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06

Jéssica

Guerreiro: Coé... tô ocupado, porra... manda se virar, nem bem chegou e ele já tá fazendo merda, tem que se foder mermo... manda resolver sozinho, tô sem câo...- desligou o celular com raiva e sentando no pé da cama, passou a mão no rosto suspirando fundo.

- O que aconteceu?- perguntei e puxei o lençol cobrindo mais meu corpo, ele apenas me deu uma olhada.

Guerreiro: Coé, ouvindo conversa dos outros? Não estava dormindo aí, pô.- suspirei.

Não tinha nada haver com a vida dele, nem um momento gosto de ficar perguntando pra pessoas o que elas tem ou deixam de terem, mas dava pra ver que ele estava com raiva e pensativo.

- Se quiser conversa comigo, talvez posso...

Guerreiro: Pode?- arqueou a sobrancelha.

- Ajudá-lo...- ele negou desviando o olhar.

Guerreiro: Tú não passa de uma crente, como vai me ajudar?- perguntou nervoso.

- Talvez conversa com outra pessoa é a melhor coisa que pode ter, não acha?- me ajeitei na cama olhando ele que estava de costas.

Nunca parei pra observar, mas pela iluminação algumas cicatrizes se destacavam na suas costas, no mesmo momento que ele percebeu o meu silêncio virou me encarando.

- O que são essas cicatrizes?- engoli em seco, seco mesmo.

Guerreiro: Tá trabalhando pra x9? Toda cheia de perguntas aí, coé a tua?- arqueou a sobrancelha, me aproximei do mesmo levando a mão no seu rosto.

- Eu apenas quero dizer que se precisar de alguém pra conversa contigo e não tiver, eu vou estar aqui...- ele tirou minha mão no mesmo momento.

Guerreiro: Colfoi?- me olhou cismado e sem entender nada, suspirei fundo.

Não sabia dos problemas dele, nem muito menos o que ele está sentindo nesse momento e via que ele não queira falar e nem nada, então fiquei quieta e sem graça na frente dele.

- Desculpa...- sussurrei.

Guerreiro: Pode meter o pé.- levantou da cama, me levantei em seguida e peguei minhas roupas, vesti sem falar nada, queita...

(...)

Marcos: Olha só, seis horas da manhã.- tentei entrar de escondido, mas foi em vão.

- Pai?- arregalei os olhos.

Marcos: Onde estava?- me encarou começando a ficar nervoso.

- Eu dormi na casa da Jasmim, fiquei com ela...- ele me cortou no mesmo momento.

Marcos: É mentira tua e mesmo se não for, o que falei pra tú? Em, Jéssica.- me olhou com raiva, suspirei fundo encarando ele.

- Olha minha idade, tenho dezenove anos, cara... acha que eu não sei o que faço ou deixo de fazer não? Em.- falei alto.- Para de querer mandar em tudo, para com isso! Cansa pra caralho, tú quer me privar de ver minha própria irmã...

Marcos: Cala a boca!- veio na minha direção puxando meu cabelo pra trás.- Eu sustento você, você está sobre meu teto e até isso estar acontecendo, eu mando em você!- falou serrando os dentes.- Me escutou? Tá me entendendo?

- Para, tá me machucando.- levei a mão por cima da sua tentando tirar, porém, ele apenas puxou com mais força, fechei os olhos sentindo uma dor pequena.

Joana: Marcos, solta ela...- segurou o braço do mesmo que me soltou.- Parem com isso gente, essas brigas não vão levar vocês a lugar nenhum.- olhei pro meu pai e neguei passando por eles, fui direto para o meu quarto.

Tantos anos e meu pai nunca se quer relou uma mão ou levantou a voz pra minha direção, e agora isso está acontecendo, cara. Bati a porta do meu quarto encostando na mesma e suspirando fundo.

Quando fico com raiva sinto uma enorme vontade de chorar, então não resisti e fechei os olhos deixando as lágrimas quentes escorrer em meu rosto aos poucos.

