CAPÍTULO 5
—Ali, para onde estamos indo? —Samara perguntou assim que viu que o pai estava colocando algumas malas de mão no porta-malas de um carro que lhe era estranho.
Ali nunca antes tinha tido um carro, mas olhando para aqueles três homens que o acompanhavam, imaginou que o carro pertencia a um deles.
Seus braços foram segurados pelo pai, que a conduziu para dentro do carro, mas ela resistiu.
—Para onde estamos indo? Eu tenho o direito de saber, pai... —Ela perguntou novamente quando viu o rosto do Ali se contorcer em irritação.
—Eu lhe disse que ia agradar minha princesa, não disse? Se você estava pensando em fugir para Rabat, nós iremos para Rabat.
A Samara foi empurrada com força para dentro do carro, enquanto um homem se sentou à sua direita, com o Ali ficando à sua esquerda para deixá-la no meio.
Os dois homens restantes sentaram-se na frente, e Ali a obrigou a se cobrir a cabeça.
De repente, o carro começou a se mover e, em meia hora, eles estavam a caminho da estrada.
Samara enxugava as lágrimas enquanto pensava e orava o tempo todo pelo Jalil, esperando que ele estivesse bem e que alguém pudesse curar seus ferimentos.
Conseguia ouvir a mãe do Jalil em sua mente quando ele voltasse para casa, falando que isso estava acontecendo com ele porque estava se metendo com uma mulher miserável. Ela nunca tinha concordado com o relacionamento deles, só porque era filha de um homem de quem ninguém em seu vilarejo gostava.
Ali não era apenas um bêbado, mas um homem que tinha a reputação de jogador e adúltero.
Durante a viagem, ela estava ficando dormida, sem prestar atenção do que os homens falavam, mas quando eles falaram pro seu pai em língua árabe, ela conseguiu entender que estavam perguntando pro Ali se ele tinha entrado em contato com os chefes.
Seu estômago roncava então verificou a hora no relógio de couro que sua mãe lhe deu em seu aniversário de 15 anos.
Era uma hora da tarde e, agora que seus olhos se apertaram para esfregá-los, ela sabia que estavam entrando na cidade porque tudo começou a aparecer à sua frente.
Samara estremeceu um pouco, essa era sua primeira vez em Rabat, então a cidade apenas fez seus olhos brilharem.
—Fique aqui... Mandarei alguém buscá-los na hora marcada —disse o homem que dirigia. A essa altura, a Samara não sabia nem mesmo o nome deles.
Então Ali acenou com a cabeça e se apressou em abrir a porta para tirar Samara do carro. Ele não se despediu, apenas pegou seu braço e ela resistiu por um momento.
—Por que você não me diz para onde estamos indo?
Ali se virou para pegar o braço dela novamente, mas dessa vez ele o apertou até Samara gemer de dor.
—Vamos descansar em um hotel aqui perto. Eu a lembro de que, se você der um passo errado, o Jalil estará morto em pouco tempo.
Samara caminhou com ele por dez minutos e então entraram em um velho albergue que parecia limpo. Quando entraram na recepção, os olhos dos homens que cuidavam da entrada os encararam com desaprovação.
—Preciso de um quarto para mim e minha filha —o semblante deles mudou ao ouvir a suas palavras.
—Estão de visita?
Ali assentiu com um sorriso e, em seguida, lançou um olhar de advertência para Samara, que assentiu de volta.
—Ficaremos até amanhã, mas vamos sair daqui a algumas horas para uma longa caminhada.
O homem sorriu ao pegar seus documentos e fez com que Ali assinasse um livro.
—2-12 à sua direita.
—Tá bom, obrigado...
—Que Alá o abençoe e que tenha uma boa estadia.
Ali lhes mostrou a mão em sinal de aceitação da bênção e, em seguida, conduziu Samara rapidamente para o quarto.
