capítulo 4
ANTHONY
Eu poderia dizer que Rebeca Goldner era uma vadia de primeira classe, mas estaria a classificando mal, pois ela não merecia estar em primeiro.
Sabia que existiam questões maiores que a ambição dela em relação a sua irmã mais nova, mas nada justificava a crueldade da idiota. Ellen era a pessoa mais doce e calma que conhecia. Às vezes me preocupava tanto com ela que poderia dizer que estava ficando louco.
Desde que vi seu sorriso doce e delicado por algo bobo como ter conseguido fazer uma enorme bolha de sabão, não parava de admirar a sua beleza e doçura. Quando criança, ela era uma tagarela. Contava fatos estranhos sobre diversas coisas e isso irritava Rebeca, mas a mim não.
Adorava apreciar a sua presença enquanto lia um livro. Eu poderia dizer que era a coisa mais surpreendente que já pude presenciar, pois a menina reagia a cada palavra que estava escrita no papel.
Ellen e toda a sua inocência me salvaram da completa escuridão que era a minha vida desde que meus pais morreram. Apesar de Dominic ter me ajudado após essa tragédia, eu estava sozinho e com grandes responsabilidades das quais eu não sabia que conseguira.
Se não bastasse ter perdido a minha mãe, ainda tive que me tornar essa pessoa amarga, solitária, sem escrúpulos, e que não temia a morte.
A única coisa que me salvou foi ter Ellen ao meu lado. Ela me fazia esquecer de tudo, dos problemas e da parte sombria da minha vida, deixando as coisas mais leves e calmas.
Eu realmente fiquei chateado por vê-la no meio de tanta gente estranha, esfregando-se em seu pequeno corpo no meio daquela balada.
Não era seu estilo ir a esses lugares, e sabia que a causadora da minha dor de cabeça era Eva, sua amiga maluca. No início, achei que Eva era uma solução viável a mim, no entanto, cada dia mais eu percebia o meu erro.
Quando Meredith me ligou mais cedo, achei que tudo estava virando de ponta a cabeça, bagunçando tudo ao meu redor.
Eu não poderia ficar vinte e quatro horas atrás da menina, mas eu tinha pessoas que me ajudavam a mantê-la segura e sempre sob o meu domínio.
A governanta não me deu detalhes sobre o que havia ocorrido, e no momento eu estava mais preocupado em acha-la do que curioso.
Sabia que aparecer duas vezes do nada, chamaria a atenção de Ellen. Ela era muito inteligente e isso era uma das coisas que me atraía nela.
Quando a vi finalmente virando a esquina e vindo até mim, senti como se tivesse conseguido o presente que tanto esperava. Dava para ver claramente que a noite não tinha sido muito aproveitada e, se bem conhecia a menina, poderia apostar que não tinha conseguido dormir.
Não sabia como alguém poderia odiar alguém como ela. Não importava o quanto me afundava na merda que minha família me deixou, Ellen me salvava de mim mesmo.
Leva-la para a minha casa era um sonho realizado. Eu a teria por muito mais tempo, saberia como estava e onde, já que ela não era como as outras adolescentes.
Assim que passamos pelo elevador que dava para a minha grande sala de estar, senti-me relaxado finalmente.
Mesmo odiando o fato de que a vadia da minha prima havia magoado e expulsado a minha bela de casa, eu teria a oportunidade de conseguir o que sempre quis: tê-la só para mim, morando debaixo do mesmo teto que o meu.
— Anthy, não precisa fazer isso, sei que Rebeca não ficará...
— Ela não ficará feliz. – Falei a interrompendo. – Mas não porque você está comigo, Ellen. Ela ficará puta porque eu terei o prazer de dizer tudo o que penso sobre ela e o que farei a seguir.
Sempre soube o quanto ela odiava a irmã e o que já tinha feito quando Ellen era criança. Quando eu estava na faculdade e não podia protege-la, Becca simplesmente infernizava a menina e isso sempre me gerou muita raiva.
Na época eu ainda não tinha essa paixão louca, mas amava Ellen como minha prima. Ela era a pessoa que me fazia companhia nas horas ruins, quando eu não precisava dizer o que se passava para que ela soubesse que havia algo errado.
— Ela é sua prima, não desejo que briguem por minha causa. – Falou se aproximando de mim, parecendo preocupada.
Isso era típico dela. Mesmo sendo machucada e humilhada, Ellen não conseguia desejar o mal para o seu próximo, mesmo que esse fosse uma cobra venenosa que a escorraçou da sua própria casa.
Tocar em sua pele era como uma festa de emoções. Sentia que poderia destruí-la com apenas um toque, mas não era isso que eu queria. Meu desejo era transforma-la em uma mulher forte, e quem sabe, me amar mesmo depois de descobrir quem realmente eu era.
Tinha vezes que eu perdia a cabeça. Ela era frágil e não precisava de muito para derrubar as suas paredes, a deixando vulnerável a mim. Isso seria útil no futuro. Esperava que não demorasse muito, pois minha resistência diminuía a cada vez que eu a olhava nos olhos e via o seu desejo por mim.
— Não se preocupe. Cuidarei de você. Farei tudo o que for preciso para lhe dar o que merece e nunca deixarei que ninguém a machuque novamente. – Mas não posso garantir que eu não vá fazer isso. – Ellen, você está cansada, vejo que não dormiu a noite. Ficará no quarto de hóspedes e pode usar o que precisar aqui dentro.
— Anthony, não quero incomoda-lo. – Falou insistindo.
Eu não era conhecido por ter muita paciência, no entanto, com Ellen era diferente. Parecia que o meu humor sempre variava entre carinho e desejo, e ficava irritado às vezes, como quando ela se colocou em perigo, mas geralmente não me irritava quando ela era doce como estava sendo agora.
