Capítulo 3
Capítulo 3
|KATE|
Os pequenos e magricelos dedinhos tremiam muito à medida que esfregavam o pesado colchão molhado de xixi. Kate se esforçava ao máximo para tudo aquilo Limpo, sem uma mancha sequer, sem um fedor, sem nada que lembrasse o que tinha acontecido para si mesma, e nem para que os funcionários do orfanato pudessem ver que havia ficado marcado aquele objeto que pertencia à instituição. Suas abundantes lágrimas se misturavam como um pequeno Córrego juntamente com a água que era usada para lavar o colchonete, o qual utilizava para dormir todas as noites, mas que era fino e tão desgastado, que ela quase podia sentir a própria madeira debaixo do colchonete enquanto se deitava de noite para dormir.
Kate já estava acostumada a ser tratada de modo desumano, mesmo tendo apenas cinco anos de idade, pois ela sabia que aquele lugar sempre seria assim, ninguém seria tratado como uma criança indefesa e órfã que precisava de ajuda, porém naquela noite estava sendo o pior dia de todos. Estava sendo como um pesadelo por duas vezes, um sonho ruim dobrado, pois o primeiro pesadelo que tinha tido durante a noite, e que a havia provocado fazer xixi na cama, foi por causa do que havia sofrido durante o dia, que lhe deixou com a mente perturbada e triste. E depois, o segundo pesadelo foi quando acordou e as coisas começaram a acontecer de modo terrível, no momento em que o inspetor, um funcionário orfanato, começou a lhe castigar duramente, como se ela fosse uma pessoa da mesma proporção que ele, feito um adulto.
Sempre era ruim na maioria das vezes, porém aquela ocasião estava sendo a mais pavorosa de todos os tempos. Para a pequena ruivinha, aquilo era como andar em uma noite escura, cheia de trevas e sombras cabulosas... uma noite onde as criaturas noturnas a procuravam para devorá-la, persegui-la, e destruí-la por completo.
Era um terrível pesadelo de estremecer até o fundo da alma. Todos pareciam como terríveis bichos papão para ela, seja dormindo, seja acordada.
Tudo era muito assombroso para a pequena Kate, uma ruivinha descuidada e desamparada, com uma sorte terrível e um azar profundo desde que havia nascido. Seus braços e pernas, magricelos como uma criança de três anos, e não como os de uma criança de cinco anos, que era a sua idade, mas estavam assim devido à desnutrição, maus tratos, descuido e descaso dos funcionários do Orfanato, que não cuidavam e não zelavam por ela decentemente, tremiam e estavam quase congelando de tanto frio, enquanto ela cuidava de limpar todos os objetos sujos, durante a noite, quase de madrugada. Seu estômago, que estava vazio por não ter se alimentado direito durante o dia, se contorcia e se revirava de dor a cada minuto em que fazia e aplicava mais força ainda, para poder lavar até o fim, e tirar a menor e última manchinha de xixi do colchonete.
Então, depois que terminou o serviço, uma dura tarefa que não deveria ser realizada por uma criança da idade, e muito menos nas condições em que ela se encontrava, Kate colocou o colchonete para secar, o que demoraria uns dois ou três dias para acontecer, pois o clima estava frio e o orfanato era um lugar quase insalubre, muito gélido, cheio de humildade e mofo, o que prejudicava bastante a saúde daquelas pobres e inocentes criaturas que estavam ali abandonadas a própria sorte. Logo em seguida ela pegou, trocou de roupa, colocando uma roupinha esfarrapada e foi lavar roupa que estava molhada de xixi.
A ruivinha magrela esfregou num tanque precário de pedra que havia ali, no meio da água quase congelante, a uma temperatura praticamente desumana para uma criança de apenas cinco anos de idade enfrentar a aquele horário. Kate começou a lavar com o mesmo sabão amarelado e bem encardido de tanta sujeira e devido ao longo uso, pois todas as crianças também utilizavam aquele mesmo pedaço de sabão para limpeza de suas roupas, do lençóis de suas camas, e de qualquer outra coisa que precisasse ser limpa ali no orfanato.
