Capítulo 3- Lembranças
Lydia se sentia enfurecida com a arrogância do homem parado na sua frente, ela queria poder jogar mais do que a taça de champagne nele, queria poder dar um tabefe no rosto presunçoso que ele exibia ao olha-la como se ela fosse um pedaço de carne pronto para ser devorado.
O sentimento de Ethan naquele momento em relação a moça mascarada era de surpresa. Ele demorou alguns minutos para recordar da onde reconhecia aquela pinta no pescoço dela.
— Você tem um cheiro delicioso de lavanda — Ethan comenta em um murmuro malicioso.
Lydia pisca confusa para ele ao ouvir aquilo. A jovem agora acha o rapaz esquisito, além de babaca.
— O que você quer, afinal, hein? Comandar uma rede de prostituição de prazeres junto com o meu chefe? — ela o acusa e Ethan arrega-la os olhos.
A forma que Lydia o acusa, faz o rei Ethan recordar da noite que ele vem pagando o preço a cinco anos. A jovem senhorita que vive no castelo desfruindo dos bens e caprichos que o rei atende com afinco, porém que após aquela fatídica noite, o rapaz nunca mais viu a presença da moça. Por ele, estava perfeito aquele acordo arranjado, ela não revelaria o que ocorreu naquele aposento a imprensa e ele não iria importuna-la até que a jovem senhorita se sentisse segura novamente, isso tem levado cinco anos.
— Você não precisava vir até aqui, minha doce dama para tentar dormir comigo mais uma vez. Era só ter me chamado no castelo e eu teria atendido o seu pedido, como todos os outros — Ethan provoca com um sorriso malicioso no rosto.
Para Ethan estava claro que a moça a sua frente era a mesma que agora vivia no palácio. Porém o rei não conseguia entender como ela conseguira encontra-lo ali para fazer aquilo e ainda mais, não entendia o porquê ela teria vindo até ali para provoca-lo e tentar dormir com ele de novo. Será que a jovem senhorita possuía o perdão em seu coração e estava pronta para ser dominada por ele de novo? Não o surpreenderia, todas que já dormiram com ele, sempre queriam repetir o ato, com essa, mesmo tendo sido totalmente errado a forma como ficaram, iria querer fazer do jeito certo alguma hora.
Ethan tenta segurar o braço de Lydia, querendo força-la a se sentar junto com eles. A jovem por sua vez se desvencilha das mãos de Ethan antes mesmo que ele pudesse tentar algo mais bruto, após a noite que ainda assombra os sonhos de Lydia a jovem moça nunca mais deixou ser tocada por ninguém e não iria começar a deixar a ser tocada agora, principalmente por homem louco e bruto como aquele que estava à sua frente.
— Não toque em mim, senhor — ela pede com a voz mais branda. — Se vocês me permitem, irei deixá-los sozinhos agora, preciso cuidar dos outros clientes que estão nessa andar.
— Você tem sim minha permissão para ir embora, cara dama — o rei responde com sarcasmo. — Mas não esqueça do que eu lhe disse... se quisesse dormir novamente comigo, era só ter me esperar no palácio. Esse lugar não é apropriado para damas refinadas como você.
Lydia fica com a testa franzida por de trás da máscara, sem entender absolutamente nada do que o rei estava falando. O seu corpo ficara rígido com a proposta de dormir com ele, só que isso nunca aconteceria em um milhão de anos. A jovem Lydia achava o rei muito grosso e prepotente, não entenderia como alguma mulher gostaria de dormir com o ser como ele.
— Tenha uma boa noite, senhores — ela responde por fim, ignorando a proposta indecente e confusa do rei.
Nem dado cinco minutos após a saída de Lydia da sala do rei, o jovem resolve ir embora as pressas. Ele quer ter certeza que a mulher sensual que estava ali dentro com ele, é a mesma que vive agora no castelo, cheia de caprichos e luxo.
— Vem, caro amigo, vamos voltar para o palácio — o rei ordena enquanto se levanta. — Preciso retirar essa roupa estragada e tenho uma bela jovem esperando para ser dominada por mim.
Seu melhor amigo concorda com um aceno de cabeça e acompanha as pressas do rei para voltar ao palácio. Na mente de Ethan, a mulher que estava no cassino estava fazendo um joguinho com ele, talvez por vingança, talvez para seduzi-lo com poder e segredos, porém não funcionaria nada disso com ele. Ethan era o rei e nunca participaria de esquemas e joguinhos de uma simples plebeia que vive de favor em seu castelo.
