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Cavalo de Tróia

Enquanto Aidéa descobria todas essas coisas, o capitão não descobria nada sobre ela. Não entendia como ela conseguiu sumir dentro do Planetóide. O pior era o formigamento que começou a sentir em seu corpo, cada vez que pensava nela.

**

Nessa noite Aidéa não dormiu, esperou o horário de menor movimento. Quase todos os setores estavam parados e só estavam presentes os fiscais, dois para cada setor. A administração era muito crédula em sua segurança, pois ficava tudo muito exposto para alguém esperto manipular.

Seguiu pelos corredores, andando calmamente vestindo um uniforme de manutenção. Subiu o máximo que sua credencial permitiu. Entrou no setor de armazenamento, cumprimentou o fiscal de entrada, que não respondeu e seguiu para a sala de computadores.

Ao sentar-se, prestou atenção as câmeras do setor, ligou o aparelho e imediatamente acessou as câmeras, digitou alguns algoritmos e infiltrou-se no setor de segurança. Fez uma varredura e encontrou o que queria, rastreou o cavalinho pocotó, como o denominou, e descobriu de qual aparelho estava vindo.

Olhou novamente as câmeras de segurança, principalmente os corredores que levam ao computador do pocotó e depois de quase uma hora, conseguiu ver o que queria. Prestou atenção nas várias páginas abertas e viu exatamente o que o sujeito estava fazendo.

Digitou outros dígitos e a tela, chuviscando, mudou a imagem da pessoa. Como havia imaginado, eram invasores grundg's, um povo sanguessuga que nunca construíram nada, sempre pegavam o que outros construíram. Gravou tudo e plantou seu próprio pocotó, no sistema do grundg.

Depois de implantar novos dados sobre si mesma, apagou seus rastros como vinha fazendo desde o início, fechou todo o sistema e saiu do setor. Dirigiu-se até o totem mais próximo e pegou uma nova identificação. Seguiu pelo corredor e pegou o elevador de canto, chegando à plataforma lateral, onde entrou no transporte individual, que assemelhava-se a um foguete em que viajaria deitada e fechada.

O transporte foi rápido e em vinte minutos chegou a plataforma restrita aos comandantes. Andou por um corredor que a levou à sala de reuniões. Entrou sem bater. Haviam cinco homens ali, cinco comandantes dos setores primários do Planetóide.

— Bom dia, senhores! Sei que parece um absurdo, uma pessoa completamente desconhecida, marcar uma reunião em nome do presidente. Mas é uma questão de extrema urgência. — Anunciou ela.

— Quem é você, sua atrevida, como entrou aqui sem que soubéssemos? Vou chamar os guardas, agora! — rebelou-se o comandante do setor de segurança.

— Espera comandante Aires, quero ver até onde essa senhora irá chegar. Estamos seguros aqui — argumentou o comandante de armas.

Neste momento, o presidente entrou acompanhado do seu imediato, comandante Keplow. Estancaram quando viram uma mulher desconhecida ali.

— Mas o que significa isso? — Perguntou o presidente.

— Desculpe ter tomado a frente e marcado essa reunião a sua revelia presidente, mas se o senhor deixar que eu explique, verá que é de suma importância o que tenho a relatar. Novamente explicou, Aidéa.

Ele analisou ela dos pés à cabeça e olhou para Keplow, que lhe acenou com a cabeça positivamente.

— Veremos o que tem então, garota. — Consentiu o comandante.

Sentaram-se todos em seus lugares, menos Aidéa, que ficou parada a frente de uma enorme tela suspensa na ponta da mesa. Com um controle na mão, foi mostrando todos os setores pelos quais havia passado e todos os estragos que precisou consertar.

— Mas isso é impossível! Eu tenho pessoas fiscalizando os dutos toda semana, como pôde chegar a esse estado? Isso deve ser uma farsa! — contestou o comandante do setor de águas.

— Quanto ao setor bélico, recentemente chegaram materiais novos que já estão no estoque. — Informou o responsável pelo setor.

— Sim, estoque que estava uma bagunça, se houvesse um ataque, vocês ficariam perdidos para montar os equipamentos certos. —  Disse Aidéa.

