Capítulo 6
HUNTER
Chegou o tão esperado dia. O dia da minha liberdade!
Me despedi de todos os colegas que tive aqui e eles ficaram batendo nas grades das celas e gritando meu nome.
Geralmente é assim as despedidas na cadeia quando alguém é solto.
Pedi a Shane para ir ver Miles antes de ir e ele deixou.
— Adeus, Miles... - falo emocionado.
— Até, meu filho. Se cuide e saiba que Deus está do seu lado sempre... Aproveite a liberdade.
— Valeu.
Meus olhos lacrimejam e eu o abraço forte.
— Virei te ver, Miles, eu juro.
— Ok, querido.
Shane olha para o relógio e me avisa:
— Vamos, Hunter.
— Xau, Miles. Xau galera!!!!! Fiquem com Deus! - me despeço de todos e vou andando.
Em seguida, Shane me leva até a porta da entrada do presídio e um filme passa em minha cabeça, lembrando o dia que cheguei aqui.
Eu sofri muito, fiquei revoltado, vivia na solitária por brigar direto mas depois que conheci Miles, ele me fez repensar minhas atitudes e eu fui mudando aos poucos e ficando comportado, participando de oficinas, trabalhando e evitando confusões com desafetos.
Quando o portão se abre, vejo minha mãe chorando emocionada.
— Meu bebê!!!!!
— Mamãe...
Ela me abraça forte e chora no meu ombro. Eu não aguento e deixo algumas lágrimas descerem no meu rosto.
— Meu filho lindo, amado! Você está livre! Oh Deus! Obrigado Jesus! Eu orei tanto por isso! - ela segura meu rosto, enchendo -me de beijos.
— Obrigado por tudo, mãe... você é um anjo...
Em seguida, olho para Shane, que me observa desconfiado e falo com sinceridade:
— Obrigado por me proteger, Shane.
Ele olha para mim bem sério e fala:
— Ok...mas só fiz isso por Lilian. Agora mude e seja um homem de vergonha, dê orgulho para sua mãe! Vou voltar ao trabalho. Lilian, querida, mais tarde te vejo e levo uns chocolates para você, minha abelhinha.
Mamãe sorri e o abraça:
— kkkkkk, obrigado meu fofuxo.
Eu fico constrangido com essa cena romântica e mamãe me puxa para entrarmos no seu carro.Enquanto vamos para a casa dela, lembro-me que usei todo o dinheiro guardado para pagar advogados caros, tive que vender meu carro e meu apartamento.
Fiquei sem nada.
Ao chegarmos na casa de mamãe, ela me faz uma surpresa.
Há diversos balões, em especial um com o número 30, minha idade, e um enorme bolo com muitos doces na mesa simples de sua casa.
— kkkkk, o que é isso, mãe? - pergunto incrédulo.
Minha mãe dá pulinhos e fala toda animada:
— Vamos comemorar seus 7 aniversários que não pudemos!!!! Ah e tem seus presentes!
Mamãe traz uma sacola com um monte de roupas de marca. Eu olho as roupas e falo inconformado:
— Mãe, cê tá louca? Essas roupas são caras! Eu não mereço isso!
— Para, Hunter! Eu comprei na liquidação, estavam muito baratas e são sua cara. Quero ver meu bebê bem vestido, meu anjinho lindo.
Eu começo a rir e abraço ela, falando emocionado, segurando seu lindo rosto:
— Obrigado... e o anjo aqui é você... Eu não mereço seu amor...Me perdoe por tudo que te fiz sofrer mãe... Eu juro que vou te orgulhar!
— Eu sei que vai, meu amor. Você é inteligente e é lindo! Vou te ajudar no que precisar...Quero que more aqui comigo, filho.
— Mãe, vou passar uns dias aqui, mas quando eu ganhar o salário do restaurante, vou alugar um quartinho. Eu não quero te incomodar.
— Mas filho...
— Mãe, por favor...Eu quero ser independente, ok?
— Ok, tá bom... Mas eu vou te ajudar em tudo!!!!! - ela fala em tom de teimosia. — Vamos comer?
— Vamos!!!!! Faz anos que não sei o que é comer essas delícias.
Alguns dias depois, a assistente social me liga e diz que eu tenho que me apresentar num restaurante do centro as 7 da manhã para começar a trabalhar.
No dia indicado, vou até o restaurante e conheço a dona do restaurante, dona Mercedes. Nós nos demos muito bem e ela gostou de mim.
