Capítulo 07
Fernanda
Depois que a Ângela foi embora, eu refleti muito, chorei muito, mas saber que o Felipe terá um filho com outra é algo que não vou conseguir passar por cima.
Fico pensando, analisando cada detalhe para tentar saber quando foi que ele me traiu. Realmente eu sou muito masoquista. Que diferença faz? Ele traiu e pronto.
Chego a conclusão de que só pode ter sido no período em que estive no hospital ou nos dias em que fiquei me recuperando no apartamento da Ângela. Era isso, enquanto eu me recuperava de ter quase morrido e ter perdido o nosso filho, ele estava na farra, sabe-se lá com quantas mulheres.
Eu vivia o luto de ter perdido alguém que carreguei por tão pouco tempo dentro de mim, porque sim, foi um curto espaço de tempo e eu nem pude comemorar. E enquanto isso, ele se divertia com outras, pelo fato de ser um canalha que não consegue manter o pau sem funcionar.
Felipe passou o dia todo fora de casa, anoiteceu e nada dele voltar. Gabriel já dormiu e eu não comi nada, não tenho fome. Então fui para o quarto deitar, mas antes tomei um analgésico, preciso de um banho, e nem para isso tenho ânimo. Essa Susana esperou meses após ele sair da cadeia para contar sobre o filho, será que ele decidiu fazer o casamento antes ou depois dela contar?
Muitos casais convivem com filhos de outros relacionamentos e eu não teria problema nenhum em conviver e inclusive, amar um filho dele que tivesse nascido antes de nos conhecermos, mas não é esta a situação.
Que tipo de amor é esse que ele diz sentir por mim? Aliás que amor é esse que temos que é todo errado, todo avesso, louco e desenfreado?
Minha cabeça está parecendo aqueles emaranhados de fios de energia elétrica expostos no alto dos postes das vielas da comunidade, tudo muito próximo e misturado, uma bagunça total.
Fico mexendo no celular sem prestar atenção em nada, enquanto na televisão passa um série qualquer que também não reparei qual é, e de tempo em tempo limpo uma lágrima teimosa que insiste em cair do meu olho. E então, um tempo depois, ele entra pela porta.
— Será que agora a gente pode conversar? — perguntou com voz calma e seu olhar era indecifrável.
— Nós não temos mais nada para conversar! — falei.
— Que não tem nada pra conversar o quê, caralh*? A gente tem, e muito. Nós acabamos de casar, não podemos ficar assim! — Ele fala e senta na cama.
— Assim como casamos, podemos separar! — falei afrontosa.
— É fácil assim pra você? Eu te amo, não quero e não vou me separar de você!
— Assim como foi fácil pra você engravidar outra!
Felipe bufa, tira o boné, joga na cama e passa a mão nos cabelos.
— Fernanda, eu sei que é complicado pra você, mas eu quero que você entenda que não muda nada o que eu sinto por você, que não vai mudar a nossa vida, nem a do Gabriel.
— Como não vai mudar? Você está louco? Muda tudo, é um filho um Felipe, um filho! A única coisa que não muda é o fato do quanto você é cafajeste! — Eu estava me exaltando.
— Eu sei que você tá muito put*, eu também ficaria, óbvio! Mas não é o que você tá pensando, não como você acha que foi!
— O que você está falando, Felipe? Pelo jeito só me falta a tinta branca e o nariz vermelho, porque eu sou uma completa palhaça mesmo, só pode!
— Como é que você consegue falar tanta coisa absurda sem me deixar explicar nada, caralh*! – Ele bufava.
— Você tem obrigações com essa criança e por favor, cumpra este papel exatamente como faz com o Gabriel!
— E você tem alguma dúvida de que não seria assim? É lógico que não vai faltar nada, tá achando que sou moleque?
Olho nos olhos dele por alguns segundos.
— Sinceramente? Muitas atitudes suas são de moleque mesmo! Eu tô falando de amor, Felipe. Amor, carinho, proteção, tudo que um pai deve dar aos filhos.
— E eu vou dar tudo isso! — Ele falou rapidamente.
— Só para essa criança ou pra mãe dela também? — joguei essa.
— Tá maluca Fernanda? Caralh*! Que drama todo é esse? Que parte do “eu te amo” você ainda não entendeu? É uma criança minha, vou cumprir com todas as minhas obrigações de pai e é isso, a Susana não vai atrapalhar em nada a nossa vida, você vai ver.
— Tanto já está atrapalhando que nós estamos aqui falando dela e nada do que você diga vai mudar o fato de ter me traído com ela.
— Porr*, eu não te traí! — Felipe levantou da cama e saiu andando pelo quarto com muita raiva.
— Quando foi isso, Felipe? Quando foi que você voltou a comer essa vagabund*? Se é que algum dia deixou realmente, né? Era só a Jéssica que te visitava na cadeia mesmo? Começo a ter dúvidas. — Eu estava sem freio, falava sem parar.
— Não é nada disso, Fernanda! Você tá doidona? Que foi? Achou pó nas minhas coisas e cheirou uma carreira? Só pode pra tá falando tanta bobagem! Desde que nós voltamos, eu te respeito pra caralh*! Aliás, sempre respeitei, quando fiquei com outras mulheres, a gente não tava junto, isso você não pode duvidar.
— Você segue comendo quantas quiser, mas nem amigos eu posso ter! Você é um doente, sabia?
— Eu não te traí! Meu Deus, o que eu faço pra você acreditar? Você tava no hospital e depois não quis voltar pra casa, era um momento em que a gente devia ficar junto, dar apoio um ao outro, de luto pelo nosso filho, mas você tava friona comigo e mesmo assim nem se quer pensei em ficar com outra pessoa.
Ao ouvir sobre o meu bebê, comecei a chorar.
— Como você pode ser tão cínico? Anda, fala logo! De quanto tempo é essa gravidez? – Ele suspira e passa a mão na nuca, mas permanece calado. — Fala, Felipe! Quando é que essa criança nasce? Eu tenho o direito de saber!
Ele me encara por alguns segundos e eu já sinto meus olhos arderem.
— Já nasceu! Tem 03 anos!