Quando chegaram, o homem ligou a televisão, enquanto a Samara se sentou em um sofá e olhou ao redor. Tinha uma sensação horrível em seu peito, e tudo o que ela conseguia pensar era que seu pai não tinha boas intenções para com ela.
Aliás, ele nunca teve.
Sempre se perguntou por que ele não sentia nenhum apego por ela.
—O que você vai fazer comigo?
O homem nem ligou para ela e continuou a assistindo a televisão. E quando ela perguntou novamente, ele bateu na cama e se levantou.
—Me deixe em paz! —Seu pai bateu a porta e fez questão de trancá-la para evitar que ela escapasse.
Samara sabia que ele não iria muito longe, no entanto. Ali sempre foi um homem astuto, e o fato de ela estar em suas garras agora era prova disso.
Se levantou do sofá e se ajoelhou no chão, colocando os cotovelos sobre a cama.
—Pai de todos... me ajude... —as lágrimas começaram a cair e os soluços aumentaram.
Samara não segurou mais suas lágrimas. Ela não disse mais nenhuma palavra em sua oração, mas agora não conseguia nem mesmo explicar o medo que sentia.
Em poucos minutos, ela subiu na cama e, colocando um cobertor quente sobre seu corpo, deitou-se de costas e soluçou o tempo todo.
Ela queria dormir, agora estava faminta, mas além de tudo, queria acordar e ver sua mãe Fátima lhe dizendo que sairiam dessa, como sempre faziam.
—Se levante! —Seu corpo foi sacudido de um jeito rude e, quando seus olhos se abriram, o quarto estava um pouco escuro, iluminado apenas pela televisão ligada.
As lágrimas secaram em seu rosto e, quando viu Ali à sua frente, ela se apressou em colocar o véu.
—O que há de errado?
—Temos que ir... —Ele puxou seu braço, não deixando que ela ao menos se ajeitasse em seu despertar repentino, mas ela parou quando se viu descalça.
—Espere... estou descalça....
Seu pai soltou uma bufada irritada, pedindo que ela se apressasse.
Os dois saíram para o corredor e ouviram o homem que os tinha atendido algumas horas antes desejar-lhes uma boa caminhada.
Samara conseguia ver os lábios de seu pai esboçarem um sorriso cínico e, naquele momento, ela sabia que as coisas iriam piorar.
—Ali... Para onde estamos indo? Por favor, estou com medo...
Ali continuou andando, até chegarem à esquina, onde tinha um restaurante de fast food.
Samara viu de longe que algumas pessoas estavam comendo, e o seu estômago ficou enjoado imediatamente.
No entanto, ela só virou a cabeça quando ouviu um rugido desconhecido.
Lá estava aquele carro novamente, com os mesmos homens com quem ela chegou à cidade.
Seus pés pararam, mas agora seu pai não a estava segurando-a.
—É hora de ir... Aqui está sua parte...
O corpo da Samara começou a tremer assim que viu muitas notas nas mãos do seu pai, e ele as estava contando rapidamente.
Não sabia por que seu corpo se agarrava a ele, era como se de alguma forma, ela estivesse buscando proteção.
De repente, a mão de um dos três homens a agarrou, e ela afastou o braço como se o toque dele a tivesse queimado.
—Se não quiser que eu a toque... entre no carro.
Samara negou e depois procurou o olhar do Ali.
—Pai? o homem se virou com raiva e depois negou.
—Pare de me chamar assim... eu não sou o seu maldito pai....
Ela abriu os olhos em completo choque, tentando dizer algo a ele.
—O quê? O que você está dizendo? Por favor, não me deixe com eles?
Ali tirou as mãos da jaqueta e a apertou com força.
—Agora tudo depende de você... ganhe a vida por si mesma.
Samara tivesse gostado de dizer para ele que sempre tinha ganhado suas coisas. Que sua mãe e ela tinham, de fato, cuidado dele desde que ela estava consciente, mas agora, ela só conseguia se estremecer ao ver que esse mesmo homem que ela tinha cudiado, apesar dos maus-tratos, estava entregando-a a homens desconhecidos.
