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Capítulo Um Continua

Parte 4...

Aline andou pela pequena cozinha, agoniada com o que estava ouvindo. A irmã tinha ficado doida, só podia ser isso. Ou então estava possuída por um demônio insano que estava se aproveitando dela. Não tinha o que pensar de algo tão absurdo como ela tinha feito dessa vez.

Suas mãos até tremiam agora e o coração batia fora do compasso. Pensava na mãe o que sofreria ao saber disso. Ela não estava em condições emocionais de passar por mais uma loucura.

— Eu não imaginei que iria conhecer Walter dois dias depois de assinar o contrato. Nos apaixonamos de imediato e ele me pediu em casamento - puxou o ar fundo, unindo as mãos — Foi amor à primeira vista, Aline. Dessa vez eu disse a verdade e ele me aceitou sem nem se importar que não somos da mesma classe social. Foi incrível!

— E ele sabe desse emprego?

— De modo algum – balançou forte a cabeça — Eu jamais poderia contar a ele que fiz um acordo por dinheiro.

— E você faria o que nesse tal emprego? Ainda não entendi bem qual seu papel nesse acordo?

— Não é algo... Assim, convencional – começou a falar devagar, procurando explicar melhor — Seria inusitado, vamos dizer assim... Não foi algo que eu pensei muito, me liguei mais na grana alta e quando vi, já havia assinado o contrato.

— Meu Deus – Aline fechou os olhos — Eu estou até com medo de saber o que é - respirou fundo.

— Não seja dramática e nem me julgue antes de saber tudo. Eu só concordei em me casar com um ricaço e ser a esposa dele por um tempo.

Aline arregalou os olhos. Não acreditava no que tinha ouvido.

— Ah, só isso? Bem simples – bateu na testa — Qual o problema dele? Ele é gay? Tem alguma doença e vai morrer em breve?

— Não - deu uma risadinha — Ele trata o casamento como um negócio. O que quer é uma mulher que se passe por esposa durante um tempo e em troca desses serviços ele me paga um valor - mexeu o ombro como se fosse algo comum — E antes que diga algo, admito sim que me meti nessa pelo dinheiro. Só que agora eu não posso mais continuar ou perderei Walter. Precisa me ajudar irmã... Por favor! – foi até ela e segurou suas mãos — Eu já gastei muito do valor que ele me deu e não terei como devolver.

— Quanto ele lhe pagou?

— Cinco milhões - apertou os lábios.

— Jesus! – sentiu um gelo na pele — Cinco milhões de reais... Jesus!

— Não de reais, de euros.

Aline sentiu o chão rodar. Precisou de uma cadeira. Sua garganta até fechou. Respirou fundo duas vezes.

— Alana, você ficou louca de vez? O que fez?

— Ah, não vem com essa. Fiz isso para ajudar a mamãe também, não foi só pensando em mim. Até você se daria bem, tendo a tranquilidade de nossa casa de volta.

— Mas e agora? - arregalou os olhos nervosa — O dinheiro está em meu nome, como farei para resolver isso? – disse ficando preocupada.

— O jeito agora é você se casar com ele e cumprir sua parte no acordo.

Aline ficou calada um tempo, tentando digerir essa informação absurda da irmã. Não sabia se era brincadeira ou apenas maldade mesmo.

Mais uma vez se decepcionava com o comportamento insano dela. A mãe em depressão desde a separação, os problemas financeiros e agora isso. Há dias ela não falava com o pai e de nada adiantaria agora porque Alana não o respeitava mais.

Teria que lidar sozinha com a situação. O cinismo da irmã era enorme.

— Bem... - engoliu pesado — E se eu falar com ele? Explicar tudo?

— E dizer o que, Aline? Você não tem o dinheiro para devolver e acho que ele não vai querer receber apenas o restante – deu uma risadinha e um tapa na mesa — Além disso, foi seu nome que eu usei, então será sua dívida.

Ouvir aquilo foi um golpe duro. Alana continuava tão egoísta e sem respeito como antes. Foi para o quarto e Alana a seguiu, falando sem parar.

— Eu nunca tive uma chance real de ser feliz, sempre fiquei atrás de você em tudo... Não posso perder o homem que eu amo e que me ama. Me ajude, por favor!

— Mas... Casar-me com um desconhecido? - fez uma careta de horror.

— Se não for assim, estaremos em uma grande confusão.

— Eu estarei, você usou meus dados – quase gritou.

— Aline, eu sempre pude contar com você desde pequena. Vai me deixar na mão agora? - fez cara de choro — Eu vou perder a única chance de ser feliz ao lado de alguém. Por favor, eu imploro que tome meu lugar.

Vendo como a irmã estava pálida e com os olhos cheios de lágrimas, decidiu dar uma chance ao que pedia. Seria um erro com certeza, já havia passado por outras complicações por causa dela, mas ainda assim se sentia compelida a fazer isso. Eram irmãs.

— Eu sempre vou estar do seu lado, mas isso é demais. Imagine como iremos contar isso a mamãe? - disse resignada — E esse cara? Quem garante que não é um louco ou pervertido?

