Início de tudo
Eu me chamo Dilan Colin, tenho 28 anos, e moro em Ilhabela - Sp desde que nasci.
Sou filho de pescador e tenho uma irmã que é dois anos mais nova que eu, a Dandara.
Eu sempre fui apaixonado pelo mar, e vivo rodeado pela natureza, e vivo falando que o mar é o meu psicólogo, que basta sentar de frente pra ele, que ele se encarregaria de trazer pra mim as respostas das minhas questões mais profundas.
Quando fecho os meus olhos, consigo visualizar uma dessas questões, pois ela tem um rosto e também tem um nome.
Ela se chama Kyra, e eu era muito pequeno pra lembrar o sobrenome dela.
Eu a conheci quando eu tinha 8 anos.
Ela era morena, cabelos com ondinhas, e o sorriso dela era encantador, e ela tinha um olhar meigo e penetrante que eu jamais serei capaz de esquecer.
Todos os dias, corríamos descalços pela areia da praia, fazíamos castelos de areia, e tomávamos banho no mar.
Certa vez, sentamos na areia da praia e fizemos uma promessa um para o outro, que se um dia a gente viesse a se separar, nós dois iriamos lutar pra nos reencontrar, e nunca mais deixaríamos nada nos separar novamente.
Fizemos um juramento de dedinhos e depois nos abraçamos.
Eu ainda me lembro daquele abraço como se fosse ontem.
O pai dela morreu quando ela ainda era um bebê, e ela morava apenas com a mãe.
A mãe dela tinha uma banca na praia onde vendia quadros de pinturas.
Durante 3 anos, nós fomos inseparáveis, até a mãe dela falecer e ela precisar ir morar com a vó dela.
Antes dela ir embora, eu me lembro de vê-la correndo em minha direção, com o rosto molhado pelas lágrimas e me abraçar com força, eu não queria soltá-la, e fui tomado por um desespero até então incomum pra mim.
Então antes que a levassem pra longe de mim, eu fiz ela lembrar da promessa, que nós dois fizemos, que daríamos um jeito de nos encontrar novamente, e quando esse dia chegasse, nós nunca mais iríamos nos separar.
Tirei do me dedo um anel que o meu pai havia me dado e coloquei na palma da mão dela, e ela fechou a mão com força, como se aquele anel fosse a única coisa que ela tivesse.
Ela foi levada por um homem, não sei quem ele era, mas ela me entregou um lenço, e esse lenço eu carrego comigo até hoje, por todo canto que eu vou.
Já se passaram 17 anos, e eu nunca esqueci dela nem por um momento.
Hoje em dia, temos tecnologias capazes de encontrar alguém no outro lado do mundo, mas eu nunca consegui achá-la, e nem sabia pra que lugar levaram ela.
Durante esse tempo todo, tive alguns relacionamentos, mas a imagem daquela garotinha era constante na minha mente.
Eu sempre tive medo de criar laços com alguém e depois ser abandonado.
Não que tenha sido culpa da Kyra eu ser assim, pelo amor de Deus, ela era apenas uma criança, mas sempre que entro em um relacionamento, penso no quanto eu iria sofrer se me apegasse a alguém, e acabo terminando. Foi um trauma que eu desenvolvi.
O último relacionamento que tive, não terminou bem, foi o relacionamento mais longo que tive, ele durou quase dois anos, e ela estava cheia de planos pra casar, mesmo eu deixando claro que eu não queria isso pra mim no momento.
O nome dela é Cris, e ela é uma mulher maravilhosa, e será uma esposa incrível pra quem realmente souber valorizá-la da forma como ela merece, mas eu não iria servir pra ser esse cara.
A minha irmã acabou deixando escapar a história da Kyra, e isso trouxe um grande problema pra mim, acarretando no fim do namoro.
O que aconteceria mais cedo ou mais tarde, pois eu não pensava em casar, não com ela.
Eu gosto da Cris, ela tem uma energia muito boa, e eu levo muito a sério esse lance de energia.
Eu acredito que existem duas pessoas no mundo que são destinadas a ficarem juntas, e quando a gente encontra essa pessoa, a gente sente.
Eu não sentia isso com a Cris, e ela ainda sofre com isso, nós nos encontramos diariamente, pois ela trabalha na pousada da minha irmã como Recepcionista, e ela evita me olhar nos olhos.
Eu senti isso com a Kyra, e quando ela foi embora, eu me senti incompleto.
Eu ainda espero um dia poder reencontrá-la, saber como ela está, se ainda continua com a mesma doçura no olhar, se ela é feliz, o que ela fez esse tempo todo, se ela também pensava em mim da mesma maneira que eu pensava nela.
É esse tipo de questão que eu lido diariamente.
Pois também penso se ela casou, se tem filhos, se me esqueceu...
E quando penso nela dessa forma, eu sinto o meu peito apertar.
Eu atualmente trabalho com vendas de cordões, pulseiras e brincos artesanais.
Foi com o artesanato que consegui construir minha casa, e ter uma vida estável, sem muitas preocupações.
Minha irmã é dona de uma pousada, e o meu pai mora atualmente com ela, mas eu passo mais tempo com eles, do que em casa.
Quando saio pra vender minhas peças na praia, não demoro muito pra voltar, pois tudo vende rápido por aqui.
Eu adoro o que eu faço, não gosto de me sentir preso, e não suportaria trabalhar em um escritório fechado, ou receber ordens de patrão.
O meu escritório é a praia.
Eu amo esse lugar, e não me imagino vivendo em outro canto.
Essa é minha casa, aqui é o meu lar.
Apesar de cada cantinho daqui, me fazer lembrar da Kyra.
Minha irmã vive me chamando de louco, por estar preso a uma promessa que fiz quando criança.
Será se é tão louco assim acreditar que um dia eu vou reencontrá-la, e que existe uma magia que me impede de seguir em frente?
Se isso é loucura ou não, ainda tenho uma vida inteira pra descobrir.
Enquanto isso, eu vou vivendo um dia de cada vez, na esperança de um dia tê-la de volta em meus braços.
Promessas são pra serem cumpridas, eu nunca quebrei nenhuma promessa na minha vida.
Se sinto que vou falhar com algo, eu nem prometo.
Existe um mundo enorme pra proucurar por ela.
Mas nada é tão grande quanto a minha vontade de reencontrá-la.