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4

Daniel

Olho para o maldito jornal outra vez e não acredito no comentário que o cretino fez durante a entrevista. Puto da vida, jogo o papel em cima da minha mesa e a porta do meu escritório se abre no mesmo instante. Jonas Brito, meu assessor adentra a minha sala e seus olhos cautelosos me encaram por trás da armação dos óculos de grau, acompanhando cada gesto meu, ainda sentado em minha cadeira de couro negro. Enquanto giro-a lentamente de um lado para o outro e o meu dedo indicador roça a barba por fazer, demonstrando a minha paciência que já está no limite.

— Mandou me chamar, senhor Ávila? — O tom de voz cauteloso, me faz fechar as mãos em punho.

— Sente-se! — ordeno com um tom seco e duro. O rapaz engole em seco e se senta na cadeira de frente da minha mesa, sem desgrudar os seus olhos de cima de mim. Ele sabe que não tolero erros e principalmente, sabe o quanto sou exigente com os meus empregados.

— Aconteceu alguma coisa, senhor? — inquire com voz levemente trêmula. Em resposta, jogo o jornal em sua direção. Ele o segura, mas ainda não compreende o que pode ter me levado ao limite.

— Leia! — Dou outra ordem fria. Ele limpa a garganta, se ajeita em cima da cadeira e abre o jornal na primeira página, fixando os seus olhos nele.

— Eu não entendo, senhor Ávila — sibila.

— O que você não entendeu, Jonas?

— É que... não foi isso que combinei com Adrian Moris. Ele saiu daqui com as palavras decoradas, sabia exatamente o que falar e o que não falar. Não entendo por que ele disse isso. — Inclino-me sobre o tampo da mesa, apoiando as minhas mãos sobre a mesma e chego mais perto do meu assessor.

— Quero uma reunião com esse imbecil ainda hoje. Quero saber por que falou sobre o projeto antes do lançamento de marketing e pior, antes de chegar ao mercado. O que é isso, Jonas? — questiono furioso, puxando o jornal das suas mãos e o amasso bem na sua frente. — Espionagem, porra? Querem derrubar o meu nome, o meu império? — rujo em fúria.

— Nã-não, s-senhor Ávila! Nunca! Isso jamais! — Fico de pé, agigantando-me diante do homem e este parece se encolher em cima da cadeira.

— Ligue para Adrian agora, quero aquele idiota aqui em dez minutos! — berro alto. Jonas levanta da cadeira em um rompante e sai da sala como um raio. Volto a sentar-me na minha cadeira e giro a mesma na direção das paredes de vidro. Daqui posso ver todo o Rio de Janeiro quase que inteiro. A imensa e poluída cidade, o seu trânsito caótico. Tudo parece tão pequenino e tão distante de mim. Respiro fundo e me deixo levar para dias felizes que já não tenho mais.

(Memórias...)

— Querida, já cheguei! — falo assim que entro na sala do apartamento que acabamos de comprar. Faz cinco meses que estamos casados e posso afirmar que somos o casal mais feliz desse mundo. Eu a amo tanto que chega a doer dentro do meu peito. Largo a pequena valise em cima do sofá da sala e afrouxo a gravata de seda em meu pescoço. Suzy surge na sala com seu lindo sorriso de menina nos lábios. Ela está usando um vestido justo em sua cintura e rodado na parte de baixo. Enquanto caminho em sua direção, abro os dois primeiros botões da minha camisa e me aproximo-me da minha linda esposa, levando as mãos a sua cintura.

— Estava contando os minutos para você chegar — confessa, acariciando os meus cabelos. Eu a beijo de leve e inalo o seu cheiro suave de flores do campo, sentindo-me em casa outra vez.

— Passei o dia inteiro pensando em você, meu amor. Foram horas terríveis até chegar aqui. — Seu sorriso cresce e ela morde o lábio inferior.

— Ount, sentiu saudades? — Ela praticamente geme a indagação, fazendo o meu coração bater feito um louco.

— Muita. — Tomo sua boca na minha em um beijo sôfrego e cheio de saudades.

— Tenho uma surpresa para você…

Sou despertado pelo barulho do telefone em cima da minha mesa e bufo audivelmente, atendendo logo em seguida.

— Fala, Estela.

— Doutor Ávila, o senhor Brito pediu para avisá-lo que o senhor Moris já está vindo para a empresa. — Minha secretária avisa.

— Prepare a sala de reuniões. E, não quero ser interrompido por ninguém enquanto estiver com ele — peço.

—Sim, senhor Ávila! Só para lembrar, o senhor tem uma reunião na escola do pequeno Christopher. — Fecho os olhos e esfrego o meu rosto.

— Não vou poder ir, Estela. Ligue para minha mãe e peça para ela resolver essa pendência, por favor!

— Mas, senhor Á… — Desligo o telefone, porque não quero ouvir as suas insistências. Desde que Suzy morreu naquela maldita sala de parto, entreguei os cuidados de Christopher aos meus pais, e, embora eles insistam que eu me aproxime do meu filho, eu não consigo, não tenho forças para olhá-lo nos olhos, nem mesmo para ouvir o som da sua voz. Sempre estou empenhado no meu trabalho. Quando saio de casa ele ainda está dormindo e quando volto o encontro dormindo também, assim, mantenho a distância que preciso dele. Me levanto da cadeira e pego o outro jornal que está dobrado sobre a mesinha de centro, e saio da sala sem olhar para minha secretária em sua mesa. Sigo direto para sala de reuniões, abro a porta e vejo a causa da minha dor de cabeça sentado em uma das cadeiras da imponente mesa de reuniões mexendo em seu celular distraidamente. Fito Jonas, que ao perceber minha presença logo se põe de pé.

— Senhor Ávila! — Ele diz com voz estremecida, chamando a atenção de Moris, que apressadamente guarda o celular no bolso da calça e levanta-se da sua cadeira. Ele abre um sorriso falso me estendendo uma mão.

— Senhor Daniel Ávila, que imenso prazer! Gostou da nossa entrevista? — inquire. O imbecil não esconde a sua felicidade ao tocar no assunto.

— Fala dessa merda aqui? — rosno, jogando o jornal em sua cara. Ele segura as folhas que caem desordenadas e assisto o seu sorriso desaparecer do rosto quadrado e empalidece em seguida. — Que porra você pensou que estava fazendo divulgando um produto que nem se quer lhe dei autorização para ser citado?! — Ele balbucia algumas vezes.

— Senhor Ávila, é tudo uma questão de marketing…

— Marketing? — rosno. —Marketing, senhor Moris? — Chego tão perto do seu rosto, que posso sentir a sua respiração ofegante bater em minha pele e mantenho os meus olhos formes nos seus. — Não sei se percebeu, mas aqui nessa porra toda quem manda e desmanda sou eu! E se eu mandar você respirar, você respira, senhor Moris! Se eu ordenar que pule de um prédio de vinte quatro andares, você pula! Então não me venha falar de marketing, porque eu não me lembro de ter lhe dado qualquer autorização para isso. — Seus olhos vacilam e ele se afasta um pouco de mim, ajeitando o seu terno em seu corpo e respira fundo.

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