CAPÍTULO 2
—Sua mãe está muito decepcionada, André. É esse o exemplo que você está dando para a sua irmã? Como você pode não pensar na sua família? Francois, o pai do André, falava muito rápido em francês, enquanto esfregava os olhos e ligava o laptop em seu colo.
Era sábado, mas não tinha um dia em que ele não trabalhasse.
—Pai... essa notícia é uma merd@... é tudo mentira...
—Fod@-se! Você acha que eu sou idiot@, André...!
O milionário se levantou de sua confortável cadeira ainda de cueca. Há algumas horas, ele tinha se mudado para sua casa principal depois do escândalo da sua suíte que já não era mais privada aos olhos dos jornalistas.
Conseguia enxergar as fotos em todas as manchetes e como seu sorriso torto e cheio de bebida aparecia ali abraçando aquela prostituta.
—Calma pai... o senhor ainda nem me deixou lhe contar sobre o negócio de ontem.
—De que adianta termos milhões entrando, se o dobro vai sair? Nenhuma empresa séria vai querer se aliar a um homem que é um escândalo diário, André, nenhum empresário vai querer ver suas ações despencarem por estar no olho do escândalo....
André soltou o ar ao bater na mesa de madeira e fechou a mão em um punho, vendo que seu pai nunca estava feliz com ele, não importava o que ele fizesse.
—Pai, eu já tenho 29 anos, vou fazer 30 logo... e você, você me trata como a porra de uma criança, estou cansado disso, estou cansado do seu controle e...
—Então, se comporte como um homem André —cortou Francois em um tom irritado. Pare de ser uma má influência para a sua irmã e não seja uma dor de cabeça constante para a sua mãe... você pode até ser muito habilidoso em ganhar dinheiro, mas é péssimo em lidar com a vida real, o seu avô está muito doente e nem isso importa para você.
Houve um longo silêncio após essa acusação, embora a palavra família não estivesse em primeiro lugar na lista do André, seu avô Pierre, era intocável para ele.
Tudo se agitou no seu estômago e uma sensação aguda o fez sentar.
Na tela do laptop, tinha notícias em vários sites, todas contando uma grande verdade.
O seu gosto pelos bordéis e compra de mulheres tinha se tornando uma necessidade, e agora neste momento, ele não conseguia nem se lembrar de como essa obsessão começou. O André simplesmente fugiu do habitual. Começou a ganhar dinheiro até que tudo se tornou num círculo vicioso.
Namorar, ou gastar tempo colocando seu interesse em uma mulher e, além disso, ser quem ele não era, tornou-se chato e exaustivo. Suas necessidades sexuais tinham passado de básicas para exigentes, e não era qualquer coisa que o excitava, nem qualquer coisa que o satisfazia.
Sua cabeça estava doente, com certeza, mas o fato de que alguém tivesse de agradá-lo, porque era seu dever, era o êxtase de sua loucura.
Tornou-se difícil satisfazer seus gostos e então percebeu que, com o passar do tempo, ultrapassava os limites rapidamente.
—André eu sou seu pai... —ele o ouviu dizer novamente, mas dessa vez um pouco mais calmo. Acredite ou não, estamos preocupados com você. Não há apenas dinheiro envolvido, é a sua vida e você vai estragá-la...
—Eu sei pai... apenas tente ver o que estou fazendo certo...
O suspiro do Francois foi ouvido o telefone.
—André eu vou viajar pros Estados Unidos em uma semana, sua mãe vai ficar porque o seu avô está fraco, mas quero conversar com você sobre um assunto.
André se apressou em impedi-lo.
—Não... impossível, eu preciso viajar para o Marrocos em alguns dias... você não vai me encontrar aqui se vier.
—Para o Marrocos?
—É sim... com o Aziz Akhannouch, o banqueiro internacional...
—Você conseguiu fechar o negócio com ele? Isso é maravilhoso...
André sorriu. É claro que era um negócio admirável.
—Ainda não. Mas vou conseguir... agora, depois do Marrocos, eu vou para a França, quero ver meu avô, então você não precisa vir.
Tinha dois motivos para o André tomar essa decisão de última hora: primeiro, porque ele não queria que o pai descobrisse mais coisas assim que chegasse aos Estados Unidos e segundo, porque estava com saudades de ver o avô.
—Essa é uma ótima notícia, estou muito feliz por você vir nos visitar, mas primeiro tem algo que a gente precisa conversar...
***
Na segunda-feira de manhã, o André caminhava rapidamente com o Connor às suas costas, enquanto ligava para a assistente pessoal do seu chefe.
—Kamile, o André espera por você no prédio central... é urgente... —disse ele.
Desligou o telefone e disse aos seus homens que ficarem no andar de baixo, esperando qualquer indicação. Eles entraram no elevador e o Connor apertou o botão para o andar 40, onde ficava o escritório principal da Rousell Inc.
—Você realmente está fora de sua humanidade... —comentou Connor enquanto André o olhava através de seus óculos escuros.
—Francois é uma merda, ele não faz nada além de foder minha vida.
O Connor levantou a sobrancelha.
—Consigo imaginar a magnitude do problema, já que você não saiu para nenhuma boate, no final de semana todo.
—Não tenho conseguido pensar, nem dormir... agora consegue imaginar.
