Capítulo 7 - Humilhada e expulsa
Kira
Eu ainda não acredito na vergonha que ele me fez passar ao me apresentar para os membros da alcateia. Mesmo que eu não pudesse enxergá-los, eu percebia a ironia em suas falas pela minha condição. Eu era motivo de chacota aos seus olhos. Isso me fez perceber que jamais iriam aceitar que o alfa possuísse uma companheira cega.
Quando voltei, soube que o alfa havia sido rude com meu filho. Cheguei a questioná-lo, mas o homem me respondeu com um simples olhar frio, demonstrando que ele não me devia satisfações. Dias se passaram, e eu pude respirar em paz quando o monstro viajou com alguns dos seus lobos. O que eu não imaginava era que na alcateia possuía outra pessoa monstruosa, senão pior do que o alfa Tyson. Sua mãe Elizabeth.
Eu estava preparando o café da manhã de Logan, quando ela apareceu. Deixei a jarra de leite em cima da bancada e me afastei.
- Eu ainda não entendo como meu filho teve a coragem de trazê-la para minha casa. Uma cega, sem utilidade nenhuma. Temos que ser delicados e atenciosos com você, pois se houver uma pedra no seu caminho será fatal. Como suportar viver com alguém assim? Ela suspirou pesado.
Nervosa engoli a seco. Eu estava mexendo as mãos em movimentos circulares. Era estranho estar em uma casa que eu não tinha intimidade, conversando com aquela intitulada como minha sogra. Aparentemente ela me detestava e eu também não tinha afeto por ela.
— Eu não tenho tempo para perder, então vamos ao que interessa. Quanto você quer para sumir da vida do meu filho?
— Como?
— É isso que você ouviu. Eu não a quero como companheira do alfa. Estou lhe propondo algo irrecusável. Uma grande quantia em dinheiro em troca do seu sumiço.
Balancei a cabeça anestesiada com a proposta.
— E se eu não quiser?
Eu não sei o que me deu. A minha loba estava me empurrando para o abismo. Me incentivava a todo instante a encarar aquela mulher de frente. Era inadmissível ficar longe do seu companheiro, e eu concordei com seus argumentos.
— Se não quiser, tenha certeza que eu farei os seus dias tortuosos, tão doloridos que se arrependerá de não ter aceitado a proposta.
Um barulho estridente de vidro quebrando ecoou na cozinha. O vento gélido entrou pela janela. Automaticamente abracei o meu corpo quando senti um calafrio percorrer por ele.
— O que foi isso?
— Isso fui eu quebrando a jarra de leite, aquela você iria levar para o seu filho. Eu senti algo sendo arremessado ao meu corpo. — Aí está o seu pano de chão. Agora eu peço que você se agache e limpe toda essa bagunça.
— Eu não sujei.
— Não interessa cadela! Cale a boca e limpe já esse chão. Aproveite e fique por aí. Na ausência do meu filho você vai ser a minha empregada, fará tudo que eu mandar. Agora, fique de joelhos e limpe tudo.
Sentindo-me humilhada, com o pano em mãos, eu desci até o solo. Tateei o chão até encontrar o leite derramado.
— Aí!
Senti o sangue escorrer sobre os meus dedos, quando encostei aos cacos de vidro. Ignorei a dor e continuei a limpar. Talvez a minha vida tenha sido essa e será até o fim. Ignorar a dor e continuar. Foi assim desde o momento que fiquei cega, criar meu filho também não foi fácil. Então eu prefiro continuar do que murmurar.
Cansada de esfregar o chão, com os dedos cortados, fui obrigada a limpar toda a casa, incluindo as janelas e os ladrilhos. Eu me sentia escrava daquela mulher, e seria assim enquanto Tyson estivesse longe. Meu filho estava brincando com as outras crianças, o que foi um alívio, pois eu não queria que ele me visse nesse estado.
As horas pareciam intermináveis, e depois de limpar toda a parte de cima fui obrigada a lavar as roupas dos guerreiros. O cheiro era insuportável. Esfregava incontáveis vezes para retirar aquele suor de lobo. Meus dedos estavam gritando de dor, mas eu tinha que continuar, pois a víbora estava ao meu lado, supervisionando o meu trabalho.
Eu poderia simplesmente escapar daquele local com meu filho nos braços? Talvez, sim, mas eu tenho certeza que não me deixariam ir muito longe. O que aconteceria a uma loba cega, com o filho nos braços, perdida em uma floresta desconhecida? Com certeza, nada de bom.
A noite chegou e com ela o meu cansaço. Apesar disso, eu ainda tinha que preparar a comida para a casa principal e para os outros guerreiros. Eu me sentia um lixo enquanto aquela mulher usava de palavras grosseiras e depreciativas querendo me humilhar a todo instante.
Assim que consegui alimentar o meu filho, a mulher me chamou para a mesa de jantar. Escutei que nela estava reunida membros da matilha, inclusive alguns que estavam no dia da minha apresentação.
— A senhora deseja mais alguma coisa?
— Eu tenho uma proposta irrecusável para você, menina. Acredito que não queira continuar sendo escrava e humilhada. Por isso queria agir de generosidade, como um último favor ao meu filho.
Ergui as sobrancelhas. Aparentemente nada de bom vinha daquela mulher. Pacientemente, esperei que ela terminasse a sua refeição.
— Eu não sou tão ruim assim como pensa, somente desejo o melhor para minha família. Ela soltou um longo suspiro. — Por isso, e pensando em você, eu lhe dou total liberdade para ir embora de minha alcateia.
Um sorriso envergonhado se fez presente em meus lábios. Pisquei algumas vezes atônica com a notícia. É o que eu mais queria.
— Eu posso ir embora?
— Sim. Mas Logan ficará conosco.
— O quê? Você não pode fazer isso!
Ergui o corpo.
— O meu neto será de grande serventia para o nosso povo, será um grande guerreiro. Já você, é como um copo descartável sem utilidade alguma. Agora, se não quer que o seu filho ouça os seus gritos, sugiro que vá embora sem murmurar.
Percebo corpos pesados segurando os meus braços. Tento me debater, o que é inútil. Grito desesperada suplicando para que me deixem com meu filho. Meu corpo é arremessado para a terra sólida ao lado de fora. Sentindo o solo molhado colado em minha pele, levanto com a sujeira em volta de minha boca.
— Meu filho... O frio gélido permeava a alcateia. Sem orientação, andei alguns passos não sabendo para onde ir.
O que será de mim?