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Seis

Luan

Ontem não fui até a casa da minha irmã por conta dos compromissos que tive na igreja, mas hoje eu tenho um tempinho e por isso vou até lá fazer uma visitinha. Meu cunhado parece estar se rendendo ao fato de que estou mesmo mudado e que não pretendo mais voltar para aquele inferno que eu chamava de vida, agora que conheci o amor de Deus por toda humanidade, eu pretendo seguir nesse novo caminho. Além do que, pretendo em breve, pedir a permissão do Levi, vulgo Lobão, meu cunhado, para poder namorar a bela Marina e quem sabe um dia ela possa vir a ser a minha esposa. Nossa, seria um sonho realizado, melhor... mais um deles.

Visto uma roupa mais confortável, camisa gola polo, calça jeans, calço um tênis e vou, direto para a casa da Gabi, minha linda irmãzinha. Não vejo a hora de encher meus sobrinhos fofos de beijinhos.

— Luan, meu irmão! — Gabi me recebe com um abraço caloroso. — Por que não veio ontem? — ela pergunta.

— Princesa e eu estava ocupado com assuntos da igreja. Mas não morram de amores, pois eu vim passar alguns momentos com vocês! — abro os braços, ela sorri.

Enquanto falo, Lobão aparece sem camisa, parecendo que havia acabado de acordar.

— E aí, cunhado. Como estão as coisas? — pergunto-lhe.

— Tudo mais que bom.

— Beleza. E a festa? Já tô no jeito pra ir trampar. Irmã você vai me dizer nos mínimos detalhes tudo o que rolou na festa do CV.

Lobão apenas colocou um pouco de café na caneca e disse que iria voltar ao quarto para ficar com os meninos.

— Depois eu vou lá, dar um cheiro neles. — digo. Então Gabi se aproximou de mim para contar os acontecimentos da festa.

Ela puxou a cadeira para junto da minha e começou a falar dos fatos que rolaram e cada vez que minha irmã abria a boca, eu só faltava cair da cadeira. Minha nossa, quanta violência. Em pensar que um dia eu fiz parte dessa coisa toda, só que agora eu estou liberto de tudo isso, graças a Deus. Gabi também contou que Lobão agora é o sub comandante do CV e que todos agora o devem obediência. Disse também que o atual chefe pretende se aposentar, deixando o meu cunhado como o seu sucessor.

— Meu Pai Eterno! — eu exclamo. — Quer dizer que numa única noite você mata um cara, seu marido é feito o sub do CV e ainda recebeu a promessa de que um dia será o comandante geral de tudo? Isso é que é emoção, hein!

— Pois é irmão, fico preocupada porém, sigo firme seguindo o Levi. — disse Gabi um pouco preocupada.

— É complicado maninha. — respondo-a.

Só que de repente o semblante da Gabi muda. Ela parece estar preocupada com algo.

— Relaxa maninha, eu não to mais no mundo do crime pelo o meu prazer, eu vou descobrir quem é essa pessoa e saberei se é uma ameaça ou não. — E aí você não iria saber de onde o velho era. — eu comento.

— Lógico que eu ia fazer isso só depois de interrogar o velho, né, Luan! — Gabi falou com uma expressão mal no rosto, mas que acabou ficando bem fofa e eu tive que rir.

Lobão fez algumas ligações e logo o Fantasma chegou com uma informação muito relevante.

— E aí? O que tu descobriu? — ele perguntou.

— Uns parceiros nosso me disseram que viram uma pessoa bem parecida com o tal velho que a patroa viu, subindo na direção do Morro do Urubu. — disse fantasma. Realmente como o Lobão disse, o Fantasma não brinca em serviço, o cara é foda.

— O que? No Urubu? Tá de sacanagem! — Lobão golpeia o ar. — Temos de ir lá para saber de que buraco esse velho saiu. Eu não vou deixar isso só por conta de vocês não.

— Calma, Lobão. — de braços cruzados e encostado à porta, eu falei. — Faz o seguinte — aproximo-me dele — deixe-me ir com o fantasma, ele é expert em se disfarçar eu com a minha cara de crente, ninguém vai suspeitar que estamos numa investigação. Assim que descobrirmos o que nos interessa, saímos e retornamos para que você possa tomar as devidas providências. Mas por favor, sem derramamento de sangue, sim?!

Lobão pensou. Nesse monto, Marina chega carregando um dos gêmeos. Deus, como ela é linda. Desejo muito torná-la minha esposa, um dia. Meu cunhado percebe nossos olhares se encontrando, meu e dela, e pigarreia para chamar nossa atenção.

— E por que você está se oferecendo assim, Lua? Tu não é crente? O que vai fazer, investigando um bandido? — ele pergunta.

— Em primeiro lugar, eu continuo sendo crente e em segundo... não sabemos se é realmente de um bandido que estamos falando. Vai que o velho é doido e a gente só está procurando chifre em cabeça de cavalo? — argumentei.

— Ihh, a lá. O Luan já tá falando que nem bacana, tudo certinho. — Fantasma caiu na gargalhada.

