Biblioteca
Português
Capítulos
Configurações

Capítulo 4

A recuperação foi dolorosa. Ela recebeu alta alguns dias depois, chegando em casa, tomou banho e foi dormir, à base de calmantes. Lauren tinha ido trabalhar. Antes de dormir, Vick ligou o celular; as amigas tinham mandado mensagens. Ela respondeu contando o que aconteceu, só não falou nada para Daia porque ela mesma queria contar a Raul. Ele tinha mandado mensagem já no sábado perguntando se ela estava bem. Ela respondeu:

"Oi, estou me recuperando e você?"

Ele perguntou se podia ligar para ela. Ela respondeu:

"Podemos conversar por mensagem mesmo? Preciso falar com você!!"

Ele disse que sim, perguntou o que tinha acontecido. Ela dormiu e não respondeu. No final do dia, ela acordou com o celular tocando. Era Raul. Ela não atendeu e mandou uma mensagem: "Oi, eu estava dormindo."

Ele disse que estava no portão, perguntou se ela estava em casa mesmo. Ela respondeu por áudio, sonolenta:

"Estou sim, se estiver aberto pode entrar, eu preciso tomar um banho, pode me esperar na sala."

Ele foi entrando. Ela correu para o banheiro porque estava com o pijama sujo de sangue; tinha vazado o absorvente e sujado até a cama. Ele entrou, ficou na sala sentado esperando. Ela saiu do banheiro já vestida. Ele falou sério, levantando:

— Oi, como você está?

Ela respondeu, parada na frente dele:

— Não precisava ter vindo aqui, eu ia te responder. Tomei calmante para dormir, meu corpo está muito ruim, desculpa.

Ele respondeu meio perdido:

— Está, você quer que eu volte outra hora? Posso fazer alguma coisa por você?

Ela respondeu, indo para o quarto:

— Não, vai ser rápido. Eu só achei que devia te contar porque é o certo, e pessoalmente é melhor.

Ela se aproximou da cama, foi tirar o lençol falando de costas para ele:

— Faziam algumas semanas que eu não estava bem e naquele dia do chá da Daia, piorei. Eu estava grávida de quatro a cinco semanas, mas ele estava nas trompas, então não tinha o que fazer. É... Não tinha como deixar ele lá, induziram o aborto com medicação, porque eu já estava comprometida e um procedimento cirúrgico já não era mais viável.

Ele ficou quieto, ouvindo com espanto, se aproximou para ajudar ela com a cama. Ela falou que não precisava, constrangida. Ele respondeu enrolando o lençol:

— Fica tranquila, quando o Be nasceu eu que cuidei da Lidi. Posso colocar no tanque?

Ela balançou a cabeça que sim. Ele voltou, foi tomando a frente dela, colocando outro lençol, arrumando a cama. Perguntou como ela estava, passou a mão no braço dela. Ela sentou e falou cabisbaixa, com as mãos na cabeça:

— Não estou bem, mas vou ficar. Só queria te falar isso mesmo, para evitar qualquer atrito desnecessário com histórias mal contadas, era seu, eu só estive com você. E tomei a pílula do dia seguinte como combinamos, o médico explicou que o motivo de tudo pode ter sido isso.

Ele sentou na cadeira do computador, se aproximou e falou chateado que sentia muito por tudo o que ela passou. Perguntou por que ela não contou logo a verdade assim que soube. Ela respondeu:

— Tive medo das coisas ruins que você podia me falar, você não queria, eu também não. Deve ser castigo, sabe, pelas coisas que fiz de errado!

Ele a abraçou, disse que não sabia nem o que falar. Ele estava quase chorando. Ela respondeu quase chorando também:

— Não precisa falar nada, já acabou antes mesmo de acontecer. Eu me sinto tão culpada, não notei o que estava acontecendo comigo no meu corpo, não me cuidei, eu sou muito burra mesmo, ultimamente está tudo dando errado. Isso cansa, eu estou exausta! Preferia ter morrido naquele acidente.

