Um
William Blackwell
Sou o dono de uma grandiosa empresa tecnológica que criei com muito esforço, inteligência e empenho.
Quem me conheceu dez anos atrás, sabendo de quem sou filho e como neguei aceitar dinheiro dos meus pais para montar a empresa, não imaginava que cresceria ao nível global.
Tenho ao todo cinco filiais, onde gênios da informática me ajudam a torná-la a melhor do ramo.
Comecei em meu pequeno apartamento desenvolvendo algoritmos para algumas empresas e hoje, crio softwares que ajudam a gerenciar empresas de grande, médio e pequeno porte.
Criei do zero uma grande empresa de tecnologia que rende milhões por ano.
Meus pais apenas abriram as portas do meu futuro com as melhores escolas e faculdades, e acredito que sou o orgulho deles.
Mas hoje não é um dia comum, estamos há cinco dias do Dia dos Namorados, uma das datas mais odiada, pelo menos por mim, desde a última mulher que entreguei meu coração.
Estou perdido em meio ao meu devaneio que percebo a presença da minha linda secretária somente após ela tossir levemente, me fazendo elevar os olhos.
Noto que ela está me encarando com um ar preocupado, desço o olhar e vejo um envelope grande e dourado em suas mãos.
Seu silêncio está me deixando irritado, então retiro os óculos e indago:
— Julie, você é paga para ficar parada feito um dois de paus no meio da minha sala?
Ela revira os olhos e antes que a repreenda, diz de forma ousada:
— Não, mas não sou paga para ser sua babá e, as vezes, faço tal papel, deveria receber um bônus. — Respira fundo e começa a rir.
— O que tem nas mãos?
Ela fica tensa com a pergunta.
— Promete que vai abrir apenas quando eu sair da sala?
Levanto da cadeira, dou a volta na mesa e vou em sua direção.
A cada passo que dou, ela anda dois para trás.
— Não posso prometer o que não irei cumprir, me entregue!
Ela respira fundo e me estende o envelope.
— E a resposta é não.
Fico surpreso com sua resposta e não entendo a afirmativa.
— Nem perguntei nada, senhorita Julie.
Ela balança a cabeça em negativa.
— Mas irá e a resposta continua sendo não.
Quando viro o envelope para saber quem o enviou, sinto um frio intenso na barriga.
Sei o que é, mesmo assim abro o envelope e retiro de dentro o papel.
Olho atentamente as letras douradas, "Katheryn e Nicholas, te convidam para celebrar a união do casal em uma cerimônia que durará quatro dias e será realizada no "The Terrace at Gramercy Park", no Dia dos Namorados, para eternizar o amor do casal."
Leio e releio o papel algumas vezes até notar que estou sozinho na sala e me sinto perdido com essa novidade.
Imaginava que eles se amavam, mas nunca havia passado pela minha cabeça que iriam se casar.
Há alguns anos não falo com eles, nem tenho notícias, e agora preciso revê-los sem deixar transparecer minha raiva e infelicidade.
Antes que possa raciocinar direito sobre tudo, meu telefone toca e para piorar quando vejo o nome na tela, sinto que não tenho desculpa para não atender.
— Bom dia, mamãe — digo sem ânimo nenhum.
— Bom dia, meu filho, recebeu o convite?
Respiro fundo, volto para minha cadeira e me sento jogando o corpo para trás.
— Recebi, mas não sei se poderei ir.
Ouço sua risada doce e sei que ela fará algo para me fazer mudar de ideia.
— Você vem sim, faz cinco anos que não sei o que é ter um momento em família, está na hora de fazerem as pazes. — Começa seu drama para me convencer. — Você disse que estava noivo e até hoje nada de nos apresentar a moça.
— Mamãe, disse que estava namorando, não que estava noivo. — Reviro os olhos ao imaginar que ela deve ter contado a todos que sou o próximo a se casar.
— Não, você disse noiva, e nós, sua família toda, estamos te esperando para o casamento do seu irmão. Deve ter lido nas letras douradas que é o padrinho dele e consequentemente a sua noiva será a madrinha.
Que confusão que ela me meteu, agora não posso dizer não, ou não aparecer, certamente irão espalhar que estou solteiro e infeliz.
— Se levar minha noiva e passar esses quatro dias com vocês, seremos uma família feliz de novo? — Essa ideia em nada me agrada.
— Sim, meu filho.
Sua euforia e alegria me deixam em uma posição muito difícil. Como vou encontrar uma noiva em tão pouco tempo?
— Estou ansiosa para conhecer minha futura nora e poder esfregar na cara da Katheryn que meu filho está noivo e ela é mais linda que a noiva do tolo do seu irmão.
Respiro fundo.
Sei que, no fundo, minha mãe assim como eu, não aprova esse relacionamento, afinal ela sempre demonstrou ao longo dos anos que nunca perdoou minha ex por ter me trocado.
Não posso decepcionar minha mãe e preciso apresentar a noiva perfeita.
— Nos vemos no hotel, mamãe.
Após nos despedirmos, foco em como arrumar uma noiva que não seja uma prostituta, nem uma amiga ou conhecida.
Pego o telefone, clico no botão vermelho e em seguida minha secretária atende.
— A resposta é não!
Não posso levar minha secretária, afinal minha noiva não pode ser nada menos que uma moça com posses e de boa educação ou mamãe me matará.
— Nem perguntei nada, quero que ligue para o Roger.
Nem termino de pensar direito e ela me interrompe antes que possa pedir o resto.
— Ligar para aquele seu amigo cafajeste?
Respiro fundo e ignoro seu comentário impertinente, mas não posso julgá-la, meu amigo gosta de sair com mulheres bonitas e depois descartá-las sem nenhum remorso.
