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Capítulo 5

A recuperação foi dolorosa para Vick. Ela recebeu alta alguns dias depois, chegou em casa, tomou banho e foi dormir, amparada por calmantes. Lauren tinha ido trabalhar. Antes de dormir, Vick ligou o celular. As amigas tinham mandado mensagens, e ela respondeu contando o que aconteceu, exceto para Daia, pois queria contar a Raul pessoalmente. Ele tinha mandado mensagem no sábado perguntando se ela estava bem, e ela respondeu:

"Oi, estou me recuperando e você?"

Ele perguntou se podia ligar para ela. Ela respondeu:

"Podemos conversar por mensagem mesmo? Preciso falar com você!!"

Ele disse que sim, perguntou o que tinha acontecido. Ela dormiu e não respondeu. No final do dia, ela acordou com o celular tocando. Era Raul. Ela não atendeu, mas mandou uma mensagem: "Oi, eu estava dormindo."

Ele disse que estava no portão e perguntou se ela estava em casa mesmo. Ela respondeu por áudio, sonolenta:

"Estou sim, se estiver aberto pode entrar, eu preciso tomar um banho, pode me esperar na sala."

Ele foi entrando. Ela correu para o banheiro porque estava com o pijama sujo de sangue; tinha vazado o absorvente e sujado até a cama. Ele entrou, ficou na sala sentado esperando. Ela saiu do banheiro já vestida. Ele falou sério, levantando:

— Oi, como você está?

Ela respondeu, parada na frente dele:

— Não precisava ter vindo aqui, eu ia te responder. Tomei calmante para dormir, meu corpo está muito ruim, desculpa.

Ele respondeu meio perdido:

— Está, você quer que eu volte outra hora? Posso fazer alguma coisa por você?

Ela respondeu, indo para o quarto:

— Não, vai ser rápido. Eu só achei que devia te contar porque é o certo, e pessoalmente é melhor.

Ela se aproximou da cama, foi tirar o lençol falando de costas para ele:

— Faziam algumas semanas que eu não estava bem, e naquele dia do chá da Daia, piorei. Eu estava grávida de quatro a cinco semanas, mas ele estava nas trompas, então não tinha o que fazer. É... Não tinha como deixar ele lá, induziram o aborto com medicação, porque eu já estava comprometida e um procedimento cirúrgico já não era mais viável.

Ele ficou quieto, ouvindo com espanto, se aproximou para ajudar ela com a cama. Ela falou que não precisava, constrangida. Ele respondeu enrolando o lençol:

— Fica tranquila, quando o Be nasceu eu que cuidei da Lidi. Posso colocar no tanque?

Ela balançou a cabeça que sim. Ele voltou, foi tomando a frente dela, colocando outro lençol, arrumando a cama. Perguntou como ela estava, passou a mão no braço dela. Ela sentou e falou cabisbaixa, com as mãos na cabeça:

— Não estou bem, mas vou ficar. Só queria te falar isso mesmo, para evitar qualquer atrito desnecessário com histórias mal contadas, era seu, eu só estive com você. E tomei a pílula do dia seguinte como combinamos, o médico explicou que o motivo de tudo pode ter sido isso.

Ele sentou na cadeira do computador, se aproximou e falou chateado que sentia muito por tudo o que ela passou. Perguntou por que ela não contou logo a verdade assim que soube. Ela respondeu:

— Tive medo das coisas ruins que você podia me falar. Você não queria, eu também não. Deve ser castigo, sabe, pelas coisas que fiz de errado!

Ele a abraçou, disse que não sabia nem o que falar. Ele estava quase chorando. Ela respondeu quase chorando também:

— Não precisa falar nada, já acabou antes mesmo de acontecer. Eu me sinto tão culpada, não notei o que estava acontecendo comigo no meu corpo, não me cuidei, eu sou muito burra mesmo, ultimamente está tudo dando errado. Isso cansa, eu estou exausta! Preferia ter morrido naquele acidente.