Guerreiro

Eu fico pagando de neurótico mermo e a garota vem toda de preocupada, coé? Comigo é sem essas paradas, parcero, já confiei em muitos que não valia nem minhas palavras do dia a dia, e um era sempre meu pai. A pessoa paga de bonzão, manja na rola e depois fode contigo.

M. Fuzil: Até que enfim, te ligue mais cedo né, mas parece que estava ocupado.- revirei os olhos.

- Colfoi? Não tenho tempo pra ficar resolvendo câo dos outros não, mermão.- assim que terminei minha fala senti a mão no meu ombro, me virei no mesmo momento arqueando a sobrancelha.

Russo: Outros não, sou teu pai.- abriu um sorriso de lado me medindo, engoli em seco o encarando.- Não vai da um abraço no teu pai não?

- Viaja na minha não, se liga.- mandei sério.

Russo: Tô de volta, volta pra onde eu não quero sair mais, porra.- abriu os braços.

Porra, não mudou nada na parada e parece que continua o mesmo no caráter também, o mesmo filha da puta que tirou todas minhas esperanças quando era menor, aquele que fazia promessas quando estava drogado e não cumpria nem uma!

M. Fuzil: Tú parece que continua o mesmo que me falaram, Russo.- ele a mediu dando um sorriso.

Russo: E tú da um caldo daqueles.- revirei os olhos.- Tô percebendo que tá aí nessa vida.- não respondi nada, apenas fui pro canto começando a mesma rotina.

M. Fuzil: Russo bateu em um rapaz de madrugada, acabou com o carinha e os familiares dele tão puto...

- Que se foda, mermão.- dei de ombros jogando o pacote de maconha dentro da mochila.

Essas paradas me deixam pensativo pra caralho, fico pensando logo em várias fitas que surge na minha mente e acaba que não rendo em nada pra dar meu lucro.

Assim que terminei meu horário, encostei direto para o barraco da minha mãe, já desci entrando no barraco, logo bati meu olhar nela que me olhou assustada.

Cíntia: Rodrigo?- sussurrou.- Aconteceu algo?

- Tú tá sussa?- a encarei..

Cíntia: Ele veio aqui, prometeu tantas coisas de madrugada, falou que ia mudar, que queria reatar tudo entre nós, mas na real? Eu não acreditei em nada, teu pai sempre foi... um monstro.- negou.- Ele matou vários homens na cadeia, quase matou um rapaz de madrugada... sabe qual o motivo? O rapaz estava ficando com tua irmã... não sei porque quer dar uma de pai, nunca foi!- suspirei.

Rafaela: Rodrigo?- me encarou entrando na sala.

Cíntia: Tá tudo bem, Rodrigo.- sorriu.- Pode ficar tranquilo...

- Olha pra minha cara.- encarei ela.- Se o Russo relar um dedo em alguma de vocês duas, é pra me mandar a parada. Ele que ser homem no bagulho, então vai resolver com um, tô dando meu papo pra tú. Se ligou?- mandei sério encarando minha mãe e depois Rafaela.- Se ligou no papo? Caralho.- elas assentiram depois de um tempo.- Tô metendo o pé!- posicionei meu boné e em dois meti o pé do barraco.

Só dei aquela pra saber na moral mermo, pô, sem muito papo furado...

(....)

Patatá: Russo tá maluco de bater no moleque, arregaçou o rapaz só porque estava ficando com tua irmã, coé...- negou.- Já tá favela toda sabendo dessa parada aê.- apenas encarei ele.

Ratinho: É tiração mermo.- riu.- Moleque nunca mais vai querer saber da mina não.

M. Fuzil: Ainda fica falando merda pra mulher...- bufou.

Encarava eles conversando tudo na calada, sem falar nada pra eles, na minha mermo, mermão. O mais foda é saber que o cara ficou esses anos todos no presídio e não mudou nada naquela cara, parcero.

Patatá: O que tú acha dessa parada, Guerreiro.- me encarou, dei de ombros.

- Tenho que achar nada não, rapá.- murmurei levantando da cadeira.

