CAPÍTULO 8
Naquela noite, depois de tudo que havia acontecido, eu não conseguia mais ficar sozinha com meus pensamentos.
Azrael estava em toda parte, em cada sombra, em cada suspiro do vento.
Eu precisava falar com alguém, precisava que meus pais soubessem, porque eu não tinha mais forças para enfrentar isso sozinha.
Meu coração batia rápido enquanto descia as escadas, cada passo pesado, como se uma mão invisível estivesse tentando me impedir.
Quando cheguei à sala, meus pais estavam sentados no sofá, conversando em voz baixa.
Ao me verem, seus rostos se encheram de preocupação imediata. Minha mãe se levantou primeiro, com seu olhar cheio de apreensão.
— Ayla, querida, o que aconteceu? Você parece tão... assustada.
Engoli em seco, tentando encontrar as palavras certas. Como explicar algo tão irreal, tão aterrorizante?
— Eu... preciso falar com vocês.
Algo muito estranho está acontecendo comigo. Algo que... me deixa com medo.
Meu pai, que até então estava em silêncio, se inclinou para frente, a expressão séria.
— Fale, filha. Estamos aqui para te ajudar.
Me sente no sofá, sentindo o peso do que estava prestes a dizer. Meus dedos tremiam enquanto os cruzava no colo.
— Tem... tem um anjo, ou algo parecido. Ele apareceu para mim várias vezes. Ele... ele quer algo de mim que eu não posso dar. Minha voz tremeu enquanto eu continuava. — Ele quer a minha pureza, quer tomar algo que é meu, algo que pertence a mim e a mais ninguém.
O silêncio que se seguiu foi tão profundo que eu podia ouvir meu próprio coração batendo. Os olhos de meus pais se encontraram, e vi o medo crescer em seus rostos, um medo que me fez sentir um calafrio na espinha. Eles sabiam de algo, e era algo que eu não queria ouvir, mas precisava.
Minha mãe foi a primeira a quebrar o silêncio, sua voz baixa e cheia de um pesar profundo.
— Ayla... o que você está descrevendo... não é a primeira vez que isso acontece na nossa família.
Eu me virei para ela, surpresa e alarmada.
— O que quer dizer, mãe?
Ela trocou um olhar com meu pai, que assentiu, a encorajando a continuar.
— Há muitos anos, quando eu era jovem, ouvi uma história que era passada de geração em geração na nossa família. Era quase uma lenda, algo que nunca pensamos que pudesse se repetir. Mas agora, vendo o que você está passando, temo que seja verdade.
Ela respirou fundo, tentando organizar seus pensamentos antes de continuar.
— Uma das nossas antepassadas, uma jovem chamada Eliza, passou por algo muito semelhante.
Ela era linda, pura, e, como você, guardava sua virgindade por causa da tradição da família. Mas um dia, um ser sobrenatural começou a assombrá-la, um anjo obsessor que queria destruir sua pureza, assim como esse anjo está fazendo com você.
Meu corpo ficou rígido, e eu me senti congelada no lugar.
— Esse anjo, ele era implacável, Ayla. Ele a perseguiu em sonhos, a atormentou com visões, fez com que ela sentisse coisas que ela nunca havia sentido antes. Eliza lutou contra ele, mas a presença dele se tornava cada vez mais forte, e ela começou a sucumbir aos seus avanços.
A voz da minha mãe começou a falhar, e ela pausou, lutando contra as lágrimas.
— Então, o que aconteceu?
Minha voz saiu em um sussurro.
Meu pai assumiu a narrativa, sua voz profunda cheia de gravidade.
— A família dela descobriu, assim como nós agora, que a única forma de impedir esse anjo era através do casamento. Uma vez que a jovem se casasse e consumasse o casamento com um homem, o anjo perderia todo o poder sobre ela. Ele não poderia mais reivindicar sua pureza, porque ela pertenceria ao seu marido. Mas, na época, Eliza também era jovem demais para casar.
Minha mãe apertou minha mão, seu toque quente tentando me confortar enquanto ela continuava.
— Eles tentaram protegê-la, Ayla, mas o anjo era muito forte. Eliza começou a definhar, a se perder, até que finalmente a família decidiu quebrar a tradição e a casaram antes do tempo. Isso a salvou, mas não sem consequências. O que ela passou... deixou marcas profundas nela, e na nossa família. E agora, temo que a história esteja se repetindo com você.
Eu senti um nó na garganta. Era como se o destino estivesse me empurrando para uma armadilha da qual não havia escapatória.
— Mas... eu não posso me casar, sou muito jovem. O que posso fazer? Perguntei, a voz carregada de desespero.
Meu pai balançou a cabeça, sua expressão cheia de tristeza.
— Não sei, Ayla.
Minha mente estava um caos. O que meus pais haviam acabado de revelar era como uma sentença, uma condenação que eu nunca havia esperado.
Eu me sentia apavorada, impotente. Era como se o destino estivesse decidido, e não havia nada que eu pudesse fazer para mudar isso.
As lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto enquanto eu tentava absorver tudo. Estava presa em uma luta contra algo que parecia invencível.
— Não vamos deixar você enfrentar isso sozinha,
Disse minha mãe, sua voz cheia de determinação, mas também de medo. Vamos encontrar uma maneira, Ayla, de proteger você.
Mas, no fundo, eu sabia que as palavras de conforto não seriam suficientes. O medo era real, a ameaça era real. Eu estava no meio de uma guerra que eu nunca pedi, e as probabilidades não estavam ao meu favor.