Capítulo 6
Maldita seja.
“Você não precisa gritar com seu pai, querido”, diz a mãe, irritada.
— Me perdoe pai, eu não queria gritar com você, mas toda vez que alguém me pergunta isso eu perco a cabeça porque pensei que ele era o amor da minha vida — só de tocar nesse assunto me faz tremer.
E não demora muito para que as lágrimas venham à tona, fazendo-as escorrer.
— Eu não queria que o dia terminasse assim, não depois de hoje ter conhecido duas pessoas incríveis — digo, lembrando de Manuel e Matteo.
Uma coisa que você deve saber sobre mim é que quando começo a chorar é muito difícil parar.
"Filha, não fique assim, seu pai não falou nada de ruim", diz a mãe, me abraçando de lado. "Você não está bem, hoje você vai dormir aqui, eu vou peça à Soraia que prepare um chá de camomila para você enquanto sobe para o seu quarto”, diz ela, sem me dar escapatória.
— Ok — concordo — Boa noite.
Levanto saindo da sala de jantar, subo as escadas rapidamente, vou até a segunda porta do lado direito, o quarto continua o mesmo de quando saí de casa, quando me casei, vou até a cama e deito abaixo. Sem acender a luz, depois de tomar o chá que minha mãe trouxe, vou dormir logo.
Desde que conheci Kala não consigo tirá-la da cabeça, sinto que ela está passando por momentos muito delicados e isso acaba despertando meu lado protetor.
A semana passou rápido e logo Matteo completa três meses, em breve fará três meses desde a morte de Eva, as vezes parece irreal que ela tenha morrido, parece até pecado pensar isso, minha mãe quer comemorar mas ela não 't. Ainda não foi decidido.
"Eu não sei, mãe", eu digo com incerteza.
— Nossa Mauricio, não comemoramos os dois primeiros meses dele como a Eva queria — ele toca seu nome sabendo que vai me atingir forte.
—Está tudo bem mãe, você ganhou, digo suspirando.
— Ótimo, então vou organizar tudo para a festa, vai ser fim de semana, você pode convidar quem quiser, ele diz antes de praticamente sair correndo da minha casa.
Não tenho dúvidas que ela vai convidar meio mundo para essa festa, minha mãe é um pouco exagerada, ela sempre foi festeira, foi ela quem organizou e organiza todas as festas.
O choro de Matteo na babá eletrônica me acorda dos meus pensamentos, e subo as escadas até o quarto dele, encontrando-o corado em sua cama com uma cerca branca.
— Olá filho, eu o pego sacudindo-o para impedi-lo de chorar — O que você tem? É fome? - ele perguntou saindo do quarto.
Desço novamente as escadas indo para a cozinha, abro o armário tirando a mamadeira dele e o leite em pó especial, próprio para recém-nascido que nunca amamentou, substitui o leite materno, dizem que tem o mesmo sabor, o preparo no microondas para esquentar um pouco.
O apito do micro-ondas avisa que está pronto, testo para ver se não está muito quente, entro na sala, sento no sofá, coloco a garrafa na boca dele e observo cada detalhe de suas feições e corpo, ele é muito parecido comigo, só que ele tem a mesma mancha nas costas que Eva tinha.