Keplow observava tudo com atenção, tinha olhado bem os vídeos e sabia que ela falava a verdade, pois já tinha percebido um problema na área de confecção de alimentos. Uma toxina estava sendo colocada em alguns alimentos que deixavam os funcionários lentos e displicentes. Isso devia estar facilitando a sabotagem. Mas ficou quieto, esperando que ela falasse tudo o que tinha para dizer.

— Acaso foi você que chegou clandestina num de meus cargueiros? — perguntou.

— Sim, estava sendo transportada em uma gaiola para um laboratório de pesquisa, que pagaria um alto preço por mim, mas escapei e para sorte de vocês, estou aqui. — Informou ela cruamente, sem querer ser arrogante.

— Então você era a anomalia que tentávamos encontrar! — exclamou o presidente.

— Acho que sim — respondeu sorrindo.

— Espera, estou te reconhecendo. Foi você que fez aquela confusão na sala de alimentação! Você deveria ser presa imediatamente. — O comandante do setor de alimentação sugeriu.

— Acalmem os ânimos, comandantes! Acaso a senhorita desconfia de quem poderia estar por trás dessas sabotagens? — Peguntou o presidente.

— Levantem suas telas de mesa. Olhem para ela. — Assim que todos olharam para suas telas,  Aidéa teclou em seu controle e apareceu a imagem na tela grande, ela parou a imagem — olhem!

Quando todos olharam, viram um grundg sentado entre eles, na mesma hora sacaram suas armas, mas não houve necessidade, ela já havia acessado os dispositivos da cadeira, que prenderam o falso comandante de segurança.

Keplow apertou um botão invisivel em seu pulso e uma pequena tela apareceu, ele ordenou que viessem pegar o prisioneiro e o levassem a ala especial. Na mesma hora Aidéa teclou um dos computadores da mesa e verificou o sistema das celas, 

— Capitão Keplow, olha isso. 

Ele chegou em seu computador de mesa e viu o que ela localizou: estava tudo manipulado para caso algum deles fosse preso, pudessem destrancar as portas facilmente e fugirem.

— É melhor arranjar outro local, de preferência, sem anunciar aos quatro cantos, onde é. Com certeza devem ter outros disfarçados pelos setores principais. Apesar de eu ter consertado a maior parte, eles podem fazer tudo de novo.

— Estamos em dívida com você garota. —  Disse o presidente.

— Aidéa, senhor.

— Isso, Aidéa! Como posso lhe retribuir! 

— Me dando cidadania e segurança em seu planetóide. — Pediu ela, com a cara mais inocente do mundo.

O presidente deu uma gargalhada que assustou todos ali, até ele mesmo. Se controlou e olhou sério para ela.

— Não sei se isso seria bom. Você nos ajudou muito, mas seus modos são totalmente avessos ao nosso sistema de governo.

— Sistema de governo totalmente falido, não é, senhor? Vocês tratam as pessoas como animais domesticados, tiraram a liberdade de expressão e de escolha do que querem fazer na vida. Isso aqui é uma imensa fábrica de nada, isso sim. Para diferenciar dos autômatos, só precisam não comer e não dormir. — Falou ousadamente, a estranha verde de cabelos vermelhos.

— Garota abusada! Tá vendo o que digo. É uma anarquista. Como posso abrigá-la aqui e deixá-la causar o caos? — Exaltou-se o presidente.

— E se eu ficar responsável por ela, presidente? Creio que ela ainda poderá nos ajudar muito na identificação dos infiltrados. —  Sugeriu Keplow.

— Não sei não, Keplow. Bastaria você piscar, para ela aprontar uma desordem. — Insistiu o presidente.

— Sei como controlá-la, senhor. — Keplow respondeu, confiante.

Aidéa ficou quietinha, não expressou nada que pudesse atrapalhar a decisão do presidente, mas por dentro se ria do pobre capitão Keplow e sua arrogância, estaria perdido em suas mãos.

— Está bem senhorita, Aidéa, seja bem vinda ao Planetóide Rehrdar!

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