7-sacrifício
Enquanto dividia os grãos entre as crianças e seus familiares, Akame era aguardada para conhecer mais sobre si mesma. Era a criança mais linda entre todos e a única que não tinha sua pele vermelha e cabelos quebradiços, a mais habilidosa e a única com sonhos.
Naquela manhã algo foi tirado das coisas do velho cego, algo que seria herdado por Akame. Após terminar o que a dava tanto prazer, a criança caminha entre os rapazes que a vê sentar-se junto ao velho na areia vermelha, e tomam o ato como incentivo para fazer o mesmo.
Atraída pelo objeto tapado pelo pano logo mais a sua frente também sobre a areia, ela aproxima suas mãos na mesma direção, porém é parada quando sente um tapa em uma delas.
— Acreditamos que já está na hora de saber um pouco mais daquela criança que pisou em nossa vila e que hoje está se tornando uma mulher. — Declarou o velho cego enquanto Akame fingia não prestar atenção a sua volta. Todos estavam curiosos para saber mais e ver a reação da criança. — Quando aquela criança chegou até mim, até minhas mãos, eu soube que algo de especial havia nela, mas além disso eu também senti uma presença, uma tristeza pequena, mas que logo aumentaria mais e mais, e temo em dizer que ela ainda não está perto de acabar.
Guiando as mãos enrugadas em direção a menina, ele alisa seu rosto e sorrir para a mesma enquanto desce até suas mãos. Respirando levemente ele tenta continuar com sua revelação.
— Não sei bem, mas alguém a trouxe para essas terras, e um outro alguém arrancou algo de você… não um, nem dois e muito menos três, essa pessoa a quer morta e é a mesma pessoa que matou seus pais.
Akame sabia que seu coração havia sido tirado de si, sabia que o que a mantém viva e o orgão de sua irmã falecida. Enquanto o cego a dirigia palavras de uma mulher importante em sua vida e que em algum momento da vida da jovem ela a viu, automaticamente lhe vem a imagem da mulher fantasma que protegia a princesa. Aquela criança que a encarou os olhos e a diferiu palavras, a filha do homem que ordenou que matasse sua família.
— Em seu corpo habita algo que deixamos de ver a décadas, se chama espírito de long, mas ele está incompleto e é por isso que sofre tanto… ele se alimenta da sua energia tentando a corromper para que consiga escapar e encontrar sua outra metade, ele tira sua dor, mas também a conduz, ainda não confia em você. Criança enquanto eles não se encontrarem você continuará sofrendo e se não fizer nada e esperar que ele a destrua, ele estará livre para matar todo esse mundo a procura da sua paz.
Os lábios enrugados do sábio velho cessaram seus movimentos quando a areia abaixo de seus pés começou a vibrar, uma grande tropa de soldados estava a caminho da pequena moradia e mesmo que houvesse guardas ao redor das cabanas, aqueles soldados ainda assim estariam a procura de Akame e matariam até mesmo crianças se fosse preciso.
Quando a multidão ao redor de Akame se desfez ela se preparou para levantar-se e se colocar em seu lugar, porém essa era a hora de saber o que estava por baixo do pano encardido que o velho tirou de suas coisas.
A espada do sacrifício, havia sido forjada para que pudesse drenar parte do poder do espírito do dragão, foi uma parte essencial naquela batalha para que pudesse fazer com que a fera descansasse. Foi usada pelo filho do sábio o protetor das terras, almas eram pressas para sustentar a fúria dentro da lâmina, era a única arma capaz de matar demônios.
Apanhando a espada sobre as mãos a criança corre em direção a tropa de soldados que assim que a vêem, correm para cima tentando passar pela barreira de homens a frente. Impedidos de chegar até a jovem, eles são obrigados a começar uma batalha onde suas espadas são jogadas sobre a terra e seus corpos falecidos e doloridos dão seus últimos suspiros amaldiçoando sua própria rainha.
— Ela não vai parar! — Afirmou. — Não! Por favor, não me mate! — Implorou com sua cabeça apoiada sobre a terra e corpo curvado.
— Deixe-o, ele tem algo importante a dizer. — Informou o sábio cego pedindo que Akame caminha-se até ele.
— Ela não vai parar. Ela a quer morta… ela não deixará de mandar tropas até que um de nós chegue com seu corpo. — No mesmo instante o pescoço do soldado sobre o chão foi ameaçado com sua própria lâmina. — Seu pai… — sussurrou. — Ele… ele ainda está vivo.
— Isso não é possível. — Declarou após olhar para o velho cego. Aquelas simples palavras não entrariam em sua cabeça, não depois de tanto tempo. Após dar as costas, os guardiões entendem como uma execução, porém o rapaz volta a dizer;
— Eu sei onde pode encontrá-lo… lhe mostro se me deixar viver.
— Me dê um motivo. — Pediu ainda de costas.
— Eu…
— Eu também tinha uma família! — No mesmo instante as mãos do sábio tocou o alto da cabeça da criança.
— Olhe nos olhos dele… Akame olhe nos olhos dele!
Akame havia aprendido mais coisas com o sábio, a convivência entre eles era tão grande que o velho a ensinou truques que ninguém além dele sabia. Os olhos daquele rapaz dizia mais do que sua própria boca, era capaz também de recolher todas as suas memórias e lembranças com apenas um toque, era algo que o espírito dentro de seu corpo possuia, não o espírito do dragão, mas sim o seu próprio. Porém não era concedido para ser usando em um humano.
— A rainha… a rainha o prendeu na prisão do vale. — Declarou ofegante.
— Podemos levá-la até lá, tomamos a prisão e recuperamos seu pai. — Disse um dos rapazes de pele vermelha.
— Não tem como entrar no vale, aquele lugar é uma fortaleza, a guardas por todos os lados! — Afirmou o soldado se levantando.
— Ele tem razão. Se for uma armadilha é melhor que só eu vá, as crianças precisam de proteção.
— Mas como pretende entrar lá?
— Serei captura e entregue a rainha.
— Não pode fazer isso! — Foi contra a palavra da mesma agarrando suas vestes.
— Akame se preparou para isso sua vida toda, é a mais apta. — Explicou Gang.
— Mãe?
— Seu pai tem razão. — Completou observando rapidamente o rapaz e a menina que ela considerava como uma filha. Com os olhos marejando a mulher abaixa sua cabeça e os dá as costas.
Talvez aquela fosse a última vez que a vila viria Akame, talvez realmente fosse uma armadilha, mas também poderia ser verdade que seu pai ainda estava vivo, e sem dúvidas ela lutou sua vida toda para proteger e trazer a paz aos que ama, era uma missão que Akame não deixaria passar.
Antes de sair ela precisava receber alguns comunicados e despedidas. Viu os corpos serem cremeados e entregues ao deserto, sorriu de volta para as crianças, arrumou seu guardião que seria sua carona para o outro lado das terras, e foi benzida em um santuário onde teve que prometer que nunca entraria na mente de um humano.
Por fim, Akame precisava saber que a espada que levava além de se alimentar de demônios, ela precisava de um sacrifício para que todo o poder posto em si, pudesse ser despertado.