Capítulo 3 Corações em descompasso
Ela, com um jeito cuidadoso de pedir desculpas, fez parecer que eu é quem estava a incomodando.
— Não precisa. — Eu e Caio dissemos ao mesmo tempo.
Eu soltei uma risada irônica. Ele realmente se importava com ela. Só de vê-la se rebaixando um pouco, ele já ficava com pena.
— Eu ainda tenho coisas para fazer. Fiquem à vontade para continuar. — Levantei-me para sair, mas Caio segurou meu braço.
— Hoje é o aniversário da Morgana, será que você pode parar de fazer cena? Não estrague o clima, sente-se e coma — disse ele.
Eu já não conseguia engolir mais nada. Afastei a mão dele e saí do salão sem olhar para trás.
— Caio, Ana já foi embora. Talvez você devesse ir atrás dela para tentar confortá-la. — Ouvi Morgana falar baixinho, quando estava me aproximando da porta.
— Deixe-a, não se preocupe, logo ela melhora. — A resposta de Caio foi fria.
Foi a minha tolerância e por sempre o perdoar que o fez acreditar que eu sempre conseguiria digerir as minhas emoções sozinha.
O frio da noite de início de primavera ainda era intenso. Caminhando pela rua, solitária, com fome e sentindo que merecia passar por toda essa situação.
Entrei em um restaurante qualquer e pedi uma tigela de macarrão com carne. No meio da refeição, as lágrimas começaram a escorrer. Esse macarrão de carne foi o primeiro prato que Caio e eu comemos juntos no dia em que oficializamos o nosso relacionamento.
Antes disso, ele nunca havia comido em um restaurante tão simples. Nós também tivemos dias felizes. Ele me levou a lugares sofisticados, me integrou no seu círculo social, me apresentou aos seus amigos.
Uma vez ele me beijou no ponto mais alto de uma roda-gigante; saltamos abraçados de uma plataforma de bungee jump...
Ele também andou comigo por toda parte, experimentando a comida de rua, como qualquer casal comum, correndo de mãos dadas pelo centro da cidade.
Mas, desde que Morgana chegou à cidade, tudo mudou. Eu me tornei a pessoa dispensável. Bastava que Morgana o chamasse, e ele me deixava de lado para correr até ela. Talvez o problema tenha sido eu, por ter me apaixonado por alguém fora do meu alcance, e agora estou pagando o preço.
O dono do restaurante, sorrindo, se aproximou e me entregou um guardanapo.
— Faz tempo que você não vem aqui. Não imaginei que a minha comida fosse tão boa a ponto de fazer você chorar. — Ele era tão confiante, que até ri um pouco.
Eu não tenho motivos para me diminuir tanto por um amor que nunca foi totalmente meu. Enxuguei as lágrimas, sorri para o dono do restaurante e, aos poucos, consegui acalmar o meu coração decepcionado.
Ao voltar para casa me deitei na cama, e vi que Caio havia me enviado mensagens no Whatsapp:
[Ainda está brava?]
[Me desbloqueia para eu poder te ligar.]
[Está chovendo forte lá fora, você vai ficar com medo de dormir sozinha.]
[Volte para casa, pare de agir assim.]
Ignorei e não respondi nenhuma das mensagens. Abri o Instagram e vi que Morgana havia postado uma foto do colar Coração do Oceano.
A legenda era: “Pessoa e colar, ambos os meus favoritos.”
Sem sentir mais nada, comentei algumas palavras: “Feitos um para o outro. Desejo tudo de bom.”