Capítulo 1 Bella
Estava na estrada em uma noite escura, quando alguma coisa surgiu na frente do meu carro, fazendo com que eu perdesse o controle e derrapasse, indo parar no meio do mato. Eu só não contava com um buraco que fez meu carro capotar duas vezes. Vi tudo girando em minha frente, numa fração de segundos, até que senti uma pancada muito forte e depois, não vi e nem senti mais nada.
Acordei assustada, pois senti um tubo prendendo meu nariz e a minha boca. Mal conseguindo falar, mexi meus olhos tentando me localizar, mas sem mexer a cabeça, pois estava imobilizada. De repente, me dei conta de que eu estava em um quarto de hospital.
Foi aí que me lembrei do meu carro capotando, e entrei em desespero, querendo gritar, mas eu não podia.
— Bella minha filha! Você acordou! — Vou chamar o doutor Júlio. — Ela saiu correndo e gritando pelo médico. De súbito, percebi através da parede de vidro, que alguém me olhava, mas como eu não podia me mexer, não consegui ver quem era.
— Annabella! Que bom que acordou! Você é uma lutadora, pois mesmo em coma lutou para viver! – Falou o Doutor, ao entrar no quarto com minha mãe.
— Em coma? Por quanto tempo? — Consegui balbuciar com certa dificuldade. Eu tinha tantas perguntas para fazer! E graças a Deus o Doutor mandou tirar aqueles tubos de mim, o que me permitiu voltar a falar.
— Não vai precisar mais disso, pois reagiu muito bem aos medicamentos, e eu sábia que você poderia acordar em qualquer momento. — Falou o Doutor, tirando o tubo da minha boca com ajuda de uma enfermeira.
Minha boca estava até adormecida de ficar com ela aberta.
— Nossa que alívio! Esse negócio na minha boca estava me machucando. —Comuniquei com certa dificuldade.
— Annabella, eu imagino como deve estar aliviada, pois você estava em coma há dois meses, e só foi alimentada por sonda. Vou pedir para a enfermeira trazer uma sopa leve, pois você precisa comer para se recuperar.
— Mas, o que eu tive doutor? É algo grave? Vou andar novamente? − Questionei tentando mover meu corpo dormente.
— Acalme-se mocinha! Está tudo bem. — Tranquilizou o médico para o meu alívio. Você teve leve início de traumatismo craniano, e por Deus que está viva e ainda sem sequelas. Isso é um milagre! Agora descanse um pouco. — Relatou o doutor, saindo do quarto, enquanto a minha mãe com um sorriso se aproximou de mim.
— Filha, eu estou tão feliz de você ter acordado, pois os médicos falavam que não tinha mais o que fazer, mas Deus ouviu nossas preces e graças a ele você acordou! Vou ligar para o seu pai e avisá-lo que você acordou. Ele vai ficar muito feliz, pois nem tem trabalhado direito por causa de você.
— Mãe, eu fico feliz de a senhora estar aqui comigo... Eu queria te perguntar uma coisa.
— Pode perguntar! O que quer saber?
— Quem é aquele rapaz que desde que eu acordei, está me olhando pelo lado de fora da parede de vidro do quarto? — Ela olhou em direção a parede e depois voltou a me olhar, dizendo:
— Não tem ninguém te olhando do lado de fora daquela parede, Bella. E se tinha, já foi embora!
— Que estranho!! Eu tinha acabado de vê-lo, quando perguntei para minha mãe quem era! Mas agora ele não está mais lá.
Duas semanas se passaram e eu ainda estava no hospital, pois o que eu tive foi grave, e a recuperação era lenta, mas apesar disso, tenho visto coisas estranhas. Bom muitas vezes é porque estava sonhado. Não deve ser nada! Apenas coisas da minha cabeça, pois ficar em um hospital sozinha sem poder fazer nada não é fácil. E acabamos imaginando coisas, mesmo. Minha mãe estava sempre comigo, mas não podia dormir aqui, então durante a noite eu fico sozinha, mas durante o dia além de minha mãe, meus amigos estão sempre aqui, principalmente Yago e Laura; meus melhores amigos. Nós dividimos um apartamento juntos, e para mim são mais que amigos. Eu os amo demais.
A noite chegou e eu estava sozinha novamente. Eu não via hora de receber alta e sair daqui. Quero meu apartamento, meus amigos e minha cama! Mas a minha mãe quer que eu vá ficar uns dias com ela, até que eu fique totalmente boa e recuperada, mas eu confesso que preferia retornar ao meu apartamento e ficar quietinha em minha cama. Entretanto ser paparicada por dona Tereza e seu Cleber, meus pais, até que não seria nada mal.
Meio sonolenta, fechei os olhos, já imaginando que deveria ser efeito do remédio. Fiquei ali em silencio, pois, o hospital à noite é mais silencioso que na parte do dia. E de vez em quando, eu ouvia alguém chorando e gritando, mas achei que aquilo era normal num hospital.
Ainda com os olhos apenas fechados, pois não conseguia dormir, ouvi uma criança chorando do lado da minha cama, e ao mesmo tempo falando mamãe. Quando abri os olhos, levei um susto tão grande, pois avistei uma menina loirinha linda, de cabelos cacheados e compridos. Parada em frente à minha cama, seus olhinhos azuis estavam vermelhos pelas lágrimas, olhavam para a porta do quarto. Ela vestia uma camisolinha branca do hospital, e em seu belo rostinho pálido; percebi um machucado. Quando ela percebeu que eu a vi, saiu correndo em direção à porta do meu quarto e saiu. Curiosa, tentei me levantar e com muita dificuldade, consegui sair da cama e fui atrás dela, pois imaginei que a pobrezinha poderia estar perdida.
— Hei garotinha, você está perdida? — Perguntei seguindo a menina pelo corredor. De costas ainda tentando fugir, ela me ouviu e parou na mesma hora.
— Hááááááá! Você não é minha mãe!! — Gritou ela ao me ver.
— Quem é sua mãe?
— É Marta! — Respondeu apontando para o final do corredor, e na mesma hora; desapareceu na minha frente. Fiquei em choque, parada no meio do corredor olhando para o nada, pois não acreditava em que meus olhos claros tinham acabado de ver. Até que de repente, alguém tocou meu ombro fazendo-me gritar de susto.