Capítulo 5
Seus olhos cor de esmeralda parecem ainda mais incandescentes sob a luz direta do sol, e seu cabelo naturalmente realçado esvoaça com a brisa da manhã.
Eu me junto a ele e me sento ao seu lado, em uma grande bota de madeira apoiada horizontalmente no chão, na beira da pista.
- Há algo que o está incomodando e eu posso ver isso. - ele continua seu interrogatório.
Respiro fundo e decido cuspir.
Afinal de contas, por que esconder a verdade de uma das pessoas que mais me conhece?
- Isso é tão sério assim? - pergunto de uma vez só.
- Bem, depende, se é algo que o faz se sentir mal? -
Sacudo a cabeça e percebo que me expressei mal.
- Não, quero dizer... o que o Trey fez. É tão sério assim? -
Chris me olha com uma expressão de surpresa e levanta uma sobrancelha.
- Você não vai me deixar dormir à noite até que eu lhe conte o que aconteceu, não é? -
Deus, não, eu é que não vou conseguir dormir à noite.
- Talvez... - Eu sorri maliciosamente.
- Por que você está tão interessado? -
Encolho os ombros e olho para o chão.
- Pura curiosidade. - Eu minto.
Sim, certo, Joshe, você acha que seu amigo pensa assim? Você é um péssimo mentiroso.
Felizmente, o som de uma motocicleta ao longe, vindo em nossa direção, me salva de minhas mentiras.
Tento me concentrar e, quando reconheço quem é, meu coração começa a bater forte: é o Rick.
- Então, você vai me contar? - Peço a Chris que fale, antes que meu namorado nos alcance.
- Eu contarei, pequena Nes, quando chegar a hora. -
- Prometa-me. - Estendo minha mão para a dele, para assinar esse pacto absurdo.
- Em nome do sorvete de pistache. - Ele aperta minha mão.
Um sorriso me escapa.
- Ele se foi. -
Estou prestes a me levantar do meu assento e ir cumprimentar meu namorado, que já chegou, quando Chris me impede.
- Joshe... Aconselho você a não falar com o Rick sobre isso no momento. Você fará isso mais tarde. -
Eu aceno com a cabeça, mas antes que eu possa pedir que ele explique melhor, uma motocicleta acelera furiosamente e para bem na minha frente.
Meu namorado desce da moto, tira o capacete e fixa os olhos em mim.
- Você ainda está perdendo seu tempo com a minha namorada? - ele se vira para Chris.
Com certeza vou lhe contar depois.
O lado ruim de ter um namorado babaca é que qualquer desculpa é uma boa desculpa para brigar.
Pior do que isso é ter um namorado bonito, mas babaca.
Rick tem aquele ar arrogante, seu cabelo combina com seu humor, um cigarro sempre na boca e um piercing na sobrancelha.
Ele é aquele cara que deixa as garotas loucas quando passa por ele e não tem nenhum problema em pegar garotas... em resumo, é exatamente o oposto do Chris.
E eu acabei caindo na armadilha dele também.
O charme dele me faz esquecer, na maioria das vezes, por que eu deveria estar brava com ele.
- Ei, boneca, onde você foi? - Ele me pega nos braços, me levanta do chão e faz meu nariz colidir com o dele.
Um policial super sexy me sequestrou, enquanto eu estava usando apenas roupas íntimas encharcadas de cerveja por baixo de um roupão rosa choque.
Chris abafa uma tosse e a morena se vira em sua direção.
- Tudo bem, eu estava ocupado. -
Rick afasta um de seus cachos negros rebeldes da testa e levanta levemente a sobrancelha furada.
- Ele deu em cima de você? - ele se refere a Chris, que o afasta, correndo o risco de me desequilibrar.
- Na verdade, eu o estava preparando para a Balboa Race. - Meu treinador deixa escapar esse detalhe não tão irrelevante.
Obrigado, Chris, em nome do sorvete, uma ova.
Meu namorado franze a testa para mim.
- Você não vai participar dessa corrida. -
A Balboa Race é a corrida clandestina definitiva, realizada uma vez por ano: ninguém sabe quando ela acontece, apenas algumas horas antes os organizadores enviam uma mensagem para alguém do grupo, para evitar serem interceptados pela polícia. Há cerca de sessenta pessoas, que estão espalhadas por toda parte ao longo do percurso.
Ela começa no píer de Newport Beach, vai até o píer de Balboa e volta.
A parte difícil é atravessar o trânsito sem ser pego e, acima de tudo... não cair dos píeres.
Eu não me arriscaria tanto se não me sentisse preparado e motivado: há muito dinheiro em jogo.
E dinheiro é exatamente o que eu preciso para resolver o problema do meu namorado: pagar pelos cuidados da avó dele no México e conseguir alguma independência financeira.
Portanto, no momento, seria muito útil para mim, considerando que tenho de me contentar em trabalhar como bartender no Ruby's para ganhar algum dinheiro.
A verdade, Joshe, é que você é um trapo e é orgulhoso demais para ligar para sua tia Lucy e contar a ela a situação.
Estou tentando afirmar minha posição.
- Vamos lá, Rick, por que não? - Espero que entenda o que estou falando e meus motivos para querer me envolver.
Meu namorado me olha com atenção e, por um momento, sinto minhas certezas vacilarem.
- Em primeiro lugar, você é uma mulher. E mulheres não podem participar dessa corrida. -
Quero responder, mas ele levanta um dedo como se quisesse me silenciar.
Tudo bem, mas se acalme, cara, você não é o presidente dos Estados Unidos.
- Em segundo lugar, Joshe... há três anos, um garoto perdeu a vida fazendo essa corrida nojenta. E você é uma criança, não consegue nem dirigir tão bem... -
Antes que eu possa bater em meu namorado arrogante, Chris decide entrar no caminho.
- Na verdade, ele melhorou muito, Rick. Ele não precisa de muito para alcançar nossos padrões. Ele tem coragem, desde que seja um pouco cauteloso. -
Obrigado, Chris. Finalmente alguém está pensando aqui. Talvez eu deixe você tomar mais sorvete pela manhã.
O moreno, no entanto, parece indignado e um brilho de raiva ilumina seus olhos. Eu conheço esse olhar. Ele não significa nada de bom.
- Eu sou o namorado dela aqui. E ela não vai participar de nenhuma maldita corrida. -
Os dois falam de mim como se eu não estivesse lá, e isso em parte me faz sorrir. Então, deixo a peça continuar.
Chris coloca um braço em volta dos ombros de seu parceiro.
-Rick. Você tem razão em estar preocupado, e eu entendo isso. Mas a questão é: você conhece a Joshe, talvez melhor do que eu. Nós dois sabemos como ela é teimosa. Ele vai fazer isso de qualquer maneira, mesmo que o impeçamos. -
Uma risada me escapa.
- Então prefiro segui-la e ensiná-la a não se machucar, pois sei que é um jogo perdido com ela desde o início. -
Chris olha para mim e dá uma piscadela.
O Rick parece um pouco mais calmo agora, mas ainda estou convencido de que ele nunca, jamais, me deixará ir naquele passeio.
- Hum... Que tal irmos comer uma pizza? - minha voz interrompe a conversa deles.
Os dois olham para mim como se tivessem visto um alienígena.
- Mas já são dez da manhã! - ressalta meu namorado.