Ambos saíram do elevador e entraram em seu grande e luxuoso escritório, que se estendia no andar todo.
Ele era mobiliado com sofás enormes, banheiros exclusivos para seus funcionários e uma sala inteira para quem quisesse se trocar ou descansar no local. Além disso, tinha uma área de jantar com um chef profissional de primeira classe que preparava a comida do milionário para qualquer ocasião. Nesse andar, ele basicamente tinha suas reuniões mais importantes, e os negócios milionários que costumava celebrar com qualquer tipo de bebida cara, satisfazendo o paladar de seus sócios.
André não cumprimentou ninguém e foi direto para seu escritório, esperando que a Kamile o livrasse desse grande problema.
—Você quer conversar? —perguntou seu guarda-costas.
André tirou os óculos e Connor foi lhe servir uma bebida, apesar de serem oito da manhã, ele sabia que o seu chefe precisava dela com urgência.
—Francois achou legal dizer pro meu avô moribundo que eu estou em um relacionamento estável e que não deveria se preocupar com o que as notícias estavam falando.
O Connor não consegue deixar de soltar uma gargalhada, que se forçou a cortar assim que o André o olhou com dureza.
—Relacionamento estável? —E qual é a definição do seu avô para um relacionamento estável?
—Meu avô é francês, Connor, um homem de cultura arraigada e um romântico... O que você acha? Ele acredita que eu estou apaixonado por uma donzela de merd@ que está me esperando pura até o casamento?
Dessa vez, o Connor não conseguiu segurar o riso.
André jogou um enfeite da mesa para ele, que caiu perto dos pés da Kamile, que estava chegando naquele momento.
—Obrigada pelas boas-vindas... —disse ela despreocupadamente.
—Kamile! —Ambos chamaram seu nome enquanto ela tentava passar por cima do vidro.
—Eu mesma, sim. Eu não estava aqui mais cedo porque tive que pegar alguns documentos, além disso, o Aziz Akhannouch já recebeu sua resposta e seu voo sai na quinta-feira às 20h.
O André sorriu, apesar de tudo, e depois olhou pro Connor.
—Ela é a melhor... não tenho dúvida disso —O queixo do Connor se apertou e se afastou, andando pelo escritório para ignorar a situação.
A presença da Kamile o deixava nervoso, e ela parecia ficar irritada quando os dois compartilhavam o mesmo espaço.
—Qual é a urgência? —perguntou Kamile, se sentando em frente ao milionário, fazendo com que ele desviasse o olhar do Connor e voltasse para ela.
Tinha pensado em todos os cenários, a Kamile era perfeita se quisesse seguir com a mentira do seu pai para dar essa falsa imagem ao seu avô, mas ele nunca faria isso com o Connor.
Mesmo que ele nunca o tivesse expressado, o conhecia, ele estava terrivelmente apaixonado pela Kamile e, com o Connor ele não poderia ser tão filho da put@ assim.
—Você conhece alguma agência que... tenha alguma mulher que se pareça com a porra de uma donzela?
—O que você tem contra mulheres virgens?
André revirou os olhos.
—Kamile... isso é sério, é sobre o meu avô, vou te contar os detalhes, mas depois da minha chegada do Marrocos, preciso de uma mulher para ir comigo para a França e fazer o meu avô achar que somos loucos pelo filho da put@ amor, que transborda pelos nossos poros.
Ela colocou a mão sobre a boca para abafar o riso.
—Essa foi a ideia do seu pai?
—Quem mais ia fazer uma coisa dessas?
—Eles estão tentando defendê-lo... mas por que você não arranja uma namorada de verdade? acho que nenhuma garota vai te dizer não, além de aceitar uma viagem para a França com todas as despesas pagas.
André fez uma cara de nojo. Ele odiava namoro, coisas cor-de-rosa e qualquer coisa relacionada a romance.
Seus gostos não eram normais e ele aceitava isso, e era por isso que ele pagava por pedidos específicos e porque, de certa forma, isso o fazia se sentir dono de um corpo. Pagar por uma mulher era poder torná-la sua inferior, algo que só obedecia a seus gostos, sem pensar em agradar os dela.
—Kamile... encontre essa maldit@ mulher e depois me chame... —disse ele no final.
Seu assistente respirou fundo e se levantou.
—Farei o meu melhor... mas André, pare de xingar....
Então viro as costas, deu uma olhada no Connor e saiu do escritório principal para se afastar da vista do milionário.
—Puff...! Que dia de merd@...!
—Ela lhe disse para parar de xingar... pense na donzela que estará ao seu lado e....
Outro objeto foi atirado contra o seu segurança e, embora o Connor o tenha esquivado habilmente, preferiu ir embora também, para deixar o André se recostar em sua cadeira e relaxar um pouco...
O André massageou a testa e pegou o copo de uísque que o Connor tinha lhe servido mais cedo.
Ele tinha conseguido lidar com milhões, com homens difíceis e negócios inconcebíveis.
"Por que não uma mulher ingênua?"
Ah, ele sabia sim. Esse assunto não era a sua praia, e ele nem mesmo tinha vontade de olhar para uma mulher, que olhara pra ele com um rosto de inocência, só a faria ver como seus pensamentos eram escuros.