pouco sentido que me restava. Ok, ele era um cara legal, mas eu não podia deixá-lo me manipular. Eu tive que ficar claro e não ceder a sentimentos inúteis. Eu estava em Stockton para estudar e, assim como em Birmingham, focaria apenas nisso.
— Você não me conhece, não confie em mim, ok? Agora, se você me dá licença”, comecei a voltar, mas ele parou na minha frente. Quase bati em seu peito. Saí a tempo, mas ainda conseguia sentir o cheiro dele. Ele tinha certeza de que era dele, e não de alguma marca famosa que os playboys usavam para impressionar. Tinha gosto de... cara. Eu não poderia descrever, mas caramba, foi incrível.
— Se você me disser seu nome, podemos nos encontrar — .
— Não tente nada comigo, é um caso perdido desde o início — .
—Eu sou Kyle Hudson. Eu moro aqui -.
Eu respirei fundo. Ela precisava disso para não mandá-lo para o inferno novamente por seu atrevimento. —Sofia Parker. Posso ir agora? — .
- Que nome lindo. Combina com você, eu acho.
—Isso seria um elogio? — Olhei para ele com o canto do olho. Foi ridículo, a frase dele foi ridícula.
- Acho que sim. Tyson foi até a casa da Mayra porque hoje à noite vamos fazer uma espécie de festa em nossa casa, assistindo ao jogo com pizza e cerveja. Logan e eu dissemos para ele convidar você também, ou seja, você e Maeve, para que possamos nos encontrar -.
Uma noite com garotos que poderiam ter sido meus amigos foi uma miragem. Ninguém nunca me convidou para lugar nenhum porque já sabiam que eu não iria. Eu nunca saí. E meus companheiros de Birmingham sabiam disso.
— Bem, acho que vou falar com Maeve —