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Capítulo 6

Naquela manhã tive três surpresas momentâneas.

- Angelique, minha melhor amiga lembrou que eu existo e me ligou da Bélgica.

- A Sra. Gucchelle do vigésimo andar estava de bom humor.

- Uma BMW estacionada em frente ao meu prédio com meu nome nos documentos.

Obviamente a surpresa mais chocante de todas foi a segunda, já que essa mulher parecia ter nascido carrancuda e nunca sorria para os outros.

Entrei no carro e já disquei o número da minha mãe no sistema automático do carro.

Esse era um dos maiores problemas de Dona Bárbara, encher seus filhos de riquezas quando eles nem precisavam delas. Eu a amo, mas às vezes ela ultrapassa os limites. Meu pai nem tenta conversar ou discutir porque sabe que é inútil. Mas entre os dois ele é o mais sensato.

Fiquei tão exultante com o telefonema de Angélique que nem tomei café direito, e por isso Gerluza se sentiu no direito de me dar um daqueles tapinhas dolorosos nos ombros. Ela é baixa, mas tem uma mão forte.

— Bom dia, filha linda! – a voz da minha mãe ecoa no carro.

— Bom dia, querida mãe. Agora me explique que diabos é esse carro. Eu disse que não precisava disso. – Digo mantendo minha atenção no trânsito.

— Você acha mesmo que vou deixar minha filha sair do trabalho todos os dias às onze da noite e ainda pegar o metrô nessa cidade perigosa?

—Mãe, eu sei me cuidar. Você não precisou me comprar um carro novo, apenas me emprestou um dos seus e ficou tudo bem. A garagem do prédio não tem espaço nem para guardar dois carros.

— Claro, quem faz, ou você acha mesmo que vamos te ajudar a comprar um apartamento sem vantagens? Minha filha, você merece o mundo e muito mais. – Soltei um suspiro.

— Eu sei disso, mamãe. Mas esse carro é demais para mim, como vou conseguir trabalhar com um carro desse tamanho? Você sabe que quero que meus esforços sejam reconhecidos e não meu nome.

O que era verdade, minha intenção desde o início era alcançar minhas conquistas com meu esforço. Foi difícil na universidade porque nenhum professor parecia se importar com o esforço que eu fazia, mas sim com o nome que eu carregava. Tive que defender que eles mudassem isso e me tratassem como um simples estudante.

—Está tudo bem, querido, exagerei. – ele admite com um suspiro.

— Meu Deus, estou ouvindo minha mãe admitir um exagero ou estou sonhando?

— Me respeite, Samanta! Admito que exagerei, mas fiz isso para o seu próprio bem.

— Está tudo bem mãe, eu reconheço e agradeço. Mas de agora em diante, você poderia me deixar assumir o controle da situação que me envolve? Eu sei que sou louca, sei também que muitas vezes sou irresponsável, mas mãe... sou adulta. Não parece, mas eu sou. Preciso voar sozinho e aprender com minhas ações para crescer. – Permaneça em silêncio por alguns minutos.

—Agora você falou como um adulto. – ele disse com a voz embargada.

- Eu sei. - Eu sorrio. —Papai está bem? Austin ligou?

—Seu pai está melhor do que deveria, ele está indo para um jogo de golfe a essa hora. – Posso senti-la revirando os olhos. —Seu irmão ingrato não me liga há uma semana dizendo que está vivo.

- Espero que sim.

—Eu não esperava que a carreira dele como juiz fosse tão chata. – eu ri alto.

- Mãe! – digo rindo enquanto paro no semáforo. - Não é chato.

- Sim, muito chato. Meu filho nem tem tempo de me ver, isso é um absurdo! Prometa à mãe que não vai me abandonar quando se tornar um super chef.

— Eu não vou, mãe. – digo sorrindo.

- Excelente. Falando nisso, ontem você disse que Daniel Cooper era um idiota, o que ele está fazendo com minha garota?

—Nada mãe, não é grande coisa. Ele é só um idiota que... - o barulho lá fora me interrompe.

É quando percebo que bati na traseira do carro na minha frente.

- Merda! – exclamo.

- O que foi aquele barulho? Samanta, você está bem? – a voz da minha mãe está preocupada.

- Sim, mãe. Estou indo, tenho que desligar agora. Beijo. – encerro a ligação e desafivelo o cinto de segurança, saindo imediatamente do carro.

Paro na frente do carro e vejo o amassado no para-choque.

- Santo céu! – exclamo. Olho para o Volvo estacionado na frente do carro, irritado. — Cara, quem fica parado quando o semáforo está verde? – Vou até a porta do motorista do Volvo e bato três vezes na janela. — Desça, vamos conversar.

Começo a andar de um lado para o outro, ainda olhando para os danos. Minha mãe vai me esfolar e nunca mais vai me deixar ter um carro nas mãos.

A porta do motorista do Volvo se abre e ele sai. Assim que enfrento o cidadão, minha alma deixa meu corpo.

Deus, que mal eu fiz com você para você me punir assim? Foi por roubar moedas da fonte e entregá-las aos mendigos? Foi porque gastei o dinheiro do almoço várias vezes em cartões Bakughan? Foi matar aula para assistir Gossip Girl?

O homem olha para mim com aquela maldita sobrancelha esquerda arqueada em minha direção.

—Mas mesmo fora do metrô tem que atrasar minha manhã, senhorita. Ospino? - Me pergunta

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