CAPÍTULO QUATRO: O tempo cura tudo?
WILLIAM MARTINS
Não pensei em muita coisa, apenas passei os braços pelo seu corpo, aproximando o seu corpo ao meu. Respirei o mais fundo que consegui, sentindo o delicioso perfume que ela usa, sendo totalmente diferente dos demais, eu não faço ideia de que perfume seja esse, só que é muito bom mesmo.
Fechei os meus olhos e por uma pequena fração de segundos, senti como se fosse aquela menina de dez anos com as suas marias chiquinhas, correndo até mim com o maior sorriso do mundo, pura felicidade por saber que passaria um final de semana em minha casa. Ela sempre foi minha alegria, minha pequena menina a qual, por muito tempo, amei como se ela fosse minha filha.
Meu maior sonho, desde que eu era bem pequeno, sempre foi a paternidade. Megan, minha amada esposa, nunca compartilhou desse sonho, ela sempre disse que ser apenas nós dois já era suficiente. Nunca me conformei tanto com isso, mas o meu amor por ela era algo tão arrebatador que não me importei, eu tinha ela e isso já me bastava como nunca. Nossa felicidade era essa pequena, quem sempre nos visitava e dava um pouco mais de cor a essa casa.
Agora ela não é mais aquela menina, está totalmente diferente. O penteado de maria chiquinha foi substituído pelo cabelo solto, com os movimentos naturais, tão lindos, brilhantes e sedosos. O corpo magrelo, baixinho deu lugar a um corpão de mulher, Mas uma coisa realmente não mudou, ela continua sendo baixinha, o suficiente para que o abraço se encaixe perfeitamente, de uma forma reconfortante.
Quando o abraço estava durando mais do que o tempo que permito, me afastei dela. Mary não relutou muito, apenas olhou nos meus olhos, transmitindo tantas saudades e carinho que fiquei sem saber o que fazer. Tanto tempo que não recebo um olhar assim, isso porque me afastei totalmente das pessoas ao meu redor, construindo uma barreira ao redor do meu coração. Eu amei e por isso me machuquei, como nunca antes. Por isso eu não vou amar, não vou me permitir ser amado, assim eu nunca mais vou sofrer por amor.
_ Senti saudades, tio.- Com a sua voz meiga ela pronunciou, soltando um sorriso tão carinhoso.
_ Para de encher o seu tio, Mary.- Minha querida cunhada Hermione, pronunciou com o seu tom divertido.
Hermione e meu amado irmão, David, são um casal tão lindo. Eles são engraçados, fofos e românticos juntos. A maior prova desse amor tão intenso que eles sentem é essa menina bem na minha frente, uma mistura perfeita dos dois, com a inteligência de David e toda a graciosidade da mãe.
_ Estou te enchendo, tio?- Em tom de ironia, ela perguntou enquanto me olhava.
Neguei com a cabeça, levantando as mãos em sinal de negação.
_ Senhor, o almoço já está pronto.- Silvia, minha cozinheira de muitos tempos e a responsável por tudo isso, avisou sobre o almoço assim que chegou.
A verdade é que eu não queria estar aqui, com a casa cheia ou pessoas da minha minha vida antiga aqui é um sério risco. Essas três pessoas foram as que eu mais amei em toda a minha vida, quem eu poderia perder e aí sim não teria mais como viver. Por isso eu me afastei deles, assim eu posso deixar de amá-los e sofrer muito menos caso algo os aconteça.
A morte, este sofrimento tão grande aos que ficam, é inevitável. Uma hora ou outra ela chega para todos ao nosso redor, afinal iremos partir um dia e essa é a única certeza que podemos ter durante toda a nossa vida, que em algum momento vamos partir. Eu não quero sentir essa dor novamente, ter que conviver com a pior saudades que existe, aquela que você tem total certeza de que nunca irá embora, mas ficará cada vez maior com o passar dos dias.
Dizem que o luto é um processo doloroso, do qual não temos controle. Passeamos entre os cinco estágios, podendo estar quase chegando no último e voltar ao primeiro rapidamente. Isso porque o ápice dessa dor não é no dia da morte, ou em alguma data específica, mas sim durante algum dia que na rotina de vocês seriam sem importância nenhuma. Acontece algo no decorrer do seu dia e a sua maior vontade é a de contar para aquela pessoa o mais rápido possível e você até se prepara para isso, então se dá conta que nunca poderá compartilhar tal ato com aquela pessoa. Ai o seu mundo desmorona e em questão de segundos retorna ao estágio que, por muitas vezes, acreditou ter passado.
_ Comida fria não é lá das melhores, então vamos para a sala de jantar.- Aproveitei a deixa e continuei no assunto, sem retornar para o que estávamos antes.
_ Não precisa falar duas vezes.- Mary comentou com o seu sorriso brincalhão, tirando um da minha empregada a quem já considero como minha amiga.- Estava com tantas saudades dos seus pratos.
Pelo visto minha amada sobrinha continua sendo bem bajuladora, um pouco manipuladora também. Com um carinho sem igual, chegou até a mais velha e a abraçou, beijando a testa e elogiando a sua comida.
_ Tenho certeza que se esbaldou muito mais na itália.- Olhando para a parede à sua frente, com um tom de voz manhoso e os ciúmes bem nítidos na sua voz.
_ Por favor, as suas comidas são tão deliciosas quanto as maravilhosas massas italianas.- Como uma mestre nessas coisas, conseguiu desviar facilmente do assunto.
Mas, em uma coisa eu preciso concordar com ela. Tive um caso que me fez ir até roma, capital da Itália, onde acabei por provar mais um pouco das iguarias italianas. Elas são divinas, mas os pratos da Silvia realmente chegam aos seus pés com uma facilidade absurda. O tempero da mulher em questão é sem igual, delicioso e com os seus toques secretos. Por isso faço muita questão dela aqui em casa, não consigo mais confiar em outra pessoa.
_ Eu sei que está tentando me bajular e me fazer sentir melhor.- Silvia.
_ Falar a verdade agora é errado?- Mary passou os seus braços ao redor da nuca da mulher, começando a caminhar com ela em direção a sala de jantar.
Apoie o meu corpo na parede, observando o quanto a minha adorável sobrinha cresceu, tornando-se uma mulher em todos os sentidos desta palavra. Ela está tão grande, visivelmente madura, ainda mais bela e sexy do que antes, com um bom gosto inquestionável, leveza e bom humor. Ela cresceu tanto, tendo os traços de mulher e ao mesmo tempo de uma menina bem mais nova do que realmente é.
_ O tempo passa muito rápido, né?- Meu irmão, como se estivesse lendo os meus pensamentos, soube exatamente o que estou pensando.
_ Nisso o ditado realmente está certo, o tempo passa em um piscar de olhos que nem me dou conta.- Concordo.
_ E curar? O tempo realmente cura tudo?- Virou sua atenção para mim, olhando profundamente
Desviei do seu olhar, encarando a foto ao seu lado, um pouco mais atrás dele. Um enorme quadro, extremamente lindo, do meu casamento com Megan. Não, o tempo não me ajudou a aliviar essa dor nem um pouco que fosse, acho que só agravou todos dos dias que passei vivo e ela não.