Capítulo 3
A coisinha de panos não se movia, estava acordada e se recusava a abrir os olhos. Os gritos da pequena humana rasgaram seus ouvidos sensíveis, mas ela sentia medo, muito antes dele chegar. Isso o fez acreditar que o medo dentro dela não era dirigido a sua criatura, mas de algo perverso do mundo lá fora.
Abaddon se perguntava porque tal coisinha invadira seu território, mas se recordara dos outros malditos que fizeram o mesmo. Ele se lembra das flechas, das cruzes e do fogo. Ao menos esta não estava lhe dizendo palavras rudes, nem tentando queimá-lo. Ela era pequena, inútil e quebrável, provavelmente não tentaria feri-lo com cruzes e bíblias, supôs.
Havia muito que Abaddon vivia solitário em seu precioso inferno, envolto apenas de animais selvagens, tentando imaginar os motivos pelo qual a humana foi parar ali. Foi custoso espantar os humanos, matou muitos e ainda assim havia épocas que tinha de trabalhar em seus medos; e de todos os lugares que ficou, este é o que tem tido um pouco mais de paz.
Curioso, ele notou a coisinha como uma boa presa. Estava assustada e por isso a cutucou. Esticou o dedo com as garras compridas, encostou na pele de sua panturrilha exposta e a tocou, recebendo seu encolhimento como resposta, o rosto escondido e um gemido abafado.
O movimento o atingiu em cheio, o fez respirar fundo e sentiu seus sentidos responder de imediato. A coisinha é dele. Seus sentidos lhe gritavam isto!
Ele a daria de comer boas carnes de cervo, já que ela é miúda e precisa crescer. Colocaria seus trapos feiosos no sol e acenderia uma fogueira se ela tivesse o defeito de não enxergar a noite. Abaddon não costumava receber visitas de humanos de bom grado, então a prenderia até que a humana aceitasse que é dele. Ensinaria a criatura a não atear fogo nele, nem recitar palavras cruéis do livro sagrado; e a ensinaria a gostar dele do modo que seus sentidos mandavam fazer.
Sua coisinha... Abaddon tinha uma humana só para si!
Ele olhou para os cantos, procurou por uma pesada corrente e se sentiu satisfeito ao encontrar uma. Para sua segurança, teria de mantê-la presa. Ela seria sua, então não poderia permitir que fugisse, ou teria de brigar por ela como uma boa presa. Abaddon não gostava de dividir. Mataria apenas para não ter o desprazer de lutar por algo que já é seu.
Ela gemia baixo, suspirava devagar no chão frio e Abaddon tentava entender o que devia fazer para fazer a coisinha parar de sentir dor ou medo. Queria poder se expressar em palavras, mas ele tinha a voz de um monstro envolta de um som grave, e que às vezes assustava até os bichos. Então, decidiu que já bastava seus rosnados incessantes.
Disposto a colocar seu plano em prática, Abaddon se moveu até as pesadas correntes, analisou o metal grosso e empoeirado e olhou para a ponta, onde havia um feixo para segurar suas canelas. Decidiu não mentalizar a última vez em que usou as pesadas correntes, já que este era para um propósito diferente. Quando o ferro tilintou, a coisinha se encolheu, gemeu um pouco mais alto, tapou a própria boca e espremeu os olhos ainda mais. Com suas mãos grandes e pálidas, Abaddon tomou cuidado para que suas garras não cortassem a pele fina e sedosa da miúda, e enfiou o metal em volta de sua canela.
Uma chuva forte começou a cair, a caverna tendia a ficar fedida por conta da umidade, mas isto era somente na entrada. Era mais seco ao fundo, onde deixou a pequena humana e a observava à distância, no escuro, seguro de onde sabia que ela jamais o enxergaria, a não ser pelos olhos vermelhos e macabros. Seus olhos é algo que nunca conseguiu esconder, vermelhos como a vida que fluía em seu corpo. Ela provavelmente gritaria de novo quando os visse…
Na segurança da escuridão, ele deixou a língua pontuda e áspera fugir para fora e lamber o lábio superior com gosto, e sorriu ladino mostrando o canto de suas presas com satisfação. Pronto! Sua coisinha estava presa, agora era dele e Abaddon nunca mais estaria sozinho.
Seus barulhos eram irritantes, mas ele deixaria para consertar seus defeitos aos poucos, o cheiro dela estava impregnando seu nariz, por isso pensava em começar a ensiná-la a gostar dele, o quanto antes. Seria melhor começar por esta parte, antes que ela aja como os outros e tente matá-lo com palavras sacras e doídas. Seu cheiro abusava do monstro dentro de si e isso fazia ele pensar no risco de se expor demais, assustando sua coisinha e não conseguir dominá-la a tempo dela aceitar o demônio que ele era.
Lisbeth abriu um olho curioso, mas enxergava muito pouco, apenas ouvia os rosnados graves da criatura perigosa que, por algum motivo, ainda não a devorou. Ela imaginou várias formas de morrer, acreditava que ele arrancaria seus membros, colocaria suas partes num caldeirão e se alimentaria dela com cebolas gratinadas, mas seu alerta foi mais inusitado do que isso.