Uns dias se passam e ela vê que o restaurante está se enchendo de universitárias que suspiram ao me ver.
Eu sou garçom e faço outras coisas também. Mercedes percebeu que sou bom de conta e deixa até eu contar o dinheiro do caixa e fazer as contas.
— Hunter querido, você faz sucesso... Essas meninas deliram por você, kkkkkk. Olha,eu sou homossexual, mas vou te dizer, você é um pedaço de mal caminho garoto. - Mercedes fala animada.
— kkkkkkkkkk! - me acabo de rir.
— Olha, garoto, vou te dar um dinheiro a mais hoje, estamos lucrando muito por causa desses seus olhos verdes e esse sorriso matador.
— Valeu, Mercedes...
***
Tres meses se passam e hoje é o dia de ir assinar mais uma vez a frequência da condicional na corte/fórum.
Se eu não assinar todo mês, vou em cana.
Como Mercedes já sabe dessa minha rotina, ela deixou eu chegar às 8. Visto uma roupa e vou até lá, assinar a frequência.
(música do momento:
Lana Del Rey - Blue Jeans (Sofia Karlberg Cover)
Após alguns minutos, vou saindo e quando olho para trás, vejo ela.
A Deusa
Fico parado, perplexo.
Eu não acredito que a encontrei depois de todos esses anos.
Ela está com uma roupa social preta, muito elegante e segurando uns papéis enquanto se equilibra em seu salto.
Me aproximo, com o coração acelerado e não perco tempo, falo o seu nome:
— Atena?
Então se vira e arregala os olhos surpresa ao me ver.
— Meu Deus... Você... - Atena fala sem acreditar que está me vendo.
— Oi...
Ficamos olhando um para o outro por alguns segundos, observando as feições de cada um admirados e então eu falo:
— Me desculpe ter sumido...
— Foram 7 anos... - ela fala pensativa.
— Sim... Eu estava preso. - me explico, muito nervoso.
— Que??? - ela pergunta chocada.
Me aproximo mais e tento explicar o que houve:
— Foi, fiz muita merda naquela noite... Mas eu queria muito te ver... Passei esses anos todos pensando em você, sem esquecer esses seus olhos negros... e seu nome...
— Como você se chama? -ela pergunta curiosa.
— Hunter... Prazer, sou Hunter McGregor, linda senhora.
Ela sorri e eu pego em sua mão, a beijando com carinho.
Sinto uma corrente elétrica percorrer minha pele ao tocá-la e fico perturbado.
— Sou Atena França,Hunter... - ela responde sorrindo.
— Eu te vi saindo da corte... que coincidência, acabei de assinar a frequência da condicional. O que você fazia aí? - pergunto.
— Ah, eu sou advogada. - ela me responde.
— Uau! - exclamo impressionado.
- Rsrs... - ela sorri mio envergonhada.
Não suporto ver aquele lindo sorriso e toco seu lindo rosto. Ela fecha os olhos, como se sentisse prazer e aquilo me deixa louco.
Porém, de repente, alguém que trabalha no fórum a chama, dizendo que ela esqueceu de assinar um papel.
— Droga! Esqueci de assinar... Você está com pressa? - ela pragueja e me pergunta.
— Tenho que voltar pro restaurante Calgari, senão a Mercedes me mata, kkkkk. Tô trabalhando lá...
— Hum, entendi. Até que horas? - ela pergunta enquanto morde o lábio carnudo.
— Bom, eu saio as 17 horas.
— Ok. Eh... posso ir te ver lá, na saída? Queria colocar os papos em dia... quer dizer, se você quiser, mas se você tiver namorando, peço perdão. - ela fala muito nervosa.
— Atena... eu não tenho ninguém. Pode ir... eu quero muito te ver..
Ela morde novamente o lábio inferior com mais força, cavando ainda mais minha cova e eu sorrio nervoso.
— Ok, eu estarei lá. - ela diz enquanto me olha intensamente.
Antes que ela saia, dou um beijo em sua bochecha e ficamos nos encarando a poucos centímetros, quase se beijando.
A química é latente, poderosa, palpável
— Bom, eu já vou, Hunter .- Ela fica nervosa e sai.
Eu respiro fundo e ponho as mãos na cabeça, não acreditando que a encontrei.
Fico olhando ela entrar no fórum até sumir de vista e vou todo feliz para o restaurante.
— Meu Deus, eu encontrei a minha deusa...