Ele disse que não era culpa dela, perguntou se podia ajudar de alguma forma com dinheiro, remédios, qualquer coisa. Ela respondeu, se afastando, indo deitar chorando:

— Não, está tudo certo. Eu vou ficar de repouso essa semana porque tive algumas complicações, e depois volto para casa. Eu estou com muito sono, me desculpa.

Ele segurou na mão dela, olhando as marcas de agulha e respondeu ainda sentado na cadeira ao lado da cama:

— Não precisa se desculpar por nada. O que você tomou para dormir? Você está dormindo desde que horas?

Ela disse que desde antes do almoço, falou que ele podia ir embora. Ele respondeu enxugando as lágrimas dela:

— Eu vou ficar até sua mãe chegar, já não te acompanhei no hospital e eu devia estar com você lá para te apoiar.

Ela ficou quieta, se aconchegou na cama. Quando estava pegando no sono, ele perguntou se ela não ia comer nada. Ela respondeu sonolenta:

— Não quero comer e você não precisa ficar fazendo isso. A gente nem estava mais conversando mesmo, eu agradeço sua atenção, mas não precisa ficar.

Ele ficou quieto, não saiu do lugar, não respondeu nada. Ela dormiu e ele ficou lá por horas vigiando o sono dela, pensando em tudo até Lauren chegar.

Quando ela chegou, entrou sem fazer barulho, parou na porta do quarto e falou para ele baixinho:

— Oi, tudo bem por aqui?

Ele levantou, saiu do quarto, disse que quis ficar lá até ela chegar. Ela falou:

— Vocês conversaram?

Ele respondeu chateado:

— Sim, ela me contou tudo. Eu não fazia ideia de nada, fiquei preocupado no sábado, mandei até mensagem, liguei, mas ela não me disse nada até hoje.

Começaram a falar da Vick. Lauren disse que ela tinha aquela mania de querer resolver tudo sozinha, mesmo que aquilo acabasse com ela. Ele ofereceu ajuda, disse que queria fazer algo por ela. Lauren respondeu:

— Eu queria poder ajudar, me sinto incapaz tanto quanto você. Ela não se abre comigo, só sabe falar que quer ir embora daqui, eu já não sei mais o que fazer com ela, Raul.

Ele disse que não conseguia entender ela também, que tinha medo de se envolver mais, porque ela era imatura e ele não era nada tolerante. Lauren disse que Vick não ia deixar ele se aproximar porque na cabeça dela seria por pena, já que tinham terminado, e que a filha era 8 ou 80. Ele disse que ia tentar ser um amigo já que ela se abria com ele, se colocou disponível para ajudar de qualquer forma. O medo de todos era de que ela tentasse se matar de novo.

Vick estava dormindo, não ouviu nada. Lauren acompanhou ele até o portão, agradeceu várias vezes por tudo, e ele se desculpou, lamentou por terem se descuidado, provocando tudo aquilo. Lauren disse que não eram fáceis as coisas mesmo, comentou que viu Vick feliz como não via há anos, enquanto ela estava saindo com ele. Ele mesmo disse que não eram compatíveis, que na situação dele, mais experiente, que já tinha ido longe até demais com ela, falou que não devia ter nem se envolvido com ela.

Lauren fez um prato de comida e foi acordar Vick para comer. Ela deu algumas garfadas, coisa pouca e disse que não queria ficar lá. Lauren respondeu com firmeza:

— Você precisa se cuidar e eu não vou deixar você ir para lugar nenhum assim, eu sou a sua mãe e você vai me respeitar querendo ou não, seu pai vai vir aqui amanhã para a gente conversar. Seu irmão está chegando no fim de semana! Você não está trabalhando com registro, graças a Deus colocamos as contas em ordem, não tem por que ir embora para canto nenhum, falta pouco para acabar o ano, depois você se decide, pensa com calma no que vai fazer.