Não demora muito para que o Rei chegue ao palácio, ele se desvencilha de forma educada, mas rápida do seu melhor amigo e parte para a ala mais reservada do palácio, onde a jovem dama fica a maior parte do tempo durante o dia, bem longe do caminho do rei. Isso não era um problema até a noite de hoje.
Ao chegar nos aposentos da moça, o rei bate na porta com a sua mão pesada, isso faz com que Jennifer tenha um sobressalto de susto ao ouvir o baque na porta. Ninguém nunca veio a essa hora falar com ela no castelo.
— Sim, pois não? — Jennifer responde sem abrir a porta, receosa com o que está acontecendo.
— Sou eu, o Rei. Abra a porta! Estou impressionado de foi possível você chegar rápido assim de volta aos aposentos após nosso encontro, cara dama — Ethan responde com a voz estridente.
Jennifer se encolhe assustada ao ouvir a voz do rei. Ele nunca a procurou até aquele momento, sua vida no castelo era uma benção, um sonho de princesa. A mulher ia a bailes de galã, festas privativas, conhecera muitos rapazes que dariam bons partidos se algum dia ela precisasse sair do castelo. O acordo entre ela e o rei significava para Jennifer que ela nunca mais precisaria lidar com o jovem Ethan.
Tentando pensar rápido com a situação à sua frente, Jennifer apaga a maioria das luzes de seu quarto, busca em meio as suas gavetas uma escarpe escura e coloca sobre o rosto para que o rei não reconheça que ela não é a mesma mulher a qual ele violentou anos atrás.
— Só um instante meu rei — ela responde com a voz embargada. — Não estou com vestimentas apropriadas para recebe-lo.
A resposta de Jennifer faz com que o rei confirme suas suspeitas sobre ela, já que ele imagina que a jovem moça atrás daquela porta é a mesma do cassino e as roupas que aquela utilizava, eram muito provocativas.
— Não precisa se fazer de tímida agora, minha dama — o rei se pronuncia, colocando a mão na maçaneta para abrir a porta.
Entretanto, Jennifer é mais rápida e passa o trinco para trancar antes que o rei consiga entrar. Aquilo deixa Ethan irritado e ele tenta forçar sua entrada mais uma vez no quarto.
— Eu ordeno que me obedeça. Abra essa porta! — ele diz alterado, aumentando o tom da sua voz.
Jennifer se apoia contra a porta e a destranca, a moça deixa a porta entre aberta e deixa tampado metade do rosto e deixa a cabeça abaixada. Com a escuridão do quarto, seu disfarce é fácil de ser mantido com certa segurança.
— Perdão, meu rei — ela fala com a voz doce e simples, tentando mais uma vez se passar por Lydia na delicadeza e gentileza. — Meu rosto está horrível, estou com alguma doença de pele que não quero que o senhor veja, serei repulsiva para ti meu doce e amado rei. Peço perdão por tal situação, não quero ser uma atroz a ti nessa noite tão bela e majestosa como o senhor.
Ethan encara o rosto na escuridão, os traços finos do nariz e os lábios carnudos que o jovem rei conseguira ver no cassino, são similares com os que ele vê pela sombra projetada das luzes de fora do quarto. O rei sabe que a moça está a mentir sobre a sua aparência e acha aquilo engraçado, pensando que a jovem dama que se encontra agora a sua frente está a fazer um joguinho de desejo e sedução para cima dele. Faz tempo que o rei não se sente entretido assim por uma mulher e permite que o falso pretexto continue, afinal, ele não quer engatilhar o trauma de cinco anos atrás na pobre donzela.
— Entendo, minha querida — ele responde com a voz carregada de sarcasmo, seus olhos se estreitam pelo corpo da jovem que está usando um roupão. — Quando se sentires melhor, irei vê-la novamente.
— Perfeito, meu rei — Jennifer responde, seu coração está palpitando rápido dentro de seu corpo, fazendo com que a moça quase fique sem folego. — Há uma coisa que eu gostaria de pedir permissão para o senhor, meu doce rei.
Um sorriso malicioso surge nos lábios do rei ao ouvir a voz da Jennifer.
— O que você quiser, será seu minha dama — ele diz com a voz sedutora.