Não existia uma maneira de explicar o quanto eu a desejava aqui, sob o meu teto, sem assustá-la ou revelar os meus sentimentos. Antes de qualquer coisa, a garota tinha que crescer e se tornar uma mulher, a mulher que me amaria mesmo eu sendo o pior dos homens.
— Já está decidido, voltarei o mais rápido possível. – Disse ao me afastar, indo de volta para o elevador. – Durma. Não quero que se preocupe, cuidarei de tudo.
Eu era bom em dar ordens e Ellen era uma boa submissa. Apesar de que gosto mais quando as mulheres me desafiam. Saber que eu tinha poder sobre essa menina me agradava muito.
Sabia exatamente o que faria agora. Ellen não me diria o que a cobra da minha prima falou, tanto para não me chatear quanto pelo fato de não conseguir repetir as crueldades que sei que ela disse.
Eu estava sem paciência em relação a isso. Rebeca havia me causado uma grande dor de cabeça, apesar disso também me beneficiar. Ela não tinha o direito de expulsar a irmã da casa onde cresceram, pois Dominic havia deixado tudo o que tinha para as duas.
Resolvi ir de moto até a mansão, onde eu sabia que ela estaria, pois a dondoca adorava dormir até mais tarde. Eu poderia esperar até me acalmar, mas isso levaria muito tempo. Quando algo acontecia com a minha bela, as coisas mudavam de tom.
Na verdade, eu queria usar a minha raiva e determinação. Assim Rebeca saberia que não deve se aproximar novamente da irmã.
Quando cheguei à imensa propriedade, tudo parecia normal. Os empregados cuidavam do lugar com muito cuidado e ela exigia isso de todos.
Não precisei tocar a companhia. Normalmente eu era formal, porém, Rebeca não merecia mais tanta atenção. Eu seria direto e claro, não precisava ficar de papo com a vadia.
— Anthony, o que faz aqui tão cedo, caiu da cama? – Questionou ela com um sorriso largo que só me irritava ainda mais.
O vestido verde colado ao corpo valorizava as suas curvas. O cabelo bem feito, solto, e os lábios falsos pintados de vermelho podiam enganar muitas pessoas, mas a mim não. Ela era superficial, cheia de si e uma esnobe. Odiava mulheres assim, ainda mais quando agiam como se nada do que fizeram era errado ou odiável.
— Serei direto e claro. – Disse me aproximando ainda mais dela, com cara de poucos amigos. – Sei o que fez com Ellen e posso garantir que se arrependerá de tê-la expulsado dessa casa.
— Minha casa. – Falou mudando de tom. – É interessante vir aqui tão cedo para questionar a minha decisão em relação aquele rato que roubou tudo o que era bom e transformou essa casa em um buraco de amargura.
Ela não se importava com as palavras que saíam da sua boca. Geralmente Rebeca era apenas uma idiota que eu ignorava, mas hoje não.
Não pensei muito antes de avançar sobre ela, a colocando contra a parede sem o mínimo de delicadeza, apertando a sua garganta para que soubesse quem estava no comando. Eu não era delicado, e não seria com ela.
— Se ousar falar dessa forma em relação a ela novamente, juro que perderá mais que a metade que é de direito dela. – Falei sentindo o sangue ferver em minhas veias. – Acha que tenho pena de você, só porque a sua mãe se matou depois que descobriu que foi traída? – Eu não queria realmente machuca-la, mesmo sabendo que merecia. Por sorte eu não era o tipo de homem que batia em mulheres, isso seria manchar a alma da minha mãe, mas queria assusta-la. – Poderia ter isso de mim antes, mas depois do que fez com ela, não terá o Anthony bonzinho novamente e espero que nunca mais ouse dizer qualquer coisa que a magoe novamente, eu juro que acabo com você.
— Por que sempre a protege como se fosse o pai dela? – Perguntou praticamente cuspindo as palavras.
Tive que rir sarcasticamente da sua pergunta. Mesmo estando contra a parede a mulher ainda me provocava.
— Saiba, Becca, que eu tomarei conta de tudo o que for dela e você terá que ceder a parte que é de direito de Ellen. Caso contrário, perderá tudo, e sabe que sempre consigo o que quero. – Falei afastando-me dela.
— Você não me engana. – Falou desejando me provocar ainda mais. – Sei que é um maluco e que está se aproveitando da situação. Deveria me agradecer.
Ser a filha de um mafioso deu a Rebeca certa coragem. Ao contrário de Ellen, Becca sabia e usava isso para se promover. Ajudar pessoas como eu, lhe dava regalias, e nem sempre era com a sua agência de marketing.
— Agradecer? – Disse ao me aproximar novamente. – Deseja me testar, Rebeca? Pensa que é uma boa ideia?
— Vai me bater?
— Não, você não vai me provocar dessa forma. Nunca encostei um dedo em uma mulher e não será a primeira.
Afastei-me dela ou quebraria essa promessa que fiz a mim mesmo.
— O que fará quando ela descobrir que você não é o príncipe que ela pensa que é?
O vaso que ficava no centro da mesa na sala de estar era muito bonito e o cristal reluzia a luz do sol que entrava pela janela. Quando o peguei e o quebrei não muito longe de onde ela estava, os estilhaços se espalharam pelo chão.
— Posso quebrar você, assim como esse cristal bonito, então acho melhor você continuar com a sua língua dentro da boca ou vai acabar como ele.
Deixei a mulher para trás, pois não queria continuar com esse jogo de palavras idiota. Colocaria uma barreira entre nós e Rebeca ou realmente teria que a eliminar.
Ela sabia sobre o meusegredo e se contasse a Ellen antes que eu provasse o meu real valor, poderiacolocar tudo a perder.