4
SELENA NARRANDO
Eu entro dentro do apartamento, chamando por ele.
— Gabriel? Gabriel? – eu ando pelo apartamento, mas não o encontro.
Novamente tento ligar para ele só que continua caindo na caixa postal, eu ligo para o restaurante e nada, nem sequer chamava também o telefone do restaurante, começo a ficar preocupada com toda essa situação, em todos os meses junto de Gabriel ele nunca deixou de me atender, sempre me respondia quando precisava e hoje ele acordou muito estranho.
Eu pego a minha bolsa e vou até o restaurante, quando eu chego lá não tinha nem sinal de vida, tudo fechado, eu vejo o carro de uma imobiliária estacionando na frente.
— Você veio para alugar o local? – O homem pergunta me vendo na frente.
— Não, esse Restaurante é do meu noivo, deve abrir em algumas semanas.
— Quem tinha alugado esse local, acabou de me ligar desistindo dele.
— Como? – Eu pergunto espantada – Não, não deve ser engano, não deve ser esse local. Meu noivo tem um restaurante aqui, todo equipado.
— Sim, ele vai vender os equipamentos, tudo que tem dentro para o próximo locatório, só estamos esperando encontrar alguém que queira abrir um restaurante nesse local.
— O senhor está tirando onda comigo né?
— Como, senhorita?
— Esse lugar está alugado, meu noivo é dono dele, ele estava em reunião com fornecedores aqui.
— Senhorita, ele passou com a mãe dele na minha imobiliária desistindo do local, não faz nem uma hora, estou com as chaves – ele me mostra as chaves.
— Com a mãe dele? A mãe dele está morta.
— Dona Tenório, está vivíssima – Quando o sobrenome dele sai da sua boca, chega a me dar tontura. – A senhorita está bem?
— Esse é o cara que desistiu do restaurante? – eu pergunto mostrando a minha tela inicial.
— Sim, senhor Gabriel – ele assente – Espera, você não sabia?
— Eu falei com ele a algumas horas e ele me disse que estava aqui tendo uma reunião com fornecedores, ele me disse que a mãe dele era morta e que foi criado pelos tios – eu começo a falar sem parar e o moço me encara com um olhar de pena.
— Ele saiu da imobiliária direto para o aeroporto – eu o encaro novamente sem acreditar no que estava escutan-do.
— Você disse para o aeroporto?
— Essas horas ele já embarcou.
— Ele foi embora?
— Sim, o que eu entendi é que ele – ele me encara e eu encaro.
— É que ele o que?
— Olha, eu sinto muito falar isso. Só que a mãe dele deixou bem claro que estava levando o filho dela embora porque ele caiu no golpe da barriga com uma garota.
— Golpe da barriga? Ele foi embora? – eu começo a questionar tudo que aquele homem me disse. – Ele me abandonou sozinha em Paris?
— Eu sinto muito por te dar essa notícia – ele fala – A senhorita se chama – ele pega seu celular – Selena Hunner?
— Sim, sou eu.
— Ele deixou o apartamento em que você mora, com os aluguéis pagos para o próximo dois anos.
— Isso é uma pegadinha, não é? Cadê o Gabriel? Quando ele vai aparecer aqui para dizer que vocês estão caçoando de com a minha cara? Ele está dentro desse carro – eu aponto para o carro.
— Não, senhorita. Ele foi embora, embarcou não faz muito, cancelou o contrato desse local.
Ele começa a falar as coisas e eu saio andando pelas ruas, ele começa a me chamar mas eu não o escuto, eu vou andando e tentando ligar para ele mas ele não me atende, como ele me abandona sozinha em Paris? Como ele é capaz de fazer uma coisa dessa? Eu volto correndo para o nosso apartamento com a esperança que fosse mentira.
Eu entro dentro do apartamento que nem uma maluca, correndo até o quarto e entrando no closet e encontro tudo vazio, eu começo a chorar ainda mais, minhas mãos tremiam, eu abro gaveta por gaveta e nada tinha, está tudo vazio, eu olho para cima da cama e vejo uma pequena maleta encima, eu me aproximo lentamente e quando abro ela, eu não acredito no que eu estava vendo.
‘’ Não me procure nunca mais Selena, você tentou me dar o golpe da barriga. Se realmente você tiver grávida, aqui tem o suficiente para você viver tranquila, não me procure, não ouse fazer isso. Se você fizer isso, eu tiro essa criança de você.’’
Eu jogo aquela mala longe, fazendo com que o dinheiro se espalhe por todo aquele quarto.
— Seu filho da mãe – eu falo gritando – não pode ser, não não pode ser. Eu nunca quis dar o golpe em nin-guém.
O meu nervosismo era tão grande, que eu começo a passar mal, eu corro para o banheiro e começo a vomitar, eu mando mensagem para o número dele mas nem chega as mensagens que eu envio, ele tinha me abandonado aqui sozinha, em outro país.
Como ele pode achar que eu seria capaz de dar o golpe nele? Como eu acreditei que ele me amava e que ele queria ficar comigo? Agora estou aqui no outro lado do mundo, sozinha e grávida e sem saber o que fazer.
Depois de um tempo jogada no chão da sala, tentando entender o que tinha acontecido, a porta é aberta e era Mariana.
— Meu Deus – ela fala correndo em minha direção.
— Ele me abandonou.
— Eu não acredito que ele fez isso com você.
— Ele fez. Ele disse na mensagem que eu dei o golpe da barriga nele, eu nunca faria isso.
— Ele é um idiota, para onde ele foi?
— Eu não faço idéia, o cara da imobiliária não quis me dizer nada, ele colocou para alugar o restaurante.
— Do nada? Do nada ele fez isso tudo? Em algumas horas? Parece que ele já tinha tudo planejado.
— Sabe o que o cara da imobiliária me disse?
— O que?
— Que ele tinha a mãe dele junto dele, a mãe dele.
— A mãe dele não era morta Selena? – ela pergunta espantada.
— Ele disse que sim! – eu olho para ela e ela limpa as lagrimas – o que eu vou fazer? Ele me deixou dinheiro para viver uma vida tranquila, como vou voltar para o Brasil e dizer para minha vó que eu fui enganada, vol-tar grávida?
— Você não vai voltar – ela fala.
— Você está louca? Como vou ficar aqui sozinha? – eu pergunto.
— Você tem a mim, não vai desistir da sua bolsa da faculdade, de se formar.
— Como vou sobreviver com uma criança?
— Você não disse que ele deixou uma mala de dinheiro, então use.
— E o apartamento pago durante dois anos.
— Então – ela fala – você vai desistir dos seus sonhos por causa daquele filho da puta? Eu não vou admitir que você volte para o Brasil.
— Ele me abandonou.
— Quem perdeu foi ele.
— Eu estou grávida – eu falo para ela – grávida na França.
— Dupla cidadania – ela me encara dando de ombros e eu nego com a cabeça.