O medo não a deixava reagir até que o demônio decidiu que ela deveria ficar nua. O inferno a levaria para os confins do mundo de corpo mutilado, ela sabia que o demônio provavelmente faria algum ritual com seu corpo nu. Talvez merecesse, já que fora covarde demais para salvar a única pessoa que um dia sofreu por ti. Ela ainda sofria ouvindo os gritos de sua mãe e estava disposta a aceitar o castigo dos infernos para que sofra com seu erro.
Ela esperou que sua pele fosse rasgada, ouviu o rugido alto do monstro e sentiu o corpo chacoalhar com a investida, mas tudo o que aconteceu foi o barulho de suas roupas se rasgando, sentindo sua pele ainda intacta. Mesmo aceitando seu destino infernal, ela gemia temerosa, soltava pequenos grunhidos dentre a garganta e engolia soluços de choro. Isso piorou quando raspou o rosto no chão sujo e teve a parte de baixo livre, expondo apenas as ligas da perna que prendiam as meias rasgadas.
O rosnado da criatura infernal aumentou consideravelmente e ela tentou conter seus barulhos, temia que isso piorasse o ódio do demônio e a mandasse para os confins do mundo de um jeito ainda mais doloroso.
Abaddon, por outro lado, ficou surpreso com as curvas bem desenhadas das ondas macias e para cima. Ele olhou para baixo e viu seus instintos responder de imediato com a visão que teve, engoliu em seco e rosnou nervoso, tentando entender porque seus instintos clamariam por uma coisinha inútil e pequena. Mas algo dentro de si gritava insanamente: Minha! Minha! Minha!
Ela não relutava, aquietou-se e permitiu que ele a tocasse sem nenhum problema. Sendo assim, Abaddon deixou a língua pontuda escapar, fina e áspera ele alisou o lábio superior e estremeceu com o calor e a vontade que acarretou em seu corpo, ansiando para se alimentar da humana. Tomá-la, marcá-la e provar de sua vida na ponta de suas presas! Disposto a seguir em frente, ele enfiou o nariz contra a pele gelada da curva de sua bunda, puxou a parte de cima de suas roupas com as garras e respirou fundo enquanto acompanhava a curva de suas costas, se inebriando com o cheiro bom que a coisinha tinha. Aquilo o estava deixando tenso, com os nervos e os músculos do corpo enrijecidos e com suas presas em riste. Ele desejava sua coisinha, de um jeito perigoso e dolorido.
Lisbeth engoliu em seco quando as fungadas e a respiração funda do monstro aqueceu suas costas. Estremeceu ao perceber o quanto o ar quente foi bem vindo, e fechou os dedos em punho quando suas roupas foram definitivamente rasgadas. Ela estava presa, não teria como fugir e clamar por Deus podia ser uma suntuosa blasfêmia, mas estava em alerta. Não ousava olhar para trás, tinha medo do que pudesse ver.
Ela tentou se conter, mas suspirou quando pesadas mãos quentes espalmaram sua espinha, massageou a pele gelada e aqueceu quase toda as costas com o toque. Surpresa, ela sentiu o hálito quente próximo de seu cabelo molhado e um respirar cumprido junto a um rosnado extremamente grave. Seu coração voltou a palpitar, mas ao invés de medo, ela agradecia o ar quente que emanava na criatura e estava quase disposta a dizer que preferia o calor do inferno que ele tinha para ofertar, do que o frio medroso que ela sentia lá fora. De repente, a mão da criatura deu a volta, se enfiou entre sua barriga e o chão, e sem nenhum esforço aqueceu uma pelota do seio gelado, amassando seus dedos e a mama junto. Ela espremeu os olhos ainda mais, mordeu os lábios e suspirou quando a reação partiu de um jeito doloroso de suas mamas, para o baixo de seu ventre.
O demônio apalpou a pele gelada, dobrou os joelhos entre suas pernas e afundou o rosto em sua nuca, aquecendo os fios molhados do cabelo gelado, dando a Lisbeth mais sensação de calor. Abaddon tentava se controlar, mas sua visão mostrava as veias pulsantes de sua coisinha, e já gritavam para seus sentidos como a vida fervia dentro de si. Ele não queria, mas a apertou, respirou fundo e levantou o rosto para rugir, tentando não mordê-la, pois sabia que a mataria se o fizesse agora.
Ela não se moveu, Lisbeth ouviu o rugido alto e pensou em dizer ao demônio sobre as intimidades que estavam tendo, que era feio fazer isso antes do casamento, mas imaginou que ele já sabia disso. Ela não se casaria com ele, apenas estava sendo punida, pois acreditava que virgens não adentravam o inferno. Ele ia pecar e Lisbeth notou que seu maldito corpo correspodia ao chamado do demônio para pecar. O demônio a tomaria para si e então ela faria sua passagem completa, queimando na eternidade. Esse nem era o pior, pois ela já pecava internamente, correspondendo aos toques obscenos de um monstro, sentindo coisas que jamais sentira antes…