— Vai rindo ouw cuzão. — eu respondo. — Mas o negócio é que, mesmo esse senhor sendo um louco, ou não, ele encarou a minha irmã, a única família que tenho no mundo. — lembrei-me. — Tenho também os meus sobrinhos... e o Levi, mas a questão é que devemos ter prudência, a própria Bíblia nos ensina isso. E agora eu tô de novo na ativa na tropa do lobo, porém, seguindo os ensinamentos da Bíblia. — Sério que a Bíblia ensina isso? — perguntou Lobão.

— Sim! E ler a Bíblia de vez em quando não mata ninguém, Lobão! — recomendo. — E então? Vai apoiar a minha ideia, ou não?

Todos fizeram silêncio e então o Fantasma diz estar de acordo. Ainda garantiu que seria uma missão limpa, entramos, pegamos as informações e saímos sem deixar rastros.

— Tudo bem, — diz Lobão — vocês podem ir!

Despeço-me dos meus sobrinhos e partimos em uma moto, rumo ao morro do Urubu, terra de rivais. Aconselhei ao Fantasma que se vestisse como eu, pois chamaria menos a atenção dos moradores locais e Lobão concordou. Depois o mesmo disse que seu vapor mais confiante até que estava parecendo gente. Todos demos gargalhadas. Antes de sairmos, Mari desejou-me boa sorte e eu disse a ela que “nunca foi sorte, sempre foi Deus”! Dei-lhe um beijo na testa e segui para a minha missão.

(***)

Chegamos ao morro do Urubu e logo um bando de gente nos encara. Havia me esquecido de como é perigoso, pessoas de outras comunidades entrarem nas comunidades diferentes. Mas seguimos normalmente, fazendo uma pergunta aqui e ali, só que ninguém parecia nunca ter visto a pessoa que procurávamos, antes. É quando de repente a gente se vê cercado por uns caras diferentes.

— O que? O que esses malucos querem? — Fantasma perguntou.

— Esses caras não são de facção. — eu resmungo, Fantasma me questiona.

Então, alguns se aproximam de nós, com hostilidade e o Fantasma saca a arma, acertando alguns com seus disparos.

— Não Fantasma, para! — eu grito.

— Como assim?

— Corre, não revide, só corre!

— Mas, e você, cara?

— Não se preocupe comigo e quando chegar em casa, diga a Gabriela a palavra “Tio” ...

— O que? Que porra isso significa, mano?

— Só diz, eu vou ficar bem, Deus está comigo!

Eu praticamente me coloco entre os homens e o Fantasma. Tomara que ele consiga sair daqui e chegar até a Gabriela. Ela precisa saber dessa ameaça. Assim que os homens, que estão todos vestidos de preto, parecendo soldados de algum exército de mercenários, um deles me dá um soco no rosto e outro na barriga. Caio no chão, sentindo uma dor terrível e outro homem se aproxima e põe um saco preto na minha cabeça, deixando-me no completo escuro.

— Para onde estão me levando? Por que ele está fazendo isso comigo? — faço perguntas, mas não ouço nenhuma resposta.

Sinto que sou posto dentro de um carro e pela sensação do meu corpo, estou subindo o Morro. Agora sinto o carro parar e sou puxado de dentro do mesmo e sou empurrado, caindo no chão. Deus. Por que isso está acontecendo? Logo sou surrado mais uma vez. Um homem retira o saco preto da minha cabeça e revela o local onde estou. Uma sala bem decorada, com móveis sofisticados. Só podia ser ele mesmo, mas eu ainda não tinha certeza. O homem que retirou o saco da minha cabeça, volta a me agredir com fortes tapas na minha face. Este fala em italiano, a prova de que eu estava certo.

— Non avresti dovuto uccidere i nostri fratelli. Ha sparato ai nostri fratelli e due di loro sono morti. Anche se sei quello che sei, pagherai per quello che hai fatto! “Você não devia ter matados nossos irmãos. Atirou contra nossos irmãos e dois deles morreram. Mesmo sendo quem você é, vai pagar pelo que fez!” — e seguiu batendo, até que o mesmo foi interrompido.

— Já basta! Ele já aprendeu a lição, assim espero!

Ergo as vistas brevemente. Meu rosto dói muito pelas pancadas recebidas. Um dos meus olhos está quase se fechando devido ao inchaço. Caramba, aonde eu fui me meter? O homem elegante de cabelos grisalhos, se aproxima de mim. Como ele me lembra alguém que não vejo há muito tempo. Meu pai!

— Isso era mesmo necessário? — ele pergunta ao meu agressor, logo depois de se agachar bem na minha frente.

— O senhor mesmo implementou nossas leis. Ele mata, ele paga! “Tu stesso hai implementato le nostre leggi. Uccide, paga!” — o desgraçado parece entender português, mas não sabe falar.

— Está certo. Agora deixe-nos a sós, preciso conversar com meu sobrinho. Temos assuntos a tratar!

Os homens saíram da sala e me deixou sozinho com aquele homem, que mais frio do que ele, só a calota polar da Antártida.

