CAPÍTULO 06
Para irmos embora precisávamos passar próximo de onde eles estavam e então passamos em silêncio, meus amigos são debochados mas têm um pouco de noção. Ele, o Carioca me encarou e eu encarei de volta, mas logo baixei a cabeça, certamente estou vermelha de vergonha.
Fomos na praça tomar sorvete e o assunto era um só: a minha ficada com o chefe, meu amigos estavam doidos com isso.
No dia seguinte, o expediente foi puxado na loja, mas havíamos combinado de irmos no pagodinho que teria no Bar do Luizinho que é um bar estilo pub, muito bacana na metade do morro, quem não conhece aqui, nem imagina que tem um bar tão bacana como esse.
Carioca
Essa semana tá fluindo bem, o faturamento do baile foi excelente e a lista de noiados devedores tá pequena, não precisei mandar ninguém pra vala por esses dias.
A Jéssica não para de mandar mensagem, não respondo nenhuma, ela sabe que tá de castigo, quando eu tiver afim, chamo ela, até porque mulher não falta, todo dia aparece uma lá na boca querendo sentar pro chefe e eu não recuso nenhuma, como todas. Assim que eu descobrir qual das amigas mandadas da Jéssica que fica contando pra ela quem eu pego ou deixo de pegar, vai tomar o mesmo corretivo que ela e vou passar a zero no cabelo, porque na noite do baile alguém contou. Não que eu me importe com o que a Jéssica saiba ou não, mas se a pessoa é X9 sobre isso, é X9 sobre qualquer coisa e eu não quero e nem preciso de gente assim no meu morro, nessa vida que levo, desconfio de todos.
Fiquei pensando na morena, bagulho doido, nunca fui de ficar pensando em mulher nenhuma que peguei. Passei algumas vezes de moto em frente a casa que a mina do Japah mora, mas não vi ninguém, acho q ela tava aqui só a passeio mesmo, pena que não pude terminar o serviço naquela noite, fiquei só na vontade e ela também. Mas hoje tem pagodinho no Luizinho, vou lá dar uma relaxada com os parças, faz tempo que não apareço por lá.
Fui pra casa, tomei um banho demorado, coloquei uma calça jeans escura, camisa pólo branca da Lacoste e um boné da mesma marca, meu relógio e cordão de ouro com a inicial do meu vulgo no pescoço e meu perfume de lei, Glock na cintura e tô pronto. Hoje não quis ir de moto, fui com meu carro, ele é novinho, eu uso pouco e hoje tô afim de dirigir a minha nave, fui em velocidade acelerada, então logo cheguei.
Japah, LC e VT já estavam lá, juntos com outros parças bebendo uma cerveja numa mesa mais reservada num canto próximo ao palco com uma visão privilegiada de todo o lugar, hoje um grupo de pagode tocaria ao vivo, fui até eles.
— Chegou o rei delas! — Japah me zoa.
— Hoje o pai tá off, é só resenha mesmo. — respondi.
— Tô ligado que a tua resenha é sempre com alguma mina. — LC falou e riu.
— Hoje tô na tranquilidade! — fiz o toque com eles e sentei já pedindo pro garçom uma cerveja também, porque esse calor do Rio exige uma estupidamente gelada.
Fernanda
Rebeca e Andrey chegaram na hora marcada, Dani e eu estávamos nos arrumando e quando cheguei na sala, usando uma saia jeans e uma blusinha tomara que caia amarela que destacava meu tom de pele, Andrey elogiou.
— Mas quase não te reconheço hein com esse corpão a mostra, quem te viu e quem te vê. — Andrey veio cheio de graça falando e eu simulei uma cara de vaidosa e rimos juntos, Dani e Rebeca de short e blusinha estilo cropped, Andrey com uma bermuda rosa e camisa branca, eles lindos como sempre.