— Descobri no dia de hoje que minha mãe está muito doente — Jennifer mente, da sua voz há um tom de choro preso e até mesmo em seus olhos há lagrimas prontas para caírem. — Faz tantos anos que eu a não a vejo. Gostaria de poder sair do castelo com a sua autorização majestade e ir cuidar da minha pobre mãe doente. Sou a única filha que ela tem, meu senhor.
Jennifer reza para qualquer deus que exista para que o rei acredita em suas mentiras e permita que ela saia. Seus olhos continuam mirando o chão, não querendo arriscar que o rei perceba as falsas semelhanças que existem entre ela e Lydia, cinco anos se passaram, porém Jennifer não sabe que o rei quase não se recorda de nada daquela noite e o resto de Lydia no dia seguinte, é um borrão agora para o rei. Somente a pintinha de coração e o cheiro de lavanda, se mantem firme nas memórias do rei.
Ethan ri com a tentativa de Jennifer de escapulir do castelo com mais liberdade. O rei sabe que ela está a mentir, porém, ele acredita que é para que ela possa continuar seus joguinhos de sedução e por causa disso, ele permite que a façanha se mantenha.
— Claro minha senhorita, você deve cuidar de sua mãe, é seu dever como filha leal e dedicada que é. Tens minha permissão para ir visita-la, cuide bem de sua mãe e quando ela melhorar, volte para o castelo imediatamente — Ethan ordena.
— Obrigada, Vossa Majestade — Jennifer agradece aliviada.
Após a saída de Ethan do cassino, Lydia consegue continuar seu trabalho com os outros clientes mais exclusivos sem qualquer incidente. A jovem mulher porém, não consegue retirar da sua cabeça a discussão que teve com o rei, após o seu sangue ter esfriado e a irritação ter passado, Lydia fica chocada ao notar que ela havia brigado com o rei. Nem mesmo em seus tempos de castelo, quando trabalhava no palácio, ela havia conhecido o rei pessoalmente ou sequer falado com ele, quem diria ter brigado com ele.
— Meu Deus! Eu joguei champagne no rei! — Lydia comenta abismada consigo mesma.
— O que você disse querida? — uma colega de Lydia pergunta confusa.
— Nada, querida, nada — Lydia se apressa a responder com uma risada nervosa saindo no final.
Ao chegar em casa após ter finalizado mais um expediente, Lydia é bombardeada por sua mãe com críticas sobre o estado da casa.
— Lydia, olha essa pilha de louça na pia. Seus filhos fizeram tanta bagunça hoje que não consegui fazer nada nessa casa. Você precisa ser mais empenhada nos serviços dessa casa, essas crianças e vocês não servem para nada — Beatriz prolifera suas palavras duras enquanto assiste sua novela, ela nem sequer olha para a Lydia ao chegar. — O dinheiro daquele lugar pecaminoso mal está cobrindo os custos de vocês todos morarem sob o meu teto. Já se faz cinco anos, você precisa fazer algo de útil nessa vida.
— Tá bem, mamãe. Pode deixar — Lydia responde sem discutir, ignorando todas as palavras acidas que sua mão despeja sobre ela.
A muito tempo Lydia não rebate os xingamentos e opressões de sua mãe, não gosta de gerar um ambiente toxico e briguento para os seus filhos. Infelizmente não há outro lugar que ela possa morar e sua mãe é a única pessoa que cuida de seus filhos sem cobrar por isso, Lydia paga praticamente todas as despesas da casa, já que segundo a sua mãe, ter seis pessoas naquela casa é principalmente por culpa de Lydia.
A jovem mãe sobe as escadas com o cansaço sob os seus ombros, mas se prepara para verificar seus filhos que já estão na cama. Sempre que Lydia volta do trabalho, a primeira coisa que a mamãe coruja faz é dar um beijo de boa noite em seus filhos, mesmo que a Beatriz já tenha colocado as crianças na cama, sempre tinha algum filho dela ainda acordado quando ela chegava pronto para ser acolhido e afagado pelos braços calorosos e macios de Lydia. Dessa vez era seu filho mais velho.
— Mamãe! — seu filho grita ao ver Lydia chegar no quarto.
— Shhh! — Lydia faz o som e coloca o dedo na frente da própria boca. — Precisamos falar baixinho agora, meu príncipe.
— Disculpa mamãe — ele diz com a voz sonolenta e agora baixinha.
Ao se sentar na cama de seu filho, Lydia fica tensa ao notar algo no seu filho mais velho.