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1 - Veloz e furiosa

Corri pelo corredor extenso e, em apenas alguns segundos, consegui chegar até a janela. Saquei minha pistola e atirei no vidro lhe provocando rachaduras em volta do buraco que a bala fez, e assim que saltei na mesma direção, chocando meu corpo com o vidro, o mesmo se quebrou por completo, permitindo a minha passagem, no mesmo instante em que o explosivo que plantei destrói todo o segundo andar. Por sorte, os cacos de vidro e a minha perigosa aterrissagem não me causaram danos físicos, minha roupa me protegeu o tempo todo. Apesar de ter pulado do segundo andar, eu cai na grama.

Me ergui, andando o mais rápido que podia, não deixando de vislumbrar o fogo engolir a mansão do chefe de estado dos Estados Unidos. Puxo as chaves do McLauren do meu decote, travo e guardo minha pistola assim que entro no carro, pisando fundo no acelerador, saindo de lá.

— Você é a filha da mãe mais sortuda que conheço – ouvi através do comunicador em meu ouvido. Revirei os olhos. — Você foi descuidada, quase não dá tempo.

— Ainda tá aí? Pede um hambúrguer pra mim, e uma Coca-cola, por favor.

— Tobias não vai deixar você tomar nem água quando chegar, ele está louco pra falar com você, ou melhor dizendo, matar você! Ele sabe o que fizemos.

— Não ligo e não me arrependo. O que ele vai fazer? Me pôr de castigo?

— Bom — sorri, observando a estrada vazia, desvio um pouco o olhar para procurar alguma música no painel. —, na minha humilde opinião, considero que fizemos uma boação, e você merece comer quantos hambúrguers quiser.

— Chego em cinco minutos — retiro o fone da orelha, e dou o play para Heathens de Twenty One Pilots. — All my friends are heathens, take it slow...

  Assim que cheguei no complexo, soltei o rabo de cavalo, enquanto ia afrouxando meu uniforme apertado. Estava exausta, porém satisfeita. Olhei para meu reflexo em uma das paredes de vidro daquele andar, admirando meus cabelos caírem como cascatas em ondulações leves e belas. As madeixas castanhas ganharam forte contraste em meu macacão cinza escuro.

O grisalho estava encostado no batente da porta de sua sala. Braços cruzados e sua costumeira expressão contorcida. Sem perder a pose, o alcancei, recebendo aquele olhar zangado de sempre, mas eu conseguia ler suas emoções apesar de ele tentar escondê-las.

Eu sabia que ele se importava comigo, e não com o que eu fazia. Seu rosto estava vermelho e suado. Ele não estava em missão, o que me leva a crer que ele estava apenas preocupado, nervoso. E posso advinhar quem era um dos motivos para mais rugas em seu lindo rosto.

— Kate – disse, e soou como um cumprimento.

— Tobias – descruzou os braços e adentrou na sala. Lhe segui. — Eu não ia deixar que eles saíssem impunes. – Fechei a porta.

— Eu esperava isso do David, porque, geralmente, quando dou uma ordem, você segue, mesmo não concordando. Me surpreendeu muito hoje.

— Sabe que fiz o certo, eu sempre sigo as malditas regras, mas sei quando tenho que quebrá-las. Aquele bosta e o pessoal dele traficou e vendeu gente como quem negocia bananas. Matar apenas o pau-mandado e não todos os responsáveis não seria o suficiente, eles iriam começar tudo de novo. A explosão servirá de aviso! – insisto numa pose firme e séria, para constatar minha opinião.

— Fomos contratados para cuidar do Feelegan, íamos continuar monitorando eles. Matar já costuma ser um problema, e uma chacina como essa pode chamar atenção e causar mais problemas... – ele massageia as temporas. Estressado como sempre.

— Eu não vou ficar parada sabendo que eu poderia ter feito algo, como sempre faço. Dessa vez eu fui e fiz!

— Estou realmente considerando em tirar vocês dois do esquadrão... – suspirou, indo até o outro lado da sala.

Segurei o ar no peito, correndo os olhos pela sala pouco iluminada. Não era a primeira vez que ele dizia isso, eu não estava com receio. A mesa estava com sua bagunça de papéis de sempre. O sofá no recanto, com uniformes jogados e cartuchos de balas vazios. O armário dele de armas com sua led vermelha sinalizando estar trancado. Tobias estava passando tempo demais nesse cubículo.

— Sabe que precisa de mim.

— E é isso que está assegurando seu lugar, por enquanto – respirei fundo. Era a minha deixa. Girei os calcanhares, para enfim sair dali, quando ainda escuto algo. — Eu não te condeno. Eu confio nas suas intenções, mas não nas suas ações. – O avistei na penumbra, ainda de costas para mim. — O meu maior erro foi ter criado laços com vocês.

— Sempre voltamos pra casa. – Dou de ombros.

— Mas nunca são os mesmos de quando saíram. – Meus olhos caíram para o chão. — Essa vida, esse trabalho, mudou tudo em vocês. Eu não te reconheço mais. Antes você tinha nojo da ideia de tirar a vida de alguém, e hoje em dia você escolhe fazer isso.

— Você não tem nada a ver com isso. A diferença entre nós dois é que já aceitei o que sou há muito tempo. Somos adultos, e já éramos antes mesmo de você nos recrutar.

— Você era a que menos merecia estar aqui... – virou-se. Seus olhos, sua expressão, ele falava num tom amargo. Eu poderia até sentir na língua o gosto de suas emoções. — Eu lhe tirei o que você tinha de melhor.

— E o que era?

— Você teria tido um futuro melhor com a Carol, poderia ser médica...

— Você não sabe disso, estou fazendo do mundo um lugar melhor, e faço isso muito bem, até mais do que faria costurando feridas. – Respondo sinceramente, o olhando no fundo dos olhos.

Tobias ainda me vê como uma criança, e sempre joga na minha cara o quanto se arrepende de ter me aceitado na sua organização.

— Eu te tornei uma assassina, é disso que você sente orgulho? – ele estreita os olhos.— É assim que sente que faz a diferença?

— Eu já aceitei o que sou a muito tempo – gritei. — E isso é problema meu — e sai o mais rápido que pude.

  Tobias era careta as vezes, nem parecia ter a reputação que tinha. Ele as vezes parecia um cordeiro em pele de lobo. Talvez a idade esteja fazendo ele refletir na vida que escolheu levar, mas por que refletir suas opiniões nos outros desnecessariamente?

  Eu já sabia do que esse trabalho se tratava quando entrei para o grupo. Além disso, alguém precisa fazer o trabalho sujo. Muitas pessoas andam livres e seguras por nossa causa, porque arriscamos nossas vidas para isso. O sistema da sociedade é burocrático e falho demais para praticar a verdadeira justiça, fora o fato de haver corrupções. E é por isso que existimos, e para mim o resultado final basta. Irei para o inferno com o sorriso mais lindo do mundo.

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