Ela perguntou do Miyuki. Lauren disse que ele estava chateado com ela porque ela não o respondia direito. Ela falou irônica:

— Se eu fizesse isso só com ele estava bom. Você viu o Raul? Aqui?

Lauren disse que sim, que ele foi embora assim que ela chegou, perguntou como foi a conversa com ele. Vick respondeu:

— Sei lá, tranquilo, normal!! Ele não disse nada, na verdade, só ficou com pena e ofereceu ajuda.

Elas conversaram um pouco falando do Natal. Lauren comentou que Victor estava lindo, que lembrava muito Miyuki bebê. Vick disse que não estava vendo ele porque não gostava de ser falsa com Juliana. Lauren respondeu:

— Você precisa parar com isso, desse jeito vai ser difícil seguir em frente, eu errei e sei disso. Essa história não é da sua alçada, Virgínia, seu pai e eu já resolvemos nossas diferenças e acabou.

Elas continuaram conversando sobre outras coisas. Lauren lembrou Vick que ela tinha retorno no médico na terça-feira, dia seguinte. Jorge que ia levar ela. Daia mandou mensagem falando que sentia muito por tudo o que aconteceu, perguntou se podia ir ver ela no dia seguinte. Ela disse que sim, que ia avisar quando chegasse do médico.

Raul mandou mensagem cedo:

"Bom dia, está melhor?"

Ela respondeu enquanto se arrumava para ir à consulta:

"Oi, bom dia, estou sim, tenho retorno no médico hoje. E você?"

Jorge foi buscá-la com Juliana junto e Victor. Eles não ficavam tocando em assuntos desagradáveis. Depois da consulta, eles a convidaram para ir ficar na casa deles. Ela aceitou. Jorge só passou para deixar os três e foi trabalhar. Victor estava no bebê conforto. Juliana perguntou se Vick queria pegar ele. Ela respondeu sem jeito:

— Eu não sei. Se quero!

Juliana falou soltando o Victor:

— Se você quiser conversar sobre qualquer coisa, eu estou aqui, está?!

Elas estavam na sala. Vick esticou os braços pedindo o Victor. Ela ficou olhando para ele, mexendo naquelas mãos pequenininhas e frágeis, sentou no sofá e falou sentida:

— Eu não sei se quero ser mãe um dia, não consigo cuidar nem de mim, como vou ter alguém totalmente dependente assim?!

Juliana disse que o amor fazia nascer uma mãe, que Vick era nova e que ia poder tentar quando estivesse pronta, em um relacionamento estável com alguém legal. Ela disse que não sabia ter um relacionamento, que até Flávio devia estar melhor que ela, seguindo com a vida dele, com um filho a caminho. Juliana disse que era para ela esquecer dele porque não valia a pena. Ela respondeu:

— Para alguns as más escolhas dão certo, para outros como eu, as boas escolhas são uma grande merda.

Juliana disse que ela podia sempre refazer as escolhas, perguntou se podia ir para a cozinha fazer almoço e deixar o Victor com ela. Vick respondeu:

— Claro, eu fico com ele. Logo cresce e para de me respeitar como o Miyuki.

Elas deram risada. Juliana disse que estava ansiosa para a chegada do Miyuki. Vick ficou deitada na sala admirando o irmão. Na hora do almoço, Raul respondeu ela, perguntou como tinha sido na consulta. Ela explicou os procedimentos, disse que ia precisar tomar remédio para anemia. Ele falou que queria conversar com ela antes dela ir embora. Ela mandou uma foto com o Victor, disse que estava muito bem acompanhada. Ele respondeu:

"Que bom que você não está sozinha trancada no quarto. Mas desse jeito eu vou ficar com ciúmes."

Ela respondeu:

"?‍♀️?‍♀️ Mas você é o meu número 1, quem tem outras pessoas na vida é você!!"