— Mesmo com esses hematomas no rosto, sua semelhança com o seu pai é impressionante. — disse ele, calmamente. — Aceita uma bebida? Eu até pediria desculpas a você por isto — refere-se à surra que levei —, mas como você mesmo deve ter ouvido, lei é lei e até nesses seus Morros, elas são cumpridas. Ou eu estou errado?

— O quer comigo, tio Ferdinand?

— O que você já deve mais ou menos, ter uma ideia. Luan, eu vim aqui levar você para que assuma o seu lugar de direito como o novo Chefe da Máfia!

Eu não posso acreditar nisso.

— De jeito nenhum. Ele morreu e aquele inferno acabou...

— Você não está em posição de querer nada, Luan! — ele novamente se aproxima. — Seu pai morreu sim, mas eu fiquei e reconstruí o seu império, como eu prometi.

— O meu pai morreu por causa dessa porcaria! — eu falo em voz alta. — Ele morreu e junto com ele foi todo o seu reinado. Por que não entrega sua fortuna para outro? Para o cara que mês espancou, por exemplo?! - eu digo, não sei se revelar que fui eu quem matei meu pai é uma boa nesse momento.

— Você não entendeu nada, Luan. Eu vim até aqui para resgatar você e sua irmã, mas agora ela é esposa do segundo no Comando da facção. Viu como eu sei mais do que você pensa? — ele sabe tudo sobre nós. Meu Deus. — Mas me resta você e eu tenho ótimos panos para você, Luan.

— Eu não pertenço mais a esse mundo. Agora eu sou um crente, tio, um homem temente a Deus...

— Eu também sou um homem temente a Deus, Luan. Faço minhas preces todos os dias e muitas delas foram para encontrar vocês e levá-los comigo, só que a sua irmã agora está fora do meu alcance. Eu até mandei uma mulher matar aquele Lobão e leva-la para junto de mim, disse pra ela contar que tava esperando um filho teu e tudo. Fiz eles acreditar que ela era mandada de outros inimigos do Lobão, eita cara que coleciona inimigo viu, mas ela acabou matando minha enviada e ainda pendurou a cabeça da pobre em praça pública, o que mostra que vocês dois são bem mais parecidos com o pai de vocês, do que eu mesmo supunha.

— Eu não sou o monstro que o meu pai era. Fiz muita coisa errada, admito, mas consegui me livrar do monstro em meu sangue!

A risada de Ferdinand encheu a sala. Chega a ser diabólico a maneira com a qual ele me olha, parecendo me ter em suas mãos. Rezo em meus pensamentos para que ele não consiga me persuadir.

— Eu não tive filhos, Luan, por tanto só me resta você para assumir o meu lugar e continuar o meu legado. — diz, depois de parar de rir. — Fernand acabou me deixando um presente valioso, vocês e o fato de sua irmã em breve ser a mulher do chefe supremo dessa facção, deixa meus planos ainda mais sedutores. E você não tem outra escolha a não ser... aceitar.

— Aí que você se engana, eu tenho e a resposta é não!

— Ah, não?! — como esse homem consegue ser tão frio? — Tudo bem, então — ele se afasta e começa a andar em círculos, ao meu redor — então eu vou agora mesmo mandar dar um fim na sua irmã...

— Não! — começo a chorar.

— Nos dois bastardos, no... como é mesmo que mesmo que ele se chama? Ah, Lobão e também naquela sua namoradinha, a Marina — ele sussurra, ao proferir o último nome. — E como eu vejo que você é muito parecido com o seu pai, eu farei tudo isso na sua frente, para que você veja.

— Monstro!

— Hahaha, vejo que estou conseguindo te atingir. Mas em contra partida, eu posso fazer da sua irmã a rainha desta cidade e o marido dela, rei. Basta você aceitar, Luan. O destino de todos ele está em suas mãos e se persistir em recusar, o gran finale focará para a sua amada.

Respiro fundo. Vejo que não tem jeito que a essa batalha está perdida para mim, mas não a guerra. Uma coisa eu aprendi na igreja, é que devemos desistir daquilo no que acreditamos e eu acredito que vou acabar com esse maldito. Realmente existem demônios encarnados e Ferdinand é um deles.

— Tudo bem, eu aceito! — essa são as minhas palavras, que depois de proferidas, arrancou um riso sádico do rosto do meu tio. Se é que o posso chama-lo assim.

— E para provar que digo a verdade...

Ferdinand pegou o rádio comunicador e falou com alguém fora da mansão.

— Ele está aqui?

— “Está sim, signore!”

— Podem executar!

Em seguida eu ouço vários disparos vindo do lado de fora. Depois o rádio chama novamente.

— “E ‘fato!” Está feito!

Ferdinand voltou-se para mim, me ajudou a levantar do chão, dando-me um singelo sorriso.

— Vamos cuidar desses ferimentos. Ah... e o seu cunhado acaba de se tornar o novo Chefe do CV!

Meu Deus!

“E eu vou me tornar o novo chefe da máfia só para te matar e proteger a minha família, velho maldito!”

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