Capítulo 04
KURT
Eu caminhei até o meu escritório, de onde o cheiro diferente estava vindo. Era feminino, sem sombra de dúvidas. E aquele era o cheiro de uma fêmea de alto ranking.
Na porta do escritório, uma mulher loira, alta, estava de costas para mim. Ela percebeu a minha presença, é óbvio e então se virou. Os olhos eram acinzentados.
— Alfa Kurt, eu suponho? — Ela perguntou. A forma como ela me olhou e falou indicavam que ela era uma mulher prática e orgulhosa.
— Sim. Quem é você? — Não adiantava eu dizer que não era eu, não é mesmo? Além da aura e do cheiro de Alfa, a cicatriz se tornou uma marca registrada, minha. Infelizmente.
Ela abaixou a cabeça de maneira educada e respeitosa.
— Giselle Starling, filha de Gregório Starling. Sou a herdeira Alfa do Yellow Stone Pack.
Ah, a última candidata da lista dada pelo Conselho. Curioso, pois as fêmeas, filhas de Alfas, não saiam por aí zanzando a seu bel prazer.
— E a que devo a honra, Senhorita Starling?
Ela me olhou de maneira resoluta, o queixo levemente erguido, mas não por desrespeito, e sim por orgulho.
— Eu sei que o meu pai pretende recebê-lo para tratarem sobre casamento. Eu não tenho gosto nessa união, porém, acredito que possamos fazer um acordo.
Eu levantei a sobrancelha. Um acordo? A filha do Alfa Gregório veio até mim, pessoalmente, pedir acordo? Essa era nova…
— Fale — Eu disse e apontei para o escritório. Acordos não deveriam ser tratados em corredores onde qualquer um poderia passar e ouvir.
Ela anuiu com a cabeça e entrou pela porta que eu abri. Assim que ela se sentou, eu fechei a porta e me sentei atrás da escrivaninha. Claro, mandei notícia aos outros de que poderiam começar a comer sem mim, pois eu tinha algo a resolver. Não seria justo deixá-los com fome.
— Bom, como eu disse, há um interesse de unir os nossos bandos. O senhor precisa de uma esposa e de um herdeiro. Eu… Eu vou ter que me casar com alguém….
— Perdão por interrompê-la, mas… Quantos anos você tem?
— Vinte anos — Ela respondeu, secamente.
— Você é nova… Não deveria estar esperando pelo seu companheiro predestinado aparecer?
— Não. Pois isso não vai fazer diferença — Ela falou e eu percebi que ela pareceu incomodada — Se ele não for um Alfa, o meu pai não permitirá a união. Portanto, se eu vou ter que me casar com alguém, eu pretendo me casar com alguém com quem eu possa me entender.
— E você acredita que você e eu poderemos ter isso? — Ela nem me conhecia! Além disso, todos diziam por aí, eu sei muito bem, que eu sou um Alfa cruel, sanguinário. Eu já até ouvi dizer que eu mato fêmeas e bebo o sangue delas…
— Foi por isso que eu vim aqui. Para que pudéssemos conversar.
— Entendo. E qual seria o seu acordo?
— O senhor pede para me cortejar, assim ganhamos tempo. Você não se casa de imediato, nem eu. Nos conheceremos e, caso seja bom para os dois, nós nos casamos — Ela se aproximou mais da beirada da cadeira, a fim de se inclinar para a frente — Eu não tenho esperanças amorosas, senhor. Eu só não quero um casamento ruim. Eu sei que a sua médica é uma humana e que humanos fazem inseminação artificial. Poderíamos nos utilizar disso. Você tem o seu herdeiro e nós dois viveremos em paz. Não precisamos ser amantes.
Eu queria rir. É, eu não queria uma esposa, mas se eu viesse a ter, eu queria uma com a qual eu pudesse me aliviar. Isso serviria para as duas partes. Fêmeas também têm necessidades.
— E se eu não concordar? — Eu perguntei — Eu gosto de relações físicas, senhorita Starling.
