Ele não sabe mentir?(II)
Sorri e toquei o peito dele:
- Vamos ver! Talvez até lá eu esteja namorando! – olhei na direção de Pedro do outro lado da rua, que olhava para Anastácia rindo, de forma tranquila, enquanto ela falava.
Observei atentamente e os dois pareciam estar se divertindo. O que quer que ela tenha lhe explicado, certamente deu certo e ele aceitou ou acreditou.
Olhei melhor para ela. Eu a conhecia. Já tinha visto aquela garota antes... Só não lembrava de onde.
Atravessei a rua, sem olhar para os lados e peguei a mão de Pedro. Ser corna duas vezes não dava! Jason me traiu com Anastácia. Se Pedro também ficasse com Anastácia eu seria corna duplamente, pela mesma mulher. Só o que faltava! O meu namorado de mentira também se envolver com a mulher do meu quase namorado de verdade! Seria muito azar!
Pedro olhou para nossas mãos juntas e franziu a testa.
- Vamos, “querido”? – Usei o mesmo apelido carinhoso que ele, porém no gênero masculino.
Porra, aquilo pareceu bem forçado! Eu não deveria ter usado o “querido”. Pareceu Paola Bracho tomando seu lugar como esposa de Carlos Daniel. Sim, típico de novela mexicana, que eu negava gostar até a morte, mas era viciada.
- Vamos!
Respirei aliviada quando Pedro não me rejeitou, aceitando continuar com a mentira até o final da noite.
- Nos vemos, Ana. – Deu um beijo na garota.
- Tchau! – Sorri para ela, puxando a mão dele e seguindo pela calçada.
Ficamos andando de mãos dadas e pedi:
- Olhe para trás e me diga se estão juntos de novo ou foi cada um para um lado.
- Eu não vou fazer isso. Olhe você!
- Não posso! Ele vai achar que estou preocupada se ele vai ou não ficar com ela de novo.
- E você está mesmo! Ele não estaria enganado.
- Olhe, Pedro! Por favor!
- Não, “querida”, definitivamente, não vou olhar.
- Por favorzinho!
- Não!
E não é que ele realmente não olhou para trás? Assim que dobramos a esquina de novo, soltamos nossas mãos.
- Quem é ela? – Perguntei.
- Minha ex.
- Porra, que coincidência! Sua ex com o meu... Quase futuro.
- Quem é ele?
- O meu namorado que não é meu namorado.
- Hum... Entendi! – ele riu – Você é complicada, “querida”.
- Seguinte, não acho legal você chamá-la de Ana, porque eu sou Ana Clara e pode haver confusão, entende?
Ele me olhou enquanto andava, não dizendo nada, somente arqueando a sobrancelha, num meio sorriso.
- Não sei se entendeu... Duas Anas? Meio que não dá! Além do mais ela é sua ex. Não pega bem chamá-la por apelido, já que vocês não têm mais nada um com o outro.
- Lembro que você disse que se chamava Ana Clara, mas que eu deveria chamá-la de Clara.
- Sim, mas Ana Clara é o meu nome. O nome dela é Anastácia. Ou seja, Ana não é o nome dela e...
- Caramba, eu entendi! – Ele balançou a cabeça – Você fala muito... E rápido demais. E me deixa... Tonto!
Eu ri, incerta se ele estava falando sério. Já tinha ouvido inúmeras pessoas reclamarem que eu falava muito, mas que deixava alguém tonto não.
- Desculpa. Vou tentar... Falar mais devagar.
Pedro riu:
- Achei que você diria que tentaria não falar tanto.
- Eu não consigo. – Confessei, sem jeito.
- Olha, não querendo ser um “estraga prazeres” mas a gente certamente vai “terminar” hoje o nosso namoro. Então não faz sentido ficarmos discutindo sobre a minha Ana e você, entende?
- Sua Ana? Eu sou a sua Ana, Pedro! – Bati a mão com força no ombro dele, fazendo-o ir para o lado, reclamando de dor.
Começamos a rir. Chegamos no ponto de ônibus e sentei, olhando no relógio:
- Falta uma hora para o primeiro ônibus. – Falei.
Ele sentou ao meu lado:
- Por que ele não foi no seu aniversário, afinal?
Respirei fundo:
- É meio complicado.
- Mais do que você? Então deve ser inexplicável.
- Jason e eu nos conhecemos há dois anos. Ele estava comigo no meu aniversário de 17. E sempre que nos encontramos, ficamos.
- E se isso acontece há dois anos, por que nunca namoraram?
- Porque... – eu nunca tinha me feito aquela pergunta.
- Pela primeira vez deixei você sem resposta?
- Sim... Eu... Acho que ele nunca quis me namorar. Porque... Se tivesse me pedido, eu teria aceitado. Eu... Gosto dele. Na verdade, gostava.
- Talvez você devesse ter dito que gostava dele.
- Acho que ele sabia. Mas eu preciso te contar um segredo.
- Nossa! Fale! – Ele riu.
- Está rindo de mim?
- Como você vai me contar um segredo se nem me conhece?
- Claro que conheço. Você é Pedro... Meu namorado. – Debochei.
- Então me conte o seu segredo.
- Eu tenho uma alma gêmea.
Ele me olhou atentamente:
- O... Jason?
- Não. O nome dele é Patrick.
- Alma gêmea? Você acredita nesta asneira?
- Sim... Acredito cegamente. Alma gêmea, amor, paixão, tesão... Qualquer coisa. Eu leio muito Paulo Coelho. E no livro Brida o mago menciona que todos encontramos nossa alma gêmea em cada passagem pela Terra. E é nosso dever achá-la. Porém nem todas as pessoas sabem reconhecê-la.
- E você sabe?
- Sim. Nossa alma gêmea tem um ponto iluminado acima do ombro esquerdo.
Ele começou a gargalhar. Fiquei contemplando-o, de forma séria. Até que parou, tentando se conter.
- Na Mitologia grega tem uma lenda que diz que fomos partidos ao meio para conhecermos o que é a saudade e sentir falta de alguém. Por isso, vivemos incessantemente procurando nossa outra metade.
- Eu não procuro minha outra metade! – Ele foi enfático.
- Todo mundo procura. Ninguém é feliz sozinho.
- Por que você perde tempo pesquisando sobre “alma gêmea”? Pode fazer algo mais interessante e leituras mais significativas, que realmente a levem a algum lugar na vida.
- Devo perder meu tempo sabendo Inglês ou Espanhol? – eu ri, de forma sarcástica – Isso vai me levar aonde? Ficar nos lugares julgando as pessoas que não tem domínio da língua ou da pronúncia, sendo que isso não diz respeito a mim? Não! Prefiro saber sobre os encontros destinados da vida, a minha alma gêmea, que é a pessoa que ficará comigo e dividirá tudo. Isso faz eu usar meu tempo pensando em mim e não nos outros.