A roupa de Kate estava tão velha e desgastada, que quando ela começou a manusear os pequenos trajes de tecido velho, eles começaram a rasgar em algumas ponta. Desse modo algumas partes mais frágeis, devido ao longo tempo de uso, começaram a se desfazerem à medida que ela lavava e esfregava no tanque de pedra, as curtas roupas sujas de urina. Foi então é que Kate começou a chorar ainda mais, só que dessa vez, podia-se ouvir os soluços da menina até mesmo de longe, pois ela já não aguentava mais segurar isso somente dentro de si. Desse modo, ela começou a chorar alto e até mesmo engasgava com as próprias lágrimas e soluços.
Estava tão triste, com lombo ardendo, e tremendo de dor quando fazia o serviço, que sua vida parecia que não tinha mais sentido algum ali... naquele momento de desespero, enquanto sentia as lesões machucarem... enquanto sentia frio... o frio da noite congelante... o frio da água que usava para lavar as roupas e que tinha usado para lavar o colchão. O frio da Solidão... o frio do medo... o frio de uma vida solitária, cheia de abusos e de sofrimento, que mal tinha começado, pois ainda estava na infância, e ela mal havia vivido o que tinha para viver, mas apesar disso sua vida já era ruim o suficiente para ela não ver ou enxergar qualquer tipo de perspectiva de um futuro bom ao longo dos anos que viriam pela frente.
Sua visão era como de uma árvore abandonada, que não era regada, e que iria murchar cada vez mais sem água em suas raízes, e sem esperança, para qualquer coisa que poderia acontecer. Ela não tinha esperança de nada. Kate só se sentia desesperançosa, sem força, sem vontade de seguir em frente, e sem coragem para continuar adiante. Sua vida era um verdadeiro Mar em grande tempestade, um lago escuro, em que não se tem sem rumo, nem direção... um grande mundo de água sem começo sem fim.
Ela se sentia doente, fria, abandonada, e sozinha no mundo. Era uma verdadeira desilusão estar ali naquele lugar de pé e continuar como se nada tivesse acontecido. Ela se sentia tão triste que parecia estar doente quase à beira da morte, de mágoa, chateação, e tristeza profunda em seu coraçãozinho infantil.
Kate não sabia como continuar dali para frente, só queria escapar para algum lugar e ficar sozinha por um tempo, sem a presença de mais ninguém para importuná-la ou fazer com que ela sofresse ainda mais do que já tinha sofrido durante os seus poucos cinco anos de idade. Principalmente um lugar que pudesse fazê-la esquecer daqueles minutos que mais se pareceram com longas horas de uma noite terrível, feito um verdadeiro inferno, um grande pesadelo que nunca tinha fim, e que infelizmente continuaria a se repetir por diversas vezes no decorrer dos anos seguintes, o qual ela teria naquele local, dos seus cinco anos de idade em diante.
Era horrível pensar assim, mas essa era a mais pura e terrível verdade da vida da pequena Kate. A cenourinha ruiva e abandonada por tudo e por todos. O orfanato não eram um lar, era apenas um amontoado de tijolos e paredes que prendiam aquelas crianças para que não estivessem simplesmente soltas nas ruas da cidade, mas que ficassem presas, enclausuradas em um lugar que nem ao menos podia sustentá-las adequadamente... em um lugar que não era correto e nem tinha pessoas Preparadas para lidarem com aqueles tipos de indivíduos, crianças abandonadas, órfãs, carentes, tristes e desamparadas, que precisavam de todo apoio e segurança, que o estado deveria oferecer, mais que aquelas pessoas do Orfanato não estavam prontas para lhes dar. Principalmente tendo um diretor corrupto na direção da instituição, o qual desviava os poucos recursos que eles recebiam, para o próprio bolso.
Aquele diretor só tinha ganância e falta de amor pelas pessoas em seu coração malvado.