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Separação Danilo

Danilo teve que se acostumar a viver no abrigo, tinha poucos amigos, ia a escola e cuidava da irmã. Na escola não era muito querido pelos colegas, sua mania de responder todas as perguntas, sua inteligência causava inveja, ele nem mesmo sabia o que isso significava.

— Hoje a professora está demorando... — Não foi nem uma conversa, ele disse para ele mesmo.

— Bom dia crianças!

A classe olhou desconfiada para a moça jovem e alegre. Danilo levantou a mão.

— Onde está a nossa professora?

— Bom, a professora Gabi teve uma consulta hoje, eu ficarei aqui, apenas por hoje... Me chamo Marcela.

A aula correu normalmente, na hora do lanche as crianças saíram da sala para o pátio, mas Danilo ficou na sala.

— Não vai comer menino?

— Vou, mas prefiro comer aqui, lá as crianças ficam implicando comigo...

— Qual seu nome?

— Danilo.

— Está bem Danilo, bom lanche. — Marcela passou a mão nos cabelos do menino e beijou sua cabeça, ele sempre reclamou quando alguém o tocava ou tentava fazer um carinho, mas estranhamente a mão daquela moça não o incomodou, ele sorriu tímido para ela, que saiu da sala para buscar um café.

Depois disso a tarde Danilo chegou no abrigo e foi para o berçário, não encontrou ninguém, seu coração falhou uma batida com ausência da irmã.

— Tia Ju, onde está minha irmã?

— Oi Danilo, ela está no parque, tem um casal que quer conhecê-los, será bom pra vocês.

— Isso de novo?!

— Danilo não pode querer viver aqui, estou tentando manter vocês juntos.

Danilo foi até o parque e se sentou próximo ao homem que olhava a esposa brincar com o bebê.

— Ah, ela é tão linda e esperta! Que menina encantadora. — Dizia a mulher.

Quando viu o irmão, Megan esticou os braços para ir para o colo dele.

— Você a conhece moleque?

Quem perguntou foi o homem, aos ouvidos de Danilo a pergunta pareceu grosseira.

— Sou o irmão dela, somos filhos da mesma mãe e mesmo pai.

— Ah, você é o irmão... Como se chama?

— Danilo.

O homem tentou tocar seu cabelo, mas ele se afastou.

— Desculpa garoto, não queria assusta-lo.

— E então como vai o casal e as crianças? — Perguntou Juliana.

— Está tudo bem, podemos conversar em particular? — Respondeu o homem.

Eles se levantaram ainda com Megan nos braços, Danilo esperou um pouco e os seguiu, ficou do lado de fora do escritório ouvindo a conversa.

— Digam, algum problema?

— A menina é maravilhosa, linda, meiga e risonha, mas o menino...

— Eu entendo. — Disse Juliana.

— Ah, meu amor eu gostei da menina, não há possibilidade de ficarmos apenas com ela?

— Olha senhores eu não queria separar os irmãos, eles tiveram uma vida difícil, mas vou analisar o requerimento de vocês e entro em contato.

Danilo ficou perturbado com a informação, a irmã ser adotada sem ele era inaceitável. Aquela foi a primeira visita do casal, sabia que mais algumas aconteceriam antes que tudo fosse dado como certo.

Danilo teve uma ideia que não gostou, mas não viu outra solução.

Danilo pegou alguns remédios na enfermaria escondido, guardou entre suas coisas. Passou uma semana, era um sábado, ele viu o casal chegando e foi até o escritório de Juliana.

— Tia Ju, posso entrar?

— Claro Danilo, do que precisa?

— Vi que aquele casal do outro dia acabou de chegar, eles vieram para uma visita?

Juliana não queria enganar o menino, tinha em mente que logo ele e a irmã se separariam.

— Danilo eles vão levá-la para um passeio, se tudo correr bem nessa fase eles ficarão com ela, mas é apenas ela.

Danilo abaixou a cabeça... — Tudo bem eu entendo. Posso vê-la antes deles sairem?

— Claro, sabe que tem passe livre com ela.

Danilo foi até o berçário e levou um copo com água, ele pingou um pouco de laxante na água e deu para a irmã beber.

— Me perdoe Meg, mas não posso te perder.

Depois ele correu para o dormitório e viu o casal passar pela porta com a irmã nos braços, se passou 2 horas quando eles voltaram, ele correu para a porta do berçário e ouviu um pouco da conversa.

— Mas como ela ficou assim? A menina saiu daqui bem.

— Me desculpa doutora, paramos em um parque, ela comeu um pouco de sorvete, acho que não lhe caiu bem.

Danilo se sentiu culpado e vitorioso, tinha que provar que o casal não era confiável.

Toda vez que eles chegavam Danilo sentia um frio na barriga, sabia o que tinha que fazer, mas odiava e chorava todas as vezes, começou a pensar nos efeitos a longo prazo. Era a 4 visita do casal, Danilo foi até o berçário e deu o remédio a Megan, numa quantidade um pouco maior.

— Meg, eu prometo é a última vez, seja forte.

