6 - Facções
Buck cruza finalmente a sala, se jogando na cadeira. Todos lhe encaram com uma expressão azeda, menos eu. Se tinha uma coisa que eu estava naquele momento, era controlada. Eu estava preparando minha mente para ler Tobias. Ele, enfim, solta um suspiro dramaticamente, tomando um gole d'água.
— Foi mal, eu estava do outro lado do complexo... – Buck resmunga sob os olhares ódio. Ninguém nessa mesa possuía paciência, eu o entendo.
— E é por isso que você não é agente de campo. – Mathew concluiu dando de ombros, criticando o físico do nosso nerd.
— Tobias, fale de uma vez – David inicia.
Os fios grisalhos esconderam o segundo em que seus olhos se fecharam, como se ele buscasse algo em seu interior.
— Há exatamente trinta e duas horas atrás, Helena Rostova foi sequestrada.
— Estamos cientes disso, e também do fato de que você mandou apenas Dylan para a missão de reconhecimento. – Termino de dizer, e sinto a mão do loiro segurar o meu ombro, quando levemente me debruço sobre a mesa, em direção a ponta, onde o Tobias jazia.
— Eu sei. – Foi tudo o que ele disse, e eu apenas pisquei, tentando não transparecer minha surpresa. Como ele sabia que eu sei?
— Opa, espera aí, eu não sabia de nada... – Buck se prontifica.
— Melhor você começar à explicar – David pede, e o grisalho apenas assente, respirando fundo.
— Quem me relatou o acontecido foi o Eduard, mas diferente do que contei a Dylan quando o recrutei para a missão é que ele não pediu a minha ajuda.
— Eduard não quer a sua ajuda? – ele assente. — Por quê?
— Ele diz que tem quase certeza de que a mafia mexicana pode estar por trás de tudo isso, e que tudo o que eles querem é que o pai de Eduard pague em troca da segurança dela.
— Se o problema fosse dinheiro ela já estaria resgatada, Eduard e seu pai faturam bilhões todos os anos só com o contrabando de armas. – Eu argumentei, e Tobias acenou como se afirmasse.
— E o que a Helena tem a ver com tudo isso? Ela é russa – foi a vez de Buck questionar.
— Bom, como sabem, à alguns meses Eduard e Helena selaram o matrimônio oficialmente, e ela relatou para a família à poucas semanas sobre estar aguardando um filho. – Concluiu pensativo.
Meus olhos travam em sua expressão contorcida, ele parecia sentir dor. Meus dedos esbranquecem ao apertar o braço da cadeira com muita força.
— Precisamos achá-la... – minha voz foi nada mais que um rugido.
— Sim – suspirou, acomodando-se melhor na cadeira.
— “Sim”? – seu olhar rasteja pela mesa seguindo em minha direção. — Explique melhor a situação, por exemplo, o porquê de esconder toda essa merda da equipe por mais de vinte e quatro horas após o acontecido!?
— Eu agi às escondidas, Eduard não queria que eu mandasse um bando de fugitivos atrás dela, afirmou que poderia causar uma reação negativa entre os dois lados da moeda, tendo em vista que ele não sabe o que aconteceu e nem se os mexicanos realmente estão com ela. No momento eu só prezei pela a segurança de Helena, mas depois de ter tempo para analizar a situação melhor... – se ergue da cadeira.
— Não é legal compartimentalizar esse tipo de coisa... – Mathew sussurra, ganhando o olhar confuso de Tobias.
— Não, não é, e todos aqui sentem carinho pela Helena – David.
— E foi ele quem te deu a pista que segui? – Dylan questionou. Ele deve ter mordido a própria língua quando ouviu Tobias admitir que Eduard comprometia as informações sobre o caso.
— Todas as informações que chegaram para mim viera do Eduard, assim que você afirmou que não havia nada, eu já imaginava que ele iria evitar que eu fizesse algo pela suas costas. Mandei apenas você porque pensei que ele não faria nada com alguém da própria família, mesmo sendo um primo que renega a própria facção... Ele é diferente do pai. — Bom, isso não evitou o moreno de levar uma bela surra quando visitou o último lugar que ela foi vista.