Ele disse que não tinha ninguém. Ela falou que viu ele beijando a enfermeira, amiga da Daia. Ele respondeu:

"Vi você com outros também e eu não estou te questionando vendo você dizer que sou sua primeira opção. Vou voltar a trabalhar, tchau, depois a gente se fala."

Ela respondeu:

"? Tchau, bom trabalho."

Ela passou o dia todo com Juliana e o irmão caçula. Ela estava um pouco triste e não conseguia parar de pensar em como seria tudo se ela não tivesse perdido o bebê. No final do dia, ela foi para casa de Uber. Já era quase 19:00 quando Raul chegou sem avisar, de moto. Ela estava na sala, ouviu e foi no portão atender ele. Ela abriu e falou:

— Oi, vai entrar?

Ele respondeu sério:

— Oi, só passei para ver como você está, minha irmã falou que você ia em casa, mas não foi.

Ela disse que estava cansada por ter ficado fora o dia todo. Ele perguntou quando ela ia embora. Ela respondeu:

— Não sei, minha mãe quer que eu fique até depois do Natal, você quer entrar?

Foram entrando. Ele perguntou por que ela teve medo de contar a verdade, disse que estava curioso para saber o que ela esperava ouvir dele. Ela respondeu:

— Não sei, você podia querer me humilhar, duvidar de mim e piorar tudo. Depois daquele dia no motel tudo mudou!

Sentaram na sala. Ele falou:

— Duvidar do quê? Que era meu?

Ela balançou a cabeça que sim. Ele falou:

— Mas você esteve com mais alguém enquanto estava comigo?

Ela respondeu surpresa, chateada:

— Onde você quer chegar? Não estou entendendo.

Ele disse que queria entender melhor tudo, saber como ela se sentiu. Ela não disse nada, ficou muito chateada. Ele falou cabisbaixo:

— Eu não tenho por que duvidar de você, ou tenho? Fico pensando muito no que você acha de mim, sabe, de verdade, porque você escreveu aquelas coisas todas e não faz sentido.

Ela respondeu irônica:

— Muitas coisas não fazem sentido algum mesmo.

Ele respondeu, citando anotações da agenda dela:

— As mãos dele são geladas e um pouco ásperas, eu gosto disso, me dá arrepios ser tocada por ele. Não sei se ele sabe quem eu sou, acho que não, ele nem iria gostar se soubesse. Odeio o modo que me sinto com ele às vezes, parece um jogo, mas eu vou sair perdendo. Ele me deixa triste, é o oposto do Thomás, não faz sentido algum, piadas de mau gosto e apelidos que me irritam, acho que eu tenho motivos do passado para não gostar dele.

Ela pediu para ele parar. Ele respondeu:

— Você ainda escreve? Posso ver?

Ela respondeu incomodada, quase chorando:

— Não.

Ele continuou falando, encarando ela:

— O Thomás é tão calmo, tudo com ele flui naturalmente, mas não sinto segurança nas palavras dele, é calmo demais, isso me assusta. O beijo do Thomás é bom, conversar com ele é incrível, não faz sentido a Rafaela me oferecer ele de bandeja. Minha mãe quer me manipular e vigiar cada passo meu, me sinto sufocada, tenho certeza que ela está mentindo. Hoje o Raul me irritou muito, odeio a forma que ele me trata, como se eu fosse tudo em um dia e nada no outro, eu não posso insistir nisso, ele não vale a pena. Senti tanta raiva ontem, eu não sei se estou lembrando coisas de antes ou só confundindo com as de agora. Me sinto exausta e tudo isso dói muito.

Ela falou irritada:

— Está bom, já vi que você leu tudo, entendi. Chega, Raul.

Ele perguntou quando ela começou a lembrar. Ela disse que não sabia ao certo porque demorou para se dar conta de que eram coisas antigas. Ele respondeu:

— Quando você lembrou de mim? Do que você se lembra?