O casal nunca se encontrava com ele, Danilo se trancava no quarto dos meninos, só saía depois que o casal tivesse ido embora.

Passou quase o dia todo olhando pela janela, dessa vez o casal estava demorando. Quando finalmente viu o carro deles estacionar, sentiu um alívio, que durou pouco, apenas o homem estava lá, chamou a doutora Juliana e falou com ela no pátio mesmo, ela gesticulava como quem dá uma bronca no homem, ela anotou algo no celular, o homem voltou para o carro e foi embora. Mas e Megan? Onde ela está? Danilo desceu correndo as escadas e parou Juliana antes que entrasse.

— Tia Ju, cadê a minha irmã?

— Ai Danilo, sua irmã está no hospital, ela passou tão mal que eles não sabiam o que fazer. O médico resolveu interná-la...

Danilo correu para o dormitório dos meninos e se sentou no chão atrás da porta, Juliana foi atrás dele.

— Danilo, você pode vir comigo, vou deixar você o tempo que precisar com sua irmã.

— Você não percebeu? — Danilo estava desesperado, seu plano tinha que funcionar.

— Perceber o que?

— Eles devem fazer mal a ela, Meg só passa mal depois que sai com eles, não são boas pessoas... — Danilo disse entre lágrimas, era a culpa o corroendo, mas Juliana pensou que era preocupação ou medo de perder a irmã.

— Danilo isso é muito sério, mas tem razão quando eles não vêm ela fica bem. Acho que acaba de salvar sua irmã.

Juliana deu um beijo na testa dele, que imediatamente passou a mão, se sentiu incomodado. Ela sorriu, sabia que ele não gostava de ser tocado, mas não pensou nisso naquele momento.

Ela tratou de abrir um requerimento impedindo o casal de adotar Megan ou qualquer criança. Danilo se sentiu tranquilo, quando a irmã voltou pra casa depois de 5 dias internada.

— Meg, vou cuidar de você, me perdoe! Nunca mais vou inventar algo assim, serei um bom menino para que a próxima família leve nós dois.

Passaram-se 6 meses sem nenhuma visita, até que Danilo viu um casal chegar, ele estava no quarto olhando pela janela, fazia muito isso, não tinha muitos amigos para brincar. Ele seguiu Juliana que acompanhava o casal, pararam no berçário, a mulher era jovem, com os cabelos pretos ondulados, tinha uma pele clara, mas um pouco bronzeada do sol, uma aparência bem diferente dos últimos que vieram ver Megan, o homem também era jovem e estava todo de branco, pensou que seria médico.

Danilo parou na porta e ficou ouvindo a conversa atrás da porta.

— Essa é a Megan, ela tem dois anos, uma menina encantadora... — Disse Juliana.

— Olha Rafa, ela está sorrindo pra você.

— Marcelinha não chore. Desculpa doutora ela é uma manteiga derretida.

— Tudo bem, é assim mesmo... Bom tenho outra menina da mesma idade para apresentar a vocês.

— Não quero... — Marcela interrompeu. — Quero está lindinha que está no meu colo, se não puder ser ela, não quero nenhuma outra criança.

— Meu coração fica muito feliz, mas tenho que avisar, ela tem um irmão, ele tem 1o anos, é arredio e introspectivo, briga muito na escola, mas eu não gostaria de separá-los, ele é inteligente e maduro, acho que falta apenas um pouco de carinho a ele.

— Quero conhecê-lo! — Marcela falava olhando para Megan, realmente se apaixonou pela menina.

— Senhora, se por acaso quiser adotar apenas a menina não tem problema.

Marcela passou Megan para o colo de Rafael e ficou de frente para Juliana.

— Doutora Juliana, foi uma longa jornada até esse momento, me sinto conectada com a menina, acho triste separar dois irmãos, então sim! quero conhecer o menino.

Danilo ficou feliz, essa era a oportunidade que ele teria de ser adotado com a irmã, seria a garantia de não se separar dela.

Ele arrumou os cabelos com a mão, ajeitou a camiseta e entrou, Danilo parou junto a eles e Megan esticou os braços para ele.

— Ah... Eu iria preparar tudo, mas já que está aqui, Marcela e Rafael, este é Danilo o irmão da Megan.

Rafael esticou a mão para o menino, ele respirou fundo e tentou sorrir. Marcela se abaixou e ficou da altura dele.

— Onde será que eu já te vi Danilo?

— Acho que na escola, é professora, certo?

— Oh meu Deus, claro! O menino que lancha na sala.

Danilo pensou que suas chances estavam arruinadas, ela já o conhecia, provavelmente dirá ao marido o quão estranho ele é. Marcela o abraçou.

— Eu fiquei pensando em você depois que o conheci, fico feliz por ter te encontrado.

Juliana tentou impedir o abraço, sabia que Danilo não gostava de contato, mas não conseguiu, ficou surpresa quando o menino correspondeu ao abraço e encostou a cabeça no ombro dela.

Danilo gostou do abraço, do cheiro e do toque de Marcela, agradeceu a Deus, seus esforços talvez dessem resultado.

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