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Capítulo 8

Capítulo 8

|KATE|

Me sento no banco extenso de madeira, que serve para muitas crianças poder se sentar dos dois lados da mesa grande, e tomo um gole enorme do café em minha caneca de plástico vermelha, da mesma cor dos meus cabelos. O líquido desce queimando, como também bastante melado em minha garganta, o que me faz tossir por algumas vezes, de maneira disfarçada, para que eu não seja notada ali por aqueles que acabaram de ver o meu vexame com a tia do lanche, no momento em que sinto o café ardendo no céu da minha boca.

Caramba, eu queimei minha boca!

Eu resmungo apena dentro da minha cabeça, em silêncio, ao mesmo em meus olhos se enchem de água na mesma hora, por causa da dor da queimadura no interior da minha boca. A sensação que me toma é de uma dor aguda e intensa, que se espalha imediatamente após o minuto em que o líquido provoca a queimadura em minha pele na área afetada.

A sensação de queimação é grande, dolorosa e me incomoda bastante durante os primeiros segundos da queimadura inicial, que logo em seguida deixa uma vermelhidão e inchaço na área queimada, e após um tempinho, que corre muito rápido, sinto que começa a formar algumas pequenas bolhinhas ardentes. E isso me faz ter certa dificuldade para continuar a beber mais um pouco do café. Eu estou com fome e preciso comer de alguma maneira, por mais doloroso e difícil que seja colocar qualquer coisa para dentro, principalmente porque a queimadura atingiu minha língua, lábios e grande parte do interior da minha boca.

-Ei cenourinha estragada, o que está fazendo aí nos fundos? Se escondendo da luz do sol para não pegar fogo com esse cabelo vassourão de bruxa? A escuridão não pode esconder a verdade que todo mundo sabe sobre você, sua bruxinha esquisita!

Uma garota mais velha diz, e ela é muito alta e bem gordinha, conhecida por todos aqui como Matilda, a grande irmã mais velha, mas que nunca age como uma irmã de verdade, pois sempre se comporta como uma verdadeira valentona. Ela intimida muitas meninas menores desde que havia sido deixada no orfanato há muito tempo atrás, quando eu tinha quase uns três ou quatro anos de idade.

Eu me encolho ainda mais em meu lugar, calada e cheia de medo do que ela posa fazer, toda vez que fala comigo. Eu me sinto pressiona, acuada e desprotegida, mas ninguém faz um único movimento para parar Matilda, quando ela dá alguns passos, vindo diretamente em minha direção. Tudo o que desejo nesse exato momento é poder realmente me camuflar na escuridão para não ser achada por ela, como também, para pode tentar me proteger da forma maldosa e raivosa com que ela olha para mim neste minuto.

Mas a realidade é essa todos os dias. Ninguém nuca faz nada. É uma coisa dolorosa, um jeito difícil, tentar fugir de problemas com valentões quando eles nos metem medo. Ninguém jamais se mete com os mais fortes para não acabar apanhando ou sofrendo as consequências de desafiar alguém que manda em todos os outros.

-Eu estou falando com você, sua idiota! Não me ouviu?

Matilda para em frente à mesa em que estou e dá um soco no tampo de madeira enquanto grita comigo como se estivesse sem juízo. Eu pulo e estremeço de susto.

-Sua ruiva burra, é surda ou muda por acaso? Por que não responde quando falo com você, sua estúpida manchada?

Ela me intimida dando-me um empurrão no ombro, o que faz com parte do meu café entorne da caneca sobre a minhas calças e me queime um pouco por causa da temperatura.

-Se acha mais esperta que qualquer um aqui nesse orfanato, não é mesmo bruxinha?

Matilda continua, e dessa vez, ela puxa meus cabelos para um lado da cabeça e logo em seguida rouba o pão que estava em minhas mãos, e que eu pretendia comer nos próximos minutos, pois estou com o estômago roncando de fome.

Essa não... vai começar tudo de novo.

-Você tem que saber o seu lugar, sua pirralha com cara de ferrugem.

Ela acusa dando uma grande mordida no pão, agora com um círculo de outras crianças se formando a sua volta, que se aproximam para observar o motivo da confusão que está acontecendo aqui. Um burburinho logo começa a crescer e muitas vozes se misturam com várias pessoas falando ao mesmo tempo, algumas apontando o dedo em minha direção, outras cochichando nos ouvidos umas das outras, e isso faz com que eu me sinta como um bichinho encurralado em canto sem saída, sendo vigiada de perto ao menor movimento.

-Você não passa de uma menina estranha, feia e suja com essa cara cheia de manchas esquisitas que podem ser algum tipo de doença contagiosa.

Minhas mãos tremem tanto de pavor diante dela, que eu não consigo permanecer segurando a caneca por mais tempo e acabo deixando ela cair no chão com um barulho alto que chama ainda mais atenção. Então o resto do café que ainda havia dentro se espalha pelo piso em uma bagunça tremenda que eu sei irá causar uma confusão ainda maior para o meu lado.

-Olha só o que você fez, sua burra de pêlo vermelho! É tão idiota e desastrada que ninguém nunca irá te adotar nessa vida, sua imbecil! É uma imprestável, sem utilidade que só faz merda mesmo, credo!

Meus olhos se enchem de lágrimas por causa de suas palavras cruéis que machucam profundamente meu coração e magoam minha alma. Mas, tudo piora muito mais no minuto em que vejo a tia que trabalha no refeitório caminhando na direção em que estou, com os olhos fervendo com uma raiva que nunca vi antes, ao intercalar o olhar entre o chão que acabei de derramar o resto do meu café, e em seguida para o meu rosto.

O sangue gela em minhas veias, eu vejo alguns pontinhos escuros a minha frente, e parece que as forças do meu corpo simplesmente desaparecem de uma hora para a outra. Então, não sei o que realmente acontece comigo, mas eu estou muito nervosa num momento, e no outro, minha visão escurece de repente, e eu apago por completo.

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