Capítulo 1 — Um homem para chamar de meu
Luiza
— Filha, hoje preciso que vá comprar tecidos. Haverá um casamento aqui na igreja amanhã e temos que deixar a casa do pai bela para receber sua noiva.
— Tudo bem, Madri. – Gosto quando tem eventos porque consigo me distrair um pouco.
Comi uma torrada com pasta de amendoim com um copo de leite, esse era meu café da manhã favorito. Logo depois depois fui até a loja da dona Flor. Bela é filha da dona Flor e toma conta da loja, nos conhecemos desde criança. Sua mãe sempre vai às missas e a leva junto, mesmo que ela não queira.
— Amanhã será meu aniversário e quero te ver lá. — Libertina, assim era é ela.
— Você sabe que eu não posso, Bela. As freiras não vão deixar deixam e você sabe... Vai ter bebida e muito barulho, eu não gosto dessas coisas. – Aqui na Itália se pode beber a partir dos 16 anos, mas é claro que ninguém é obrigado e por isso, nem todo mundo segue essa regra. Bebidas destiladas a partir de 18, mas é claro que os adolescentes burlam essa regra.
Bela fará 21 anos, mas já conhece muita coisa da vida. Namora com o Lucas e me conta sempre coisas relacionadas a sexo, gosto de escutar porque ninguém além dela conversa sobre isso comigo sendo que, eu tenho planos para meu futuro, pretendo amar alguém ao ponto de querer casar e ter uma família.
— Eu vou querer os mesmos tecidos de sempre. – Pedi e ela me olhou séria, pois não dei continuação a conversa.
Sabe Lu, eu acho a sua vida bem parada, sabia? Não sei como consegue viver presa ali dentro. Você é jovem e merecia curtir mais, há tantas coisas para serem vividas e você é tão... tão privada do mundo, as freiras te fazem de fantoche, se permita mais a você mesma, irá gostar de sentir a liberdade.
Eu não dou muito ouvidos ao que a Bela fala, mas por certa parte ela tem razão. Não é que eu me sinta presa lá, mas eu queria mesmo conhecer mais coisas. Tenho 21 anos e não tenho independência para nada, até minha respiração é monitorada, não sei o porquê elas me mantêm tão presa desta forma, mas uma hora eu descubro o que tanto escondem de mim. Carrego comigo a gargantilha que era da minha mãe, herdei ele assim que ela me deu a luz, assim as freiras dizem e é minha única lembrança dela.
Depois de alguns segundos voltei à realidade.
— Tenho que ir agora, Bela, feliz aniversário! – Lhe dei um abraço e ela retribuiu com um largo sorriso como quem quisesse me convencer do contrário. — Desejo que tenha uma ótima festa. - Disse dando as costas e indo embora.
— Espera Lu, eu posso falar com a minha mãe pra ela falar com a Madri e deixar você vim.
— Não precisa, Bela. Não gosto de barulho e além disso, seus amigos são muito diferentes de mim, com certeza eu não iria me encaixar com vocês. Depois me conta como foi. – Sorri pra ela e fui embora.
Quando cheguei as freiras estavam com o semblante preocupado e a irmã Maria veio até mim com lágrimas nos olhos.
— Graças a Deus que você está bem meu anjo, estávamos sem saber o que fazer.
— Mas o que aconteceu? Eu fui apenas comprar o que a senhora me pediu. – Respondi com tranquilidade porque eu não vi nada estranho lá fora.
— Está havendo um massacre lá fora lá fora e pensamos... Graças a Deus que está bem filha. – Maria segurava meu rosto enquanto me dava um beijo no rosto, ela é bem sentimental e já estava chorando muito.
— Ora, não diga bobagens Maria. – Madri responde e pede para que todas se retirem.
Entreguei as coisas que havia começado para Madri e caminhei até o meu dormitório, talvez a Bela tenha um pouco de razão, eu vivo muito presa aqui dentro.
A noite veio e com ela trouxe a solidão repentina, estranhei o fato da Madri não ter me procurado para falar sobre esse tal ocorrido, me levantei e fui tomar banho, desci para jantar e não encontrei ninguém á mesma mas pude ouvir vozes conversando baixinho e não muito longe.
— Daqui a duas semanas ela fará 21 anos, até quando iremos esconder a verdade dela? – Era a voz inconfundível da irmã Maria.
— Não é o momento ainda Maria, ela não precisa saber de nada. Luiza é uma garota muito inocente e não merece o mundo lá fora, se ela algum dia sair daqui será sem a minha permissão.
— Mas... Madri, ela não pode viver toda sua vida sem saber a verdade sobre sua mãe.
Será que elas escondem muita coisa de mim? Por que estão me tratando como se eu fosse uma bonequinha de porcelana? Só quero ser livre, mas pelo que eu acabei de ouvir elas querem me fazer prisioneira delas até o dia que eu chegue a morrer de desgosto, é isto!
Sentei-me esperando que voltassem à mesa mas ninguém voltou, jantei e depois voltei para o quarto, a longa noite escura e silenciosa me fazem ter pensamentos explícitos sobre o que eu poderei fazer quando tiver um marido, um homem pra me chamar de sua mulher.
Kalil
Ligação Ativa
"Se desta vez essa merda sair errada os mortos serão vocês, está me entendendo, Jaz?"
"Eu já reforcei o cara, Kalil. Não é minha culpa se todos fazem esse caralho errado, eu te disse que eu sozinho faria conta de tudo mas você nunca me escuta, dá nisso."
"Quem os treina? Você! Então faça essa merda direito, será que não dá pra enterrar uma bala na cabeça de alguém sem ressentimentos? Que porra você é?"
"Sim, sou eu que os treinos, mas não é tão fácil assim. Deveria ter escolhido os caras mais avançados também, não esses zé ruelas. As vítimas estão ficando cada vez mais espertas do que pensávamos que seria possível, mas..."
"Não quero mais porquês Jaz, já te dei tempo o suficiente para melhorar. Hoje será seu último dia trabalhando para mim se alguma coisa der errado hoje. Estou esperando as informações que estão na prancheta, as envie para mim e depois pode acertar seu pagamento com o Robert."
"Pode deixar que hoje nada dará errado."
"Assim eu espero."
Ligação Inativa