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Após pedir demissão ao Dante Ritzel segui o conselho da minha amiga de procurar um emprego. Admito que fiquei me cagando de medo da senhora Ritzel e não queria mais continuar dando golpes em homens. Engraçado não é mesmo? Nunca imaginei que um dia fosse procurar um emprego de verdade.
Duas semanas procurando trabalho e não tinha encontrado nada devido não ter terminado meus estudos e trabalhar em casa de família também estavam exigentes. Caminhava pela calçada quando um carro parou ao meu lado.
Quando o motorista abaixou o vidro, a primeira e única coisa que vi foi o cano de uma arma apontada para mim.
— Entra no carro agora e não faça nenhum escândalo ou será pior! — esbravejou o homem de dentro do carro.
— Eu não tenho nada que o senhor possa querer! Não tenho dinheiro e não tenho família! — afirmei em desespero.
Para minha surpresa a porta do banco do passageiro foi aberta e saiu um homem de la. Fui puxada contra minha vontade para dentro do veículo de cor prata. O que eles queriam de mim? Apanhei dentro do carro na minha cara e ouvi palavras de baixo calão. O trajeto parecia sem fim até que eles pararam.
— Vadia, nada de gritar ou vamos te matar! — ameaçou, me puxando pelo braço para em um galpão abandonado.
Comecei a chorar procurando entender o que estava acontecendo e, porque comigo...
— Emma, acreditou mesmo que pudesse fugir de mim? — reconheci a voz da senhora Ritzel e levantei o rosto para encará-la. — Não queria ter que fazer as coisas assim, no entanto, você não me deu outra escolha, menina.
A velha maldita estava de pé bem na minha frente e do seu lado tinha um médico. Balancei a cabeça negativamente. O que um médico estava fazendo ao lado daquela louca? Então a minha ficha caiu. Ela queria me engravidar do seu amante a força em um procedimento ilegal!
— Me deixa ir embora! Juro que não falarei para ninguém da senhora e nem dos seus homens que contratou! Prometo que não farei nada que te prejudique, mas por favor, não me obrigue a ter um filho para a senhora... — implorei me ajoelhando no chão enquanto as lagrimas banhavam meu rosto.
— Você não tem escolha e ter fugido daquela maneira de mim piorou sua situação. Sei onde mora, Emma, também sei da sua amiga. Sempre estarei vigiando cada passo seu e dela. O meu filho virá ao mundo com saúde e você me entregará a criança legalmente. Doutor, pode apagá-la...
Ela não brincou quando disse para ele me apagar. Quando acordei estava no meu quarto. Como? Não sabia! Por um momento quis acreditar que fosse um sonho, entretanto, meu corpo demonstrava que tinha sido muito real.
Quais eram as chances deu estar grávida e seguir com a gravidez sem problemas? Entrei em panico e gritei o mais alto que pude. Ivana adentrou o quarto com a vassoura em mãos pronta para atacar quem quer que fosse.
— Cadê ele? Vou avisando que sei me defender! Apareça bandido! Anda, saia de onde estar! — disse ela autoritária, mesmo com as pernas tremulas.
— Não tem ninguém, Ivana! Eu que tenho um problemão... — hesitei em lhe contar toda a verdade porque ela poderia correr ainda mais risco de vida, portanto, menti descaradamente. — Foi um pesadelo muito real, para ser sincera.
Minha amiga deixou a vassoura, aproximou-se da cama e me deu um abraço apertado.
— Emma, não precisa falar se não quiser! Espero que você não tenha mais pesadelos assim, pois nunca te vi gritar desse jeito devido a um sonho. — comentou, bastante preocupada.
Quem dera fosse um pesadelo e não real. Me vi perdida e em um beco sem saída. Todos meus passos seriam vigiados. E se houvesse câmeras escondidas na nossa casa? Comecei a chorar nos braços de Ivana e não conseguia dizer nem sequer uma palavra.
Me sentia confusa, assustada e traumatizada com tudo o que havia acontecido comigo. Contei meias verdades para minha amiga. Por quê? Porque ela precisava ter cuidado porque sua vida também estava em perigo.
— Meu Deus, que coisa terrível! Sinto muito que você tenha passado por isso. Mas fico feliz que esteja segura agora. — disse ela, segurando minhas mãos. Seus olhos estavam lacrimejando e não era para menos após saber que tinha sido sequestrada. Infelizmente não tinha coragem de lhe contar toda a verdade.
— Obrigada, mas é difícil superar tudo isso. Estou com medo de sair de casa, de encontrar com pessoas, de tudo, na verdade. — desabafei. Sair de casa era colocar minha vida em risco.
— Compreendo perfeitamente. Mas você sabe que pode contar comigo, não é? Estou aqui para te ajudar no que for preciso.
Suas palavras eram um grande conforto para o meu coração.
— Eu sei, e isso me conforta muito. Só não sei como superar essa sensação de insegurança e medo que estou agora o tempo todo. — comentei, cabisbaixa.
— Por que não procura ajuda profissional? Existem terapeutas que são especializados em ajudar pessoas que passaram por traumas como o seu.
Ela era uma amiga incrível que queria somente o meu bem-estar. Não gostava de ter segredos entre nos, contudo, não queria envolvê-la naquela merda toda, não ela que sempre esteve e estava ao meu lado.
— Vou pensar sobre o assunto. Tudo está muito recente ainda. — falei engolindo o choro, não queria mais continuar chorando na sua frente, isso deixaria ela ainda mais aflita.
— Entendo! Que tal prepararmos juntas algo delicioso para nós duas? Será bom você distrair a cabeça.
Na cozinha eu era um desastre, ainda assim, aceitei a sugestão de Ivana. Não queria mais pensar em tudo que havia ocorrido comigo, bom, pelo menos naquele momento queria esquecer. Sabia que não poderia ignorar o fato de ter sido sequestrada para uma inseminação artificial contra minha vontade, entretanto, precisava fingir que nada tinha acontecido.
Levantei da cama e senti um pouco de dor e ali percebi que esquecer não seria fácil.