Ela disse que no começo, quando se aproximaram, que foi ficando mais forte na primeira briga deles quando ela foi parar no hospital. Ele perguntou por que ela deixou ele lá sendo feito de bobo, criando novas experiências para ela. Ela respondeu chateada:

— Você não é idiota, não por isso, me tratou bem e eu gostei, eu estava sem memória mas não louca, eu não queria me aproximar das pessoas do passado, todos mentiram muito para mim e você sempre pareceu sincero. Fiquei confusa, senti medo de contar a verdade, eu gostava de quem eu era com você!

Ele ficou quieto alguns minutos e falou:

— Também me sinto confuso com você, ontem quando você me contou o que aconteceu eu fiquei assustado, nem sabia o que te dizer, mas hoje eu pensei melhor, fiquei chateado, você tem razão eu não queria mais um filho agora, mas eu quero que você saiba que eu sinto muito e que ia ficar feliz mesmo com a nossa situação.

Ela respondeu chorando:

— Eu não quero nunca mais correr o risco de passar por isso.

Ele disse que não queria ela se culpando por nada e que ela teria outras oportunidades na vida, que nunca era tempo demais. Ela disse que devia merecer tudo aquilo. Ele foi sentar perto, abraçou ela e falou:

— Não fala assim, você errou e todos erram, se você soubesse o tanto de coisa errada que já fiz na sua idade. Vai passar, você vai ficar bem!

Ela ficou chorando, deitou no colo dele, e o choro sentido era também por ele estar lá. Ela não era capaz de compreender na época, mas nada a deixava mais triste ou feliz do que ele, porque ela estava perdidamente apaixonada e mesmo sem reconhecer já sabia que era algo inalcançável, por mais que ele fosse legal, não era algo recíproco aquele amor.

Ficaram abraçados até que o celular dela tocou. Era Edu falando que estava chegando para vê-la. Raul pôde ouvir e ficou quieto enquanto ela conversava. Ela disse que não estava sozinha, mas Edu nem ligou. Assim que ela desligou, Raul falou que ia embora. Ela respondeu:

— Você pode ficar, ele é só meu amigo.

Raul respondeu irônico:

— Eu também, só um amigo.

Ela respondeu que não queria aquele tipo de comportamento rolando entre eles. Ele perguntou se ela estava ficando com Edu, já que estavam bem próximos, postando fotos juntos e ele mesmo viu o carro dele lá por horas há alguns dias. Ela respondeu:

— Vai embora! Você não tem o direito de me tratar assim, você quis terminar, eu não te devo satisfação. Eu vi você com outra também, e daí? Veio aqui para brigar comigo? Eu acabei de perder um filho seu, você não me respeita!

Ele disse que estava cansado, que pelo menos não ia faltar companhia para ela já que sempre tinha gente atrás dela o tempo todo. Ela foi grossa falando que não ia mais querer a amizade dele porque ele sempre dava um jeito de magoar ela. Ele foi saindo, ficou bravo, disse que era o certo a se fazer, ficar longe, e a deixou chorando.

Quando Edu chegou, ela pediu para saírem de lá. Ele a levou para comer na rua. Ele estava preocupado com ela, quase não conversaram, ela estava triste por causa de tudo. No dia seguinte, ela contou para ele que Raul não gostou de saber que ele estava indo lá. Ele foi direto, disse que era ciúmes, que se ela quisesse ele iria se afastar, porque ele não queria nunca prejudicar ela de forma alguma. Ela disse que não ia perder uma amizade de tantos anos por causa de uma pessoa que nem sabia o que queria. Edu disse que ele sempre soube o que queria e que entendia que era demais para ela, reforçou que alguém como Raul nunca ia entender a intensidade dela.

