A procura de algo
Larissa Fernandez (Dias antes)
Mais um dia inteiro trabalhando nessa empresa de merda! O meu pai, é um egoísta que só pensa nele, e acha que eu sou a galinha de ovos de ouro dele!
Todos os problemas sou eu que resolvo, e mal posso sair de casa, que ele surta! Quando eu era menor, apanhava por qualquer coisa, ele sempre foi muito duro comigo, e não perdoa nenhum erro. Trabalho na empresa dele todos esses anos, e nunca recebi salário, então depois de um tempo comecei a desviar dinheiro, para a minha conta, e o velho nem percebeu, pois, com aquela empresa quase falida, ele nem sabe que ainda tem lucros lá.
— Pai! Eu queria sair essa noite! Será que o senhor não pode abrir uma exceção? — pergunto pela milésima vez, pois ele não permite que eu vá para lugar nenhum, e já fugi muitas vezes de madrugada, mas quando ele descobria, eu era castigada, trancada num quarto escuro por dois dias, sem nada dentro dele, apenas um banheiro, e eu dormia no chão.
— Nem pensar! Amanhã vem alguém aqui bem cedo, e quero que fique bem bonita e apresentável, pois ele pretende se casar com você! — ele diz como se não fosse nada, e eu quase enfartei com a notícia.
Encostei na beira da mesa apoiando as mãos, e com a respiração descompassada, tomei coragem para questionar:
— Como é? Como assim, casar? Eu nem conheço o cara, e nem muito menos, quero me casar!
— Eu não te perguntei nada! Ele está disposto a quitar a minha dívida com a máfia, e ele tem dinheiro, terá uma vida confortável! Não terá tanto luxo, mas...
— Eu não vou me casar! E nem quero conhecer esse cara! — o cortei reclamando como eu pude, mas o homem ficou muito bravo.
— Cale-se! Eu que dou as ordens aqui! E se reclamar, vai amanhecer no quarto escuro! Não criei filha nenhuma para ser questionado! — ele diz, e eu saio da sua presença com muita raiva, preciso dar um jeito nisso! Esse velho já chegou longe de mais, e não vou aceitar que ele se meta na minha vida! — esteja pronta, Larissa! — ainda o ouvi gritar.
O meu pai se chama Isaque, tem cinquenta e quatro anos, é moreno com olhos azuis, mas é um homem com caráter péssimo, tem uma empresa fantasma, e mexe com lavagem de dinheiro, me obrigando a participar das suas falcatruas.
A minha mãe, morreu quando eu nasci, e o meu pai, nunca quis me contar nada sobre ela, a única coisa que eu sei, é que ela se chamava Júlia, e morava na Argentina.
Fui para o meu quarto, e me tranquei lá. Eu precisava respirar um ar limpo, e não carregado, como o meu pai o deixava.
Comecei a andar de um lado para outro, o meu quarto é pequeno, mas eu sempre arrumo uma forma de andar para pensar. A minha cama ficou em segundo plano essa noite, pois quase amanheci pensando no que eu faria.
Quando o sol clareou, eu fui para o escritório que ficava em casa. Eu precisava encontrar alguma forma de mudar a situação a meu favor, e se eu tivesse provas dos seus atos de lavagem de dinheiro, talvez eu pudesse chantagear ele com isso.
Comecei a procurar feito uma louca, por recibos, ou documentos que pudessem me ajudar, mas encontrei uma pasta preta, que eu nunca tinha observado antes, e fui logo a abrindo.
— “Júlia Lopez!“— falei em voz alta quando li, e nem vi que a dona Ana tinha entrado.
— Bonito o nome da sua mãe, né? — Ana falou, e eu olhei na mesma hora para ela, pois eu nem sabia que o sobrenome dela era esse, o nome da minha mãe parecia sagrado nesta casa.
— Você conheceu ela? — perguntei com receio.
— Sim! Mas, por pouco tempo! Mas, eu já vou... preciso fazer o café da manhã caprichado conforme o seu pai ordenou! E acho bom você se arrumar, pois, ele nunca está de bom humor! — diz a Ana, me deixando no escritório com a pasta preta ainda nas mãos.
Bom... agora eu já sabia que se tratava da minha mãe, então escondi a pasta por dentro da roupa, e fui de fininho para o meu quarto, para abrir a pasta lá, com mais segurança.
Ao abrir a pasta, a princípio eu não entendi muito bem, pois eram inúmeros comprovantes de depósitos da conta do meu pai, para Júlia Lopez, mas como? Se ela morreu a tanto tempo, e de que seria isto?
Folheei tudo o que tinha ali, e as datas não estavam batendo e pelo que constava, alguém estaria recebendo algo através da conta da minha falecida mãe, até mês passado. Então, no fim dos recibos, tinha uma foto muito antiga, de dois bebês, muito pequenos, um do lado do outro, e ambos com mantas rosas, os cobrindo, então provavelmente seriam meninas.
Eu não entendi direito, será que o meu pai tinha uma outra filha? E a mãe? Mas tinha o mesmo nome da minha mãe! Seria possível ela ser uma irmã? Fiquei perdida em pensamentos, quando o meu pai entrou no quarto enfurecido.
— Que parte você não entendeu, do que eu te disse, que não está pronta para receber o seu noivo? — perguntou ele, mas vi o seu rosto ir ficando branco ao olhar para a pasta preta, e a foto das bebês nas minhas mãos.
— Aonde, você encontrou isso? E quem te autorizou a mexer nas minhas coisas? — perguntou, colocando as mãos na cintura, com aquele seu jeito prepotente.
— Ela é minha irmã, não é? — perguntei com medo de uma possível reação, e me sentindo como se estivesse atirando no escuro.
— Não sei do que você está falando! — falou o velho disfarçando.
— Está tudo bem claro aqui! A minha mãe esteve viva esse tempo todo, e você nunca me disse? Onde estão? — insisti.
— Isso não importa! Para mim, estão mortas! — diz pegando com raiva todas as coisas das minhas mãos. — você tem dez minutos para se arrumar e descer! E não me faça mudar de ideia! Pois, você não gostaria nada de saber sobre o que seria! — diz ele, saindo do meu quarto, e batendo a porta com força, deixando o meu coração acelerado.
Agora eu tenho algo nas mãos! Só preciso investigar e ver como poderei usar para o meu benefício!