Suas mãos caíram aos lados e, com facilidade, aquele homem a conduziu até o banco na parte de trás do carro.
Ela não tirou os olhos do Ali, que os observava ligando o carro, nem conseguiu impedir que as lágrimas se derramassem em total decepção.
Sua mente não conseguia imaginar o que eles fariam com ela ou para onde a levariam, então ela apertou o véu, fechou os olhos e deitou a cabeça, desejando até mesmo morrer.
O carro se movia, os homens falavam apenas em segredo, e ela tentou reproduzir em sua mente, com os olhos fechados, o momento em que o Jalil lhe disse pela primeira vez que eles fugiriam.
Naquele momento ela sorriu, lembrou-se da magnitude de sua alegria, depois de duas semanas em que sua mãe tinha soltado sua mão para sempre.
Ela se lembrou de como o Jalil a abraçou e também de como ele a chamou de "linda".
Seu coração tinha se aquecido, eles até falaram sobre ter três filhos quando chegassem à França e que morariam em Marselha, perto do porto.
—A voz do homem ao lado dela a fez abrir os olhos.
Percebeu que o carro estava parado e que estavam em um grande estacionamento.
Se apressou em seguir o homem e parou quando viu um prédio enorme atrás dela, que exalava de suas paredes fumaça, luzes e música abafada.
—É melhor você andar, Ali me disse para lembrá-la de que se você dar um passo em falso, seu namorado seria carne de cachorro....
Samara olhou para aquele homem alto e, apesar de suas pernas tremerem, caminhou obedientemente.
Entraram por uma pequena porta, que até mesmo o único homem que continuava com ela teve de se abaixar para passar. Samara conseguia ouvir a música ficando mais alta à medida que passava pelos corredores e seu coração acelerava ao ver aquele lugar escuro, gritando problemas para ela.
Uma porta se abriu à sua esquerda, e o homem a puxou para dentro.
Notou uma mulher contando notas desconhecidas para ela e, quando a viu se aproximar a deteve, examinando-a detalhadamente da cabeça aos pés.
—Você está atrasado... —disse a mulher, agora olhando para o homem.
—Foi uma longa busca. Ela vem de um vilarejo, e tivemos que fazer algumas coisas primeiro.
—Eu não me importo, só espero que ela seja o que você prometeu... agora saia daqui, tenho muito a fazer... o show começa em uma hora....
O homem assentiu obedientemente, como se aquela mulher fosse sua autoridade e, quando a porta se fechou, Samara não sabia se estaria melhor ou pior sem aquele homem.
—Qual é o seu nome? Samara piscou várias vezes ao ver a mulher se aproximando.
Suas roupas eram um pouco extravagantes e brilhantes, sem mencionar a maquiagem que parecia um pouco exagerada.
—Sa... Samara Raji...
A mulher tocou seu cabelo liso como se o estivesse penteando, depois levantou seu queixo para inspecioná-la com precisão.
—Você é muito bonita... angelical e... sensual...
Os olhos dela se arregalaram sem entender aquela mulher.
—Você tem os olhos mais lindos... —continuou a mulher. Nem parece marroquina, se não fosse pelas suas roupas... mas, como todos dizem, aqui você pode encontrar belezas exóticas...
Sam abriu os olhos para falar alguma coisa, mas a mulher recusou, deixando-a sem palavras.
—Você dará muito dinheiro aos chefes... e se quiser voltar depois desta noite, teremos prazer em recebê-la.
O som de sua respiração de repente a fez voltar a si.
—Eu... eu não entendo... onde estou?
Dessa vez, a mulher lhe mostrou um rosto sério e, soltando um suspiro, deu-lhe a resposta que ela tanto desejava, mas não queria ouvir.
—Você está em um dos bares mais procurados de Rabat... e esta noite, você não será mais chamada de Samara, agora você é Aziza... e a sua virgindade será leiloada para o homem que puder pagar o preço mais alto por você...