Ela não conversou mais com Raul. Naquela semana, ela foi na casa dele ver a Daia. Ela estava embalando as coisas para se mudar. Elas conversaram muito, Vick passou a tarde toda lá. Elas evitavam falar do Raul, mas Vick comentou que estava muito magoada com ele, e Daia disse que ele estava com raiva, que não podia escutar o nome dela que virava um bicho. Vick perguntou se ele estava saindo com a enfermeira. Daia disse que era coisa antiga, que os dois ficavam às vezes, mas que não era nada sério. Vick confessou que tinha ficado com Edu há algum tempo e relatou que não foi como ela esperava, que nada mais seria depois de tudo o que viveu com Raul. Ela foi embora antes do Raul chegar do trabalho. Eles estavam organizando uma ceia de Natal, a família da Ivone ia se reunir. Lauren, namorando Hugo, também iria passar com eles. Vick falou para Daia que ia passar com Jorge.

Naquela semana, Miyuki chegou de viagem. Vick foi ficar na casa do Jorge no mesmo dia, e Hugo chegou no dia seguinte para ficar na casa da Lauren. No dia 23 de dezembro, Vick encontrou Thomás no elevador. Ele a cumprimentou, mas não puxou assunto. Quando ela foi sair, ele perguntou se podiam conversar qualquer dia. Ela respondeu:

— Não. É melhor não!

Ele disse que tudo bem, ficou sem graça. Ela falou que ele era uma pessoa muito legal, mas que não podia ser amiga ou qualquer outra coisa dele, que não era viável. Ele disse que lamentava, desejou feliz Natal. Ela sorriu e falou o mesmo, disse "tchau" e saiu do elevador.

Na véspera do Natal, ela tinha marcado para fazer o cabelo com Daia. Babi tinha chegado para ficar com a família dela e levou Maria também. Marcaram de ir juntas fazer o cabelo. Foram logo após a hora do almoço. Daia saiu no portão para receber elas. Vick e ela se abraçaram. Daia já começou a pedir para Vick ir passar o Natal com eles, disse que Lauren estava triste por passar sem os dois filhos. Elas foram entrando pelo corredor de fora. A moto do Raul não estava na garagem, Vick já chegou reparando, com medo de vê-lo. Foram para o salão. Maria começou primeiro, ela tinha cabelo vermelho fogo, depois Vick e por último Babi. Elas tinham levado cervejas e colocado na geladeira. Daia disse que estava sozinha. Enquanto faziam o cabelo, começaram a beber. As quatro tiraram uma foto juntas e postaram. A barriga da Daia estava grande, elas colocaram a mão, ficou bem bonita a foto. Antes de ir embora, Vick entregou alguns presentes a Daia, eram para ela, o bebê, tinha até para Ivone e um para o Raul. Daia surpresa perguntou se Vick não queria entregar pessoalmente. Ela disse que não. O presente era uma camiseta personalizada que falava sobre motos, tinha as marchas e o nome dele. As três foram para a casa da Babi.

Vick deu um jeitinho de evitar a família paterna e passou a ceia na casa da Babi. Ela trocou mensagens com a Lauren, disse que queria vê-la, mas que não ia se sentir bem lá na Ivone com a casa cheia. Lauren não a via há dias e Miyuki ia ficar com ela no dia 25 de dezembro. Elas combinaram de se ver quando Lauren fosse buscar Miyuki.

No dia 25 de dezembro, Vick dormiu até tarde, deixando o celular desligado sem querer. Lauren se chateou, tentou falar com ela sem sucesso. Quando Vick acordou e ligou o celular, já estavam almoçando na casa da Ivone. Lauren mandou mensagem chateada falando que não ia mais tentar, que ia focar um pouco mais nela porque ela estava cansada daquele comportamento da filha. Disse que ia viajar à noite e só voltar no próximo ano, no começo de janeiro. Vick falou que estava dormindo, que não fez por mal. Lauren só visualizou e não respondeu. Jorge também tinha tentado falar com ela e também estava chateado porque ela sumiu no dia anterior.

