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2- demônios, bruxas e humanos

Apanhando a areia quente sobre as mãos e a jogando para o alto enquanto pulava junta de Bao, ela solta uma gargalhada caindo sobre os pelos da criatura e suspirando contente pela grande bagunça. 

Agora tinha um amigo com quem brincar, um amigo que a fazia rodar e flutuar dentro de um pequeno redemoinho de vento e areia.  

Ao ouvir a voz rouca e fraca de sua mãe, Akame recuou por um momento, mas se lembrou após o segundo grito que ela precisava obedecer a mulher que a chamava, mesmo que não tivesse fome. 

Deixando que Bao entrasse em seus cabelos, ela corre empurrando a porta e dando um pequeno salto onde observa seus dedinhos amarelados. Fechando a porta ela sorrir por cima do ombro quando vê as marcas de seus pés sujos sobre a madeira. 

Ao sentar em frente a mesa, Akame viu um pequeno pote com água e outro com uma única colher de grãos, só havia para ela, e enquanto isso sua mãe tratava de seu pai. Esse era o motivo de haver tão pouca comida. Chun estava doente, e não tinha forças para ir até a vila. 

Colocando poucos grãos sobre a ponta da língua, Akame divide o resto com Bao e corre em direção ao quarto de seu pai onde bate de frente com sua mãe. 

— Você já comeu? — Akame assente enquanto encara o estômago de sua mãe fazendo barulho. — Não se preocupe, trarei mais comida. 

— Mama… 

— Ficará tudo bem. — Declarou acariciando a bochecha suja da mesma e ignorando as manchas de seus pés. — Não perturbe seu pai. — Pediu passando por ela e pegando sobre a estante seu chapéu de palha. 

Akame sabia que era arriscado para sua mãe ir até a vila, era chamada de bruxa e maltratada. Foi assim da ultima vez. Seus cabelos brancos e quebradiços os assustava. Esse era o motivo de Chun ir em seu lugar. 

Tentou correr até sua mãe, mas desistiu quando viu o cavalo partir, então deu meia volta e correu até seu pai. O homem estava deitado sobre o chão em cima de alguns panos e respirava calmamente. Chegando em passos ligeiros Akame se senta ao lado e toca sua pele, estava gelado como gelo. 

Juntando suas mãos uma a outra ela soprou e soprou até que as esquentasse e logo depois as levou até o rosto de seu pai, que com um sorriso dificultoso abriu os olhos a encarando. 

Lembrou-se então do dia em que seu pai havia feito o mesmo com ela, pegou então uma das grandes mãos dele e chegou os lábios próximos e soprou até que não conseguiu mais. 

Não sabia como seu pai havia conseguido o corte sobre o rosto, apenas acordou e o encontro já daquela maneira, sempre que podia reparava e não foi diferente dias atrás quando ela entrou pela porta e viu seu pai caído sobre o chão. O barulho tenebroso que a causou medo era resultado de uma queda. 

Dando um beijinho na testa do pai ela de levantou correndo até a sala onde tinha certeza que estava suas irmãs. 

— Não perturbem o papa. — Pediu abrindo a porta e deixando que Bao saltasse de deus braços. Olhando a direção que os cascos do cavalo ia, ela sobe sobre as costas de seu guardião que em sua forma de combate se tornava muito maior que Akame, ainda que ele também não fosse adulto. Colocando suas duas caudas e as lâminas sobre elas no chão ele abaixa esperando que Akame suba. 

Segurando os do pequenos chifres do guardião que a lembravam perfeitamente o único e quase que impossível de se ver em meio aos seus cabelos negros. Era aquele pequena chifre sobre seu crânio que a fazia se autonomear como uma demônio. 

Enquanto corriam Akame passou observando a árvore morta sobre o deserto, era gran, dura e seca, era nela que seu pai a tentou ensinar como se defender. Seu tronco liso era todo marcado por cortes de lâmina. 

Quando grandes paredes e uma enorme passagem de pedra foi vista pelo olho de Akame, rapidamente suas mãozinhas soltaram a criatura. Pulando das costas de Bao ela correu passando a mão sobre o muro e olhando o deserto. Nunca havia visto algo tão incrível e tão pouco blocos tão grandes. 