Ele disse que não era culpa dela, perguntou se podia ajudar de alguma forma com dinheiro, remédios, qualquer coisa. Ela respondeu, se afastando, indo deitar chorando:

— Não, está tudo certo. Eu vou ficar de repouso essa semana porque tive algumas complicações, e depois volto para casa. Eu estou com muito sono, me desculpa.

Ele segurou na mão dela, olhando as marcas de agulha e respondeu ainda sentado na cadeira ao lado da cama:

— Não precisa se desculpar por nada, o que você tomou para dormir? Você está dormindo desde que horas?

Ela disse que desde antes do almoço, falou que ele podia ir embora. Ele respondeu enxugando as lágrimas dela:

— Eu vou ficar até sua mãe chegar, já não te acompanhei no hospital e eu devia estar com você lá para te apoiar.

Ela ficou quieta, se aconchegou na cama. Quando estava pegando no sono, ele perguntou se ela não ia comer nada. Ela respondeu sonolenta:

— Não quero comer e você não precisa ficar fazendo isso. A gente nem estava mais conversando mesmo, eu agradeço sua atenção, mas não precisa ficar.

Ele ficou quieto, não saiu do lugar, não respondeu nada. Ela dormiu e ele ficou lá por horas vigiando o sono dela, pensando em tudo até Lauren chegar.

Quando ela chegou, entrou sem fazer barulho, parou na porta do quarto e falou para ele baixinho:

— Oi, tudo bem por aqui?

Ele levantou, saiu do quarto, disse que quis ficar lá até ela chegar. Ela falou:

— Vocês conversaram?

Ele respondeu chateado:

— Sim, ela me contou tudo. Eu não fazia ideia de nada, fiquei preocupado no sábado, mandei até mensagem, liguei, mas ela não me disse nada até hoje.

Começaram a falar da Vick. Lauren disse que ela tinha aquela mania de querer resolver tudo sozinha, mesmo que aquilo acabasse com ela. Ele ofereceu ajuda, disse que queria fazer algo por ela. Lauren respondeu:

— Eu queria poder ajudar, me sinto incapaz tanto quanto você. Ela não se abre comigo, só sabe falar que quer ir embora daqui, eu já não sei mais o que fazer com ela, Raul.

Ele disse que não conseguia entender ela também, que tinha medo de se envolver mais, porque ela era imatura e ele não era nada tolerante. Lauren disse que Vick não ia deixar ele se aproximar porque na cabeça dela seria por pena, já que tinham terminado, e que a filha era 8 ou 80. Ele disse que ia tentar ser um amigo já que ela se abria com ele, se colocou disponível para ajudar de qualquer forma. O medo de todos era de que ela tentasse se matar de novo.

Vick estava dormindo, não ouviu nada. Lauren acompanhou ele até o portão, agradeceu várias vezes por tudo, e ele se desculpou, lamentou por terem se descuidado, provocando tudo aquilo. Lauren disse que não eram fáceis as coisas mesmo, comentou que viu Vick feliz como não via há anos, enquanto ela estava saindo com ele. Ele mesmo disse que não eram compatíveis, que na situação dele, mais experiente, que já tinha ido longe até demais com ela, falou que não devia ter nem se envolvido com ela.

Lauren fez um prato de comida e foi acordar Vick para comer. Ela deu algumas garfadas, coisa pouca e disse que não queria ficar lá. Lauren respondeu com firmeza:

— Você precisa se cuidar e eu não vou deixar você ir para lugar nenhum assim, eu sou a sua mãe e você vai me respeitar querendo ou não, seu pai vai vir aqui amanhã para a gente conversar. Seu irmão está chegando no fim de semana! Você não está trabalhando com registro, graças a Deus colocamos as contas em ordem, não tem por que ir embora para canto nenhum, falta pouco para acabar o ano, depois você se decide, pensa com calma no que vai fazer.

Ela perguntou do Miyuki. Lauren disse que ele estava chateado com ela porque ela não o respondia direito. Ela falou irônica:

— Se eu fizesse isso só com ele estava bom. Você viu o Raul? Aqui?

Lauren disse que sim, que ele foi embora assim que ela chegou, perguntou como foi a conversa com ele. Vick respondeu:

— Sei lá, tranquilo, normal!! Ele não disse nada, na verdade, só ficou com pena e ofereceu ajuda.