Precisava relaxar minha mente, então logo acionei a piranha da Marcela e ia brotar no barraco dela pra relaxar legal mermo...

Rafaela

Família? Família tem que ser unida, um pelo outro sempre que precisar, levantar quando o outro precisar, família é quem faz da pessoa um amigo.

Não posso falar que minha família sempre foi unida, pois nunca foi e até hoje eu vejo que nunca será, eu não demostro e nem falo nada, mas eu sofro pra caralho com essas coisas, com afastamento de todos.

Tudo começa pelo meu pai e termina pelo Rodrigo, Rodrigo pode ser tudo em querer sustentar em questão financeira, porém, minha mãe nunca aceitou por ser dinheiro de crime, dinheiro sujo.

Suspirei fundo. Estava dentro da casa dos pais do meu "namorado".

Deco: Coé, tá doendo essa parada aí.- entreguei o remédio pra ele que logo bebeu.

Amélia: Não criei meu filho pra ficar apanhando de bandido não, Rafaela.- bufou.- Eu sei que vocês se gostam, mas eu não vou aceitar isso não.- entrou na sala.

Deco: Qual é, mãe... para de ficar enchendo a cabeça da Rafaela.- suspirei.

- Ela tem razão... Denis.- o encarei.- Eu vou embora, qualquer coisa pode me ligar.- peguei minha bolsa em cima do sofá, no mesmo momento ele segurou meu braço fazendo eu encarar dentro dos olhos deles.

Deco: Para de marra, já falei pra tú parar de dar ouvido, fica aqui!- engoli em seco.

Amélia: Eu não me meto em mais nada, mas também não vem procurando minha cara depois não, Deco.- deu as costas saindo da sala. Olhei aquela cena decepcionada pra caralho, fiquei triste e nem mesmo não sabia o que falar.

Russo é o pior homem que eu já conheci, o que me deixa abalada é saber que ele nunca teve e nunca dará amor nem mesmo pelo filhos.

- Eu vou embora...- sussurrei dando um puxão do seu braço e saindo da casa dele em passos rápidos. Estava com vontade de chorar, mas segurei o quanto consegui pra não ficar feio para o meu lado naquele beco.

Assim que cheguei em casa minha mãe estava sentada no sofá, de cabeça baixa.

- Mãe?- a chamei que me olhou assustada, era impossível não ver um vermelho no seu rosto, impossível, cara.- O que é isso no seu rosto?- aproximei engolindo em seco.

Cíntia: Tudo é por minha culpa, como fui me envolver com um homem feito igual o Russo, como? Caralho.- falou alto.- Fernando fez de tudo pra me tirar daqui, mas eu fui idiota ao ponto de negar e ficar com um monstro.

- Mãe...- engoli em seco sentando ao seu lado e a abraçando de lado.

Cíntia: Russo me bateu, Rafaela... ele me deu um tapa na cara como no passado, como fazia comigo e com o teu irmão...- mordi os lábios fechando os olhos e deixando as lágrimas escorrerem.

- Vai ficar tudo bem...

Cíntia: Não quero que conte para o Rodrigo, não fala nada, por favor.- me olhou.- Não abre a boca, Rafaela.

- Vai começar...

Cíntia: Só não fale nada pra ninguém e muito menos para o Rodrigo...- assenti ficando quieta.

Eu sentia uma angústia, não somente pelo Russo, mas pelo Deco. Todo esse tempo que eu sempre lutei por nós dois, me enforcei pra no final saber que nada vai valer a pena, por culpa do Russo que não vale nem mesmo a palavra de ser chamado de pai...

Guerreiro

Apertei mais um no ódio, estava apenas no ódio hoje, parcero, sem muito papo e sem muita fantasia, estava no ódio mermo. Desviei meu olhar pra cara da mandada da Marcela que me encarava estranho pra caralho, garota cínica, piranha, vadia do caralho!

- Coé, tá viajando pra minha cara assim?- perguntei cismado.