Em torno de 20 ou 30 minutos depois já estamos chegando no pagode, está bem cheio, única mesa que conseguimos, foi próximo a entrada, mas está bom assim. Pedimos uma porção de batata e uma Skol Beats pra cada um, sim agora eu experimento outras bebidas também. Logo o grupo de pagode sobe ao pequeno palco e começou a tocar, a noite fica mais animada. O local com uma iluminação aconchegante e o pagodinho tocando, era um ambiente muito agradável, um pouco depois Rebeca diz:
— Olha o bloco ali. — ela fez sinal para o canto do palco e lá estavam: LC, Japah, uns caras que não conheço e ele, o Carioca. Estava muito lindo, com a mesma mão que segurava um cigarro, levou o copo até a boca enquanto me encarava por baixo do boné e eu retribui o olhar.
— Hi já vi que sobrei, será que minhas amigas agora são todas Maria fuzil? — Andrey fala e nós caímos na gargalhada, ele é muito engraçado, debochado na medida certa.
A noite estava ótima, o grupo que tocava era muito bom, percebi que a Dani não parava de teclar no celular, coincidentemente o Japah também não, até que em certo momento, chega uma mensagem no meu whatsa*p.
Número desconhecido:
“Quero falar com você!”
Imediatamente olhei pra Dani, e pelo olhar dela, entendi que o Japah tinha pego meu número com ela e passou pro Carioca, olhei pra ele novamente, ele me olhava também e balançava a cabeça em sinal afirmativo no ritmo da música que tocava, era um pagodinho romântico.
Tentei segurar um leve sorriso que insistia em sair no canto da minha boca, acho que foi porque a letra da música fez um certo sentido com o jeito que ele me olhava cantando a letra.
Pouco depois levantei pra ir no banheiro e a Dani veio junto, não olhei pra ele durante o caminho mas pelo canto do olho, percebi que ele me olhava. Entramos no banheiro e a Dani já foi se defendendo:
— Amiga se não fosse comigo, ele conseguiria seu número de qualquer jeito.
— E aquele papo de que bandid* é só sofrimento? — perguntei.
— E é mesmo... mas você não percebeu que tá babando por ele a noite toda? Vai lá prova, mata sua vontade e a dele, depois vida que segue. — Dani falou e eu não respondi nada, sei que é melhor fingir que aqueles amassos da noite do baile não aconteceram, mas será que eu consigo?
Retocamos a maquiagem e voltamos pra mesa, um tempo depois eu falei que ia embora mas que eles podiam ficar, a Dani quis me acompanhar, mas quando estávamos no caixa, ela disse que resolveu ficar mais um pouco, que ia sair com o Japah, esse papo de matar a vontade, com ela pelo o jeito a vontade é grande porque tá sempre com ele. Ri por dentro com meu pensamento, só estranhei ela me deixar ir sozinha essa hora, sei que ela não gosta.
Paguei a conta, me despedi e quando estava descendo o morro, um carro enorme desses lançamentos caríssimos, freou ao meu lado, o motorista baixou o vidro escuro, era ele claro, com um carrão desse porte quem mais poderia ser aqui no morro?
— Gosta mesmo de andar sozinha à noite pelo morro né? — nos olhamos.
— Eu já conheço o caminho! — respondi.
— ENTRA! — ele fala firme.
Meu Deus que voz é essa? Máscula, grossa, imponente, fiquei molinha só de ouvir e não consegui me mover...
— ENTRA LOGO! — ele repetiu e eu entrei bufando, ele deu meia volta e subiu acelerado sem trocarmos nenhuma palavra.
Em poucos minutos estávamos no topo do morro, eu nunca tinha vindo aqui, ele desceu primeiro ficou de costas para a lateral do carro com as mãos no bolso, olhando a vista, pouco depois desci também e pude ver o quão linda era vista aqui de cima, era possível ver quase toda a cidade daqui, havia uma brisa leve e sem falar na sensação de paz que eu senti.
Sem me olhar ele falou:
— Por que não respondeu a minha mensagem?
— Eu não conhecia o número, aliás não conheço você! — respondi.
Ele se vira, tira as mãos do bolso, me empurra levemente até encostar no carro, com uma mão na minha cintura e outra em cima do carro diz:
— Você também não falou seu nome naquela noite! - disse me olhando sério com uma sobrancelha erguida.