Elas conversaram um pouco falando do Natal. Lauren comentou que Victor estava lindo, que lembrava muito Miyuki bebê. Vick disse que não estava vendo ele porque não gostava de ser falsa com Juliana. Lauren respondeu:

— Você precisa parar com isso, desse jeito vai ser difícil seguir em frente, eu errei e sei disso. Essa história não é da sua alçada, Virgínia, seu pai e eu já resolvemos nossas diferenças e acabou.

Elas continuaram conversando sobre outras coisas. Lauren lembrou Vick que ela tinha retorno no médico na terça-feira, dia seguinte. Jorge que ia levar ela. Daia mandou mensagem falando que sentia muito por tudo o que aconteceu, perguntou se podia ir ver ela no dia seguinte. Ela disse que sim, que ia avisar quando chegasse do médico.

Raul mandou mensagem cedo:

"Bom dia, está melhor?"

Ela respondeu enquanto se arrumava para ir à consulta:

"Oi, bom dia, estou sim, tenho retorno no médico hoje. E você?"

Jorge foi buscá-la com Juliana junto e Victor. Eles não ficavam tocando em assuntos desagradáveis. Depois da consulta, eles a convidaram para ir ficar na casa deles. Ela aceitou. Jorge só passou para deixar os três e foi trabalhar. Victor estava no bebê conforto. Juliana perguntou se Vick queria pegar ele. Ela respondeu sem jeito:

— Eu não sei. Se quero!

Juliana falou soltando o Victor:

— Se você quiser conversar sobre qualquer coisa, eu estou aqui, está?!

Elas estavam na sala. Vick esticou os braços pedindo o Victor. Ela ficou olhando para ele, mexendo naquelas mãos pequenininhas e frágeis, sentou no sofá e falou sentida:

— Eu não sei se quero ser mãe um dia, não consigo cuidar nem de mim, como vou ter alguém totalmente dependente assim?!

Juliana disse que o amor fazia nascer uma mãe, que Vick era nova e que ia poder tentar quando estivesse pronta, em um relacionamento estável com alguém legal. Ela disse que não sabia ter um relacionamento, que até Flávio devia estar melhor que ela, seguindo com a vida dele, com um filho a caminho. Juliana disse que era para ela esquecer dele porque não valia a pena. Ela respondeu:

— Para alguns as más escolhas dão certo, para outros como eu, as boas escolhas são uma grande merda.

Juliana disse que ela podia sempre refazer as escolhas, perguntou se podia ir para a cozinha fazer almoço e deixar o Victor com ela. Vick respondeu:

— Claro, eu fico com ele. Logo cresce e para de me respeitar como o Miyuki.

Elas deram risada. Juliana disse que estava ansiosa para a chegada do Miyuki. Vick ficou deitada na sala admirando o irmão. Na hora do almoço, Raul respondeu ela, perguntou como tinha sido na consulta. Ela explicou os procedimentos, disse que ia precisar tomar remédio para anemia. Ele falou que queria conversar com ela antes dela ir embora. Ela mandou uma foto com o Victor, disse que estava muito bem acompanhada. Ele respondeu:

"Que bom que você não está sozinha trancada no quarto. Mas desse jeito eu vou ficar com ciúmes."

Ela respondeu:

"?‍♀️?‍♀️ Mas você é o meu número 1, quem tem outras pessoas na vida é você!!"

Ele disse que não tinha ninguém. Ela falou que viu ele beijando a enfermeira, amiga da Daia. Ele respondeu:

"Vi você com outros também e eu não estou te questionando vendo você dizer que sou sua primeira opção. Vou voltar a trabalhar, tchau, depois a gente se fala."

Ela respondeu:

"? Tchau, bom trabalho."

Ela passou o dia todo com Juliana e o irmão caçula. Ela estava um pouco triste e não conseguia parar de pensar em como seria tudo se ela não tivesse perdido o bebê.

Baixe o aplicativo agora para receber a recompensa
Digitalize o código QR para baixar o aplicativo Hinovel.