— Igor Anton não tem nada de louco.

Aline não ligou o nome rápido, mas puxou pela cabeça e recordou.

— Espera... Você está dizendo que é aquele ricaço famoso? Acho que já ouvi falar sobre ele.

— Ele mesmo - pulou em cima da cama — Ele não quer mais perder tempo e precisa de uma esposa de conveniência para seus planos - gesticulava agitada — Ao que parece é muito ligado aos avós e eles estão velhos. Ele quer dar a eles a impressão de que encontrou a mulher certa. O advogado dele me disse que o contrato define minhas obrigações como esposa e eu assinei. É como um trabalho, só que com alguns pontos diferentes.

— E se você explicar ao advogado o que houve? Que foi por nervosismo, por necessidade?

— Ele vai rir na minha cara e depois vai me processar... No caso, você! - bateu as mãos — Mas se você ocupar o lugar, ficaremos com o dinheiro, recuperamos a casa e eu me caso com Walter.

— Claro, tudo bem simples – disse irônica.

— Pense bem e depois me responda. Analise nossa situação antes de dizer um não. Você só precisa ficar casada com ele por um tempo, depois é só se separar e pronto.

— Eu vou sair – coçou a testa nervosa — Mamãe está me esperando.

********************

Aline mal parou o carro em frente e viu a amante do pai sair de dentro da loja de sua mãe. Correu para dentro preocupada.

— O que ela fazia aqui, mãe?

— Ela teve a ousadia de vir me dizer, que seu pai quer a parte dele aqui na loja também. Pode isso? – Anabel respondeu — Essa mulher é pior do que eu pensava – disse com as mãos tremendo.

— Que abuso. Papai sabe que ela veio aqui? - ficou com raiva.

— Provavelmente sabe – disse com tristeza — Seu pai ficou louco depois que saiu de casa. Nunca esperei isso dele.

— Isso é um absurdo – disse chateada e revoltada — Vou falar com papai sobre essa mulher. Assim não dá, ela está pensando o que?

— Não quero que se meta nessas coisas.

— Mas isso é demais, mamãe. Essa mulher está sem medidas.

— Também acho, mas não quero que ele me acuse de jogar vocês contra ele - suspirou fundo e esfregou os olhos.

— E precisa? Nós temos vinte e cinco anos, não somos crianças e vimos bem como as coisas aconteceram. Não gosto de te ver sofrendo por erros do pai - abraçou a mãe por trás — Papai fez um papelão. Me decepcionei demais com ele.

Anabel forçou um sorriso.

— Não se preocupe tanto, amor. Aos poucos as coisas irão melhorar, você vai ver. Esse sofrimento é recente e por isso machuca tanto. O tempo cura tudo - suspirou de novo — Eu sei que algo bom vai acontecer.

Para Aline era difícil demais ver o sofrimento da mãe e a amante do pai a perseguindo por puro prazer cruel era demais, não poderia aceitar. Não era dada a loucuras e menos ainda a violência, mas já começava a achar que a mulher merecia uns bons tapas na cara.

— Vamos embora, por hoje chega, mãe. Alana voltou e está cheia de novidades para contar.

— Ai, meu Deus – uniu as mãos para cima — Estava tão preocupada com o sumiço dela – puxou o ar demorado — Graças a Deus voltou.

— Então vamos logo – não queria ficar mais tempo na loja, talvez a ridícula aparecesse de novo ou até seu pai e já era hora de mudar de atitude. Chega de ser a boa pessoa que só apanha.

Falaria com o pai depois e muito sério. Elas não mereciam o que estava acontecendo. Que ele se embolasse com aquela mulher ridícula era problema dele, mas fazer sua mãe sofrer não era certo.

Assim que entrou em casa Alana a avisou da chamada do advogado e avisou que não tinha tempo para ficar pensando no que fazer.

Ela precisaria viajar e conhecer pessoalmente Igor e acertar o início do trabalho. Tinha que decidir urgente sobre o assunto.

Ela deixou a mãe conversando com Alana e se recolheu para pensar. A questão do dinheiro resolveria muitas coisas, mas ter de se casar com um estranho era o mais difícil de aceitar. Seus dados foram usados e ela seria obrigada a resolver isso, já que Alana estava segura de deixar tudo em suas mãos. Não poderia criar mais problemas para a mãe.

Não tinha pensado em se casar e menos ainda agora e com um homem que ela nem sabia como era. Essa coisa de acordo que Alana havia inventado acabaria dando um grande problema para ela resolver.

Não acreditava que seria algo assim simples. Ficar casada por um tempo para enganar os avós dele e depois era só terminar e voltar para casa com uma bolada no bolso, que aliás, ela nem viu a cor do dinheiro. Estava tudo em posse de Alana.

O jeito seria encarar da forma como a irmã quis lhe passar, como um trabalho. Um absurdo e complicado trabalho, mas que era necessário no momento. Disse sim.

Por causa da mãe principalmente e por ela mesma, que teria que pensar um modo de resolver isso, já que era seu nome em jogo.

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