— Vou ignorar seu comentário inoportuno sobre um dos meus acionistas e esperar que ligue e informe que desejo o ver em minha sala agora.
Ouço a mulher bufar do outro lado da linha e tento manter a calma.
— Sim, chefe! — diz e desliga.
Resolvo fechar as pastas que estão abertas e pegar o convite para ler o que teremos nesse casamento, ainda sem entender qual a necessidade de quatro dias de um casamento. Embora o penúltimo seja a melhor parte; a despedida de solteiro.
Teremos o jantar de noivado no primeiro dia; no segundo iremos ter um piquenique; no terceiro o dia jogo de beisebol e uma bela festa temática para a despedida de solteiro e no quarto dia da noiva e do noivo e por último o casamento.
***
Aguardo um bom tempo até que Roger entra sem bater à porta com aquele jeito despojado e nada preocupado.
Ele se senta na poltrona sem nem pedir licença.
— Sua secretária gostosa me contou que a cadela da sua ex-noiva resolveu bancar a arrependida, te convidou para o casamento e de quebra para ser padrinho.
Reviro os olhos com seu comentário de péssimo gosto e o encaro.
— Primeiro, não fale assim da minha secretária. Segundo, preciso de uma noiva para amanhã à tarde!
Ele me olha por alguns segundos e cai na risada como se pensasse que estou brincando.
— Qual a graça?
— Pensei que estava me pedindo ajuda para arrumar uma noiva de mentira. — Gargalha até por fim perceber que estou falando sério.
— Sim, minha mãe entendeu que estou noivo ao invés de estar tendo algumas relações nada sérias! — Suspiro alto, sei que ele tem contatos. — Agora preciso de uma noiva convincente, que saiba interpretar bem o papel e, de preferência, que não seja conhecida.
Um sorriso safado aparece em seu semblante, ele então se levanta e pede:
— Liga o notebook, Will!
Reviro os olhos antes de abrir a tela e ele sem cerimônia acessar a internet.
— Se quisesse uma prostituta, eu mesmo procuraria, Roger! — Noto seu sorriso cafajeste e reviro novamente os olhos.
Só falta querer que leve uma prostituta.
— Meu amigo, desde quando saio com prostitutas? — diz algo que faz sentido, afinal o safado sabe escolher bem.
Após uma pesquisa rápida, ele acessa um site curioso com a tela inicial toda dourada e em seguida aparece uma silhueta de um cupido derrubando corações. Logo embaixo começa a surgir os dizeres, "Seja bem-vindo ao The Secret World, onde suas necessidades serão atendidas com descrição e com a perfeição que precisa."
— Essa é a melhor agência que conheço que pode te ajudar. Lembra daquela modelo que apresentei para meu avô há uns dois anos? Pois é, meu amigo, ela é funcionária deste site. Eles oferecem um serviço de qualidade e com certeza você vai precisar da melhor! — Clica no “maiores de dezoito anos”.
Na próxima tela aparece um tipo de questionário que pergunta o que preciso e ele se afasta para que eu digite.
— Bom, vejamos, preciso de uma noiva com mais de trinta anos, decidida e culta. Que saiba se portar na alta sociedade e que seja a melhor no que faz.
Na segunda página pede o número de contato que, assim que digito, aparece aqueles "x" das senhas, como se tudo fosse sigiloso.
Confesso que isso atrai minha atenção.
— Você está duvidando da eficiência, não é mesmo? — Roger pergunta e começa a rir. — Eles são os melhores, tenho alguns amigos e conhecidos que já requisitaram os serviços e nunca vi nenhum deles reclamar ou alguém descobrir que era apenas uma moça contratada... Se até meu avô pensou que iria me casar, será moleza arrumar uma noiva para você, meu amigo. Mas está mais do que na hora de seguir sua vida.
Reviro os olhos.
— Olha só quem está falando! O homem que não se prende a nenhuma mulher e que apenas almeja alguém para esquentar suas noites.
Ele sorri.
— Agora que estou seguindo seus passos está achando ruim? Você é meu amigo e sua função é me apoiar acima de qualquer decisão que tome.
Ele concorda, mas não parece estar convencido.
— Sabe, ainda pagará com a língua. Um dia vai encontrar a mulher certa e vai ser ela que não vai querer nada sério, porque não prometo nada e nem almejo relacionamento. Mas você, meu amigo, seus olhos brilhavam com a ideia do casamento, apenas não era a pessoa certa e ela nunca será. Eu sempre disse isso.
Roger realmente tentou me alertar.
— Posso ser um cafajeste, mas jamais dormiria com a mulher do meu amigo, mesmo que ela me desse mole e ficasse nua na minha frente.
— Você é um péssimo amigo!
Começamos a rir.
Nunca vi Roger com nenhuma mulher mais de um dia, tirando algumas modelos, mas nenhuma mais de cinco dias.
Pensando bem, nunca vi meu amigo se apaixonar.
— Deveria apoiar minha vida de solteiro e não criticar.
Ele mostra a língua.
— Justamente por ser seu amigo, estou dizendo que deveria sair da pista. Algo me diz que surpresas estão reservadas para você nesse Dia dos Namorados.
Faço uma careta mudando de assunto.
— A ligação deles demora muito?
Ele sorri malicioso.
— Eles ligam rápido e te garanto que é a melhor!
Roger mal termina a frase e um número desconhecido me liga.
— Mais rápido do que pensa…
Interrompo sua fala elevando a mão, tomando coragem para atender.
Respiro fundo e penso que não tenho nada a perder, preciso de uma solução e se até Roger conseguiu enganar a todos, será fácil e nem preciso me envolver.