— E os documentos de adoção? Também eram uma distração? – me adianto.
— Este eu consegui por conta própria. Pode vir a se tornar uma peça importante para focarmos na localização dela, e o que essa rixa entre eles pode acabar causando.
— O que um papel de adoção tem a ver com a rixa? – Buck pergunta.
— Está no nome de Helena Rostova, mas não consta informações de antes disso, como a família de sangue, nenhum sobrenome à mais. Contudo, o documento é de origem americana, e não russa. – Me adianto.
— Sim, e respondendo também à sua pergunta, acontece que existe um boato, que já tem anos de comentado.
— Que boato é esse? – David insiste, ansioso.
— Que Helena, na verdade, não é russa – suspirei. — Há um boato que os russos sequestraram um bebê, depois da guerra fria. E um cara mexicano, que trabalha para a mafia de lá, acha que é uma filha que ele teve. A mãe dela foi morta, mas o bebê nunca encontraram.
Me levantei no mesmo segundo, indo até a licoreira no canto da sala, um bom uísque poderia ajudar à engolir essa história. Seria mesmo possível? Helena ser filha de um mafioso mexicano? Isso muda tudo, eu sabia que tinha algo muito curioso nesse sequestro. Helena trabalhou por anos como hacker, se envolveu em muitos casos importantes e perigosos, mas sempre soubre se proteger. Ela desaparecer ou ser sequestrada levanta muitas questões.
— Então, isso se trata de um acerto de contas, e estão usando uma mulher grávida como troféu? – David comentou, furioso.
— Então, como já podem imaginar, é possível que esse boato seja verdadeiro, e que com esse sequestro de Helena, os suspeitos iniciais são os mexicanos.
— Porra! – David responde com uma batida forte na mesa.
— Acredito que Eduard e o pai estejam tentando abafar o caso, os russos ou os mexicanos até agora não se posicionaram.
— Eu ainda não entendi, o que isso tudo tem a ver? – Mathew.
— Ela ter engravidado pode ter sido um gatilho para eles agirem. – Jogo na mesa, esvaziando o copo numa golada só. — Ou venderam essa história para os mexicanos e eles resolveram comprar a briga, mesmo não tendo certeza.
— E querem se vingar roubando ela de volta e o bebê que ela está gerindo. – Dylan concluiu.
— Essa criança, que ainda nem nasceu, pode ter um desfecho importante nessa briga. – Tobias termina, se apoiando na mesa.
— Iremos atuar às escondidas? – Buck questiona.
— Acho mais seguro, já que Eduard não aceita nossa ajuda. – Dylan segue até os armários e começa a tirar de lá algumas armas, enfiando-as em seus coldres.
— Concordo – Tobias assente. — Já nos bastou perder tempo e recursos. Precisamos ir por conta própria. As duas famílias possuem questões pessoais para tratar, e nós só temos um objetivo: recuperar a Helena, e deixá-la decidir o que fazer. Ela nasceu e cresceu num orfanato, imagino que descobrir sobre o pai não vai ser tão relevante para ela quanto proteger o filho.
— Entendi – David confirma, seus cabelos já estavam bagunçados de tanto que mexeu neles durante a reunião, seu jeito mais claro de demonstrar nervosismo. Devolvo o copo à licoreira e volto para a mesa, permanecendo apenas em pé.
— Os vídeos das câmeras de segurança também são estranhos, ela aparece neles e depois some. Não mostra nada mais do que isso.
— Precisamos ir à Moscow. – Tobias caminha até a porta, suspirando.
— O que merda vamos fazer na Rússia? – Dylan novamente, e também me questiono o mesmo.
— Tem alguém lá que irá nos ajudar, na questão de informações e forças. Precisamos de fatos e não de mais mentiras. Estejam prontos em vinte minutos! – e sai às pressas.
— Ele vai envolver outra facção no meio disso. – Dylan cruza os braços.
— Cara, eu odeio quando ele faz isso... – Já tava demorando para Buck começar à reclamar.
— Se adianta que dessa vez você irá conosco, Buck. – Sigo até os armários, digito a senha rapidamente, e começo à me armar. David segue fazendo o mesmo ao meu lado.
— Isso vai ser complicado... – David comentou.