Capítulo 6
— Aberração. — foi sua resposta grave, seca e triste.
De repente Lisbeth não sentia mais medo, apenas pena. Havia uma coisa em suas situações, ambos odiavam a igreja. Não havia dúvidas…Ele é o demônio que tentaram exorcizar. Todo esse tempo a igreja o excomungou, quando se tratava de uma criatura apenas diferente. Lisbeth imediatamente pensou em sua mãe. A adúltera escorraçada pela igreja, enquanto ninguém condenou o seu pai. Ela não precisava entender quem o chamava de aberração. Não havia poucas mortes ali, todas com cruzes e marcas de sangue em nome de uma religião que mata e acusa tudo aquilo que é diferente. Ela tinha isso por Carmélia. Seu pai não seria condenado, matar passionalmente era visto como um crime de amor e honra. Cinquenta pesos seriam pagos por seu crime, mas a alma de sua mãe foi condenada, apenas por não ser a esposa fiel de um tirano espancador.
De repente sua cabeça começou a se mover, a língua quente de Abaddon lambia novamente o topo de sua testa e, com certa timidez, Lisbeth mordeu os lábios e tocou nos gomos duros dos braços perto de si. Sentiu a língua descer o trajeto, forçar sua cabeça para o lado e chegar nas marcas que tinha em seu pescoço.
— Minha humana. — ouviu a voz grave rosnando a beira de ouvido, lambeu em volta de seu pescoço e respirou fundo enfiando o rosto em seus cabelos, roçando a ponta do nariz em sua pele até voltar para o rosto e grudar uma testa na outra — Cheiro bom. Minha humana.
Ela engoliu em seco, desviou os olhos por um instante, olhou para o tornozelo preso e depois voltou a olhar para o monstro que a olhava com profundas íris vermelhas, esperando por alguma reação reação de si. Como ela ia contestar sua prisão? Não sabia nem mesmo dizer se já não tinha mais nenhum medo, mas de uma coisa tinha certeza, tinha que tirá-lo dali.
Seu pai tinha boas influências e apenas por ódio, pode convencer o presbítero a fazer novas buscas na região. Tinha que tirar Abaddon dali, antes que conseguissem, finalmente, exorcizar a montanha. Estava louca, sabia, mas já havia feito o pior, entregando-se ao estranho, sob a loucura de estar indo para o inferno. Sendo assim, tinham de fugir os dois. Ele não tinha paz onde havia igreja, ela não tinha paz com seu pai. Daria um jeito, pensaria em algo, até que deixou sua voz sair.
— Meu nome é Lisbeth.
— Minha Lisbeth. — rosnou em resposta, movendo-se com certa euforia.
Lisbeth tinha raiva da igreja e do presbítero, mas acreditava que nada era feito por linhas tortas. Sabia dos motivos que a fizeram correr com medo, mas se perguntava dos motivos pelo qual seus fins eram nas presas do demônio montanhês. E por um segundo achou, apenas achou, que era para libertá-lo.
Abaddon era um homem, aprisionado numa montanha e agia como um animal. A humanidade repudiava a diferença em tal ponto, que resolveu queimá-lo de vez em quando falsificando seu ódio em palavras bíblicas. Mas porquê? O que o fez chegar ali e parar ali? A pergunta não era “o quê’ ele era, mas “quem” ele era...
— Abaddon, caçar. — a voz do homem a fez sair de seus devaneios e olhar para a criatura grande, em pé e decidido — Humana deste tamanho. — ele fez uma sugestão com os dedos, que demonstrava que Lisbeth era do tamanho de um rato — Humana comer e crescer. Abaddon não quer rasgá-la. Humana comer, para caber Abaddon.
Lisbeth arregalou os olhos, enrubesceu as bochechas fervorosamente e agradeceu quando a criatura rugiu saltando para fora, fazendo-a entender o recado. Oh céus, o homem vai se enfiar em suas partes íntimas, assim que Lisbeth comer. Não deveriam nem mesmo discutir o assunto primeiro?
Quando se deu conta ela ajustava os cabelos bagunçados e cheirava suas próprias axilas. Por Deus, nem o diabo a tomaria deste jeito!