— Isso não seria impossível. Mas, caso eu não seja útil nesse ponto, eu não me importo que o senhor se alivie. Discretamente, por favor.
— E você?
— O que tem eu?
Eu me inclinei para a frente, olhando nos olhos cinzas dela
— Você vai sair por aí com outros machos? Eu não quero isso.
— Se eu quiser algo, falarei com o senhor.
Eu concordei com a cabeça.
— Eu vou pensar. Devo visitar o seu bando na próxima semana.
— Certo. Obrigada por me receber.
Ela se levantou e estendeu a mão para que eu a apertasse. Eu o fiz e percebi que ela tinha um aperto forte. Ela era, de fato, uma mulher de fibra. Comparada com as outras fêmeas da lista, essa era de longe a que tinha a melhor personalidade. Pelo menos, era o que me parecia naquele momento.
Ela se retirou. Eu ainda fiquei no escritório por alguns minutos mais, pensando. Thorin permaneceu calado, o que é incomum. Ele adora dar a opinião dele.
Finalmente me levantei e fui para a cozinha. O almoço com certeza já havia terminado e eu não seria um sacana, fazendo me servirem lá na sala de jantar.
Depois de comer, fui para o meu quarto, tomei um banho e relaxei. No dia seguinte eu voltaria aos meus treinos.
A noite foi repleta de sonhos com uma certa fêmea de cabelos castanhos-arruivados. E com ela, a maldita que destruiu o meu coração. Eu acordei de péssimo humor.
— A Dra. Hanna quer falar com você — Finn disse quando estávamos na academia.
— Sobre o quê? — Só poderia ser sobre uma pessoa e Finn pensou o mesmo, me dando um olhar de deboche — Eu vou falar com ela depois do treino.
— Certo. Mas por favor, vê se não deixa a gente morrendo de fome de novo!
— Você anda muito atrevido, Beta.
Ele deu de ombros. Abusado! Mas tudo bem, eu dei o troco durante o treino. Ele saiu dali acabado.
Após tomar banho, eu fui para o hospital e Thorin deu as caras.
hospital e Thorin deu as caras.
“ — Ela é tão bonita!” Ele falou, e eu podia sentir ele mexendo a cauda, feliz.
“ — Nem pense, Thorin. Eu não vou encostar naquela ômega”
“ — Se você diz…” — ele falou e sumiu de novo. Sério, eu não sei o que estava havendo com aquele lobo.
Rosamund parecia ser uma boa moça e eu não iria me aproveitar dela. Sim, me aproveitar, porque eu dormia com as fêmeas, mas o meu coração estava completamente fechado. Para alguém que sofreu como ela — bastava olhar para a pobre criatura — era injusto que eu apenas usasse o corpo dela.
A Dra. Hanna apenas queria me mostrar como Rosamund se recuperou muito bem em 24h. Eu agradeci e enquanto andava pelo corredor, a vi do lado de fora, sentada no banco, rodeada de flores.
“ — Você deveria falar com ela, seu mal educado!”
Eu me deixei levar pelo conselho de Thorin e fui falar com Rosamund. Eu mal me aproximei e já pude sentir a diferença no ar. Ela era, inegavelmente, um calmante para mim.
— Rosamund!
Ela se virou para mim e sorriu. O rosto dela estava menos machucado. Isso me alegrou.
— Alfa Kurt!
— Eu soube que você está bem melhor. Eu fico contente — Thorin me disse para perguntar se ela se juntaria a nós. Eu neguei, ele continuou e eu notei que estava fazendo papel de idiota, parado ali, sem falar nada com Rosamund, enquanto debatia sobre fazer ou não o que Thorin pedia — Ah… você em breve vai poder participar das nossas atividades.
— Atividades? — Ela perguntou, confusa.
— Sim. Como membro da alcateia.
Eu vi o rosto dela murchar e ela olhar para o lado. Isso era um mau sinal.
— Sobre isso… — Ela falou e levou a mão ao braço, tímida — Eu… Eu não vou ficar.