O dia já começou ruim. Ela levantou, tomou banho, almoçou e à tarde decidiu ir ver a Lauren. Só Maria foi com ela. Estavam todos na garagem festejando, o portão estava aberto. Ivone foi falar com elas na calçada, se cumprimentaram, ela perguntou pela mãe. Ivone falou surpresa:

— Sua mãe já foi, querida, ela disse que você não viria, vocês não conversaram?

Vick respondeu chateada:

— Não, ela foi para casa?

Ivone disse que não, que Lauren já tinha ido viajar para a casa do Hugo. Os olhos da Vick se encheram de lágrimas. Ela pegou o celular e começou a tentar ligar para Lauren, só dava caixa postal. Ivone perguntou o que estava acontecendo entre elas. Vick respondeu, limpando as lágrimas do rosto:

— Eu sou um problema. Só isso! Eu não fiz de propósito, eu juro, mas quem vai acreditar em mim, né?! A grande mentirosa!

Ivone abraçou ela, disse que ela acreditava. Vick respondeu:

— Não importa. Se você conseguir falar com ela, não precisa falar que eu vim aqui, deixa para lá.

Daia saiu para fora também. Chamaram Vick para entrar. Ela agradeceu, disse que preferia ir para casa. Maria falou que ia cuidar dela. Ficaram com muita dó de ver o quanto ela se chateou por não conseguir ver Lauren. Deu para ver que ela estava falando a verdade. Raul estava lá dentro, mas não se falaram. Vick foi para a casa da Lauren para pegar algumas coisas. Enquanto arrumava tudo, já foi falando para a Babi que ela ia embora para a casa delas. Quando ela estava saindo, colocando sacos com as coisas dela no carro, Raul chegou. Ele falou sem jeito:

— Oi, vim agradecer o presente.

Ela respondeu séria:

— Espero que tenha gostado.

Ele falou que tinha levado algo para ela também, entregou um embrulho. Ela pegou, o encarou e disse:

— Obrigada. Quer que eu abra agora?

Ele disse que não precisava, que achou a cara dela e que fosse ser útil. Disse que já ia embora. Ela agradeceu novamente, falou "tchau". Não teve abraço e nem beijo no rosto, ambos foram frios um com o outro. Maria ficou abismada vendo aquilo porque era nítido que eles queriam falar e fazer mais coisas, mas não aconteceu nada.

Ele foi embora e elas saíram em seguida. Vick estava chateada, acabou esquecendo o presente no porta-malas. Ela só foi abrir à noite quando chegou em casa. Era uma agenda do próximo ano e um jogo de canetas coloridas. Ela gostou muito, achou graça da ironia do presente.

Lauren não entrou em contato com ela, mas ficou online, até postou fotos. Jorge ficou bravo porque ela foi embora sem se despedir do irmão e dele. Eles não tinham o endereço novo dela e estavam todos cansados de ficar atrás. Ninguém sabia onde era a kitnet. Maria já não tinha família para comemorar as datas e optou por trabalhar na última semana do ano. Vick estava bem na medida do possível, só mais magra e abatida. Ela foi trabalhar com Maria para cobrir funcionárias que tinham ido viajar. Babi ficou na casa dos pais dela, ela saía todas as noites com os amigos das antigas, com Edu também, ela estava se divertindo bastante, e as outras duas só ficaram em casa. No dia 30 de dezembro, Juliana tentou conversar com Vick, convidou ela para ir ficar com eles pelo menos na véspera da virada de ano. Ela disse que ia trabalhar direto e que só não ia por isso. Juliana tentava apaziguar os ânimos da família sempre que podia, mas estava difícil com aquele temperamento da Vick.

Maria e Vick passaram no mercado depois de encerrar o expediente no dia 31 de dezembro. Elas tinham planos de ficar em casa comendo bem e assistindo o show da virada. Quando chegaram em casa, Babi estava lá toda animada falando que não ia iniciar o ano sem as vadias preferidas dela. Elas se animaram e decidiram sair, ir para uma balada.

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