Marcela: Qual foi, Guerreiro... tú nunca me fez gozar, só se satisfaz.- bufou.- Somente isso e sempre me deixa na vontade, cara.- revirei os olhos apagando o baseado.

- Coé, Jéssi...

Marcela: Qual é?- me olhou.- Tá comigo pesando em outra, ia me chamar de Jéssica? Aquela crente.- riu sarcástica. Fiquei calado, somente olhando pra cara dela. Vacilo do caralho, mermão.

Marcela: Porque fica pensando em crente? Não sabe que as crentes se guardam pra fazer amorzinho só depois do casamento?- riu alto se aproximando enquanto eu estava sentado no pé da cama.- Então quer dizer que tá se envolvendo com a filha do pastor? Tú é muito otario.

- Tá tirando com minha cara?- levantei.- Falei porra nenhuma não, piranha.

Marcela: Amor...- a mesma levou a mão no meu rosto tentando me intimidar, soquei logo um retão na cara dela.- Bate mesmo, assim que gosto, mas poderia ser na cama, não acha?

- Se manca, bota postura nessa tua cara. - me fiz de neurótico.- Sou bandido, porra.- prendi o maxilar dela apertando com força.- Se manca comigo.

Marcela: Tá machucando... me solta.- levou a mão até a minha dando tapas fraco, apertei com mais força dando um empurrão fazendo ela cair sentadinha na cama, tirei umas nota pra ela e joguei no chão mesmo. Meti o pé do barraco dela.

Odeio qualquer piranha que quer pagar de intimidade pro meu lado, odeio mermo, parcero. Me faço de neurótico e única saída é ensinar a respeitar, mermão, querendo me intimidar com mão e dando uma de fodona, coé?

Subi na minha moto e logo fui pra goma, cansado pra caralho e sem ânimo pra nada. Entrei de primeira e fui logo para o banheiro pra tomar um banho quente e relaxar, parcero.

(...)

Hoje o dia foi fechado pro meu lado, e bolei várias drogas pra me dar no lucro que perdi nos outros dias. Já estava logo na sexta de tarde, quatro horas da tarde enquanto escutava as conversas da rodinha, meio de longe e calado.

Russo: Mostra que é homem de verdade, Patatá.- sorriu sarcástico.- Tem que mostrar pra mulher quem que manda dentro da goma, tem que mostrar mermo.

Patatá: Eu sei... tô ligado, tô ligado.- assentiu.- Ela sabe como sou, Simone sabe muito bem quem eu sou, parcero.

Russo: É saber mesmo, mulher nenhuma presta! Falo isso por experiência própria, olha a minha...- travei o maxilar serrando os olhos na cara dele, ele me encarou e desviou o olhar.- É... mulher é...

- Termina, termina a tua frase, Russo.- mandei sério, Patatá me olhou também serinho.

Russo: Tá viajando?- riu.

- Vai, porra. Aproveita e fala do homem que tú é também, manda o quanto filha da puta tú é! O quanto desgraçado que tú sempre foi, rapá.- falei alto.- O paizão que tú fala que é, mas nunca foi e nunca vai ser.

M. Fuzil: Guerreiro...- colocou a mão no meu ombro, apenas dei uma olhada fazendo ela tirar.

Russo: Não se mete não, Guerreiro.- falou sério dessa vez, apertei minhas mãos suspirando fundo e desviei meu olhar para os moleques da biqueira que olhava pra nossa direção. Posicionei meu boné e meti o pé daquela porra.

Assim que saí escutei alguém me acompanhando e era ele, já do lado de fora me encarou com ódio, sustentei a olhada sério.

Russo: Me respeita pelo menos perto dos outros, eu sou teu pai nessa desgraça, caralho.

- Pai?- sorri debochado.- Tú é um grande pai.- mandei um legal dando as costas e metendo o pé dali.

Subi pra goma nervoso, rolei logo mais alguns cigarros pra tentar relaxar, mas nada saia da minha mente, ficava inquieto a todo momento dentro daquele barraco. Puxei o celular de cima da cômoda e fui direto na mensagem daquela crente, acionei ela em dois...

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