Escondendo o chifre com seus cabelos ela esticou o braço para Bao e pisou com seus pés  sobre as grandes pedras. Havia muitas casas e barracas com grãos e água, mas não havia pessoas. Andando ela viu mais uma passagem, ignorou e seguiu em frente, não sairia dali sem sua mãe. 

Tocando tudo distraidamente ela se assusta quando ouve um grito algo e cheio de raiva “bruxa”! 

Havia uma pequena multidão sobre o que parecia ser uma pequena praça, tinha um pequeno chafariz, mas estava seco. 

Ao chegar perto das pessoas ela tentou passar e até mesmo olhar entre elas, mas estava sendo impossível, elas a empurravam enquanto tiravam de suas vestes compridas muitas e muitas pedras. 

— Bruxa! Bruxa! Mate a Bruxa. — Havia ódio em sua voz. 

— Por favor, parem. — sussurrou no meio da multidão. Estava com a voz sofrida e fez com que Akame empurrasse as pessoas para tentar passar. 

Encontrando uma brecha entre algumas pernas e saiões, Akame se ajoelha até que finalmente encontra a silhueta apedrejada de sua mãe. 

Se arrastando até ela, a criança tenta levar sua mão até seu ombro, mas sente os dedais de aço dela passa sobre seu rosto. 

— Akame? — Sussurrou tentando levar suas mãos até ela, mas recuou ao ver o sangue pingar entre os dedos dela. 

— Podemos ir agora, mama? — Perguntou levantando seu rosto e sorrindo para ela. 

— Mama?! — gritou com uma pedra sobre as mãos. — A bruxa tem uma filha?! 

— O que está acontecendo aqui?

— É o rei!  É o rei e sua filha!  — Largando as pedras as mulheres se afastam dando lugar ao rei e seus cavalos. 

Colocando os pés sobre o chão, o rei observa a mulher de cabelos brancos abraçada com uma criança. 

— O que está acontecendo aqui? — Questiona fitando o sangue sobre o chão. 

— Ela é uma bruxa! — Gritou se colocando a frente. Sem dizer uma palavra o rei faz mais uma aproximação, mas recua para trás de seus soldados quando vê os olhos de Akame. 

Pedindo que proteja sua menina, ele ordena que as mulheres sobre o chão se retirem. 

— Obrigada. — Agradeceu curvando-se rapidamente. 

— Oi. — Uma voz fina ecoa nos ouvidos de Akame, e antes de da as costas, ela observa a princesa sair do cavalo com um lenço sobre as mãos. 

— Liam! 

— Está tudo bem papai. — Sorrindo ela estende o pedaço de pano para a menina. Lentamente Akame aceitou, e após tirar a mão de seu olho negro que havia perdido a proteção, ela sorrir. 

— Você é como eu? Também é um demônio? — A jovem princesa não sabia do que ela falava, e tão pouco que Akame era capaz de ver o espírito de uma jovem mulher acima de seus ombros. 

Antes que pudesse levar o lenço sobre o olho, a menina relutou contra sussurros que a atrapalhavam a audição. Se virando fitou com receio as mulheres ao redor. Todas elas tinham demônios colados sobre seus corpos, sugavam as forças delas e as fazia cometer atos maldosos. 

Fitando um ser em especial, Akame fecha seus ouvidos, quem era a mulher que sussurrava crueldades para ela? 

Murmurando baixinho, ela leva as mãos para frente quando vê uma das mulheres apanhar uma pedra. 

A princesa foi puxada e levada até seu cavalo, e as mulheres se afastaram brutalmente quando viu uma delas ser erguida ao alto. 

— Akame, não!  — Pediu segurando no braço da criança e assistindo a mulher cair sobre o chão. Sem dizer palavra alguma ela correu em direção ao seu cavalo que estava preso na entrada da vila e partiu com sua filha.

— Papai! — Com seus olhos assustados ela segura forte o cavalo. 

— Vai ficar tudo bem. — Declarou fazendo o cavalo partir em direção ao castelo. — Mate as duas. 

Enquanto o cavalo corria desesperado, Liam pediu para o espírito acima de seus ombros proteger a menina que acabará de conhecer. Não sabia quem era, mas sentia que precisava dela. 

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