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CAPÍTULO 4

Na manhã seguinte, acordei com a mente pesada, o corpo ainda cansado da luta interna da noite anterior. Eu me arrastei para fora da cama, tentando ignorar as lembranças dos sonhos perturbadores e do toque de Azrael, mas era impossível afastá-los completamente.

Enquanto me preparava para o dia, um sentimento de inquietação persistia, como se algo sombrio estivesse à espreita.

Minha mãe estava na cozinha quando desci para tomar café, e me lançou um sorriso caloroso assim que me viu.

— Bom dia, Ayla.

— Bom dia mãe.

Respondi após beijá-la no rosto.

— Sua cara não está boa, não dormiu bem?

— Na verdade não.

— Então acho que você vai se sentir melhor agora. Recebemos uma visita especial hoje.

Ela disse, com uma ponta de entusiasmo na voz. Antes que eu pudesse perguntar quem era, ouvi passos firmes na entrada da casa.

Ao me virar, vi Daniel, um dos pretendentes mais respeitáveis e conhecidos da nossa família. Ele era um jovem bonito, com cabelos castanhos claros e olhos azuis penetrantes, sempre impecavelmente vestido e educado, ele era o tipo de homem que qualquer mulher se renderia sem pestanejar.

A família dele era próxima da nossa há muitos anos, e ele havia demonstrado interesse em mim alguns meses antes de completar 18 anos.

— Ayla, como você está?

Daniel sorriu, caminhando em minha direção. Ele segurava um pequeno buquê de flores que me ofereceu com um gesto gentil.

— Estou bem, obrigada, Daniel.

Respondi, forçando um sorriso, ainda sentindo o peso dos acontecimentos da noite passada.

— Daniel tem algo para nos pedir.

Disse meu pai, surgindo do corredor com um semblante satisfeito, claramente contente com a presença de Daniel, ele nem tentava esconder que o Daniel era o melhor pretendente até aquele momento.

Daniel olhou para meus pais com respeito, e fez um pequeno aceno antes de falar suas intenções.

— Senhor e senhora, eu gostaria de pedir permissão para levar Ayla para um passeio hoje. Um passeio simples, apenas para conversarmos e nos conhecermos melhor.

Meus pais trocaram olhares cúmplices, um sorriso surgindo no rosto de ambos. Eles confiavam plenamente em Daniel, sabendo que ele vinha de uma boa família e respeitava nossas tradições.

— É claro, Daniel. Você tem nossa total confiança.

Meu pai respondeu com um aceno, enquanto minha mãe sorria para mim, claramente aprovando a ideia, mas eu não estava tão disposta pra fazer aquele passeio, porém fui obrigada a aceitar com um sorriso mentiroso no rosto.

Eu sabia que, dentro dos limites da nossa tradição, esse tipo de encontro era permitido, e Daniel, sendo quem era, não me causava nenhuma preocupação. Mesmo assim, uma pontada de ansiedade tomou conta de mim. Mas mantive o meu teatro, balancei a cabeça concordando, e logo estávamos saindo juntos.

O dia estava ensolarado, com o céu azul limpo, o tipo de clima perfeito para um passeio tranquilo.

Daniel e eu caminhamos lado a lado, enquanto ele falava sobre diversos assuntos, sempre com um tom leve e educado. Ele era atencioso, sempre respeitador, e por um momento, consegui afastar os pensamentos perturbadores que Azrael havia plantado em minha mente.

Mas à medida que nos afastávamos da casa, seguindo por um caminho mais isolado entre as árvores, senti uma mudança no ar. Daniel parou por um momento, virando-se para mim com um sorriso suave.

— Ayla, eu...

Ele começou, parecendo um pouco nervoso.

— Eu gostaria de ser mais próximo de você. Sei que nossa tradição impõe limites, mas...

Ele hesitou por um segundo, e então se aproximou mais, seus olhos fixos nos meus, prestes a me beijar.

— Será que posso?

Antes que eu pudesse reagir e dar minha resposta, Daniel se inclinou, mas no último segundo, meu corpo reagiu instintivamente, e me esquivei, virando o rosto.

— Desculpa, Daniel, eu...

Comecei a dizer, mas fui interrompida por algo muito mais intenso.

Uma ventania forte surgiu do nada, varrendo as árvores ao nosso redor e fazendo as folhas voarem em todas as direções. Daniel olhou em volta, confuso, tentando entender o que estava acontecendo.

— O que foi isso?

Ele perguntou, os olhos se estreitando enquanto olhava para o céu, tentando localizar a origem da ventania.

Mas então eu vi do que se tratava. Sobrevoando nossas cabeças, as asas abertas em toda a sua extensão, estava Azrael. Seus olhos estavam fixos em mim, e o rosto dele era uma máscara de fúria. A raiva que emanava dele era palpável, uma energia sombria que parecia se misturar com o vento ao nosso redor. Ele flutuava acima de nós, silencioso, mas com uma presença avassaladora que fez meu sangue gelar.

Daniel não conseguia vê-lo, mas eu podia sentir o peso do olhar de Azrael, como se ele estivesse marcando território, deixando claro que eu era dele, e apenas dele.

O medo apertou meu peito, mas também havia outra coisa: A lembrança do que ele havia feito comigo na noite anterior, a força do desejo que ele havia plantado em mim, que ainda ressoava em meu corpo.

— Ayla?

Daniel chamou, preocupado, vendo que eu estava paralisada, o rosto pálido.

— Você está bem?

Eu não conseguia responder. Tudo o que pude fazer foi olhar para Azrael, sentindo o conflito dentro de mim crescer. Eu sabia que ele estava me observando, esperando que eu cedesse, que eu fosse até ele. Mas não podia. Não na frente de Daniel, não com meus pais confiando em mim.

Azrael finalmente afastou-se no ar, seus olhos ainda fixos nos meus, e com um último olhar carregado de promessas sombrias, ele desapareceu no horizonte, deixando-me abalada e confusa.

— Ayla?

Daniel chamou novamente, tocando meu braço suavemente.

— O que aconteceu? Você está pálida.

Eu balancei a cabeça, tentando me recompor, mas meu corpo ainda tremia, o impacto do encontro com Azrael pesando sobre mim.

— Está tudo bem, Daniel. Acho que só estou um pouco cansada.

Forcei um sorriso, tentando afastar a tensão.

— Podemos voltar para casa?

Ele assentiu, ainda preocupado, mas concordou em me levar de volta.

Enquanto a gente caminhava, o silêncio entre nós era pesado, e eu mal podia pensar em outra coisa, além do olhar furioso de Azrael e o aviso silencioso que ele havia deixado.

Eu sabia que essa luta estava longe de terminar, e que na próxima vez, ele não seria tão complacente.

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